Essa crise grega faz lembrar - um pouco - o filme "Z" do Costa Gavras, produção de 1969 sobre episódio ocorrido em 1963. No início deste ano num balaio de DVD tinha uma oferta desse filme por cerca de R$ 10,00, quase o preço de uma locação.
Crise grega expõe falhas do Estado em cativar jovens
Kerin Hope do "FINANCIAL TIMES"
Constantine Karamanlis, o mais bem-sucedido dos premiês gregos do século 20, disse certa vez que "governar a Grécia pode ser quase impossível". A declaração dele parecia muito atual nos últimos dias, enquanto seu sobrinho Costas Karamanlis batalhava para impor a autoridade do governo grego depois de dias de batalhas de rua, incêndios criminosos e saques na região central de Atenas.
O governo direitista do primeiro-ministro parecia ter perdido o controle, diante da inquietação intensa despertada quando a polícia abateu a tiros há oito dias o estudante Alexis Grigorópulos, 15.
A tentativa de Karamanlis de promover um consenso logo fracassou. Em lugar disso, ele teve de reagir a pedidos de eleições antecipadas. Os líderes da oposição populista grega exacerbaram as tensões ao convocar imensas manifestações de rua, em lugar de pedir por calma e reflexão.
A violência coloca em destaque a incapacidade de sucessivos governos de atender às preocupações dos jovens, que variam da baixa qualidade de ensino oferecida pelo sistema universitário profundamente politizado à frustração pela falta de oportunidades de emprego.
Muitos jovens gregos se sentem excluídos diante de um sistema político e econômico que põe elos familiares sobre qualificações profissionais. As universidades estatais, que controlam completamente o ensino superior grego, contam com quadros e verbas insuficientes. A despeito dos índices elevados de crescimento econômico que o país vem registrando desde a metade dos anos 90, o investimento do governo no ensino superior é de menos de 5.000 anuais por aluno, o menor da zona do euro, -20% inferior ao português e 25% menor que espanhol.
O desemprego entre os recém-formados aparentemente supera os 20%, ainda que o índice geral de desemprego no país tenha mantido média inferior a 8% nos últimos dois anos. A tentativa de Karamanlis de modernizar o ensino superior, dois anos atrás, foi bloqueada por três meses de manifestações de rua dos estudantes, apoiados pelos professores. Karamanlis também não conseguiu o apoio de outros partidos para suspender a proibição constitucional a ações policiais nas universidades.
Os estudantes desfrutam de status privilegiado na sociedade grega por seu papel na rebelião contra a ditadura militar no país em 1973, que conduziu ao colapso do regime no ano seguinte. Como resultado, os políticos não se dispõem a reprimir os manifestantes e os extremistas que exploram as "leis de asilo em campus", que integram a Constituição. Na semana passada, estudantes que se declaram anarquistas montaram barricadas no interior da Politécnica de Atenas e estão acumulando estoques de bombas incendiárias e outros projéteis, seguros de que a polícia não pode interferir com suas atividades. Dadas as ordens rigorosas para que os policiais não utilizem armas de fogo contra manifestantes, os extremistas obtiveram vantagem.
"Os estudantes protestam e vão para casa. Depois chegam anarquistas e destroem a cidade", disse Taki Michas, colunista do "Eleftherotypia", diário ateniense de esquerda.
Tradução de PAULO MIGLIACCI na Folha.
3 comentários:
Estou completamente por fora do que acontece na Grécia. Mas parece que a morte do guri foi apenas um gatilho, algo que desencadeou um movimento maior que iria acontecer mais cedo ou mais tarde.
Leio nos jornais que os tais manifestantes estão disparando com fuzis, fazendo ameaças de bombas contra vôos, depredando estabelecimento comerciais e atacando bancos. O que isto tudo tem a ver com a tal morte do rapaz, não sei dizer.
Mas o modus operandi me faz imaginar que o comunismo na Grécia, ou algo muito semelhante, está bem vivo.
Senhores, sou filho de gregos e moro aqui no Brasil. O que está acontecendo na Grécia ao meu ver é uma anarquia total e de esquerda que não quer ver o progresso e sim destituir o país. É uma tristeza e acho que está na hora de o governo tomar as rédias do poder e colocar os estudantes no seu lugar senão será mais uma França ou pior ainda .... muito triste.
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