"Like a virgin"
Fernando de Barros e Silva
Tudo bem, eu confesso: fui ver Madonna. O ingresso dizia que o espetáculo era proibido para menores de 12 anos, mas a idade mental de tudo aquilo parecia pertencer à mesma faixa etária. Tive a sensação de participar de um show da Xuxa para marmanjos.Do começo ao fim, o deleite do público é moderado. Nada de multidão em fúria, explosões de alegria ou agressividade. A histeria é pouca e localizada. Não há pessoas em transe ou ápices de prazer. Na festa comportada de Madonna, Dionísio foi barrado. O verbo entreter nunca soou tão adequado.Ambulantes passam vendendo cerveja em lata, coca-cola, picolé: "Tudo cinco real, dotô. Preço tabelado". O que são "cinco real" para quem pagou 160, 300, 600 reais para ter acesso ao Playcenter? Afundo feliz no meu Chica-Bon tabelado.As pessoas se divertem enquanto Madonna trabalha. E isso significa menos cantar do que queimar calorias. Além da parafernália de luzes e efeitos visuais, da estética monumental e kitsch do espetáculo, dos clichês interativos, o que mais chama a atenção é a performance física de Madonna. Aos 50, sugere ter 20.Como Michael Jackson se transfigurou para evitar o mundo adulto, Madonna se recusa a envelhecer. Impõe a si mesma uma rotina de monge aeróbico. O que em Jackson denota loucura, nela surge como resultado de uma vida sã. Ela não é "sarada"? No palco, parece a professora exercitando alunos fora de forma. É a atleta da indústria cultural.O público a filma sem parar com câmeras e celulares, lembrando turistas japoneses no Louvre. Querem guardar antes de ver. No camarote de uma empresa de telefonia, políticos se juntam a artistas e colunáveis. Oposição e governo se confraternizam na quizumba vip. A imagem dos namorados Manuela D'Ávila e José Eduardo Cardozo com a camiseta da Claro é chocante. Ela é do PC do B. Ele é do PT, "ala ética". Tudo bem, o governo acaba de facilitar a vida da BrOi, e isso aqui é só diversão. "Like a virgin..."
Fernando de Barros e Silva
Tudo bem, eu confesso: fui ver Madonna. O ingresso dizia que o espetáculo era proibido para menores de 12 anos, mas a idade mental de tudo aquilo parecia pertencer à mesma faixa etária. Tive a sensação de participar de um show da Xuxa para marmanjos.Do começo ao fim, o deleite do público é moderado. Nada de multidão em fúria, explosões de alegria ou agressividade. A histeria é pouca e localizada. Não há pessoas em transe ou ápices de prazer. Na festa comportada de Madonna, Dionísio foi barrado. O verbo entreter nunca soou tão adequado.Ambulantes passam vendendo cerveja em lata, coca-cola, picolé: "Tudo cinco real, dotô. Preço tabelado". O que são "cinco real" para quem pagou 160, 300, 600 reais para ter acesso ao Playcenter? Afundo feliz no meu Chica-Bon tabelado.As pessoas se divertem enquanto Madonna trabalha. E isso significa menos cantar do que queimar calorias. Além da parafernália de luzes e efeitos visuais, da estética monumental e kitsch do espetáculo, dos clichês interativos, o que mais chama a atenção é a performance física de Madonna. Aos 50, sugere ter 20.Como Michael Jackson se transfigurou para evitar o mundo adulto, Madonna se recusa a envelhecer. Impõe a si mesma uma rotina de monge aeróbico. O que em Jackson denota loucura, nela surge como resultado de uma vida sã. Ela não é "sarada"? No palco, parece a professora exercitando alunos fora de forma. É a atleta da indústria cultural.O público a filma sem parar com câmeras e celulares, lembrando turistas japoneses no Louvre. Querem guardar antes de ver. No camarote de uma empresa de telefonia, políticos se juntam a artistas e colunáveis. Oposição e governo se confraternizam na quizumba vip. A imagem dos namorados Manuela D'Ávila e José Eduardo Cardozo com a camiseta da Claro é chocante. Ela é do PC do B. Ele é do PT, "ala ética". Tudo bem, o governo acaba de facilitar a vida da BrOi, e isso aqui é só diversão. "Like a virgin..."
Folha de hoje.
Meu comentário: Eu gosto da Madonna. Infelizmente não fui ao show dela. Fernando de Barros e Silva tem suas excentricidades, como se vê.
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