O ministro Gilmar Mendes e a casca de banana
Wálter Fanganiello Maierovitch
Wálter Fanganiello Maierovitch
A minha caneta-falante Concetta Rompi-coglione, hoje na parte da manhã, recebeu um telefonema da Themis, a mitológica deusa da Justiça.
A Themis, que transita do Olimpo ao Irajá com paradas em Brasília, usava um celular pré-pago para se comunicar com a Rompicoglione. Não deu para saber o número da operadora da sua preferência.
Como de costume, a Themis estava apoiada num pedestal, de costas para o prédio do Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília. O certo é que ela prefere olhar para o outro lado da praça, na direção do palácio do Planalto, embora dê as costas ao STF. Desconsideração ou prudência?
Segundo a Rompi-coglione, a Themis estava preocupada com uma casca de banana referida no item número 13 de sentença condenatória da lavra do juiz Fausto De Sanctis.Veja também:» Essa sentença consta do processo criminal em que o banqueiro Daniel Dantas e os seus laranjas, Humberto Braz e Hugo Chicaroni, restaram condenados por consumado crime de corrupção ativa.
Themis preocupava-se com o tamanho da casca de banana que tinha desequilibrado o ministro Gilmar Mendes, presidente do STF: a casca da banana não era nanica, mas de tamanho guaçu. Havia sido deixada, de maneira in-oportunity, por um araponga, com divisa de coronel reformado do Exército brasileiro e chamado Sérgio de Souza Cirillo.
Em razão da desequilibrada, o ministro Gilmar Mendes ficou irado a ponto de não querer praticar o seu esporte predileto. Ou seja, deitar falação pela mídia e, aí, ele sempre a passar a impressão de só bater acima da medalhinha: já chamou até o presidente Lula às falas.
O ministro Gilmar Mendes recusou-se a falar com repórteres sobre o tema. Diante do embaraço, oficiou o procurador geral da República, Fernando Souza, para apurar o sucedido com o seu ex-araponga estrelado.
Parêntese: no Supremo e em face de um canhestro entendimento do ministro Nelson Jobin (autor da tese), discute-se, no processo sobre o assassinato do prefeito Celso Daniel, se o Ministério Público possui legitimação para investigar delitos. Como se percebe, Gilmar entende que sim, pois acaba de encaminhar pedido de investigação criminal ao chefe do Ministério Público.
Com efeito, Hugo Chicaroni, um dos braços corruptores usados como laranja por Daniel Dantas, ligou nove vezes para o coronel-araponga Cyrilo, que trabalhava no gabinete de Gilmar Mendes, que o contratou.
Sobre as ligações, há prova documental, pois, com a requisição judicial de informações sobre os números de identificação de chamadas partidas do telefone de Chicaroni, chegou-se ao coronel-araponga Cirillo. No particular, houve o chamado tiro-no-pé.
Quem solicitou, no inquérito da Operação Satiagraha, o exame e o cruzamento de chamadas telefônicas foi Chicaroni. Ele pediu para que o juiz Fausto De Sanctis requisitasse as chamadas das linhas 11-99511950 (dele próprio) 61-91196691 (do delegado Protógenes). Pediu o elenco dos últimos três meses.
Para ficar completo, o juiz De Sanctis solicitou extratos do último semestre. Aí, o delegado Rodrigo de Carvalho, da Operação Satiagraha, identificou ligações ao coronel-araponga Cirillo.
Coube ao juiz De Sanctis emprestar essa prova de cruzamentos e identificações do inquérito da Satiagraha para os autos do processo de corrupção. Em resumo: Chicaroni fez prova contra ele próprio e contra Dantas e Braz. Caso conhecido como "tiro no próprio pé".
As ligações coincidem com o período no qual Chicaroni empenhava-se em corromper os delegados Vitor Hugo e Protógenes Queiróz. A última chamada telefônica foi na véspera da deflagração da Operação Satiagraha. A dupla referida trocou nove telefonemas entre 4 de junho e 7 de julho.
Chicaroni e Cyrilo eram ligados à Sagres, que não se dedica à expansão marítima como aquela famosa escola lusitana de 1417. A Sagres de Chicaroni e Cirillo tem sede em Brasília, tem o indicativo de instituto, mas está mais para viveiro de arapongas. Ao contrário da Escola de Sagres, ela se dedica a uma outra forma de obtenção de conhecimento, em especial por grampeamentos.
Cyrilo foi demitido por Mendes sem explicações. Isto ao tempo que o ministro Jobim dedicava-se à nada nobre tarefa de derrubar, da Agência Brasileira de Inteligência, com base numa mentira, o delegado Paulo Lacerda.
O coronel-araponga Cyrilo trabalhou na presidência do STF por pouco tempo. E estava lotado no gabinete de Mendes à época da gravação da conversa telefônica entre o ministro Gilmar Mendes e o senador Demóstenes Torres.
Aquela divulgada transcrição de conversa, que a revista Veja informou ter obtido com um araponga e cujo áudio ainda não apareceu, pode ter sido feita por Cyrillo, o homem escolhido por Gilmar para os trabalhos de inteligência da presidência do STF.
A Themis leu a sentença do juiz De Sanctis que menciona a suspeitíssima proximidade de Chicaroni com Cyrilo. As pessoas que rodeiam a Themis não descartam ter Dantas plantado um araponga no gabinete de Gilmar Mendes.
Wálter Fanganiello Maierovitch é colunista da revista CartaCapital e presidente do Instituto Giovanni Falcone (http://www.ibgf.org.br/).
Esse senhor escreve com o mesmo estilo do Mino Carta.
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