Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

As Sociedades Modernas são Menos Exploradoras Que as Antigas



Para o economista do Banco Mundial Branko Milanovic, autor principal do estudo comparando desigualdade entre sociedades antigas e modernas, os resultados de seu trabalho não devem ser tratados como uma medida precisa e irrefutável da desigualdade em economias pré-industriais. Para ele, porém, os dados podem ser interpretados como indicativos de que, apesar de os índices de desigualdade do passado e do presente serem muitos parecidos, havia, ontem e hoje, sociedades mais e menos desiguais. Leia a entrevista que concedeu ao Mais! (AG)

FOLHA - O fato de os níveis de desigualdade em sociedades modernas ou pré-industriais serem parecidos não mostra que se trata de uma característica natural de qualquer sociedade? BRANKO MILANOVIC - É uma conclusão errada por duas razões. Primeiro, se é verdade que, na média, a diferença nos índices de Gini das sociedades antigas e modernas é pequena, também é verdade que há muita variação entre países. Hoje, há nações mais igualitárias com Gini próximo de 20 [na escala de zero a cem], como Finlândia, Suécia ou Holanda, e outras com níveis muito mais altos, próximos de 60, como Brasil e África do Sul. O mesmo acontecia nas sociedades antigas. Olhar apenas para as médias, portanto, seria enganoso. Segundo, mesmo que duas sociedades -uma antiga e outra moderna- possuam o mesmo Gini, seu significado é bem diferente. Isso está expresso em nosso trabalho no cálculo da taxa de extração de desigualdade. Em sociedades antigas, em que a renda média é baixa, uma alta iniqüidade só era possível quando uma elite pequena se apropriava de quase todo o excedente da riqueza, deixando mais de 90% da população com um mínimo apenas para subsistência. As sociedades modernas, no entanto, são muito mais ricas e, por isso, podem manter o mesmo nível de desigualdade sem extrair tanto desse excedente. O que mostramos em nosso trabalho é que as sociedades modernas são, em média, muito menos exploradoras em comparação com as antigas.
FOLHA - Comparações de desigualdade entre países hoje já são feitas com cautela e ressalvas. Não seria ainda mais duvidoso fazer isso entre sociedades antigas e modernas? MILANOVIC - Sem dúvida, é um grande problema. Nossos números são mais sugestivos, uma tentativa, e refletem muito mais tendências gerais do que dados precisos e acurados. Talvez à medida que mais informações fiquem acessíveis -e estamos hoje testemunhando um grande incremento na pesquisa da história econômica- possamos confirmar ou rejeitar estimativas para as sociedades antigas. No entanto, acreditamos que a abordagem que adotamos para as sociedades antigas, usando a classificação dos grupos sociais de acordo com suas rendas médias, é relativamente robusta e provavelmente a única factível.
FOLHA - Países mais ricos são menos desiguais. Não é uma evidência de que a desigualdade trava o crescimento econômico? MILANOVIC - Essa correlação pode ser verdadeira, mas sua causalidade é mais difícil de ser comprovada.Esses países são ricos porque foram mais igualitários em sua origem ou porque sua desigualdade foi caindo à medida que enriqueciam? Provavelmente as duas hipóteses são verdadeiras e é por isso que é tão difícil estabelecer a relação de causa e efeito. Além disso, a mudança no padrão de desigualdade não é um produto apenas da realidade econômica, mas de várias outras forças: sociais, históricas, culturais.

De qualquer jeito, há muitos exemplos de países que conseguiram reduzir sua desigualdade ao mesmo tempo em que cresceram.


Sobre este mesmo assunto, DNA da Diferença, também no Caderno Mais
*Foto de Suzana Sá.

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