Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

E o Fórum Social Mundial foi para o Espaço




Cadê o espírito de Porto Alegre que estava aqui?

O economista americano Immanuel Wallerstein cunhou a expressão "espírito de Porto Alegre" no início da década para definir a onda de protestos contra os efeitos colaterais do liberalismo pelo planeta afora.Wallerstein se referia ao fato de a Capital gaúcha ter sido, por quatro edições, a sede do Fórum Social Mundial, evento que reunia críticos da globalização de todos os matizes. Hoje, ficaram para trás os tempos em que espírito e cidade pareciam irmanados e Porto Alegre se coloria em janeiro para receber a megafesta da esquerda e dos movimentos sociais. O Fórum deve voltar ao Brasil em 2009. Mas passará longe do Estado e se instalará na amazônica Belém, no Pará.Este ano, não haverá Fórum Social Mundial. Os organizadores depositam suas fichas no Dia de Mobilização e Ação Global, previsto para 26 de janeiro. A idéia é espalhar pelo maior número de países protestos simultâneos e de natureza variada, mirando o Fórum Econômico de Davos, na Suíça, que ocorre entre 23 e 27 de janeiro. Estão previstas atividades em pelo menos 30 países. No Brasil, o site do Fórum Social aponta iniciativas em Belém, São Paulo, Curitiba, Natal, Goiânia e Belo Horizonte.Mas e Porto Alegre? A Capital sediou quatro das sete primeiras edições do Fórum. No começo da história do evento, a antítese entre o "espírito de Porto Alegre" definido por Wallerstein e o "espírito de Davos" foi propagada ao redor do mundo. Os organizadores insistem que o fato de os governos do PT terem chegado ao fim na prefeitura da Capital e no Palácio Piratini não tem ligação com o fato de o Fórum ter deixado Porto Alegre.- Nunca tivemos a intenção de realizar o Fórum Social Mundial com uma sede fixa. Já no primeiro Fórum, no final, o anúncio da decisão de confirmar Porto Alegre (para o ano seguinte, 2002) foi muito difícil - afirma o membro do Conselho Internacional do Fórum, Cândido Grzybowski (leia entrevista na página 5).Segundo o integrante do Conselho do Fórum, o evento tem sua história indiscutivelmente ligada a Porto Alegre. Grzybowski explica que a cidade tem um grande repertório de experiências bem-sucedidas de participação popular e faz referência ao Orçamento Participativo como projeto de interesse mundial.- Porto Alegre vai ser sempre a referência. Não foi aleatória a escolha da cidade. Nos acusavam no início de ser contra governos. A gente não é contra governos. A gente quer é dizer que governo queremos - complementa.A Capital ficou órfã do desfile de sacolas de pano multicoloridas, da sucessão de passeatas pela Esquina Democrática e das bandeiras multicoloridas de movimentos sociais desconhecidos, vindos do mundo inteiro. Mas nem por isso deixou de ganhar com o Fórum, apesar da distância. Segundo Daniel Antoniolli, presidente do Sindicato da Hotelaria e Gastronomia de Porto Alegre, o evento desempenhou uma função importante ao garantir destaque e espaços na mídia mundial para a cidade.- O Fórum faz falta. Qualquer grande evento como esse faz falta. Eventos assim promovem a cidade. Mas foi uma oportunidade que Porto Alegre soube aproveitar - diz Antoniolli.No colegiado que toma as decisões pelo Fórum, composto por cerca de 150 instituições de todo o planeta, determinar o futuro do evento ao longo dos próximos anos é um desafio. O encontro será realizado em Belém no ano que vem. Na nova sede, questões ambientais, como o aquecimento global, devem ganhar peso maior. O Estado é governado por Ana Julia Carepa (PT). Mas, depois, ninguém sabe.- No final de março, teremos uma reunião na Nigéria. Lá deveremos ter uma idéia melhor do que vai ser do Fórum em 2010 e 2011, pelo menos - afirma Grzybowski.Ausência de formato definido pesa sobre organizadoresAlgumas indefinições pesam sobre a organização do evento. Uma delas é a ausência de um formato fixo. O Fórum já teve sede própria (Porto Alegre, por quatro vezes, Nairóbi, no Quênia, e Mumbai, na Índia, por uma vez) e já se dividiu em três, como em 2006, quando Caracas (Venezuela), Bamako (Mali) e Karachi (Paquistão) repartiram a realização. Agora, se pulveriza ainda mais. O Conselho Internacional do Fórum tem ouvido queixas de entidades espalhadas pelo mundo de que a realização do evento anualmente acarreta custos e traz desgaste. Mas a medida que mais parece agradar os organizadores é alterar a data de realização, de janeiro para o meio do ano.- Janeiro é um mês frio no Hemisfério Norte. Isso impede que realizemos o Fórum em países como a Coréia do Sul, por exemplo - complementa Grzybowski.No seio do Fórum, debates internos sobre o papel do encontro das esquerdas a partir de agora aumentam a temperatura. Um grupo considerável defende que o Fórum deve ser propositivo e ter um posicionamento político mais claro diante de governos tidos como neoliberais. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, participante freqüente do evento, embora não integre o grupo diretivo, entende que sim, o Fórum tem de ser mais duro e exigir atitude dos governos. Grzybowski rebate:- É o pessoal do Le Monde Diplomatique (jornal francês), de alguns movimentos sociais, que acha que a gente deveria deixar de ilusões e dizer: governo assim, devemos agir de tal forma etc. Se fizer assim, tem uma outra parte que não vai ao Fórum. É aquela coisa: o Fórum é um espaço aberto ou não é?

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