Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Colombianos


A TV Cultura de S.Paulo fez, em 2006, um excelente documentário chamado Colombianos e que foi ao ar esta noite. No dia que a guerrilha das FARC libertaram Clara Rojas e Consuelo González não havia mesmo melhor programa para assistir.

Tudo começou no dia 9 de abril de 1948 quando o mestiço advogado de esquerda Jorge Eliecer Gaitan, candidato ultra favorito a vencer a eleição para presidente, foi assassinado pelas forças conservadoras gerando uma imensa revolta popular, o Bogotazo (foto abaixo). Cerca de duas mil pessoas morreram.




Foi ai - dizem com o assassinato de Gaitan- que a Colômbia embarcou no século XX. E estamos no século XXI, o muro de Berlim caiu, a guerra fria foi para o espaço e existe na Colômbia o maior movimento (em número de pessoas) terrorista do planeta, as FARC - EP (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - Exército Popular).



As Farc se estabelecem exatamente onde o Estado não chega, nas comunidades dos grotões colombianos. E para conseguir recursos as Farc exigem de todas as famílias dessas comunidades afastadas indiscriminadamente, sejam as pessoas ricas, traficantes, pobres ou paupérrimos um imposto para evitar futuros seqüestros, assassinatos etc. E assim as Farc arrecadam sua graninha para sobreviver, comprar armas e artigos para a luta.


As famílias pobres que não têm dinheirinho para pagar às Farc e têm receio da retaliação e de perder seus filhos que são forçados a entrar para a guerrilha na pré adolescência, se instalam nas favelas de Bogotá, Cali, Medellin, Cartagena. São 4 milhões de desplazados que vivem precariamente no mundo do desemprego e da miséria da grande cidade. São camponeses retirados de sua terra pela violência do campo.

Do outro lado da moeda - à direita de tudo - estão as organizações paramilitares que também chegam onde o Estado não chega e executam guerrilheiros, simpatizantes, amigos, parentes, esposas, filhos, pais de guerrilheiros.


Álvaro Uribe foi eleito presidente da Colômbia exatamente porque seu discurso sempre foi de endurescer com a guerrilha. Dizem que ele tem ligação com os paramilitares, mas ele afirma que tal movimento está praticamente desaparecido na Colômbia de hoje. Uribe adotou a política de não negociar, custe o que custar e tem tido êxito nos resultados, porque as Farc vem perdendo contingente, vem perdendo simpatizantes e, também, vem perdendo área geográfica. Uribe quer extinguir com as Farc e conta com o apoio irrestrito dos Estados Unidos que abastece o governo colombiano com o famoso Plan Colómbia.

Quem financia as Farc e os paramilitares é a droga, o plantio de folha de coca e papoula. É impressionante como a droga circula livre e impunemente na polaridade ideológica. Como Uribe é ferro duro e se recusa a fazer o que fez o ex-presidente Pastrana que criou uma zona desmilitarizada onde as Farc podiam livremente circular e impôr seu Estado socialista, que é uma exigência das Farc para soltar os sequestrados ( a outra é a liberação dos guerrilheiros presos nas cadeias do Estado colombiano), as famílias dos sequestrados, como a mãe de Ingrid Betancourt, a mãe de Clara Rojas detestam Uribe.




E como esse pessoal, com muita razão, não quer perder seus entes queridos, apelam para outros governos como o de Sarkô e o de Chávez. Chávez - que não é nada tolo e nunca dorme em serviço -- viu ai uma forma maravilhosa de ganhar popularidade mundial. Quem navega pelos sites da extrema esquerda disponível pela internet ou coloca no google a palavra-chave FARC EP, vai logo notar que as pessoas que apoiam as Farc são as mesmas que apoiam Chávez. Há sim -- é impossível negar -- uma íntima relação entre os movimentos bolivarianos da Venezuela e a FARC -EP da Colômbia. São, como se diz, farinhas do mesmo saco que frequentam os mesmos fóruns e cimeiras. E assim vive a Colômbia dividida entre diversas fronteiras, governada por um presidente durão que escolheu um caminho que talvez seja o mais correto, porque é difícil negociar numa guerra que está sendo ganha, mas, por outro lado, existe a emoção da dor dos sequestrados e de suas famílias que - vivenciando a síndrome de Estocolmo - não culpam o sequestrador, mas a policia e seu chefe, Uribe. E Chávez que negociou com seus amiguinhos de ideologia aproveita, bem como a Senadora Colombiana de oposição à Uribe, Piedad Cordoba, ai na foto toda de vermelho, ela já recebeu flores das Farc. No dia de hoje, para a sorte de Clara Rojas e Consuelo González, a hipocrisia venceu mais um round.



3 comentários:

Carlos de Castro disse...

Maia, feliz ano-novo atrasado. As FARC um dia foram uma guerrilha de esquerda, hoje não passam de uma gangue sem ideologia, de assassinos, traficantes e seqüestradores com mais de 30 mil integrantes. É um absurdo um grupo de bandidos, que recruta crianças de 10 anos, que mantém mais de 800 prisioneiros acorrentados, ser reconhecido como força legitima pelos governos da Venezuela,Bolívia, França e Brasil. Um bando que mentiu sobre o destino do filho de Clara Rojas e fez todos de palhaços. Uribe não está errado.

PoPa disse...

As declarações de Consuelo batem, realmente, com a síndrome, mas Clara Rojas não deixou por menos: caiu de pau na guerrilha narco-traficante. Também, fizeram uma cesariana na floresta que quase a matou e a criança, tiraram seu filho dela e quase deixaram morrer por inanição. Pode escrever, Clara vai ser a pedra no sapato das farc!

Carlos Eduardo da Maia disse...

Feliz ano-novo, Castro. Uribe não está errado, porque está ganhando a guerra e enfraquecendo as FARC e o que mais impressiona é o Chávez dizer que as FARC não são terroristas e fazem atos beligerantes. E hoje as FARC sequestraram 5 colombianos. É isso ai, Pampa, tomara que Clara Rojas seja uma pedra nos sapatos das FARC. Tomara. E vamos à luta.