Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

O Rio Grande é uma Ficção - David Coimbra


O Rio Grande do Sul não existe. Nem Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina. Os Estados brasileiros foram abolidos na prática por Getúlio Vargas e a Constituição Polaca, em 1937. Hoje subsistem como peso para o contribuinte e como vaga abstração cultural. Verdade que nem todos. Só Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio, Minas e Bahia têm identidade cultural. Ceará um pouquinho. O resto é Brasil.Getúlio Vargas extinguiu os Estados, tributariamente falando, e tentou fazê-lo, digamos, ideologicamente. Queimou as bandeiras, obrigou o ensino do português em todas as escolas do país e instituiu a Hora do Brasil, o primeiro jornal nacional. Conseguiu enfraquecer as identidades regionais, mas não matá-las. Quem fez o serviço foi a Rede Globo.A Rede Globo realizou o sonho de unificação do Brasil de Getúlio Vargas. Com o Jornal Nacional, com as novelas, com as transmissões via satélite. O Brasil tornou-se um só, enfim. A prova é o gandula. Não havia isso de gandula, aqui na província. Gandula era no Riosãopaulo. Aqui era marrecão, só. Hoje, nenhum torcedor com menos de 30 anos sabe que marrecão um dia foi algo além de uma ave freqüentadora de rios, lagos e banhados. A linguagem do futebol, a verdadeira linguagem de massa do Brasil, demonstra: a Rede Globo transformou-nos, a todos, em brasileiros. Para o bem e para o mal. Aí surgiu o Gandulla com dois eles. Bernardo Gandulla. Um argentino que foi jogar no Vasco em 1939. Só tem o seguinte: esse Bernardo Gandulla era um baita pereba. Nunca jogou de titular. Mas, como queria se sentir útil, buscava as bolas durante os jogos. Tanto as do Vasco quanto as do adversário. A bola saía, o Gandulla corria atrás, pegava, mandava para o campo. Muito solícito. Então, quando pela primeira vez colocaram um guri para buscar as bolas nas partidas, ele logo virou gandula, com minúscula e um ele só, que marrecão não precisa de ele dobrado. Conto isso porque a CBF agora quer profissionalizar o gandula. Não pode mais ser qualquer um. Tem que ser gente especializada, gente com vocação, gente como aquele argentino, o velho Bernardo Gandulla, que podia não jogar nada, mas que era prestativo, era.


* David Coimbra é colunista do jornal Zero Hora.

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