Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


terça-feira, 29 de janeiro de 2008

A Crise do Fórum Social Mundial - Ignácio Ramonet


Leio no Diario Gauche de hoje uma entrevista interessante de Ignacio Ramonet, redator-chefe do jornal Le Monde Diplomatique em entrevista ao jornal alemão Freitag (25/1), sobre a crise política do Fórum Social Mundial. Depois eu volto.


Que futuro aguarda o Fórum Social Mundial?


Infelizmente, os movimentos sociais internacionais no momento tem sido incapazes de encontrar uma forma de articulação mais consistente que lhes permita agir unitariamente. Não está em condições de fixar objetivos que sigam uma mesma linha.


Isso impede os movimentos sociais de responder adequadamente à situação atual?


Exato. Atravessamos diferentes fases. A primeira consistiu em definir a globalização. Em meados dos anos 90 ainda não existia o movimento porque não se sabia contra quem lutar. Foi preciso que muitos intelectuais e muitas forças políticas definissem conjuntamente o inimigo e, o inimigo era a globalização. Na segunda fase se juntaram todos do Sul ao Norte na luta contra a globalização. Têm-se evidentemente a impressão de que essas êxitos – particularmente, a fundação do Fórum Social Mundial – acabou por paralisar o movimento. O movimento é hoje, potencialmente, forte, como nunca antes. É, em escala planetária, a única força em alguma medida organizada que resiste à globalização, mas ele não sabe o que fazer com essa força. Desperdiçaram-se oportunidades, ao menos eu vejo assim. Hoje estaríamos em condições de levar a cabo lutas em escala mundial. Lembre-se apenas das grandes manifestações contra a guerra no Iraque. Chegou a hora de que movimentos, como o Fórum Social Mundial, deixem de ser movimentos de resistência e entrarem em uma nova etapa com outras formas de luta.


Por que afirma isso com tanta ênfase?


A ofensiva ideológica da globalização prossegue. Constatamos que o movimento já não amedronta os dominadores. Apenas falam dele. Desde que a Attac entrou em crise na França, a imprensa francesa já não fala da Attac, tampouco fala do Fórum Social Mundial. Preocupa esse silêncio, porque demonstra que os outros tem ganhado a batalha e, desde logo, por causa da dispersão. Por isso, creio que as organizações principais que constituem o Fórum Social Mundial estão obrigadas a se colocaram a seguinte pergunta: O que será de nós? O que devemos fazer? Em torno de tudo isso, a questão do poder se torna importante. Todo o movimento se formou com a base na idéia que não se pode tomar o poder. Eu me pergunto se isso continua sendo verdadeiro. A experiência na América Latina mostra que com o poder nas mãos se pode fazer algo. Isso na Europa é mais difícil devido a camisa de força que se transformou a União Européia.


Meu comentário:


Pois é, o movimento Attac que tinha uma lista de discussão brasileira na internet e que foi, de certa forma, uma das semente do Fórum Social Mundial parece que foi para o espaço. E o Fórum Social Mundial também não conseguiu se organizar. O problema é exatamente esse, de organização e de gestão. A esquerda não teve competência de tocar o assunto para adiante. E por que isso aconteceu? Porque ela perdeu a referência em relação à sociedade. Ou seja, certa esquerda continua inflexível a certas idéias apostando no discurso oco e caduco do anticapitalismo, enquanto que a sociedade quer mais é ingressar e se preparar no mercado de trabalho. O discurso antimercado, antiglobalização, anticapital que foi a tônica de boa parte do FSM foi para o espaço. O FSM se fechou e se afundou junto com sua própria ideologia. Enquanto isso, Davos resiste e atrai os holofotes de tudo. Em Davos se encontra a pluralidade e a diversidade que nunca se encontrou no FSM.

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