O Brasil precisa de um Luc Ferry para combater o Brasil arcaico. Essa foi a primeira imagem que apareceu na minha cabeça quando assisti ontem no Jornal Nacional a notícia sobre a decisão do arcebispo de Recife e Olinda, dom José Cardoso Sobrinho, de entrar com representação no Ministério Público com o objetivo de obter, através da Justiça, um veto estadual à contracepção de emergência -isto é, à distribuição da chamada pílula do dia seguinte, que o Vaticano considera abortiva.
Para quem não sabe, Luc Ferry é filósofo e foi ministro da educação do governo Chirac e proibiu que os alunos das escolas públicas francesas utilizassem símbolos religiosos. Tal medida reduziu e muito a violência, a intransigência e a intolerância nas escolas francesas.
A Igreja Católica se acha com o poder de definir o que é certo e errado. Nenhuma igreja pode ter esse poder. A humanidade não vive mais na época medieval. Esse tempo passou. É passado. O tempo presente é do Estado laico. E apenas o Estado democrático de direito que elege o político governante é que tem o poder de determinar políticas de saúde pública.
Concordo integralmente com o editorial da Folha de S. Paulo de hoje, no sentido de que o arcebispo, entretanto, extrapola as fronteiras da moral privada quando pretende impor a conduta católica a todos os pernambucanos, partilhem eles ou não dos dogmas da igreja. A sociedade já definiu, pelos canais competentes e com o auxílio da ciência, que o emprego da pílula do dia seguinte não configura aborto.As autoridades sanitárias têm a obrigação de tentar reduzir os índices de contaminação por doenças sexualmente transmissíveis e de gravidezes indesejadas. Devem para tanto, usar de todos os recursos legais à disposição, aí incluída a pílula.Faria melhor a arquidiocese de Olinda se observasse uma valiosa lição do Evangelho: "Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus".
E o Arcebispo de Recife e Olinda que se queixe ao Bispo
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