A Zero Hora de hoje publicou duas versões sobre as cotas.
A primeira de uma estudante que tentou a vaga na medicina. Tirou o lugar 126 entre 140.
"Há um ano, me mudei de Lajeado para Porto Alegre para fazer cursinho e me preparar para o vestibular de Medicina. Estudei de manhã, de tarde e de noite, não tive feriado ou final de semana, abdiquei de namorar e sair com os amigos. Depois de tudo isso, consegui a nota que era necessária, mas não ganhei a vaga. Pelo boletim de desempenho, meu lugar foi o 126, e havia 140 vagas. Mas fui discriminada por não ser negra ou estudante de escola pública.Isso dá uma mistura de revolta e frustração. Minha mãe se esforçou para pagar escola particular a vida toda para que eu conseguisse vaga em uma universidade pública. Não temos dinheiro para que eu estude em uma instituição particular. Pagamos impostos que ajudam a manter a universidade, e agora não vão me aceitar?Vim com a minha mãe e a nossa advogada ao Ministério Público Federal para iniciar uma ação contra essa discriminação. Esse sistema é injusto porque discrimina quem alcançou o índice necessário."
O segundo depoimento é o seguinte:
"Trabalho em um escritório de Contabilidade, mas sonhava em passar no curso de Letras da UFRGS. Adoro a literatura brasileira, Machado de Assis. Quando decidi tentar a vaga pelas cotas para escola pública, meus amigos disseram que eu estava louco, que vou trocar um emprego por algo incerto. Mas era o meu sonho, e consegui a aprovação graças às cotas. Como o curso é pela manhã, vou ter de conseguir algum outro trabalho, pelo menos um estágio para pagar as passagens entre Alvorada e Porto Alegre e para alguns livros. Mas isso eu vejo depois, o importante é que consegui passar.Sei que as cotas são uma questão complicada e afeta o direito de outras pessoas, mas muita gente que é contra não conhece a realidade de uma escola pública. É difícil ter de trabalhar o dia inteiro, não ter estrutura, e conseguir passar em uma universidade como a UFRGS. Graças à reserva de vagas, isso foi possível para mim."
*foto de Jorge Bispo.
2 comentários:
Que as cotas são injustas, não há a menor dúvida. E também são discriminatórias, mesmo que com aquele aspecto dito "positivo". Mas o que o governo pretende, mesmo, é esconder a péssima qualidade da escola pública. Não há preparação dos alunos e pretendem fazer com que entrem na universidade pela porta dos fundos. Depois, irão fazer proselitismo com isto, mas o resultado mostra que está totalmente errado este sistema.
Continuo achando que o ensino público de terceiro grau não deveria ser gratuito, sendo o pagamento feito com serviços à comunidade, após formado. Seria justo e quem tem grana não iria querer isto e iria para a privada (escola...).
Mas estepaís está fazendo com que todos queiram uma faculdade, seja ela qual for. Cursos técnicos estão em baixa. Tanto de segundo quanto de terceiro grau. E é o que o país precisa para seu desenvolvimento industrial.
Pampa, confesso que minhas dúvidas sobre este tema estão indo embora. Estou me tornando um anti cotista. O depoimento dessa candidata da Medicina mostra que essa história de cotas pode gerar sim grandes injustiças. Na verdade, ela passou na medicina, mas não vai poder entrar, porque sua vaga vai ser ocupada por aluno de escola pública. Mas ela estudou em colégio particular exatamente por isso ... para ter mais condições e passar no vestibular. No fundo, no fundo, o que o Estado brasileiro tem que fazer é melhorar o ensino público. E por que é tão difícil melhorar o ensino público?
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