Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Mercado não é deus, mas ele existe, está ai.


Leio no diario gauche uma pérola fenomenal:



E tem, também, um ótimo artigo de um economista francês que mostra didaticamente as raízes da crise. Partindo do seguinte dado: há vinte anos acontece um fenômeno mundial de aumento da taxa de mais-valia e conseqüentemente da queda das massas salariais no mundo todo, isso permite uma super-liquidez de moeda que busca frenética e insanamente remunerações extravagantes para si. Ao fim de algum tempo, a finança autonomiza-se, impondo a sua própria lógica, e esquecendo que o volume de valor disponível depende do grau de exploração (do trabalho vivo) e que este não pode, apesar dos esforços dos capitalistas, crescer de forma exponencial. As crises financeiras são, por conseguinte, manifestações cíclicas da velha e marxiana lei do valor.

Voltei:
A crise imobiliária e mobiliária dos EUA não tem nada a ver com mais valia. Certa esquerda não lê e não entende absolutamente nada sobre os mercados, despreza os aspectos econômicos da vida e insiste na tola idéia de que a humanidade é movida pela gasolina da ideologia. A crise americana é cíclica, como tudo no capitalismo, e é resultado de uma bolha especulativa no setor mobiliário (ações) e imobiliário (imóveis). O valor desses bens estão muito acima do valor real. Sugiro, para melhor compreensão, a leitura de um texto do David Leonhard exatamente sobre este assunto: http://depositomaia.blogspot.com/2008/01/bem-vindo-nova-moderao-david-leonhardt.html., publicado no New York Times e na Folha na semana passada.
Mercado existe, está ai. Não é deus, mas é fato e fato social. É impensável imaginar hoje em dia uma sociedade sem mercado ou um mercado completamente controlado por um Estado.

O capital almeja o lucro. Isso é certo, mas não é só isso. A lógica do capital não é só essa. Nenhuma sociedade conseguiu se desenvolver econômica e socialmente desprezando o mercado. A crise soviética está intimamente ligada a sua economia exacerbadamente planejada e seu mercado burocratizado que não conseguiu vencer a revolução científico tecnológica. E o castelo de cartas do mercado socialista real desabou completamente e nada sobrou. É que são instituições montadas artificialmente pelo poder político. A história é sempre a mesma para quem acha que é possível criar mercado com canetaço e sangue ideológico. Não sei se este é o fim da história, porque uma das coisas que mais detesto é cair na síndrome de Nostradamus.

2 comentários:

José Elesbán disse...

"A crise imobiliária e mobiliária dos EUA não tem nada a ver com mais valia." Forte isso, não? Eu não teria tanta certeza,nem seria tão veemente. O significa um ativo estar com valor muito acima do valor real? O que é um valor real? Quem define?
Valores, reais ou não, estão por aí, assim como o tal mercado, todos eles criação humana, tanto que como disse o Delfim Netto (acho que foi ele) se o mercado fosse algo natural, veríamos cachorros trocando ossos por aí.

Anônimo disse...

Cachorros, em estado selvagem, unem-se para conseguir alimento. E depois, utilizam-se dele, de acordo com suas necessidades. Claro, sempre os mais fortes primeiro. Se tivessem dinheiro, seriam estes primeiros. Não foi uma boa metáfora, mas é válida!