Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Um Apelo à Razão


Bom o artigo, publicado na ZH de hoje, do professor doutor em economia, Alexandre Englert Barbosa, sobre aquela polêmica questão -- já referida neste blog -- da prova de história da UFRGS sobre a Alca e o neoliberalismo. Com razão o economista:"Quem elaborou a questão, errou. Quem "acertou" a resposta, errou. Quem errou a resposta, errou. Afinal, não há resposta correta para a questão."

Um apelo à razão
A pluralidade é uma marca registrada da UFRGS. Entre alunos e professores, o debate é freqüente. De lá saem diplomados que, depois de anos de estudo sobre um mesmo tema, divergem com veemência. A Alca é um desses temas polêmicos. Uma questão do vestibular 2008 da UFRGS, segundo seu gabarito, afirma que a Alca é uma política dos países centrais para manter os países periféricos nesta situação. A resposta está errada e a questão deveria ser anulada. Os motivos para tanto são vastos e, para explicá-los, seriam necessárias algumas dezenas de páginas. No entanto, como as literaturas nacional e internacional se encarregaram do "trabalho sujo" - leia-se científico - , cabe aqui apenas enumerá-los. Mesmo assim, antes de entrar nos argumentos técnicos, vale apelar para a razão.Como avaliar o teor de um "contrato" composto de páginas em branco? Acredite, a Alca nunca foi colocada no papel. As negociações "emperraram" em 2003 e, até então, não havia ocorrido um avanço para a fase de negociações. Adicionalmente, é preciso notar que a todos os 34 países pretendentes à Alca seria dada plena autonomia para decidir a entrada ou não no bloco.Adentrando na tecnicidade que o tema merece, cabe salientar que a Alca, enquanto acordo de livre-comércio, pretendia reduzir impostos na transação de produtos entre países do bloco. Ou seja, permitir a importação de, por exemplo, máquinas norte-americanas, mexicanas, panamenhas etc. sem imposto de importação por parte do Brasil, assim como esses países poderiam importar sapatos, aço, vinhos etc. do Brasil sem os mesmos impostos. A teoria econômica mostra que a diversidade aumenta o bem-estar. Afinal, quando entramos num supermercado e há vários produtos competindo por preços para conquistar o consumidor, ficamos mais "felizes". Extrapolando, podemos dizer que, para a população brasileira, ter uma oferta maior de produtos para comprar melhoraria nossas vidas.A crítica a este argumento só é obscurecida pelo propalado risco de perda dos empregos, com uma eventual "invasão de produtos norte-americanos". Aqui, vale apelar para teoria econômica mais uma vez. O desemprego de um país é essencialmente explicado por variáveis que passam ao largo do comércio internacional; tais como: escolaridade da população (capital humano), capacidade de investimento (acumulação de capital físico), tecnologia e qualidade das instituições ("regras do jogo").Mais ainda, são exatamente as assimetrias entre Brasil e EUA, assim como em relação aos demais países do continente, que tornam o acordo benéfico. Imagine dois vizinhos que abrem suas portas e passam a transacionar produtos (via escambo) sem barreiras, aos preços de mercado. Se ambos tiverem os mesmos produtos, a mesma renda e as mesmas preferências, de nada terá adiantado a intenção de trocar. Ou, diferentemente, imagine que um vizinho tenha condições precárias de sobrevivência, sendo menos abastado. O que ele poderá ter a nos oferecer? Em outras palavras, em tese, um acordo com os EUA deve ser superior para o Brasil a um acordo com o Gabão.A questão do vestibular, além de ser subjetiva e ideológica, trazia como certa a resposta sobre um acordo que ainda não foi realizado e, se tivesse sido colocado em prática poderia ser, inclusive, melhor para o Brasil. Como se não bastasse, incluiu o termo neoliberal como resposta correta, em outra lacuna a ser preenchida, algo que sequer é bem definido, exceto nas cabeças daqueles que se declaram contrários a essa "vertente" semi-amorfa. Quem elaborou a questão, errou. Quem "acertou" a resposta, errou. Quem errou a resposta, errou. Afinal, não há resposta correta para a questão.


* foto: Colonne Dynamo”, 1935, de Alexander Rodchenko

Nenhum comentário: