Marcos Rolim, ex deputado do PT, sempre foi um peixe fora dágua. Lembro que foi ele que construiu a "Tese Para uma Esquerda Humanista" criticando o dogma religioso do socialismo. Rolim levou pedradas de uma certa esquerda (não humanista?) e até saiu do PT. Ontem ele escreveu o seguinte artigo para ZH sobre a visita do facínora Ahmadinejad.
Não em Nosso Nome
Marcos RolimA historiadora Michelle Perrot tem razão ao dizer que a tolerância tem limites, “para além dos quais, sua virtude pacificadora torna-se culpada de indiferença e de cumplicidade com o intolerável”. Para identificar o intolerável, entretanto, é preciso oferecer ao debate um critério moral. E se Auschwitz, por exemplo, fosse agora? Alguém diria que “trata-se da experiência de um Estado soberano”? Seria possível argumentar que “não devemos marcar nossa política externa por critérios ideológicos”? Não, evidentemente não. Respostas do tipo seriam insustentáveis, porque os campos de concentração simbolizam o mal radical e um vacilo apenas nos colocaria ao lado dos carniceiros. Pensemos na África do Sul do período do apartheid. Seria aceitável que o Brasil recebesse, à época, quaisquer dos seus presidentes racistas? Não, evidentemente não. Percebe-se, então, que o pragmatismo demanda limites de natureza ética. Por isso, a ideia de uma política externa de caráter “não ideológico” expõe ou uma verdade trivial ou uma capitulação. Pela primeira hipótese, afirmamos que o Brasil deve manter relações com o mundo sem que, para tanto, sejam necessários “filtros” político-ideológicos. Pela segunda, afirmamos que não há limites morais para estas relações.
O convite do governo brasileiro ao presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, para a visita dos próximos dias esclarece que devemos compreender por “política externa de caráter não ideológico” – o mantra repetido pelas autoridades do governo e por sua base parlamentar – o mesmo que “política externa desprovida de critérios morais”. Ahmadinejad não é apenas o presidente reeleito em uma fraude monumental. É também a liderança que negou a existência do Holocausto, que submete seus opositores à prisão e à tortura, que defende a pena de morte aos homossexuais e que prega a destruição do Estado de Israel. Ahmadinejad é um dos nomes do ódio. Sua figura constitui ameaça real à humanidade e recebê-lo é tão somente vergonhoso.A esperteza, como se sabe, costuma se transformar muito facilmente em estupidez e os eventuais ganhos da aproximação com o governo iraniano nos cobrarão alto preço.
As relações mais que amistosas entre Ahmadinejad e Hugo Chávez, por exemplo, talvez indiquem um dos caminhos da fatura. Anfi- triões não provocam seus convidados, e Lula terá a chance de posar ao lado do ditador. Por tudo aquilo que não será dito nas cerimônias; pela mudez enfim plasmada nas fotos do encontro, teremos a produção do sentido: este é um país onde tudo é possível. Como não há política externa que não seja, também, a extensão de uma concepção geral a respeito da política, a mudez referida traduz o limite maior de uma estratégia que, noves fora, propõe nova versão ao conservadorismo e reproduz, por omissão, a vertente anti-humanista que acompanha o Brasil como uma sombra. No passado, quando ditadores nos visitaram, a esquerda foi às ruas protestar. Agora, são os militantes pelos direitos humanos os que dizem: “Não em nosso nome!”.
4 comentários:
Ué, e aquela horadeira de "certa direita" de que lutar pelos direitos humanos é proteger bandidos? Tô te estranhando Maia!
Depende Carlos, tudo depende.
Bom, o contato diplomático é importante. Mas, lógico, quando fascínoras, ditadores, líderes de países autoritários fazem uma visita oficial ao nosso país é dever de nosso presidente recebê-los com a austeridade e seriedade devidas. Sem sorrisos, sem babação de ovo, só seriedade. É no mínimo desagradável ver o presidente eleito entre abraços e sorrisos com os lunáticos do mundo.
E, bom, não vi nenhuma foto do Lula sorrindo ou demonstrando satisfação com o encontro. Pelo contrário. Está aprendendo aos poucos.
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