Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

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terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Foucault e a Ditadura do Politicamente Correto


Foucault e seus ensinamentos acerca de um questionável "politicamente correto".

O Anti Fascismo Que Alimenta Um Certo Tipo de Fascismo

Pois hoje passei pelo Blog do Pulha Garcia, o Bom Sacana, que estava comentando sobre como é difícil conviver com a vida na democracia.

Diz ele:

é que há assuntos que não são "democratizáveis". As escolas por exemplo, foram feitas - acredite-se ou não - para a pequenada aprender. Não têm que ser "engraçadas", "giras", "fixes", "Kridas". A própria noção de autoridade nas salas de aulas, tal como nas esquadras, nos tribunais, nas empresas, etc não é democrática. Há alguém que manda, e alguém que obedece.
O que nos leva de novo à velha máxima de Maquiavel (antigo central do Belenenses mas que já não é do vosso tempo): "Quem constrói sobre o povo, constrói sobre o lodo".


Postei meu comentário ali lembrando o pai do politicamente correto, o filósofo francês Michel Foucault que aponta o adversário estratégico: o fascismo que está em nós todos, que martela nossos espíritos e nossas condutas cotidianas, o fascismo que nos faz amar o poder, desejar esta coisa que nos domina e nos explora.

Eu até concordo com Foucault, temos sim de nos desprender do fascismo, do totalitarismo e do egocentrismo que habita dentro de nós, temos de olhar para o coletivo, para o bem estar social, para a vida em solidariedade, em democracia etc.

Mas Foucault vai além da conta. Ele não consegue fazer qualquer tipo de mitigação ou ponderação. Ele simplesmente radicaliza em torno de um maniqueísmo estúpido. O fascismo nos faz amar o poder e ponto final, como se essa fosse uma verdade absoluta. Não é. Foucault -- idolatrado pelos intelectuais orgânicos do sistema educacional brasileiro -- não tem todo esse cacife, porque ele inverte, de forma exacerbada e radical a lógica por onde caminha a humanidade. Para começo de conversa, Foucault considera que quem tem a razão é sempre o louco, o maluco, aquele que é desprendido do sistema.

O sistema é uma forma de apropriação dos discursos, dos saberes, dos poderes e dos prazeres. O importante é pensar diferente, ser diferente, agir diferente. É fundamental romper com o sistema e com o poder que nos obriga. O importante, segundo Foucault, é ser porra louca.

Ele escreveu um texto chamado Introdução À Vida Não Fascista, sobre a arte de viver contra todas as formas de fascismo. Trata-se de um manual para a vida cotidiana: Diz ele:

- Libere a ação política de toda forma de paranóia unitária e totalizante;

- Faça crescer a ação, o pensamento e os desejos por proliferação, justaposição e disjunção, mais do que por subdivisão e hierarquização piramidal;

- Libere-se das velhas categorias do Negativo (a lei, o limite, a castração, a falta, a lacuna), que o pensamento ocidental, por um longo tempo, sacralizou como forma do poder e modo de acesso à realidade. Prefira o que é positivo e múltiplo; a diferença à uniformidade; o fluxo às unidades; os agenciamentos móveis aos sistemas. Considere que o que é produtivo, não é sedentário, mas nômade;

- Não imagine que seja preciso ser triste para ser militante, mesmo que a coisa que se combata seja abominável. É a ligação do desejo com a realidade (e não sua fuga, nas formas da representação) que possui uma força revolucionária;

- Não utilize o pensamento para dar a uma prática política um valor de verdade; nem a ação política, para desacreditar um pensamento, como se ele fosse apenas pura especulação. Utilize a prática política como um intensificador do pensamento, e a análise como um multiplicador das formas e dos domínios de intervenção da ação política;

- Não exija da ação política que ela restabeleça os “direitos” do indivíduo, tal como a filosofia os definiu. O indivíduo é o produto do poder. O que é preciso é “desindividualizar” pela multiplicação, o deslocamento e os diversos agenciamentos. O grupo não deve ser o laço orgânico que une os indivíduos hierarquizados, mas um constante gerador de “desindividualização”;

- Não caia de amores pelo poder.

Esses mandamentos são muito bonitos para quem ainda é verde na vida. Mas eles são recheados de ingenuidade. E essa ingenuidade -- típica da década de 60, do movimento dos hippongas -- toma conta da sociedade contemporânea que deve lutar sim contra o fascismo, mas que não pode ser refém do pensamento politicamente correto da inconsequencia foucaltiana.

2 comentários:

Catatau disse...

Salve Maia!

Quem disse que o Foucault é o "pai do politicamente correto"? O Reinaldo Azevedo?

Não sei não, esse teu post foi deveras problemático, pq mesmo citando um texto dele coloca uma série de teses que absolutamente são bem "mais embaixo".

Por ex: ele nunca disse que "o louco tem a razão", mas sim tentou analisar qual o papel da loucura na constituição do que ele chama de "homem moderno", o que traz resultados beeemmm diferentes, e assim por diante...

Kleber Henrique Alves disse...

Olha, moço, infelizmente você não lê Foucault... Não quero dizer que nunca sentou com um livro dele, mas, se o fez, não sei como conseguiu interpretá-lo assim.

Foucault, na esteira de Nietzsche, repudia qualquer forma de reprovação MORAL do "sistema" e isso atravessa toda a sua produção... Pra começo de conversa, o poder pra ele não é algo pejorativo, necessariamente imposto de cima pra baixo, não é portento exclusivo de um opressor que invariavelmente se impõe a um oprimido... O poder pra Foucault é uma potência positiva de todo sujeito, mas as forças do sistema canalizam negativamente essa energia, castrando-a por meio da disciplina do corpo, tornando-os meros "indivíduos": por isso no texto que você citou vem escrito "o indivíduo é um produto do poder"; Foucault quer o contrário, que o sujeito seja PRODUTOR do poder, não produto dele, assim não existirá mais "indivíduo", mas intensidades, fluxos, multiplicidades... Foucault não idealiza mmoralmente o sumiço do poder, pelo contrário, quer que ele realmente ACONTEÇA, e um dos empecilhos são as forças do sistema de mercado que atuam na contra-mão dessa ideia, e aí que vem crítica foucaultiana, que nada tem de inconsequente...

Sugiro que leia (ou releia), com atenção:
- apenas a introdução da Microfísica do poder, onde Roberto Machado tem a bondade de explicar no que realmente consiste as relações de poder em Foucault;
- o sexto artigo da mesma obra, pois trata-se de uma entrevista amistosa dele com Deleuze, e os dois atacam toda essa visão do politicamente correto só que com outras palavras, e sugerem como superá-la;
- um capítulo da obra Conversações, de Deleuze, intitulado "Foucault", em que elucida boa parte dos mal-entendidos que muita gente preguiçosamente vê em Foucault de tudo quanto é jeito...