Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Irritando o Coração dos Viventes


Monitorando a blogosfera deparei com a notícia de que o MST anda pelas bandas de São Sepé, no RS, com 500 integrantes.

A elite do MST é que determina o tipo de ação que os incautos integrantes do movimento devem fazer. É tudo de cima para baixo. Mas a elite do MST está colocando este movimento contra o povo, porque esse tipo de ação está longe de conquistar o coração e a mente das mulheres e dos homens deste Brasilsão. Quantos desses 500 invasores são de São Sepé? Talvez 'meia dúzia de quatro ou cinco'. A imensa maioria vem de outros lugares, outras bandas, outros estados, são pessoas com outros sotaques. E a população local não simpatiza e nunca simpatizou com o MST. Conheço bem o interior do RS (meninos, eu vi) e gosto de conversar com todos os tipos de pessoas, sem preconceitos, porque assim a gente aprende e aprende muito. Nunca escutei, nunca ouvi, por essas bandas todas, nenhum elogio ao MST. Todos, sem exceção, detestam o MST. E por que detestam? Por que a tática do movimento é impedir o fluxo que deve ser livre. O MST impede o trânsito nas estradas, nas ruas, nos bancos, nos órgãos públicos e ninguém gosta de ver o seu fluxo bloqueado. Está na hora da elite do MST pensar em táticas estratégicas mais simpáticas, porque essa de bloquear os fluxos da vida irrita e irrita muito o coração dos viventes.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Os Protestos do dia 5 de Outubro


No dia 05 de outubro é o termo final das concessões da Globo, RBS, Bandeirantes etc. E a minoria participativa de sempre está realizando atos com o seguinte objetivo, conforme divulgou o combativo blog dialógico:

"Com atos na rua, vamos demonstrar que estamos de olho e que nenhuma concessão poderá ser outorgada e renovada daqui para frente sem que os seus verdadeiros donos – as mulheres e homens de todo o Brasil – saibam como e por que!"

O conteúdo de um contrato de concessão é complexo e requer técnica em direito administrativo e, para quem não sabe, toda a concessão é precedida de audiência pública. Isso está na Lei. O povo do Brasil não vai perder tempo examinando contratos de concessão. O Estado brasileiro deve ter gente eficiente e capaz para examinar essas cláusulas contratuais que são públicas. Estão à disposição de cada brasileiro que se interessar. Passou-se o tempo dos contratos de surdina.

Mas a finalidade dos "atos na rua" é pressionar as grandes empresas da mídia a ter um certo cuidado em relação às críticas que se faz a um governo de esquerda, como se ele fosse um cristal delicado.

O concessionário de uma rede privada de televisão tem todo o direito do mundo de criticar, por exemplo, os valeriodutos da vida ( e os cegos da ideologia acham que isso é baboseira do golpismo) e mostrar ao povo deste país a verdadeira face de um governo corrupto (como a mídia fez com Collor e com os aloprados do PT).

No dia 05 de outubro, os movimento sociais estarão se organizando para se encontrar na frente da RBS, da Globo, da Band. Muito provavelmente vai comparecer a mesma minoria de sempre que, por sinal, é muito participativa e faz muito barulho .... por nada.

Essa minoria que vai gritar na frente da RBS poderia muito bem exigir do governo Lula o fim da corrupção, o fim do toma lá da cá, uma melhor gestão pública nos serviços essenciais e, também, e uma TV pública autônoma e de responsabilidade. E o exemplo de um tv pública não é bolivariano, mas europeu.

Amazônia - Melhor Assim do que Assado


A velha esquerda anda protestando porque a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, anunciou na segunda-feira numa conferência da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, a privatização de áreas da floresta amazônica. A primeira a ser licitada fica na região do Jamari (RO). A unidade possui 220 mil hectares, dos quais 90 mil hectares serão privatizados.A ministra defende que a privatização terá como alvo a exploração sustentável da floresta por meio de empresas nacionais e ressaltou que a medida ajudará no combate à grilagem de terras na região.

Pesquei a notícia do diario gauche que pescou do Brasil de Fato. O mar definitivamente está bom para peixe.

Para essa velha esquerda melhor mesmo é deixar como está. Os posseiros ocupam a Amazônia e abusam dela, sem qualquer controle. Em qualquer lugar do mundo a ocupação sustentável dá certo, por que no Brasil isso não pode ocorrer? Basta racionalizar e bem gerir esse projeto, com responsabilidade ambiental e com controle estatal sobre os particulares, impedindo as grilagens e picaretagens. Melhor assim do que assado. É sempre assim, quando se faz projetos para o desenvolvimento do Brasil vem a velha esquerda -- aquela mesma que foi contra a inauguração da Av. Beira Rio -- dizer que é um absurdo, que é um crime, que é uma entrega. Que Marina Silva vá além nesse projeto que tem que ter a fiscalização das entidades mundiais, porque a Amazônia é brasileira, mas o ar puro que ela emite, é de toda a humanidade.




Corrupção Bolivariana


Ontem a ONG Transparência Internacional divulgou a relação dos índices de corrupção dos países mundiais. O Brasil teve uma pequena melhora em 2007, sua nota subiu de 3,3 para 3,5 em relação ao ano passado, ainda que a mudança esteja dentro da margem de erro da pesquisa.Como em 2007 a Transparência Internacional incluiu mais 17 países no levantamento, o Brasil acabou caindo, porém, da 70ª para a 72ª posição. Para a ONG, o "divisor de águas" é a nota 5, abaixo da qual estão países com problemas mais sérios de corrupção. Na América do Sul, apenas o Chile (7) e o Uruguai (6,7) estão no grupo dos países considerados menos corruptos.


A lista completa dos países foi divulgada hoje em Zero Hora.

E a tão alardeada Venezuela bolivariana, como anda, em relação à corrupção?

A Venezuela despencou 24 pontos em relação ao ano anterior, passando da posição 138 para 162, como registra hoje, Fabiano Maisonnave, correspondente da Folha em Caracas:

Para um estrangeiro, é fácil ver a corrupção na Venezuela. No aeroporto internacional Simon Bolívar, em meio à presença ostensiva de soldados, carregadores oferecem a troca de dólares por bolívares no câmbio paralelo. A operação, ilegal, é feita em cantos menos movimentados do prédio.A primeira impressão tem sido confirmada pelas pesquisas. O país voltou a aparecer no ranking da ONG Transparência Internacional como o país mais corrupto da América do Sul. A Venezuela despencou 24 postos com relação ao ano anterior, passando da posição 138 à 162, de um total de 180 países.O ex-diretor do BC venezuelano Domingo Maza Zavala diz Hugo Chávez agravou o problema: "Ele apregoa o socialismo e a doutrina bolivariana como exemplos de moral e honestidade, mas na prática ocorre o contrário". Para ele, a corrupção do funcionalismo é clara: "A quantidade de veículos de luxo, casas, iates, aviões, tudo é sinal claro de que dispõem de recursos importantes. Mas a remuneração é modesta".

A imagem acima é de Nikolai Gogol (autor de o inspetor geral) que, em suas peças, satiriza a corrupção e o emperramento burocrático, na rússia do século XIX.

Quem quer dinheiroooooo?


Leio na Folha de hoje que Lula liberou 32 milhões por dia para votar CPMF:

Na semana em que a Câmara dos Deputados iniciou a votação em primeiro turno da proposta de prorrogação da CPMF até 2011, o Palácio do Planalto destinou R$ 159 milhões em verbas federais para atendimento das emendas que deputados e senadores fizeram ao Orçamento da União.O valor, comprometido ou efetivamente pago entre segunda e sexta-feira da semana passada, representa 9,6% de tudo o que havia sido destinado em todo o ano. Ou, em outra conta, significa R$ 32 milhões por cada dia da semana passada.


A Folha de S. Paulo não deveria noticiar esse tipo de matéria. Ela deveria se espelhar na mídia bolivariana.


quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Considerações Tempestivas e Intempestivas


Muito discuti a questão do trabalho (arbeit) e sua precarização diante dos tempos pós fordistas com o professor e sociólogo Giovanni Alves, editor de alguns livros sobre precarização do trabalho e professor do campus de Marília-SP, na lista globalization há dois ou três anos. A crise do pensamento de esquerda, marxista ou marxiano está exatamente ai, na compreensão do mundo do trabalho pós fordismo. O próprio toyotismo e suas flexibilizações não foi muito bem assimilado pelos pensadores de esquerda, porque estes ficam presos a aspectos mecânicos típicos do pensamento do século XIX na base do "pão pão queijo queijo". Além disso, esse transição do mundo do trabalho foi aspecto importante na derrocada do império soviético, como bem refere o professor Angelo Segrillo no livro "A Derrocada do Império Soviético, editado pela Record. O mundo mudou e, ainda bem que mudou. Mas o que me impressiona é que certos scholars da velha esquerda ainda acreditam na extinção do Estado, ou como diz Istvan Meszarós, o Estado ainda pode fenecer (beyound capital, Além do Capital, editado no Brasil pela Boitempo, da namorada do reaça do Sader). E fico impressionado quando um pensador do naipe do filósofo Gorz (1923-2007) vem falar dessa mesma baboseira, ele que acompanhou de perto o desastre da antiga DDR. Se existe um Estado razoavelmente eficiente e que funciona é o Estado alemão, que sempre teve uma grande tradição no serviço público e no direito administrativo com grandes juristas. Mas o mundo tem que mudar, não se pode concentrar capital no mercado financeiro, como hoje ocorre. Infelizmente, nossas cimeiras que reunem grandes chefes não conseguem ir além, porque somos governados por um império chefiado por um troglodita. O mundo em compasso de espera do fim do mandato de George W. Bush. Tudo emperrou nele.Que saudades do Bill.
(o terno acima é uma obra de Joseph Beuys)

Núcleos Estratégicos


O dono do diário gauche está revoltadíssimo com o Ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, vinculado à DS, Democracia Socialista, tendência localizada mais à esquerda no PT.

Diz o blogueiro:

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) ocupou mais prédios públicos e bloqueou mais estradas para protestar contra o governo federal e em favor da reforma agrária. Os atos, que começaram na segunda-feira, passaram de 10 para 13 Estados, ontem.
Guilherme Cassel, ministro do Desenvolvimento Agrário, declarou que o protesto é descabido porque o governo Lula tem ampliados os investimentos na desconcentração fundiária e na qualificação de assentamentos. Segundo ele, o orçamento do Incra triplicou entre 2003 e 2007.
Para Cassel, que sempre pretendeu pautar a luta do MST, "substituir a agenda da produção pela da violência, da ocupação de prédio público, atrapalha a reforma agrária". "Reconheço quem tem expectativas superiores, mas desde que aceite que o governo tem feito muito." Cerca de 150 mil famílias acampadas ainda esperam ser assentadas.
Este blog tem informações confiáveis de que o ministro Cassel está expressamente escalado pelo núcleo estratégico do Palácio do Planalto para “bater e rebater” nos movimentos sociais, especialmente no MST.
O ministro do Desenvolvimento Agrário filia-se a uma tendência interna do PT, a Democracia Socialista. A corrente DS é considerada nominalmente de esquerda, mas atualmente está inteiramente comprometida e instrumentalizada pelas políticas neoliberais do lulismo. O que para Cassel deve ser uma prova pessoal de fogo, já que a sua estrita fidelidade ao esquema de poder constitui condição indispensável (conditio sine qua non) para que a sua tendência permaneça no Ministério-ônibus do presidente Lula.
Para o Planalto, por sua vez, é taticamente relevante a presença da DS no buquê ministerial a fim de assegurar-lhe pelo menos um brando aroma de esquerda.
Coisas da vida.

Comentário do dono deste bolicho:

O núcleo estratégico do MST é que deveria se atualizar. O próprio Stédile já admitiu que a reforma agrária que o MST luta não tem como ser implementada. O Brasil perdeu o trem da reforma agrária que deveria ter sido feita em outro momento histórico. Este tempo já passou. Não adianta assentar zilhões de pessoas em um determinado módulo de terra para plantar feijão e couve, porque os filhos dessas famílias vão mesmo assim migrar para a periferia da grande cidade. O núcleo estratégico do MST deveria lutar para que as pequenas e médias cidades do Brasil recebam mais investimentos públicos e privados para que seus habitantes ali permaneçam. Mas o MST não está preocupado com isso, pois suas cabeças pensantes são da antiga, são os reacionários que pensam que a solução para o Brasil é a revolução socialista.Mas os tempos de revolução já passaram.

Novo Diário de Esquerda Espanhol

Aqueles que tanto criticam a mídia "burguesa e golpista" poderiam se espelhar no exemplo espanhol. Está nascendo hoje um diário popular e de esquerda para fazer concorrência com o El País.

Esse novo jornal vai se chamar Publico e custa 0,5 centavos de Euro.

Dei uma rápida olhada no novo jornal e não vi -- realmente -- muita diferença ideológica com o El País.

Mas o fato é interessante e mostra que o fluxo da mídia é diversificado e nunca pode ser interrompido pelos monopólios, oligopólios e pela censura do pensée unique.

Que o exemplo espanhol sirva de base para a nossa esquerda que poderia muito bem editar um jornal diário. Por que não edita?

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Santiago, uma figuraça






O cineasta teve o santo cuidado de dizer o politicamente correto: na verdade, quem estava filmando era o filho do patrão e quem estava sendo filmado era o mordomo. Santiago morreu em 1994 e está morto e sepultado e não parece que ele pensasse com esse ressentimento. Será que sim ou será que não? Não se sabe e nem foi questionado acerca desse complicado e intempestivo assunto.

Santiago era uma figuraça. Enlouquecido pela aristocracia mundial, de qualquer raça, de qualquer país, de qualquer região, pois elite existe em qualquer lugar, inclusive naqueles onde se pretende (ou se tenta) eliminar elites. Santiago era um colecionador de histórias aristocráticas, de mitos, de lendas e legendas, de músicas, de danças, de cultura, de fatos, de graça e de charme. Santiago era colecionador de boa memória. Foi o mordomo da família Moreira Sales por 30 anos (1956 até 1986) na casa da Gávea onde hoje fica a fundação do Unibanco. Joãozinho Moreira Sales filmou o ex mordomo da família num pequeno apartamento no Leblon. São fatos notáveis, conversa agradável de uma pessoa para lá de muito simpática. Uma figura.

E assim a luta de classes entre o mordomo e o diretor, filho do banqueiro patrão se encerra. Na névoa da sensibilidade tudo parece convergir para o bem comum. E assim foi. João se torna Joãozinho e o mordomo feliz contando os bons fatos, a boa época do tempo em que trabalhou na mansão da Gávea que ele confundia -- e fazia questão de confundir -- com um palácio toscano.

Na casa dos Moreira Sales, Santiago conheceu grandes estrelas, pessoas distintas, os donos do poder, a nata da nata da sociedade brasileira. E pode fazer seu show, arrumando as flores, monitorando a casa, as crianças, as formas, as cores, o fluxo.

E o tempo passa e o filme acabou e causou em mim um grande desencanto. Por que não filmei ou colhi o depoimento de uma velha tia que se foi no ano de 1985?

Mano Brown no Roda Viva


Não tive muito saco - porque preferi zapear por outras bandas - para ver o Mano Brown no Roda Viva de ontem. Brown é líder e vocalista dos Racionais MCs, grupo de rap que surgiu há mais de 20 anos no Capão Redondo, região de Campo Limpo, uma das áreas mais populosas e pobres da Zona Sul de São Paulo. Segundo o apresentador Markun, A música dos Racionais MCs deixa claro o conflito entre o centro e a periferia, entre o Brasil dos incluídos e dos excluídos. O grupo se transformou numa expressão das idéias sobre consciência negra no Brasil e fez dessa percepção sua marca no rap brasileiro”.


Como a tarde está um pouco mais livre e o dia está frio resolvi navegar pelos blogs da vida e me deparei com o Reinaldo Azevedo criticando o programa Roda Viva por ter convidado o rapper Mano Brown para o programa realizado ontem. Azevedo considerou um espetáculo grotesco e traz alguns comentários interessantes e inteligentes e algumas pérolas do programa, que pesquei:


Mano Brown é só um Macunaíma com cara marrenta, um espertalhão que diz barbaridades na certeza de que uma certa aura de mistério o protege. Era como se o povo ele-mesmo tivesse sido chamado a sentar naquela cadeira, com todas as suas cicatrizes e suas histórias de privações. Esse é o mito mais caro e mais vagabundo da esquerda: a suposição de que o humilde adquire uma voz, assume a força de uma representação, e continua ainda a ser o... humilde que serve de modelo aos devaneios do burguês culpado, que sonha com o “bom rústico”, variante urbana do bom selvagem de Roussseau, o tonto. Era o que expressava o olhar embevecido, “interpretante”, de Maria Rita Kehl, de quem, por Deus!, falarei ainda hoje.Se um dia tiverem um tempinho, ou um tempão, leiam Fausto, de Goethe. Um dos sonhos daquele homem culto, cínico e culpado é compreender a verdade camponesa. E ele compreende que o fundo da alma de todo homem talvez não seja digno de ser visto de perto. Na obra, isso tem algumas implicações que seriam também religiosas. Nem cabe aqui. Vou adiante só com Mano Brown. E com a falência do jornalismo, ao menos na noite de ontem e naquela roda sonolenta, mais morta do que viva, pronta à adulação. Por alguma razão que gostaria que os valentes me explicassem, Brown era digno de dar uma entrevista, mas não podia ser confrontado – se é que alguém ali tinha vontade de confrontá-lo. Nêumanne, antes de desistir, até tentou.


(....)


O grande momento do programa veio na seqüência. Numa pergunta oportuna, Paulo Lima quis saber: “E o que está acontecendo em Brasília? É um negócio em que você presta atenção, essa movimentação toda, esses escândalos de corrupção, você se liga nisso, acompanha de perto?Brown – Não de perto, mas acompanho.Lima – O que você está achando, por exemplo, da forma como o presidente Lula tem se posicionado diante dessas confusões envolvendo o PT, dessa denúncias de corrupção envolvendo o PT, dessas denuncias de corrupção e tal? Eu vi uma entrevista sua aqui dizendo que, talvez, o Lula estivesse melhor fora daquela cadeira de presidente, que, na sua opinião, é a cadeia mais solitária do país. Queria que você falasse um pouquinho do Lula especificamente.Brown – É, eu gosto do Lula, sou eleitor do Lula, apóio o Lula, falo bem do Lula em qualquer lugar e não espero benefício por isso. Não conto com benefício do Lula ou que venha do PT. Se vier, firmeza, mas eu não espero por isso. Eu acho que o Lula é um cara que veio de baixo, certo? ELE SABE QUE DAR A CABEÇA DOS AMIGOS DELE PARA OS INIMIGOS, ELE NÃO VAI DAR. ELE VAI ESPERAR A JUSTIÇA SE FAZER POR CONTA PRÓPRIA. ELE ESTÁ SE POSICIONANDO CERTO. ACHO QUE NÃO É DA ÍNDOLE DELE ENTREGAR UM AMIGO DELE QUE DEU MANCADA, ENTENDEU? Ele não faria isso. Ele sabe o que é que é isso. Ele não faria isso. Agora, ele vai deixar descobrir. Se descobrir, é pau no gato, é lamentável.
Na seqüência, o petista Paulo Lins (...) queria saber (na verdade, já respondia) se é muito difícil falar a uma criança pobre que ela tem de ser honesta.Brown – Eu chego a dizer que eu nem considero ele [o ladrão] desonesto. Diante da realidade e das armas que eles têm pra lutar, das armas que eles aprenderam como meio de sobrevivência, eles são honestos. EU TENHO CERTEZA DE QUE, COM OS PARCEIROS DELES, ELES SÃO HONESTOS; COM A FAMÍLIA DELES, ELES SÃO HONESTOS; COM OS MANO QUE TÁ PRESO, ELES SÃO HONESTOS, TÁ LIGADO? Eles são honestos com quem é honesto com eles. QUANDO VOCÊ FALA QUE UM ASSALTANTE DE BANCO É DESONESTO, VOCÊ TEM DE OLHAR PARA A SOCIEDADE... SE A NOSSA SOCIEDADE É HONESTA. EU COSTUMO FALAR PARA OS MANO, QUANDO A GENTE TÁ CONVERSANDO, QUE A NOSSA SOCIEDADE É CRIMINOSA, É OMISSA; ELA É CEGA QUANDO QUER, SURDA QUANDO QUER.

Pinçando as Pérolas do Guga Türck


Guga Türck é gremista e faz parte da geral do Grêmio, onde ocorre a famosíssima avalanche. Ele tem um blog chamado alma da geral, onde pincei as seguintes pérolas:

"A integração não será feita pelos mercados. As direitas falam de Democracia quando lhes convêm. A direita sempre é a elite. O poder tradicional. A elite política, militar, empresarial. Formam a direita. São aqueles que se opõem às mudanças (Hugo Chávez)."

"Não passa pela minha cabeça ser alguém com um empreendimento que gere lucro, que possa andar esbanjando coisas num prazer egoísta de viver." (Olívio Dutra).

Bem se vê, portanto, que Guga Türck como boa ovelhinha do maniqueísmo ideológico faz confusão entre mercado e neoliberalismo e considera empreendimento que gera investimento como um prazer egoísta de viver.

Mas a última do Guga Türck é o supra-sumo do chavismo: eliminar o contraditório, a crítica e a boa discussão para fomentar o jogral, o debate do pensée unique daqueles que acreditam que a direita sempre é elite.

Foi no blog do diário gauche quando este blogueiro aqui fez a crítica ao sentimento revolucionário da Venezuela chavista (post anterior). Diz o Guga criticando este inocente blogueiro:

Realmente isso é um saco.Este é um belo blog - referência! - e o pessoal, ao invés de discutir os artigos, fica se degladiando com um zé mané.Deixem-no no silêncio!!!Por favor, dessa forma, eu não lerei mais a parte de comentários do Diário Gauche, uma pena.Pois aqui seria o fórum adequado para evoluir na opinião sobre as temáticas elencadas.Quando se clica nesta seção, imagino eu - e eu o faço para isso -, as pessoas estão procurando mais informações, mais pontos-de-vista.E, podem apostar, um cara como este, que parasita blogs, adora isso, essa repercussão toda em cima dele.Perde-se, caro Cristóvão, o foco do Diário Gauche, e o espaço dos comentários não é mais teu...Está, infeliz e definitivamente, infectado!Sério, não quero ser mais audiência desse cara.Já li coisas muito interessantes por aqui de colaboradores que têm muito a acrescentar, pessoas inteligentíssimas, mas que também acabaram caindo na lorota de argumentar e contra-argumentar em direção a um falacioso personagem.Me perderam, caros.Vou ficar pela leitura dos artigos e só.Mandarei e-mail para o companheiro Feil no caso de algum comentário...

Quem está infeliz e definitivamente infectado pelo jogral do pensée unique do maniqueísmo ideológico é o Guga Türck que já tem idéias prontas e constituídas sobre um mundo melhor e possível e não admite alterações nesses ideais. Esse é o comportamento típico de certa esquerda que acredita no poder de um homem só e que o fluxo das idéias pode ser muito bem interrompido para dar lugar ao discurso único ingênuo daqueles que acreditam que mercado não é fato social. Mercado é o quê, cara pálida?

O Pacotão de Bananas




Abaixo comentário que fiz no diário gauche sobre a efervescência revolucionária que toma conta da Venezuela para a aprovação das reformas constitucionais -- que serão submetidas via referendo -- à aprovação ou não dos venezuelanos.
Diz o diário gauche:
Das 33 mudanças propostas por Chávez à Carta Magna de 350 artigos que ele próprio impulsionou e conseguiu aprovar após chegar ao poder em 1999, o direito à Segurança Social para trabalhadores como taxistas, serviço doméstico e vendedores informais é respaldado por 90,8% da população, seguido da redução da jornada de trabalho para seis horas, apoiada por 70,6%.
Omite o aludido blog que no meio do pacotão está a possibilidade de reeleição indefinida do chefe do Executivo.
Em qualquer país do mundo qualquer população vai votar a favor da diminuição da jornada de trabalho, contra reformas previdenciárias etc. No conjunto, no pacotão de reformas constitucionais existem medidas absurdas como a possibilidade de eterna reeleição do presidente. Mas a população venezuelana vai votar sim ou não. Não existem outras opções além do sim ou do não. Ou seja, se aprova ou não todo o pacote constitucional, no qual estão inseridas medidas boas e, também, antidemocráticas e totalitárias, alimentando e concentrando cada vez mais o poder no executivo. A Venezuela chavista se aprofunda como uma republiqueta de bananas.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Tropa de Elite da Pirataria


Meu navio ancorou nos blogs ribimboca da parafuseta e no sangue de barata e o assunto em destaque é o filme Tropa de Elite -- que está rodando no festival de cinema do Rio de Janeiro.

Segundo o sangue de barata: Inspirado no livro Elite da Tropa (de Luís Eduardo Soares, André Batista e Rodrigo Pimentel), o filme já era notícia antes mesmo de sua estréia no festival, quando vazou na Internet e começou a ser vendido pelos camelôs da cidade. Foi aí então que o diretor José Padilha – o mesmo de Ônibus 174 – começou a chamar atenção com suas declarações condenando a “indústria da pirataria”, que, ironicamente, muito o ajudou com todo esse sucesso.

E o ribimboca da parafuseta complementa: A classe média, é representada no seu braço armado: a polícia militar. É corrupta, violenta. Seus representantes nas ONGS são engajados, mas usam drogas, contribuindo com o mal que gostariam de ver eliminado.Tropa de Elite é só o Carandirú, ou Cidade de Deus da vez. Bom filme, contudo, só mais um filme para a classe média se sentir culpada pela pobreza vigente, e mal digerir a pizza depois da sessão.

E para completar o assunto, vai a entrevista publicada hoje na Monica Bergamo da Folha (para assinantes) que entrevista o André Ramiro, ex porteiro de cinema que faz o papel de um PM incorruptível que entra para o Bope, o Batalhão de Operações Especiais, grupo de elite que é sempre chamado para incursões nas favelas cariocas. Ele falou à coluna:

FOLHA - O filme está gerando reações de apoio ao Bope, por mostrar o batalhão como violento, mas incorruptível. O que acha?

ANDRÉ RAMIRO - É complicado achar que os caras são heróis, porque eles torturam no filme. Herói é Gandhi, é Martin Luther King, é madre Tereza, é Betinho. Os grandes heróis não pegam em armas.

FOLHA - Em São Paulo, houve empresários que reagiram ao filme com a afirmação de que, afinal, o Bope enfrenta uma "guerra" na favela.

RAMIRO - É fácil falar quando você está no apartamento e só vê isso pela TV. Por que não se investe em lazer, cultura e educação? Eu não tive isso no meu bairro [Vila Kennedy, na zona oeste do Rio]. Já vi gente morrer nessa guerra. Em vez de exaltar o Bope, as pessoas precisam perguntar: por que tem que matar?
FOLHA - Já sofreu violência ou discriminação policial por ser negro?
RAMIRO - De vez em quando acontece, quando estou com um amigo no carro.
FOLHA - O que achou da invasão policial do Complexo do Alemão, que deixou 19 mortos, em junho, teve respaldo do governo Sérgio Cabral e um amplo apoio, de acordo com pesquisas? RAMIRO - Aquilo foi dado como uma operação policial bem-sucedida, mas quem sofreu foi o trabalhador, a mãe que ficou chorando. Quem dá ordem para entrar e matar não sofre o problema na pele. O saldo não foi maravilhoso. Foi uma operação malsucedida.
FOLHA - Fez amigos no Bope, nas filmagens?
RAMIRO - Polícia era uma coisa que eu abominava. Continuo com a mesma opinião, mas agora conheço as pessoas.
FOLHA - O filme foi pirateado e impulsionou a discussão sobre a legitimidade de pessoas que não têm muito dinheiro terem acesso à cultura, ainda que de forma irregular. Você, que já foi porteiro de cinema, o que acha da discussão?
RAMIRO - Trabalhava no Fashion Mall, um shopping de elite. Os únicos pobres por ali eram faxineiros, porteiros e caixas que trabalhavam lá. Cinema é caro e quem mora na favela não tem grana. O engraçado é que quem tem grana apresenta carteirinha de meia entrada. Não posso dizer que [comprar DVD pirata] seja justo. Pessoas trabalharam no filme e esperam um retorno [financeiro]. Por outro lado, tem muita diferença pagar R$ 5 no DVD e R$ 18 no ingresso de cinema. As pessoas querem ver o "Tropa" porque é bom. Se eu ainda estivesse na portaria do cinema, seria um filme que gostaria de ver. Mas no piratão, nem pensar!

domingo, 23 de setembro de 2007

O Leopardo de Visconti


Recomendo o DVD - "O Leopardo" de Luchino Visconti, baseado no romance homônimo de Giuseppe Tomasi Di Lampedusa (Il Gattopardo, Itália/França, 1963 Versátil Vídeo).

Dizem que é o mais épico e grandioso filme italiano de todas as épocas. Talvez seja, o filme é realmente épico. São mais de três horas de duração e o cenário siciliano, seus palácios, sua geografia, sua gente é envolvente.

É a história do príncipe Dom Fabrizio Salina (Burt Lancaster que teve algumas rusgas com Visconti durante os sets e depois ambos se conquistaram) que consegue enxergar além de sua própria nobreza e aceita a ascenção burguesa na Itália de 1860, durante a unificação.

Dom Fabrizio entende que seria muito mais conveniente para seu favorito sobrinho (Alain Delon) se casar com a linda e envolvente burguesinha Angélica (Cláudia Cardinale), do que com sua própria e insossa filha.

Formava-se ai a aliança entre nobreza e burguesia.

Pesquei algumas frases bem interessantes:

É preciso mudar para tudo ficar como está.

"Nós somos os leopardos, os leões e seremos substituídos por chacais e hienas. E todos: leopardos, leões, chacais e ovelhas, continuaremos nos julgando o sal da terra".

A classe média não quer nos destruir, quer só tomar nosso lugar com boas maneiras"

8 Horas de Chávez


Hoje o Chávez bateu um récord. Iniciou o programa Alô, presidente!, às 11 da manhã e terminou às 19:10 h.


Oito horas de Chávez.


Ele controla o fluxo da informação pública da Venzuela. E cooptou o Cisneros - o maior empresário da mídia do país. E fechou a RCTV, de oposição. Resultado, a população de baixa renda que não tem acesso a TV a cabo tem apenas a opção do discurso chapa branca do governo.


Chávez quer ingressar no Mercosul, mas depende do senado do Brasil.


A discussão que vai "bombar" é a questão da cláusula democrática que estabelece como fundamento da participação no MERCOSUL a preservação do regime democrático de governo.


Um país em que o presidente da república utiliza os canais públicos para fazer discursos de 8 horas pode ser considerado democrático?

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

O Ônibus do Contrafluxo



Sou criticado por fazer pauta em cima dos blogs de esquerda.
Fazer o quê?

Mas o assunto que continua bombando é o da homenagem da Luciana Genro, Manu Dávila e Maria do Rosário para a RBS. Umas "lambe botas " do imperialismo midiático, dizem alguns.


Com todo o respeito e data venia da vida, eu acho essa preocupação absolutamente ingênua. Esse é o jogo da política, isso faz parte da democracia num país de 190 milhões de pessoas. O fluxo da comunicação é esse. É difícil tomar o ônibus do contrafluxo, porque ele não é universal. Abrange poucos. A eterna elite.

Tem blogueiro forçando a barra

Não gosto de implicância, mas tem horas que pego no pé.
É que tem blogueiro foçando a barra.
E logo hoje na data gaúcha!


Hoje o Rio Grande marcha comemorando uma derrota. Porto Alegre marcha não sabe por quê, nunca foi reduto farroupilha, sempre esteve “mui leal e valerosa” ao lado do Império.
O Rio Grande do Sul administrado pelos tucanos, hoje, é um Estado quebrado e desmoralizado, com a educação sucateada, saúde esgualepada, e marchando para pendurar os anéis da família no prego de oscips, terceirizações, e a toda sorte de privatizações camufladas.
O mais grave é que não há políticas ou projetos pra nada, ou melhor, há uma única política, a política do “deus ajuda e a União provê”.
O Piratini reduziu-se a um balcão de homologação dos requerimentos das papeleiras para alastrarem o seu deserto verde, com uma mãozinha do BNDES. O montante de renúncia fiscal caso cessasse seria suficiente para tapar o rombo do Tesouro, mas os tucanos foram eleitos para manter os privilégios de poucos não para eliminar os privilégios de poucos.
E assim bate o bumbo da nossa indignação.
Marcha, Rio Grande!

O blogueiro tá forçando a barra. O Rio Grande caminha para onde deve ir. Esse é o rumo do possível. Que outros caminhos deveria Yeda percorrer? Mas tem sempre uma pedra no meio do caminho (no meio do caminho tem uma pedra), o cobertor curto das finanças. E Yeda está dando essa prioridade. Racionalizando gastos. Isso doi. Isso gera protesto, indignação e injustiça, mas DEVE SER FEITO. E por que deve ser feito? Porque é a forma possível para remunerar melhor a professorinha da pequena escola do interior de Maçambará que sobrevive com parcos 400 "real". Mas os desembargadores que ganham 15 paus querem mais. E o RS segue a marcha do protesto raivoso e impiedoso da oposição. A mesma oposição que elegeu Lula e viu o governo do PT fazer a reforma da previdência que combatiam, porque neoliberal. O blogueiro está forçando a barra por um motivo simples: ele não diz qual a solução a percorrer. Assim é muito fácil. E viva a garra gaúcha e tricolor que sempre foi racional em suas escolhas.


(Acima a foto de Borges de Medeiros)

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Santa Ingenuidade


O grupo RBS faz 50 anos e o Congresso Nacional fez ontem uma homenagem.

A Musa Manoela Dávila do PC do B disse que a RBS respeita a diversidade de opinião.
Luciana Genro do PSOL também destaca a diversidade da RBS que faz o RS se conhecer melhor.
Maria do Rosário do PT diz que a RBS se preocupa com os fatos da nossa terra.
Gabeira do PV disse que foi uma honra ter trabalhado na RBS.

Indignadíssimo, o dono do Diário Gauche disse: Depois dessa, quero anunciar aqui publicamente: meu caldo entornou! Ano que vem não voto em quem está balançando o rabinho de sabujo para a RBS. É um dos critérios que irão orientar o meu voto magro e desanimado.
Peço que os meus quatorze leitores reflitam sobre isso.

Ao mesmo tempo, a RBS está fazendo uma exposição na Usina do Gazômetro em Porto Alegre, denominada "no ar". É uma parceria com a prefeitura da capital gaúcha que recebeu o prédio da Usina totalmente pintado, tudo isso pago pela RBS.

Os blogs gaúchos de esquerda estão furiosíssimos com essa incrível parafernália. Como é que a mídia oligopolista pode arrendar a Usina do Gazômetro? Alguns dizem, o governo francês arrendaria o Louvre a um grupo midiático?

São as velhas baboseiras ideológicas de sempre. Quem nunca administrou nada na vida não consegue entender como se administra. É engraçado, muito engraçado como se comportam os atores de certa esquerda. Político -- qualquer político -- necessita de espaço na mídia e a arte da política é exatamente essa.

Como diria o Robin, Santa ingenuidade, Batman!

A Areia Movediça das Finanças Públicas


No engarrafado trânsito de Porto Alegre nesta quarta-feira, véspera do feriado farroupilha, sintonizei a rádio gaúcha neste início de tarde e escutei as ponderações do secretário Aod Cunha da Fazenda que está em Brasília resolvendo os problemas das finanças gaudérias. Aod teve encontro com o ex secretário da Fazenda do RS na época do governo Olívio, Arno Augustin que negou ao RS o repasse de investimento em estradas. Péssima notícia, porque seria uma receita extraordinária que -- tão cedo -- não vai ingressar nos cofres públicos.

Mas o que me chamou a atenção - e o fato revela a imensa gravidade que passa o Estado gaúcho - é que a despesa com pessoal, com os servidores do RS, aumentou de 2006 para 2007 em 14%. Isso mesmo 14%. E não houve nenhum reajuste, mas a despesa aumentou.

Impossível, completamente impossível que este Estado --que detém o récord nacional de gastos com servidor público e com aposentadorias e pensões -- consiga fazer grandes investimentos imediatos em educação, saúde, emprego e segurança. É necessário, em primeiro lugar, arrumar o caos financeiro. Quanto tempo isso demorará?

O RS caiu numa areia movediça e não existe galho onde se possa segurar.

Marx o Investidor


Do Blog a na Prática a Teoria é Outra pesquei o seguinte post:


Como conta o historiador Niall Ferguson, no livro “A Lógica do Dinheiro”, editado no Brasil pela Record, Karl Marx, o autor de “O Capital”, escreveu a Friedrich Engels, seu colaborador a vida inteira, dizendo “ter feito uma festa na Bolsa de Valores”. Dizia Marx ao amigo: “Voltou a época em que, com tino e pouquíssimo dinheiro, dá para ganhar dinheiro em Londres”.

“Três semanas mais tarde, ele escreve para outro amigo:


“Tenho me dedicado, o que não deixará de surpreendê-lo, à especulação - em parte com fundos americanos, mas sobretudo com ações inglesas, que este ano parecem cogumelos, de tanto que se multiplicam (mais que qualquer sociedade por ações, verdadeira ou imaginária), subindo a patamares inteiramente despropositados para em seguida, na sua maioria, entrar em colapso. Com isso, já ganhei mais de 400 libras e, agora que a complexidade da situação política está ampliando as oportunidades, vou começar tudo de novo”, disse.”

Aguardem o novo best-seller da Administração Financeira: “Investindo como os Comunas”.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

"Plebiscito" de 3%


Leio no Correio da Cidadania que cerca de 6 milhões de pessoas votaram no "plebiscito" privado que parte da esquerda fez no início de setembro sobre a privatização da Vale do Rio Doce. No site do IBGE tem um relógio chamado popclock e que mostra a a população estimada do Brasil hoje: 189.739.232 de habitantes. Conclusão, 3,17% da população brasileira participaram dessa consulta particular. Definitivamente é pouco, muito pouco.


Nosso Quebra Cabeça da Verdade


O Cristóvão Feil do Diario Gauche está contando a história do Rio Grande do Sul e criticando as pilchas, os hábitos e os costumes dominantes da tradição gaúcha que espelham o modelo estancieiro, latifundiário e burguês.

Cristóvão foi ontem ao acampamento farroupilha aqui em Porto Alegre e testemunhou um borracho dando vivas ao Borges de Medeiros.

O alienado do borracho deu vivas ao Borges de Medeiros e o Chávez ontem quer impor um modelo bolivariano de educação, sem eurocentrismo que idolatra o super homem e o Cristóvão Colombo.

O borracho aprendeu que Borges é coisa boa e o Chávez quer ensinar a todos venezuelanos (sem exceções) que Colombo é coisa ruim. Nenhum dos dois tem razão. Não se pode contar história apenas do avesso, porque não existe apenas os outros 500, como também não é sincera a história contada pela oficialidade, dos vencedores e dos poderosos.

A história deve ser contada -- SEMPRE -- da forma mais ampla possível e cabe a todos juntar os caquinhos e fazer o nosso quebra cabeça da verdade.

Pérolas da Nossa Esquerda



Do RS Urgente tiro a seguinte pérola: estaria havendo uma fraude estatística na divulgação do crescimento do PIB em 5,4% este ano. A tese seria de Bernardo Kucinski que escreve no Carta Maior.


O artigo de Kucinski se chama A Conspiração Triunfalista e entra no mesmo lenga lenga ideológico de que está havendo conspiração da mídia contra o governo do PT, mas que em relação ao PIB, todos comemoraram: governo e mídia. Estaria, pois, havendo uma conspiração da mídia a favor do governo. Debocha Kucinski: Sim, meus senhores e minhas senhoras, a mídia oligárquica conspirando a favor de Lula.

Aproveitando o clima debochado, o RS Urgente começa a discorrer sobre economia e sua divulgação pela mídia:

Praticamente todos os jornais e telejornais exaltaram o crescimento acelerado do PIB no segundo trimestre deste ano: nada menos do que 5,4% em comparação com o mesmo trimestre do ano passado. “O melhor resultado em não sei quantos anos", proclamavam as manchetes. “A maior a taxa de investimento desde não sei quando”. “Indústria se destaca com expansão de 6,8%”, “Consumo avança 5,9%”. E assim por diante. Houve pequenas restrições aqui e ali dos comentaristas de sempre, inconformados com o que parece ser a consagração da política econômica do governo. Mas nem eles deixaram transparecer que se tratava de uma fraude estatística.

Deus do céu e do firmamento! como os materialistas históricos detestam discutir economia! essa ciência (economia é sim uma ciência) para lá de complexa e que considera e tem de considerar todos os aspectos mercadológicos (essa palavra neoliberal).

Não houve fraude estatística, mas impressão de que o crescimento do PIB está em processo de desaceleração. Quem disse isso foi a mídia, representada por dois jornais: Jornal do Commercio do RJ e o Estadão, segundo nos conta Kucinski. Mas se o PIB crescerá ou não nos próximos meses é questão que vamos saber em seguida e depende do que está ocorrendo agora e o que vai ocorre no futuro próximo.

Catequização Bolivariana


"Por que o presidente Chávez não tenta convencer seus mais fervorosos seguidores a inscrever seus filhos nas escolas oficiais de educação?" Essa pergunta foi feita por um administrador de escola privada na Venezuela.

Chávez quer implantar em todas escolas públicas e privadas o currículo escolar bolivariano.

Matéria da Folha de hoje (para assinantes) de Fabiano Maisonnave.

No dia em que a Venezuela voltou às aulas, o presidente Hugo Chávez apareceu em duas cadeias obrigatórias de rádio e televisão, nas quais ameaçou com fechamento as escolas privadas do país que não respeitarem "o sistema educacional bolivariano"."Não podemos aceitar que o setor privado faça o que lhe der vontade. Eles acham que, por serem privados, podem se negar a uma inspeção. Eles devem se subordinar ao sistema educacional nacional e bolivariano. Quem não quiser terá de fechar a escola", disse Chávez, ontem pela manhã, na primeira transmissão.

"Intervém-se, nacionaliza-se e se assume a responsabilidade por essas crianças", completou.As duas transmissões obrigatórias mostraram Chávez inaugurando duas escolas públicas no interior. No segundo evento, na cidade de Maturín, um menino com não mais de sete anos apareceu gritando "pátria, socialismo ou morte".Educação bolivariana.

O governo anunciou na semana passada que pretende implantar a "educação bolivariana" nos próximos anos, mas o projeto ainda não estaria pronto. Uma versão preliminar do currículo revelada na semana passada inclui como tema obrigatório, por exemplo, o estudo do chamado socialismo do século 21."Havia aqui textos que se regiam por programas oficiais, que tinham uma educação ideologizada, eurocêntrica.

Foi por meio dela que nos ensinaram a admirar Cristóvão Colombo e o Super-Homem", disse Chávez, que prometeu implantar o "sistema bolivariano" em todo o país até abril de 2010.

As declarações de Chávez foram duramente criticadas pela Câmara de Educação Privada, que reúne 257 escolas, com cerca de 100 mil alunos. "Não vamos, por pressão do governo, eliminar nossas propostas livres e assumir a que o governo até agora não nos apresentou", disse à Folha o presidente da entidade, Octavio de Lamo."Se a educação bolivariana fosse tão boa, não teríamos todos os filhos de funcionários públicos em colégios privados.

Por que o presidente Chávez não tenta convencer seus mais fervorosos seguidores a inscrever seus filhos nas escolas oficiais de educação?", questionou De Lamo, em referência a uma prática bastante conhecida no país.Segundo ele, o governo vem promovendo uma "perseguição" às instituições privadas nos últimos anos. Como exemplo, cita o congelamento das mensalidades escolares para este ano letivo, apesar de a inflação dos últimos 12 meses ter sido de 16% -a mais alta de toda a América Latina."
O governo quer enfraquecer o setor privado para depois submetê-lo ao projeto bolivariano. Não há aumento de salas de aula, não há investimento pedagógico porque nos últimos três anos o setor privado vem sofrendo uma perseguição econômica muito grande", disse.A única mudança oficializada até agora sobre a nova proposta educacional foi a do fuso horário nacional. A partir da próxima segunda-feira os relógios serão atrasados em meia hora para que, diz o governo, os estudantes acordem de manhã já com a luz do sol.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

A Vale e os Militantes Adestrados


E a consulta privada que a esquerda fez sobre a Vale? Qual foi o resultado? Quantos brasileiros compareceram? Naveguei pelos sites e blogs de esquerda e nada verifiquei. Estranho, fizeram tanto alarde para as pessoas participarem desse "plebiscito" privado e nenhum resultado se divulgou.

Leio hoje na Folha, artigo do cientista político Eduardo Graeff, indignadíssimo com os militantes adestrados que ocultam certas verdades como essas:

Bom mesmo é deixar suspeitas no ar e faturar eleitoralmente, como fez com o boato de privatização do Banco do Brasil em 2006. Melhor ainda juntar o proveito político do reflexo condicionado antiprivatização com o proveito econômico da Vale privatizada. Recorde de investimento: US$ 44,6 bilhões nos últimos seis anos contra US$ 24 bilhões nos 54 anos anteriores. Recorde de produção: 300 milhões de toneladas de minério neste ano contra média anual de 35 milhões da Vale estatal. Recorde de emprego: 56 mil empregos diretos hoje contra 11 mil há dez anos. Recorde de exportações: quase US$ 10 bilhões em 2006 contra US$ 3 bilhões em 1997, garantindo mais de um quarto do saldo da balança comercial "deste país".

A Vale não é exceção. Da Embraer à telefonia, passando pela siderurgia e petroquímica, o desempenho de quase todas as empresas privatizadas é uma história de sucesso em benefício de seus compradores e empregados e do país. A isso o estatista contrapõe números que são, eles sim, fraude grosseira: a comparação dos US$ 3 bilhões pelos quais a União vendeu 42% de suas ações ordinárias da Vale em 1997 com os US$ 50 bilhões que a Vale inteira valeria hoje, depois de toda a expansão possibilitada pela privatização. E quem foram os beneficiários desse "ato de lesa-pátria"? A quem pertence a Vale privatizada?

Aos funcionários e aposentados do Banco do Brasil, principalmente, por intermédio de seu fundo de pensão. Com o BNDES, eles detêm dois terços do capital da Vale. O restante se distribui entre o Bradesco, a "trading" japonesa Mitsui e mais de 500 mil brasileiros que aplicaram parte do FGTS em ações da companhia.

O padrão de gestão da Vale é privado. A propriedade, como se vê, nem tanto. Depois de privatizada, a empresa recolheu aos cofres da União, em impostos e dividendos, algumas vezes mais do que fez ao longo de toda a sua existência como estatal. Os obreiros do plebiscito e até, forçando a barra, os padres que ecoam essa gritaria inconseqüente dentro das igrejas podem pretextar ignorância. Lula e os dirigentes do PT, não. Esses usam deliberadamente o fantasma da privatização como uma distração para a sua militância -um osso de mentira que se dá a um cachorrinho para ele não roer a mobília.

Um placebo ideológico aqui, uma verbinha acolá, empregos a rodo, barriga cheia, lá vai a militância petista fazer seu número. Pula! Late! E Lula pisca o olho para as visitas: "É brincadeira, gente! Senta que o Lulu é manso". Os empresários sorriem de volta, fingem que acreditam, mas pensam dez vezes antes de botar a mão no bolso. Para eles, pior do que a encenação dos militantes é a falta de vontade e/ ou capacidade do governo de estabelecer regras claras e um ambiente político confiável para os investimentos privados em infra-estrutura.

A conta das ambigüidades virá aí por 2010, prevêem os especialistas, quando o fantasma do racionamento de energia elétrica deve voltar a rondar, dessa vez não por falta de chuva, mas de investimento. Ou quem sabe em 2011. Já pensaram na ironia? Um novo governo às voltas com o apagão, a militância petista a todo vapor de volta à oposição e Lula na Guarapiranga, pescando suas tilápias...



República Sindical


Deu na Folha de hoje (para assinantes), matéria de Fernando Barros de Mello.

45% da cúpula do governo é sindicalizada.

Os cargos de confiança mais altos no governo de Luiz Inácio Lula da Silva são ocupados por sindicalizados e filiados ao PT, de acordo com dados da pesquisa "Governo Lula: contornos sociais e políticos da elite do poder", coordenada por Maria Celina D'Araújo, do CPDOC (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil) da FGV."Você tem ainda uma superposição: parte dos petistas é também sindicalizada.

É uma malha associativa muito forte", diz a pesquisadora.
A amostra da pesquisa levou em conta os cargos DAS 5, DAS 6 (Direção e Assessoramento Superior) e NE (Natureza Especial), que são os mais altos no serviço público.
"A população brasileira tem em torno de 14% de sindicalizados. Na nossa amostra, a gente tem 45%. É muito diferente da realidade brasileira", diz. "Nós pegamos os níveis 5 e 6, que são cargos de direção. Acho que, se olhar mais para baixo, a tendência é até ter mais militantes e sindicalizados. A nossa amostra é uma elite que requer especialização técnica", complementa.

Segundo a pesquisa, cerca de 25% tinham filiação partidária: 19,90% eram filiados ao PT, e 5%, a outros partidos. O estudo mostra que a maior parte dos filiados vem do serviço público estadual e municipal. Informações do próprio PT dão conta de que, ao todo, são 5.000 filiados que ocupam cargos comissionados no governo Lula."Os filiados são, em sua maior parte, "outsiders" da esfera pública", diz o texto da pesquisa, segundo o qual os indicadores de "associativismo" também impressionam. "

Um total de 46% declaram ter pertencido a algum movimento social, 31,8% declaram ter pertencido a conselhos gestores e 23,8%, a experiência de gestão local. Apenas 5% pertenceram a associação patronais."ProfissionalizaçãoOutro ponto que chamou a atenção foi o fato de a área econômica ter o maior número de servidores com experiência anterior (27%). Na área da saúde, o número fica em 14,55%, na social, em 19,12%, e na de educação, em 13,93%. "O que a gente observa é que a área econômica é a mais profissionalizada", comenta. "

Quando a gente vai ver as áreas onde há maior concentração de pessoas sem experiência, sem currículo anterior e com maior militância é na área de saúde e nas áreas sociais. É muito a cara do Brasil, uma cara que se repete."O estudo faz questão de ressaltar que "nada disso permite conclusões retumbantes, apenas aferir que, de fato, a tese que insiste num forte vínculo sindical, social e partidário está correta".

Para D'Araújo, a alta participação de sindicalistas e filiados ao PT pode ser vista como democratização, "porque significa que a sociedade está participando do governo", mas também pode ser analisada como se a "sociedade organizada estivesse sendo cooptada pelo governo".

Mesmo assim, diz ser preciso olhar com cuidado a possibilidade de movimentos sociais serem controlados pelo Estado. "Isso acontece em outros países, Venezuela, Bolívia. Tem sido um recurso bastante usado por governos de recorte popular e pode ter custo para a democracia também, porque você tira autonomia, independência desses movimentos."

A professora, que é autora do livro "O Estado Novo", explica que uma participação tão intensa de sindicalistas é inédita. "Getúlio nem pensar. João Goulart não era sindicalista. O primeiro sindicalista no ministério foi o [ex-ministro do Trabalho Antonio] Rogério Magri, no governo Collor", lembra."

Estou falando de gente que vem do chão da fábrica e depois faz carreira no escritório do sindicato. Agora, temos vários. Não necessariamente vêm do chão da fábrica, porque não são operários braçais, mas vêm do "chão do banco", são bancários. Por exemplo, o [Ricardo] Berzoini foi ministro."

domingo, 16 de setembro de 2007

Nelson Leirner - Bienal do Mercosul




Na 6ª Bienal do Mercosul, na parte dos armazéns do cais do porto de Porto Alegre, tem uma exposição bem interessante. O trabalho lúdico crítico de Nelson Leirner.




sábado, 15 de setembro de 2007

Miss Venezuela


Os Venezuelanos são bambas e malucos por concurso de Miss.

E nesse mundo de chavistas e anti-chavistas o ibope do concurso continua nas núvens.

Deu na Folha hoje (para assinantes). Copio e colo a seguinte passagem, da matéria de Fabiano Maisonnave. A atual Miss Venezuela Dayana Mendoza está na foto acima.

Sem reeleição indefinida e com mandato de apenas um ano, o segundo cargo mais importante da Venezuela já tem uma nova ocupante: a morena Dayana Mendoza , 21, foi a escolhida para representar o país no próximo Miss Universo, a ser disputado em maio do ano que vem.A candidata do Estado do Amazonas derrotou suas 27 adversárias anteontem à noite durante um concorrido evento que, por quatro horas, concentrou 66% da audiência, segundo a emissora de TV Venevisión, do megaempresário Gustavo Cisneros. Tradicionalmente, é o programa mais assistido do ano no país -e talvez seja o único espaço público ainda poupado pela polarização política da era Chávez.Não é pouco ser a mulher mais bonita da Venezuela. Trata-se de representar o país que mais ganhou concursos de beleza mundo afora, entre os quais quatro Miss Universo. Mal comparando, a responsabilidade de Mendoza será parecida com a da equipe brasileira na Copa do Mundo: obter o primeiro lugar é quase uma obrigação.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

A Frase do Dia


Tem gente que é tão pobre, mas tão pobre, que só tem dinheiro - Pedro de Lara, falecido ontem, no RJ, aos 82 anos.

Os Brasis do Brasil


O Uol fez um infográfico muito bem feito para mostrar como anda o Brasil de acordo com essa última pesquisa do PNAD, divulgada hoje pelo IBGE.

Realmente fica claro que o Brasil é um país dividido entre as regiões Norte/Nordeste e Sul e Sudeste.

Em relação aos domicílios que têm computadores, enquanto os estados do sul e sudeste o percentual é de 30% a média, nos estados do norte e nordeste esta média não chega a 10%.

No Piaui, Maranhão apenas 6% das residências têm computadores. No Distrito Federal, 42%.

Esse divisão geográfica não é apenas estadual. Existem dois Brasis em todas as cidades do Brasil. Basta verificar como anda a vida na periferia das grandes cidades. Nos morros , zona norte do RJ e na zona leste de Sampa.

Essa divisão entre os dois Brasis está muito bem relatada no artigo de David Coimbra hoje na ZH, o Brasil invisível. E concordo com o Coimbra.

O Brasil invisível
Quando o último uivo saiu da última garganta a vaiar Lula, na abertura do Pan, comecei a cevar uma idéia.A de que Lula é o mais importante presidente do Brasil desde Getúlio Vargas. Naquela noite, a vaia serviu-me de luz. Escrevi a respeito - que quem repudiava o presidente era a classe média, branca, bem alimentada, assalariada, pagadora de impostos. Sei que era. Estava lá, e circulei por todo o Maracanã, e vi.Escrevi também que a vaia era legítima. E é. Mas essa mesma classe média enfureceu-se com o que leu. Compreensível: quem vaia não aceita ressalvas. Quando se chega à vaia é porque o tempo das considerações já passou.De fato, Lula não faz um bom governo para quem vive acima da dita linha de pobreza. Mas também é fato que Lula está demonstrando ao Brasil, na prática, o que o Brasil é.Afinal, como um presidente que é humilhado publicamente por 60 mil pessoas, que é açoitado semanalmente pelas revistas de informação, que tem um governo sitiado por denúncias, que é responsável por uma crise aérea que redundou em morte de centenas, como esse presidente pode amealhar 60% de aprovação nas pesquisas de popularidade?A resposta óbvia é que quem vaia Lula são, exatamente, os que sofrem com a crise aérea, com a carga de impostos, com a CPMF, com a corrupção. São os que lêem revistas e jornais. São, enfim, a minoria. Os 40% das pesquisas.Os outros 60%, não. Aos outros 60%, pouco lhes interessam as mazelas do governo. Não faz diferença para eles. Nenhum governo jamais fez diferença para eles, até então. O que faz diferença são os parcos reais que eles recebem a cada mês dos programas de assistência, o Bolsa-Família, o Bolsa-Escola.Aí está. Um projeto singelo, quase simplista, quase assistencialista, é também quase redentor para a maioria da população. Cento e setenta reais por família são o suficiente para fazer com que as pessoas... vivam.Essa a importância de Lula. Pela primeira vez, em 50 anos, um presidente não fala em primeiro fazer o bolo crescer para depois distribuí-lo. Pela primeira vez, desde que Getúlio meteu uma bala calibre 32 no coração, um presidente destina uma fatia do bolo para quem não tem nada a dar em troca, a não ser o voto.Esses miseráveis que sobrevivem com o Bolsa- Família, eles nunca existiram para as estatísticas ou para os economistas. Eles são subprodutos do regime escravista mais tardio do Ocidente. Eles sempre viveram apartados, primeiro nas senzalas, depois nas favelas e nas vilas, sem água, sem esgoto, sem certidão de nascimento. Nunca ninguém sequer pensou neles, até agora. Eles estavam por aí, invisíveis aos milhões. Hoje, há duas formas de percebê-los. Pela violência urbana, ou pela popularidade de Lula.O que Lula está fazendo não é o melhor que se poderia fazer por eles. Mas Lula, ao menos, está fazendo. Se a classe média e as chamadas elites compreenderem isso sem amargura e sem ressentimento, e se houver alguma reflexão desapaixonada a respeito, talvez o país consiga ir além do assistencialismo do governo. Talvez se estabeleça um projeto sério de educação em regime integral, que iria alimentar o corpo e o espírito dessa gente. Que iria transformá-los de ex-escravos abandonados em cidadãos incluídos. Talvez. Mas, antes, há que se compreender a importância de Lula. Lula apresentou o Brasil miserável ao Brasil.

(A foto acima é de Sebastião Salgado)

Estatísticas


Os dados estatísticos são concretos, objetivos. É a matemática pura, a ciência exata, o" pão pão queijo queijo." Os dados estatístisco são o termômetro, a medida para se saber se a política econômica de um determinado governo está ou não está dando certo. Nesse sentido, apesar de tudo, o governo Lula vem acertando, porque vem incluíndo -- apesar do vício do assistencialismo -- pessoas em um melhor padrão de vida.


Mas não se pode descartar, também, que Lula apenas continua a mesma política de seu antecessor. Não há como negar isso. E esse fato objetivo é também uma demonstração de que o Brasil está consolidando a democracia. É claro que muitos passos este país tem que dar. Estamos engatinhando, ainda, na convivência democrática, como se viu na votação secreta e medieval do processo do Calheiros.


Mas a vida segue, o Brasil continua e o IBGE, essa importante autarquia, anuncia os novos números estatísticos e o país está acertando: a renda média do trabalhador brasileiro cresceu 7,2% entre 2005 e 2006 e beneficiou principalmente a metade dos brasileiros que ganham menos. Esse índice foi o maior em um ano registrado desde 1995. Na média, o trabalhador ganhava R$ 824 em 2005, enquanto em 2006 recebeu R$ 883.


Por outro lado, o Brasil tem de resolver, de vez, a questão previdenciária: Mais da metade dos trabalhadores brasileiros não contribui com a previdência social brasileira, apesar do crescimento de 1,4 ponto percentual dos que integravam o sistema entre 2005 e 2006. Isso quer dizer que 51,2% da população ocupada, ou 45,8 milhões de trabalhadores não possuem garantias previdenciárias. O índice dos que contribuem passou de 47,4% para 48,8 e somam 43,6 milhões.


O problema é que o Brasil inteiro está parado e as reformas necessárias não saem do papel, porque o Senador Calheiros resolveu pagar a pensão de sua filha por um lobista da Mendes Júnior. É o Brasil medieval que emperra nosso futuro.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Grande Erro ou Burrice Estratégica?

No Blog RS Urgente, como acontece na maioria dos blogs da esquerda, a tática é a da cortina de fumaça para desviar o assunto que efetivamente importa: pode um senador ter contas pagas por um lobista de uma empreiteira? E isso é fato inconteste. O PT demostrou ontem que isso é normal, que isso é natural. A Senadora Adeli votou a favor de Renan, Mercadante se absteve e o PT e o governo do PT foram decisivos para a absolvição. Mas esse foi um erro político e estratégico grave. Muito melhor para o governo seria apoiar a cassação e limpar a mesa e tocar a vida adiante para o Brasil fazer as reformas que necessita. Mas nada disso o governo do PT e o PT fizeram. Preferiram apoiar um morto vivo, o pessoal da banda podre do Congresso e comprar uma briga com a mídia, OAB, com a oposição, com a opinião pública que muito bem poderia ter sido evitada. E o governo do PT super envolvido e tendo seus membros e ministros indiciados em casos de corrupção, formação de quadrilha e peculato poderia ter agido diferente. Mas assim não fez. É lamentável ver os blogs de esquerda defendendo um crápula como Renan Calheiros. É, como disse antes, a moral de cuecas da esquerda brasileira.

O povo que frequenta os blogs de esquerda faz parte de uma elite. A mesma elite que tem uma opinião concreta de mundo de que um político não pode ter favores pessoais com o uso do cargo. Acho que estamos aqui todos de acordo com isso. Mas inventaram agora de passar a borracha por cima desses princípios para criticar, apenas por criticar, a mídia por ter considerado uma grande vergonha o resultado da absolvição de um político que sempre foi podre. Pura cortina de fumaça. A mídia é sempre a culpada, porque ela consegue descobrir e expor para toda a população ( e esse é um dever republicano) as falcatruas, picaretagens e contradições que existe num governo de esquerda. Essa elite que atira pedra na mídia não está sendo racional, está sendo contraditória, está compactuando com a banda podre.

A Moral de Cueca da Esquerda Brasileira


Os blogs de esquerda, como de costume, estão atacando as notícias vinculadas pela mídia acerca do julgamento de Renan Calheiros. Dizem eles, em suma, que estaria havendo dois pesos e duas medidas, uma vez que em governos anteriores houve grandes falcatruas não divulgadas pela essa mesma mídia e, agora, que o PT governa o Brasil, a mídia bota a boca no trombone. Dizem os blogs de esquerda que a mídia não deu o mesmo impacto quando ficou sabendo que FHC tinha um filho com uma jornalista da Globo que mora na Espanha.


Mas existem diferenças expressivas, Monica Veloso resolveu colocar a boca no trombone, a mãe do filho de FHC resolveu permanecer em silêncio na Espanha. E esse silêncio, essa discrição deve ser respeitada. E não existe nenhuma informação de que FHC pague pensão com dinheiro de uma empreiteira.


Mas essa é uma questão menor, a questão maior é que o PT ao invés de se aliar com a banda boa do congresso se aliou com o Sarney, com o Calheiros que comandam a banda podre. Ou seja fez exatamente o mesmo erro de FHC que também se aliou com a banda podre. Já passou o tempo em que se imaginava que um governo de esquerda é um governo ético e que estaria acima do bem e do mal. Existem picaretas, corruptos e aloprados num governo de esquerda. Um governo de direita, de centro ou de centro esquerda (que é o que eu defendo para um Brasil melhor) também pode ser um governo ético e muito mais competente e menos corrupto do que um governo de esquerda. Nesse sentido, o governo do PT está fazendo um bom serviço ao Brasil, está mostrando ao povo brasileiro que um governo de esquerda tem graves problemas éticos.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Ganhou o brasil medieval


Ganhou o brasil medieval, o brasil arcaico, o brasil do coroné, o brasil do atraso que acha normal um lobista de uma empreiteira pagar pensão para o senador. Ganhou o brasil da banda podre que os governos de plantão (PSDB e PT) gostam de se aliar (gozado, nesses momentos lembro da concertación chilena). E o governo do PT foi complacente com o resultado. Não fez força nenhuma para que Renan fosse cassado. Enfim, participou. O governo que prometeu ao Brasil um país decente. Foi péssimo para o governo do PT esse resultado. Pegou muito mal. E não venham depois colocar a culpa na mídia.

O Brasil Medieval


O que está acontecendo agora no Senado Federal, no julgamento da cassação de Renan Calheiros, onde nenhum registro, nenhuma gravação de áudio, de vídeo de mp3 ou mp4 pode ser feita é a demonstração cabal de que o Brasil Medieval tocado pela banda podre que domina e manipula o Congresso Nacional ainda é muito forte.

E os sucessivos governos da república para ter maioria parlamentar se alia a essa banda podre, como fez FHC e agora faz Lula.

Até quando?

A Direita Retrógada

Na entrevista que a filha do Allende deu ao Roda Viva na última segunda-feira ela elogiou a FIESP que patrocinou uma exposição sobre o acervo em homenagem a Salvador Allende realizada em São Paulo em março de 2007. Ela disse que a direita chilena e o grande empresariado jamais patrocinaria ou financiaria algum evento em homenagem a Allende. Ela também disse que o governo de Bachelet está distribuindo gratuitamente a pílula do dia seguinte e que a direita chilena -- que não faz parte da concertación -- faz um alarde bárbaro alegando que essa pílula é abortiva.

Nas décadas passadas, quem era a favor do aborto geralmente era esquerdista. Hoje o aborto é defendido tanto por setores da esquerda como da direita. E existem também esquerdistas que são contra o aborto e contra o controle da natalidade, sob o argumento de que isso se caracterizaria uma limpeza étnica.

Li recentemente o livro do filósofo francês Luc Ferry, "aprender a viver", e ele se diz que teve sua formação ligada à direita. Ferry foi ministro da educação do Chirac e foi autor daquele polêmico projeto de proibir símbolos religiosos e que parece que deu certo, porque diminuiu a intolerância nas salas de aula. Ferry faz parte de uma direita sensível e moderna que hoje é popular na França -- este país revolucionário -- que elegeu Sarkozy, que é da mesma estirpe.

Ferry, Chirac e Sarkozy como Angela Merkel não fazem parte da direita retrógada.

A direita retrógada é a que admira Pinochet, que adota o fundamentalismo religioso, é que apoia incondicionalmente o troglodita do Bush. No meio do maniqueísmo existente entre direita e esquerda -- e que é sempre alimentado generalizado e confundido pela extrema direita e pela extrema esquerda -- navegamos por esse largo espaço que existe entre o 8 e o 80.

Dia Livre de Sarkô


Em França Sarkozi, o Sarkô, anda "bombando".

Ele está em todas em todo lugar. A mídia mostra o Sarkô o tempo inteiro.

Deu na Folha de hoje:

Depois do Dia Livre do Fumo e do Dia Sem Carro, é a vez do Dia Livre de Sarkozy. O grupo Democracia na TV, criado pelo sociólogo Pierre Boutin, quer que a mídia francesa se livre do "vício" no presidente Nicolas Sarkozy, deixando de mencioná-lo em 30 de novembro. "Quebre seus hábitos por 24 horas e ajude o povo francês a desintoxicar-se", diz o manifesto, que pede que nenhuma imagem, som ou palavra escrita sobre Sarkozy apareça naquele dia: "Nada, por favor, além do silêncio pouco usual e democrático". Boutin diz estar mais preocupado em marcar posição do que com o sucesso da campanha. "Há muitos jornalistas exasperados pelo culto à personalidade que cresceu em torno de Sarkozy."

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

A Concertación Chilena

Boa, muito boa a entrevista da deputada chilena Isabel Allende Bussi, filha de Salvador Allende, no Roda Viva de ontem.

Não confundir com a escritora Isabel Allende, filha de um primo-irmão de Salvador.

A filha de Allende é objetiva e direta.

Diz ela, somos a favor do livre comércio por um motivo simples, o Chile tem acordos de livre comércio com 80% dos países mundiais.

Allende é entusiasta da concertación, a coalizão de partidos de centro (democracia cristã) e centro esquerda (partido socialista) que está no poder no Chile há 16 anos (quatro mandatos).

No início da década de 90, antes da concertación 40% da população chilena vivia em estado de pobreza, hoje 16% vivem. A economia chilena vem crescendo em média 5% ao ano.

Indagada sobre a Venezuela de Chávez e a Bolívia de Morales, Allende foi clara, são países diferentes do Chile e não vamos importar este modelo. Chile é um país com tradição democrática, inclusive antes da ditadura Pinochet. Este tipo de liderança tem amplo apoio dos povos indígenas, onde a pobreza maior e as oportunidades menores e é conseqüência de uma desilusão do povo com os políticos. Mas são governos que devem ser respeitados.

(acima o logotipo do PS e Democracia Cristã, principais partidos chilenos que compõem a Concertación)



Do blog do Moita

Pesquei a foto acima.
Diz o velho Moita: É pena que as pinturas, por mais geniais e bem feitas que sejam, continuem inanimadas

Garotos Barra Pesada


Enquanto o PT e certa esquerda tentam impôr uma agenda atrasada para o Brasil, questionando a privatização da Vale, os pedágios (que existem em todos os países desenvolvidos) e o custo da energia elétrica (que é alto em todos os países desenvolvidos), os crimes cometidos por menores continuam "bombando" neste país. Evidentemente que este assunto não está em pauta nessa agenda da esquerda.

A impunidade faz os delinquentes perderem o medo. E continuamos engatinhando nas discussões acerca das questões fundamentais.

Em Porto Alegre, uma mulher é arrastada por 20 metros, agarrada ao carro que leva seu filho de 6 anos. Os marginais -- sensíveis -- param o carro e libertam o menino de 6 anos. Que idade tem os delinquentes? 12 e 16 anos.

Que país é este?

Recomendo a leitura do artigo de Ruy Castro na Folha (para assinantes) de hoje, Crianças Heavy Metal, exatamente sobre este assunto.

Diz ele no final do artigo:

Pegando carona numa certa frase dita outro dia, em algum momento da história algum de nós cometeu um erro contra a juventude brasileira. Até há pouco, quando um jovem partia para o crime era para roubar um tênis ou uma bicicleta. Mas os garotos já não perdem tempo com essas ninharias. As crianças agora se tornaram agentes ou cúmplices de crimes heavy metal, que desafiam nossos estômagos.

domingo, 9 de setembro de 2007

A África Não Quer Ser Salva


Sobre a questão africana o Caderno Mais da Folha (para assinantes) publicou este domingo artigo do escritor nigeriano Uzodinma Iweala, autor de "Feras de Lugar Nenhum" (Nova Fronteira). A íntegra deste texto saiu no "Le Monde". Tradução de Clara Allain .


Em síntese, ele defende o seguinte:


"Espero que antes da próxima cúpula do G8 o mundo tenha finalmente compreendido que a África não quer ser salva. A África quer que o mundo reconheça que, por meio de parcerias eqüitativas com outros membros da comunidade internacional, ela será capaz de alcançar um crescimento inusitado, por conta própria. "


Mas para que isso ocorra tem de haver transparência e estruturas governamentais fortes e democráticas. Não é essa, infelizmente, a realidade da maioria dos países africanos. De nada adianta o G8 liberar zilhões e zilhões de dólares para melhorar a qualidade do serviço público dos países africanos se esse dinheirinho é desviado para outros lugares.


O artigo completo está abaixo:


No outono de 2006, pouco após meu retorno da Nigéria, fui interpelado por uma estudante loira e graciosa cujos olhos azuis pareciam combinar com as contas da pulseira "africana" que usava. "Salve Darfur!", ela gritava atrás de uma mesa recoberta de folhetos exortando os estudantes a "agir já!", a "acabar com o genocídio em Darfur!" [área do Sudão onde a guerra civil matou pelo menos 180 mil pessoas desde 2003].Minha aversão a esses estudantes que se engajam incondicionalmente nas causas que estão na moda quase me levou a dar meia-volta, mas o grito que ela lançou em seguida me imobilizou. "Quer dizer que você não quer nos ajudar a salvar a África?", vociferou a garota. Parece que, de algum tempo para cá, oprimido pelo sentimento de culpa pela crise humanitária que provocou no Oriente Médio, o Ocidente vem se voltando para África para ali buscar sua redenção. Estudantes idealistas, celebridades como Bob Geldof [músico e ativista] e políticos como Tony Blair [ex-primeiro-ministro britânico] se atribuíram como missão levar a luz ao continente negro. Chegam de avião para passar um período na África ou participar de uma missão de investigação ou, ainda, para adotar uma criança -um pouco como meus amigos e eu, em Nova York, tomamos o metrô para ir adotar um cachorro abandonado no canil municipal. Geração sexyÉ a nova imagem que o Ocidente quer adotar: uma geração sexy e politicamente ativa cujo método preferido para divulgar sua mensagem é publicar anúncios de página inteira em jornais, com celebridades no primeiro plano e pobres deserdados da África ao fundo. Mas o que talvez ainda seja mais interessante é a linguagem empregada para descrever a África que se pretende salvar. Por exemplo, a campanha lançada pela organização Save the Children (Salve as Crianças), intitulada "I Am African" (sou africano), apresenta retratos de celebridades ocidentais, em sua maioria brancas, com "marcas tribais" pintadas no rosto, sobre o slogan "sou africano" escrito em letras garrafais. Abaixo, em letras menores, vê-se a frase: "Ajude-nos a frear a hecatombe". Por mais que sejam bem-intencionadas, essas campanhas propagam o estereótipo de uma África que seria um buraco negro de doença e morte. Artigos e reportagens não param de falar de dirigentes africanos corruptos, senhores de guerra, conflitos "tribais", crianças exploradas, mulheres maltratadas e vítimas de mutilação genital.Tempos coloniaisA relação entre a África e o Ocidente não é mais fundamentada em preconceitos abertamente racistas, mas esses artigos lembram os tempos do colonialismo europeu, quando se enviavam missionários à África para nos levar educação, Jesus e a "civilização". Todo africano, incluindo eu mesmo, não pode deixar de se alegrar com a ajuda que o mundo nos dá, mas isso não nos impede de perguntar a nós mesmos se essa ajuda é realmente sincera ou se ela é dada com a idéia de afirmar sua superioridade cultural. Cada vez que uma estudante -embora sincera- fala dos moradores de aldeias que dançaram para ela para agradecer sua ajuda, faço uma careta. Cada vez que um diretor de Hollywood produz um filme sobre a África cujo herói é ocidental, eu faço "não" com a cabeça -porque os africanos, apesar de sermos pessoas muito reais, não fazemos mais que servir de validação da imagem imaginária que o Ocidente tem de si próprio. E não apenas essas descrições tendem a ignorar o papel às vezes essencial que o Ocidente desempenhou na gênese de muitas situações deploráveis que afligem o continente como elas também ignoram o trabalho incrível que os próprios africanos fizeram e continuam a fazer para resolver esses problemas. Dois anos atrás eu trabalhei num campo de pessoas deslocadas na Nigéria, sobreviventes de um levante que provocou a morte de mil pessoas e o deslocamento de outras 200 mil. Fiéis a seu hábito, os órgãos de imprensa ocidentais falaram longamente das violências, mas não do trabalho humanitário realizado pelas autoridades locais e nacionais em favor dos sobreviventes -com muito pouca ajuda internacional. Funcionários sociais dedicaram seu tempo e, em muitos casos, doaram seus próprios salários para socorrer seus compatriotas. São eles que salvam a África, e, como acontece com muitos outros em todo o continente, seu trabalho não encontra reconhecimento nenhum no exterior. Em junho o grupo dos oito países mais industrializados reuniu-se na Alemanha com várias celebridades para discutir, entre outros temas, como salvar a África. Espero que antes da próxima cúpula do G8 o mundo tenha finalmente compreendido que a África não quer ser salva. A África quer que o mundo reconheça que, por meio de parcerias eqüitativas com outros membros da comunidade internacional, ela será capaz de alcançar um crescimento inusitado, por conta própria.

(A foto acima está na Folha de hoje e mostra sudaneses fazendo fila para receber água no campo de Krinding, que abriga refugiados da guerra civil no país).