O Uol fez um infográfico muito bem feito para mostrar como anda o Brasil de acordo com essa última pesquisa do PNAD, divulgada hoje pelo IBGE.
Realmente fica claro que o Brasil é um país dividido entre as regiões Norte/Nordeste e Sul e Sudeste.
Em relação aos domicílios que têm computadores, enquanto os estados do sul e sudeste o percentual é de 30% a média, nos estados do norte e nordeste esta média não chega a 10%.
No Piaui, Maranhão apenas 6% das residências têm computadores. No Distrito Federal, 42%.
Esse divisão geográfica não é apenas estadual. Existem dois Brasis em todas as cidades do Brasil. Basta verificar como anda a vida na periferia das grandes cidades. Nos morros , zona norte do RJ e na zona leste de Sampa.
Essa divisão entre os dois Brasis está muito bem relatada no artigo de David Coimbra hoje na ZH, o Brasil invisível. E concordo com o Coimbra.
O Brasil invisível
Quando o último uivo saiu da última garganta a vaiar Lula, na abertura do Pan, comecei a cevar uma idéia.A de que Lula é o mais importante presidente do Brasil desde Getúlio Vargas. Naquela noite, a vaia serviu-me de luz. Escrevi a respeito - que quem repudiava o presidente era a classe média, branca, bem alimentada, assalariada, pagadora de impostos. Sei que era. Estava lá, e circulei por todo o Maracanã, e vi.Escrevi também que a vaia era legítima. E é. Mas essa mesma classe média enfureceu-se com o que leu. Compreensível: quem vaia não aceita ressalvas. Quando se chega à vaia é porque o tempo das considerações já passou.De fato, Lula não faz um bom governo para quem vive acima da dita linha de pobreza. Mas também é fato que Lula está demonstrando ao Brasil, na prática, o que o Brasil é.Afinal, como um presidente que é humilhado publicamente por 60 mil pessoas, que é açoitado semanalmente pelas revistas de informação, que tem um governo sitiado por denúncias, que é responsável por uma crise aérea que redundou em morte de centenas, como esse presidente pode amealhar 60% de aprovação nas pesquisas de popularidade?A resposta óbvia é que quem vaia Lula são, exatamente, os que sofrem com a crise aérea, com a carga de impostos, com a CPMF, com a corrupção. São os que lêem revistas e jornais. São, enfim, a minoria. Os 40% das pesquisas.Os outros 60%, não. Aos outros 60%, pouco lhes interessam as mazelas do governo. Não faz diferença para eles. Nenhum governo jamais fez diferença para eles, até então. O que faz diferença são os parcos reais que eles recebem a cada mês dos programas de assistência, o Bolsa-Família, o Bolsa-Escola.Aí está. Um projeto singelo, quase simplista, quase assistencialista, é também quase redentor para a maioria da população. Cento e setenta reais por família são o suficiente para fazer com que as pessoas... vivam.Essa a importância de Lula. Pela primeira vez, em 50 anos, um presidente não fala em primeiro fazer o bolo crescer para depois distribuí-lo. Pela primeira vez, desde que Getúlio meteu uma bala calibre 32 no coração, um presidente destina uma fatia do bolo para quem não tem nada a dar em troca, a não ser o voto.Esses miseráveis que sobrevivem com o Bolsa- Família, eles nunca existiram para as estatísticas ou para os economistas. Eles são subprodutos do regime escravista mais tardio do Ocidente. Eles sempre viveram apartados, primeiro nas senzalas, depois nas favelas e nas vilas, sem água, sem esgoto, sem certidão de nascimento. Nunca ninguém sequer pensou neles, até agora. Eles estavam por aí, invisíveis aos milhões. Hoje, há duas formas de percebê-los. Pela violência urbana, ou pela popularidade de Lula.O que Lula está fazendo não é o melhor que se poderia fazer por eles. Mas Lula, ao menos, está fazendo. Se a classe média e as chamadas elites compreenderem isso sem amargura e sem ressentimento, e se houver alguma reflexão desapaixonada a respeito, talvez o país consiga ir além do assistencialismo do governo. Talvez se estabeleça um projeto sério de educação em regime integral, que iria alimentar o corpo e o espírito dessa gente. Que iria transformá-los de ex-escravos abandonados em cidadãos incluídos. Talvez. Mas, antes, há que se compreender a importância de Lula. Lula apresentou o Brasil miserável ao Brasil.
Quando o último uivo saiu da última garganta a vaiar Lula, na abertura do Pan, comecei a cevar uma idéia.A de que Lula é o mais importante presidente do Brasil desde Getúlio Vargas. Naquela noite, a vaia serviu-me de luz. Escrevi a respeito - que quem repudiava o presidente era a classe média, branca, bem alimentada, assalariada, pagadora de impostos. Sei que era. Estava lá, e circulei por todo o Maracanã, e vi.Escrevi também que a vaia era legítima. E é. Mas essa mesma classe média enfureceu-se com o que leu. Compreensível: quem vaia não aceita ressalvas. Quando se chega à vaia é porque o tempo das considerações já passou.De fato, Lula não faz um bom governo para quem vive acima da dita linha de pobreza. Mas também é fato que Lula está demonstrando ao Brasil, na prática, o que o Brasil é.Afinal, como um presidente que é humilhado publicamente por 60 mil pessoas, que é açoitado semanalmente pelas revistas de informação, que tem um governo sitiado por denúncias, que é responsável por uma crise aérea que redundou em morte de centenas, como esse presidente pode amealhar 60% de aprovação nas pesquisas de popularidade?A resposta óbvia é que quem vaia Lula são, exatamente, os que sofrem com a crise aérea, com a carga de impostos, com a CPMF, com a corrupção. São os que lêem revistas e jornais. São, enfim, a minoria. Os 40% das pesquisas.Os outros 60%, não. Aos outros 60%, pouco lhes interessam as mazelas do governo. Não faz diferença para eles. Nenhum governo jamais fez diferença para eles, até então. O que faz diferença são os parcos reais que eles recebem a cada mês dos programas de assistência, o Bolsa-Família, o Bolsa-Escola.Aí está. Um projeto singelo, quase simplista, quase assistencialista, é também quase redentor para a maioria da população. Cento e setenta reais por família são o suficiente para fazer com que as pessoas... vivam.Essa a importância de Lula. Pela primeira vez, em 50 anos, um presidente não fala em primeiro fazer o bolo crescer para depois distribuí-lo. Pela primeira vez, desde que Getúlio meteu uma bala calibre 32 no coração, um presidente destina uma fatia do bolo para quem não tem nada a dar em troca, a não ser o voto.Esses miseráveis que sobrevivem com o Bolsa- Família, eles nunca existiram para as estatísticas ou para os economistas. Eles são subprodutos do regime escravista mais tardio do Ocidente. Eles sempre viveram apartados, primeiro nas senzalas, depois nas favelas e nas vilas, sem água, sem esgoto, sem certidão de nascimento. Nunca ninguém sequer pensou neles, até agora. Eles estavam por aí, invisíveis aos milhões. Hoje, há duas formas de percebê-los. Pela violência urbana, ou pela popularidade de Lula.O que Lula está fazendo não é o melhor que se poderia fazer por eles. Mas Lula, ao menos, está fazendo. Se a classe média e as chamadas elites compreenderem isso sem amargura e sem ressentimento, e se houver alguma reflexão desapaixonada a respeito, talvez o país consiga ir além do assistencialismo do governo. Talvez se estabeleça um projeto sério de educação em regime integral, que iria alimentar o corpo e o espírito dessa gente. Que iria transformá-los de ex-escravos abandonados em cidadãos incluídos. Talvez. Mas, antes, há que se compreender a importância de Lula. Lula apresentou o Brasil miserável ao Brasil.
(A foto acima é de Sebastião Salgado)
8 comentários:
Só tenho uma discordância com o artigo do Coimbra: a classe média não sofre tanto assim no governo Lula, não é o que os dados estatísticos mostram. Aliás, a classe média vai tão bem agora quanto no governo FHC.
O que tem na vaia é preconceito mesmo. Não tem outra explicação.
TAmbém acho, Guimas, que a classe média está bem no governo Lula. A vaia do maracanã não está ligada a problemas econômicos, mas de corrupção mesmo. Corrupção dos políticos (de todos os partidos, governo e oposição) num estado que pouco funciona. O artigo do Coimbra é muito bom.
Pois é Maia, mas essa vaia da corrupção, por que só para o Lula? Se não é preconceito, o que é?
Aliás, o IBGE está a provar na última pesquisa do PNAD que o Estado tá funcionando melhor - bom sinal para o Lula, mal sinal para os tucanos.
Guimas, os tucanos é que iniciaram essa política econômica que o PT segue igualzinha. O Brasil só vai qualificar sua democracia quando os atores políticos reconhecerem os êxitos dos outros. E que bom que o Brasil está melhorando e inserindo mais e mais pessoas na cidadania e qualidade de vida. Temos de ir além, mas não vai ser com os Calheiros da vida.
Maia, isso é mito - se o PT segue a mesma política do FHC, por que consegue resultados melhores? Sorte? Se é sorte, mais um motivo para votar no PT.
Os Calheiros da vida nunca sumirão. Os EUA têm os seus, na Europa tá cheio de Calheiros. Vamos ter de conviver sempre com esses tipinhos.
Guimas, a política econômica é exatamente a mesma e ela se aperfeiçoa, se fortalece, ganha credibilidade. Se somos mais resistentes hoje às crises é porque tivemos, no passado, um substrado, uma base para isso. Não estou tirando os méritos do governo do PT, mas tem de ser reconhecido os méritos do governo FHC que conseguiu controlar a inflação e conseguiu aprovar uma lei tri importante, a da responsabilidade fiscal. Os resultados são melhores porque a política econômica continua.
Na década de 60, o economista Edmar Bacha cunhou a expressão Belíndia, para representar estes dois Brasis: Uma Bélgica e uma Índia.
Mas não posso concordar com o "quase" assistencialista. Os programas ditos sociais são totalmente assistencialistas e usam recursos que irão fazer falta para os PACs da vida... A aprovação da criação da CPMF, no senado, vai custar muito caro para o governo e de algum lugar esta grana vai sair...
Guimas disse que a classe média vai tão bem agora como no governo FHC. Discordo. Ia mal lá e vai pior aqui. Mas vamos definir classe média: é aquele assalariado que recebe um salário bem maior que a média nacional, mas que - suspendendo por um único mês este salário - está quebrado totalmente. Paga uma prestação do imóvel que mora, do carro que usa do colégio dos filhos, do seguro saúde. Esta é a classe média. Nada de carros importados (ou mesmo nacionais de ponta), nada de restaurantes caros, nada de roupas de grife. Isto fica para a classe rica, que é proporcionalmente pequena, mas que - em função do tamanho do Brasil - é uma Bélgica.
E, amigos, Lula é da classe rica agora. Se for preconceito, é preconceito contra o que os ricos estão fazendo com este país...
Não entendi, pobre pampa: estás falando da classe que mais cresceu (a classe C)? Da que aumentou o consumo em mais de 15%? Da que compra tanto carro que as vendas batem recordes históricos?
A classe média que descreveste é a mesma classe média americana: assalariada, e se fica sem salário um mês quebra.
Realmente, não entendo o teu raciocício, pois é contrário do que o último PNAD diz.
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