Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


terça-feira, 9 de setembro de 2008

Bush Estatiza


Tal como na foto, Bush deu um "peitaço" na economia.
Bush estatiza
Intervenção brutal na economia pode até estancar a crise, mas deixará um saldo inevitável de injustiçaPALAVRAS importam, e o governo dos EUA evita admitir que estatizou as maiores empresas de crédito imobiliário do país. Mas foi exatamente isso o que fez a administração George W. Bush ao ordenar a aquisição das companhias Fannie Mae e Freddie Mac. Como resultado, metade do mercado hipotecário residencial do país, de US$ 12 trilhões, passou a ser garantida diretamente pelo Tesouro, ou seja, pelos contribuintes americanos.A Casa Branca fez uso da prerrogativa concedida pelo Congresso, em 30 de julho passado, para injetar somas ilimitadas nas duas agências hipotecárias. Elas eram privadas, com ações negociadas em Bolsa, mas tinham um status legal peculiar: alocadas na categoria de Government Sponsored Enterprises (empresas patrocinadas pelo governo), sua missão era apoiar o sistema de empréstimo imobiliário.A expectativa, ora consumada, de que o governo americano jamais deixaria essas empresas quebrarem permitiu-lhes atuação ambivalente ao longo desta crise. Enquanto outras companhias similares se retiraram do mercado hipotecário, Fannie Mae e Freddie Mac continuaram a fazer negócios. Nos últimos 12 meses, absorveram 70% dos novos contratos do setor.Essa marcha contra a corrente ajudou a mitigar e a postergar os efeitos, potencialmente devastadores para o conjunto da economia, de uma paralisia generalizada no mercado habitacional. Por outro lado, as companhias acabaram adotando um perigoso ímpeto aventureiro. Criadas para apoiar negócios hipotecários de baixo risco, as duas empresas começaram a relaxar os seus controles em 2006, a fim de beneficiar-se da chuva de dinheiro que caía sobre o segmento.Numa crise de agentes endividados e interligados, como a que se abate sobre os EUA, há um momento em que as pessoas e as empresas começam a se desfazer de patrimônio para honrar compromissos. Como todos agem ao mesmo tempo, o resultado é que o patrimônio -imóveis, automóveis, ações e os demais títulos privados- se desvaloriza, e os recursos obtidos com a sua venda não conseguem fazer frente ao débito. Segue-se então mais uma rodada de liquidação de ativos, e o círculo vicioso se alimenta.O ciclone bateu à porta de Fannie Mae e Freddie Mac. Suas ações se desvalorizaram 90% nos últimos 12 meses, período em que acumularam prejuízo de US$ 14 bilhões. Estavam insolventes, e sua bancarrota abalaria não só o mercado hipotecário dos EUA, mas o coração do sistema de crédito americano e, a partir daí, os pilares da arquitetura financeira no mundo desenvolvido. Sem opções, a gestão Bush absorveu os prejuízos -e os repassou aos contribuintes- da farra financeira que não soube moderar ao longo de oito anos.É provável que a brutal intervenção do governo americano na economia dissolva o risco de depressão no curto prazo. Não será capaz de evitar, contudo, que um descrédito profundo recaia sobre as regras de um jogo que prometia não socializar os prejuízos da especulação irrefreada.


Editorial da Folha de S. Paulo de hoje.

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