Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Mundo Precisa de Autoridade Monetária


Excelente artigo de Jeffrey Garten é professor da cátedra Juan Trippe de comércio internacional e finanças na Escola de Administração de Empresas da Universidade Yale publicado no Financial Times e na Folha de hoje. Está mostrado e demonstrado que os mercados não podem fluir tão livremente assim. A crise americana é um alerta. O mundo precisa de uma autoridade monetária.

Mesmo que a imensa operação de resgate financeiro dos EUA obtenha sucesso, ela deveria ser seguida por algo de muito mais abrangente -o estabelecimento de uma autoridade monetária mundial para fiscalizar mercados que não respeitam mais fronteiras.Washington reconhece que a crise se tornou mundial. Hank Paulson, secretário do Tesouro norte-americano, disse que os bancos estrangeiros que operam nos Estados Unidos serão elegíveis para assistência federal e está instando outras nações a criarem programas próprios de resgate.Os bancos centrais também vêm sincronizando suas injeções de fundos nos mercados.Essas medidas devem ser passos em direção de resposta internacional mais abrangente concebida não só para apagar o atual incêndio mas para reconstruir e manter os mercados de capitais em longo prazo.O aparato atual de instituições internacionais é miseravelmente incapaz de fiscalizar o sistema financeiro que está evoluindo. O FMI (Fundo Monetário Internacional) é irrelevante para essa crise, o G7 (grupo dos sete países mais industrializados) carece de relevância em um mundo no qual China, Brasil e outros exercem papéis importantes, e o BIS (Banco de Compensações Internacionais) não tem funções operacionais. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) está sob pressão forte demais para que funcione como banco central planetário.O vácuo que existe no centro do sistema é perigoso para todos. A dependência norte-americana de influxos maciços de capital, da ordem de US$ 3 bilhões diários, certamente aumentará agora que os EUA estão adquirindo US$ 1 trilhão em novas obrigações relacionadas aos resgates em curso. Por muitos anos, Wall Street e Washington não serão capazes de se manter sem forte cooperação de outros mercados.


Dimensões estonteantes


Além disso, as dimensões internacionais do mundo financeiro se tornaram estonteantes. Os ativos mundiais cresceram de US$ 12 trilhões em 1980 para cerca de US$ 200 trilhões em 2007, superando de longe o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em qualquer nação ou o ritmo de expansão do comércio. Montante crescente desse capital hoje reside na Ásia e no golfo Pérsico, e não mais nos Estados Unidos e na Europa.Uma empresa norte-americana como a seguradora AIG vendia mais de seus CDS ("credit default swaps") e apólices de seguros fora dos Estados Unidos do que no país. O suíço UBS tem 30 mil funcionários norte-americanos e está cotado na Bolsa de Nova York.

Os mercados de capital evoluirão em um contexto no qual economias de mercado emergente estarão crescendo duas vezes mais rápido do que as dos países ricos e, na metade do século, provavelmente responderão por dois terços do PIB mundial.A globalização agora criará também um confronto de filosofias. A maioria dos governos e dos investidores de fora dos Estados Unidos jamais aderiu ao estilo caubói do capitalismo norte-americano. Agora, eles têm bons motivos para exigir que mudanças fundamentais sejam adotadas na maneira pela qual os Estados Unidos administram suas instituições financeiras. Isso pode acontecer com uma modificação consciente e negociada do modelo financeiro norte-americano ou pode resultar da transferência dos fundos de investidores estrangeiros para outros mercados.Todas essas considerações apontam para a necessidade futura de uma nova autoridade monetária mundial (AMM).Ela ditaria o tom para os mercados de capital de uma maneira que não seria visceralmente oposta a uma forte função de fiscalização pública, com regras de intervenção, e devolveria à formação de capital a condição de objetivo do crescimento econômico e do desenvolvimento, com o abandono da idéia de que é suficiente operar por operar.FuncionamentoUma AMM funcionaria como central de resseguro ou casa de desconto para determinadas obrigações detidas por bancos centrais. Avaliaria as atividades regulatórias das autoridades nacionais de forma mais eficaz que o FMI e fiscalizaria a implementação de um número limitado de regulamentos mundiais. Monitoraria os riscos internacionais e estabeleceria um sistema efetivo de alerta antecipado, com mais moral para soar alarmes do que era o caso do BIS.A instituição também funcionaria como "tribunal de falências" para a reorganização mundial de companhias financeiras com tamanho superior a um determinado limite. As maiores companhias financeiras mundiais teriam de se registrar junto à AMM e estariam sujeitas à sua monitoração, ou seriam incluídas em uma lista negra. Isso incluiria empresas comerciais e bancos, mas também fundos soberanos de investimento, fundos de hedge de grande porte e empresas de capital privado.O conselho da AMM seria formado por dirigentes de bancos centrais não apenas dos Estados Unidos, do Reino Unido, da zona do euro e do Japão mas também da China, da Arábia Saudita e do Brasil. A instituição seria financiada por contribuições compulsórias de todos os países capazes de pagar e por prêmios à maneira de seguros pagos pelas empresas financeiras do planeta -as de capital aberto, as estatais e as de capital fechado igualmente.Em termos de política norte-americana e internacional, a autoridade monetária mundial provavelmente representa uma idéia cujo momento ainda não chegou. Mas isso pode mudar, à medida que evolui a crise atual.
.Tradução de PAULO MIGLIACCi

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