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Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


terça-feira, 16 de setembro de 2008

Cada Vez Pior


EUA mudam tática e deixam grande banco quebrar, o que gera reação negativa brutal no mercado financeiro, foto da bolsa de valores de Hong Kong ontem.

"E AQUI chegamos, com Paulson [secretário do Tesouro] aparentemente acreditando que jogar roleta-russa com o sistema financeiro dos EUA era a sua melhor opção". A frase, do economista Paul Krugman, descreve com argúcia os riscos implícitos na mais nova cartada do governo Bush na tentativa de domar a crise.
Neste fim de semana, a administração republicana mudou o padrão adotado e decidiu deixar um grande banco quebrar. A reação imediata dos mercados à concordata do Lehman Brothers, entretanto, foi devastadora. Uma violenta onda de liquidação varreu as Bolsas no planeta, que bateram recordes de desvalorização diária. Nova York perdeu 4,4%, e a Bovespa, 7,6%.

Os bancos centrais na Europa e nos Estados Unidos foram obrigados a oferecer bilionárias linhas de crédito emergencial ao setor bancário. O Fed abriu um leque de US$ 70 bilhões -a maior linha de empréstimo de urgência desde os atentados de 11 de setembro de 2001- e relaxou as garantias para as instituições tomarem recursos.As inevitáveis especulações sobre quem seria o próximo na lista da insolvência empurraram a AIG, gigante mundial dos seguros, para o córner.

Uma inusitada intervenção do governador de Nova York, permitindo à empresa um socorro de US$ 20 bilhões, apenas adiou para hoje a seqüência do drama, o qual, longe de estar restrito à seguradora, abrange outras instituições financeiras de grande porte.Criticado por ter socorrido outras empresas ameaçadas, transferindo prejuízos e riscos privados para o contribuinte, o governo Bush mudou de estratégia não apenas por motivação política. Por trás do movimento também está a intenção de forçar o enxugamento do setor financeiro, livrando-o de instituições, como certos bancos de investimento, responsáveis pela especulação, tanto opaca como desenfreada, que originou a crise.O que a resposta virulenta dos mercados evidencia, contudo, é um ambiente desfavorável a esse tipo de abordagem. Na ânsia de fazer caixa e escapar do redemoinho da insolvência, está em marcha uma corrida em manada para vender quaisquer títulos privados que se tenham em mãos e que ainda sustentem preço. O recado da Casa Branca, de que não haverá necessariamente ajuda aos "perdedores", alimenta o pânico dos vendedores.
Mas, quando há um impulso avassalador para desfazer-se de patrimônio, ele acaba se desvalorizando de modo generalizado e acentuado, como ocorre agora com as Bolsas, as commodities e as moedas e os papéis de países emergentes.

A ação do governo norte-americano neste fim de semana pareceu fiar-se na convicção de que é possível controlar o ritmo e a distribuição das perdas numa crise de enormes proporções como esta, fazendo emergir de seus escombros um sistema mais robusto.Eis aí uma opção arriscada. Se a hipótese não se comprovar, os custos econômicos e sociais desta derrocada brutal tenderão a ser ainda maiores.

Editorial da Folha de hoje.

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