Exército Chinês posa de foice e martelo para as comemorações dos 60 anos do "comunismo".
Ofensiva de imagem
Artigo do jornalista Vaguinaldo Marinheiro - Caderno Mais! Folha de ontem -- sobre a China que está fazendo uma grande celebração pelos 60 anos da República Popular.
A China não é uma superpotência e não agirá como superpotência. É apenas um país em desenvolvimento que tem muitas questões internas a resolver -como a crescente desigualdade social e enormes problemas ambientais- antes de pensar em dominar o mundo.Essas frases são uma espécie de mantra repetido por vários dirigentes chineses, de pequenos funcionários provinciais a membros do Comitê Central do Partido Comunista chinês, que governa o país.É talvez a principal mensagem que a China quer passar ao mundo nos 60 anos da revolução feita por Mao Tse-tung, em 1949, que unificou o país.A China teme a consolidação de um sentimento anti-China, a exemplo do antiamericanismo, que trouxe e traz tantos problemas aos EUA."Quando não tínhamos crescimento, diziam que éramos débeis. Agora que crescemos, dizem que somos uma ameaça para o mundo", afirma Xu Ying, vice-diretor do Gabinete de Comunicação do Conselho de Estado da China.Xu diz que a China tem também razões históricas para não se portar como superpotência. Lembra que o país sofreu muito nas mãos de impérios (Japão e Reino Unido, principalmente) que invadiram o seu território e exploraram o seu povo.Mas o discurso dos dirigentes é contrariado pela prática porque a China apresenta vários cacoetes de uma potência.Se não utiliza força militar, apesar de fazer investimentos nessa área, planeja como ninguém avanços no "soft power", principalmente através dos meios de comunicação.O governo quer divulgar a imagem de "boa moça" da China e, para isso, prepara uma rede mundial de notícias, como a CNN ou a Al Jazeera.Já a Rádio China Internacional transmite hoje para todo o mundo programas em 38 línguas e outros 5 dialetos. Possui também 53 websites em línguas estrangeiras.Um programa chamado "Aula de Confucionismo Radiofônico", para ensinar mandarim, está se expandindo pelo globo.O governo também busca uma propaganda positiva do país por meio de jornalistas ocidentais que convida quase todas as semanas para conhecer os avanços do novo "Eldorado do mundo".No início deste mês, foi a vez de dez jornalistas latino-americanos. No roteiro da viagem estavam as óbvias e prósperas Pequim, Nanquim e Xangai, com seus megashoppings, jovens ocidentalizados e carros de luxo por todo lado. Mas também foi incluída a província de Guizhou, ao sul, a região menos desenvolvida da China, segundo os dados oficiais.Guizhou é um exemplo escancarado da desigualdade chinesa. Na avenida principal de sua capital, Guiyang, muitos Audis e lojas de grifes ocidentais, como Versace e Cartier; nas vias perpendiculares, muita sujeira e milhares de pessoas comendo nas ruas espetinhos de animais que ficam expostos crus sem refrigeração. Parece que há dois mundos. Ou duas épocas, a velha e a nova China.Também em Guizhou é possível encontrar trabalhadores que recebem 180 yuans por mês, menos de R$ 54.Os chineses reconhecem o problema da desigualdade econômica, mas acreditam que há um remédio melhor para ela que o assistencialismo.Creem que os ricos servirão de exemplo para que os demais se esforcem para subir na vida.Além disso, recorrem a Deng Xiaoping, artífice da abertura econômica a partir de 1978, que incentivava as pessoas a enriquecer, porque, dizia, não há socialismo sem riqueza.Em um outro claro exercício de propaganda, a comitiva de jornalistas é levada a conhecer uma "feliz" comunidade miao, uma das mais de 50 minorias étnicas da China, e condomínios onde "felizes" camponeses desalojados de suas terras por obras de infraestrutura vivem em apartamentos de 160 metros quadrados.
Minorias descontentes, como uigures e tibetanos, não devem nem sequer ser mencionadas. Se os jornalistas insistem numa pergunta, a resposta vem um pouco torcida: temos várias ações afirmativas para as minorias, que têm permissão para ter mais de um filho (para os han, a maioria, continua valendo a política do filho único) e bônus para entrar em universidades e para obter promoções no emprego.CondiçõesHá outras duas mensagens que emergem dos discursos dos dirigentes chineses além dessa propagação da imagem de uma China do bem.A primeira é mais do que uma mensagem, é um aviso. Afirmam: não somos bobos e os tempos do vale-tudo acabaram.Dizem que a China ainda quer investimentos do mundo, mas com condições; que hoje o país rejeita empresas muito poluidoras e que não vai tolerar corrupção.O episódio dos funcionários da mineradora anglo-australiana Rio Tinto, detidos em junho sob acusação de subornar funcionários públicos, é usado para ilustrar essa nova era.Também nesse ponto, os meios de comunicação locais (todos de propriedade do Estado) exercem um papel importante: casos de corrupção são agora manchete e há campanhas para incentivar as pessoas a denunciá-los.A segunda mensagem é uma advertência e aparece de forma mais subliminar que direta nos discursos e respostas dos dirigentes, que sempre apelam para uma linguagem diplomática de frases pouco incisivas.Traduzindo tudo, o que querem dizer é: parem de nos encher o saco; não venham nos dar lições; precisamos ser respeitados; salvamos o mundo de sua pior crise econômica; temos um quinto da população mundial e uma responsabilidade enorme com esse planeta; suas receitas de democracia e liberdade de imprensa não servem para nós neste momento.Como se gabam de ter criado um socialismo com características chinesas (ou um capitalismo de Estado, como preferem alguns), os chineses defendem também ter um modelo próprio, e adequado, para a relação Estado-cidadão."O mundo é diversificado e os países podem se desenvolver de formas também distintas", afirma o vice-diretor do Gabinete de Comunicação do Conselho de Estado da China, antes de sugerir o sexto "campei" da noite no jantar de despedida com os jornalistas."Campei" é uma espécie de brinde em que você deve esvaziar o copo, no caso, cheio de Moutai, um licor forte e muito tradicional no país.Após uma visita à China, não restam dúvidas de que o mundo é diversificado. Quanto a avaliar qual modelo é o mais adequado para 1,3 bilhão de chineses... Talvez só sendo um deles para responder.
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2 comentários:
"...como a crescente desigualdade social e enormes problemas ambientais". Começou mal, muito mal. Desde que a China abriu os mercados eles tiraram muita gente da miséria, e a renda per capita aumentou um bocado e o PIB, então, sem comentários. Enormes problemas ambientais acompanham o país desde.. sempre.
O resto do artigo não traz nada muito interessante. Como nossa empresa é diretamente vinculada com a China pesquisei um pouco sobre o país recentemente. Esse regime bizonho que mistura uma relativa (sim, relativa, pois o Estado ainda intervem em vários setores da economia) liberdade econômica com tirania política é o sonho da família Castro.
Cuba está bem longe dessa "liberdade" chinesa. Em Cuba, por exemplo, o governo não permite até mesmo que pequenos restaurantes sejam da iniciativa privada.
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