Atitude do "cada um por si" é barreira
MARY DEJEVSKY DO "INDEPENDENT"
Quando os europeus contemplam a batalha que Barack Obama precisa travar para reformar o sistema de saúde dos EUA, a reação inicial é de descrença. Como um bem social tão evidente quanto a cobertura universal de saúde não está integrado à estrutura da sociedade dos EUA? Como um dos mais ricos e mais avançados países do mundo pode tolerar uma situação que força um sexto de sua população a pagar por tratamentos item por item?A segunda reação é culpar os desalmados e ignorantes republicanos. Para os europeus, um sistema universal de saúde é tão essencial para uma sociedade civilizada que apenas lunáticos poderiam se opor a ele.
Quem dera isso fosse verdade. O motivo para que Obama esteja enfrentando tamanha dificuldade para reformar o sistema de saúde não é uma ala raivosa do Partido Republicano nem os muitos grupos, como as operadoras de saúde e médicos, com interesses econômicos.
O motivo da dificuldade é que muitos americanos, não só republicanos como democratas, simplesmente não concordam em que um plano universal de saúde seja uma boa ideia. Obama tem maioria nas duas Casas do Congresso. Se o apoio democrata à reforma fosse sólido, já teria garantido a vitória.Muitos dos integrantes das alas dominantes do partido, porém, precisam ser seduzidos, convencidos e até ameaçados, se o objetivo é conseguir seu assentimento a uma mudança no status quo. Um sistema universal de saúde é necessidade inquestionável apenas para aquilo que os americanos comuns entendem como a ala mais à esquerda do espectro político.O elemento econômico ajuda a explicar a profunda desconfiança sobre os planos de Obama para a reforma da saúde. A maioria dos americanos crê que sua cobertura de saúde é adequada. Já que a maior parte dos aposentados está protegida pelo sistema federal de assistência médica, prevalece uma atitude de "comigo tudo bem". Ela coexiste com o medo de que ampliar os quadros dos segurados às pessoas mais pobres e propensas a doenças encarecerá os planos dos saudáveis e causará filas ou racionamento. A vitória de Obama pode de fato ser vista como uma inclinação à esquerda do eleitorado americano. Mas essa esquerda está um tanto à direita do que é o caso na maioria da Europa. Se e quando Obama conseguir aprovar a reforma da saúde, é improvável que o resultado seja um serviço nacional de saúde semelhante aos europeus.
8 comentários:
Os americanos são liberais por natureza, e um europeu criado em um regime previdenciário caro e pesado não consegue conceber uma sociedade mais liberal.
Que exista um regime previdenciário público, mas que não seja obrigatório a todos, apenas aos que estão inseridos no tal sistema e vejamos como ele se sai.
charlie, meu caro
Permita-me concordar com você.
Aliás, o conceito "liberal", na Adminstração Obama, esta precisando de uma re-visita.
A "fera" quer estatizar tudo.
Estava vendo o discurso dele na CNN e quando escutei o "layer" fiquei pasmo.
Obama pode ser enforcar na própria corda, para desespero do nosso preclaro e velho amigo Carlos Eduardo da Maia.
Maia apostou todas as fichas no Barack Obama.
Gosto do Obama. Fiz até campanha para ele aqui no Blog, Senna. Acho uma contradição enorme o país mais rico do mundo (desculpem o ranço esquerdista) não ter a saúde (não é previdência) universalizada. Um absurdo. Na verdade, a classe média americana tem receio de ter de pagar mais ( e isso pode sim ocorrer) para que as pessoas mais excluídas tenham acesso à saúde. É o "Cada um por sí". Mas Obama vai mudar essa lógica, mas o Estado vai ter de aportar recursos para diminuir o impacto na classe média que decide as eleições.
Tudo bem, velho amigo
Barack Obama pode ( ou deve ) fazer o Estado aportar toda quantidade de recursos possiveis em cada "crisis area".
Todavia Obama não pode tentar regular o Mercado, como se fosse estatizar os recursos que coloca para salvar-se dos problemas.
Como foi na crise das montadoras, que trombeteou resolver com o dinheiro do contribuinte, porém queria determinar o destino interno (nas empresas) da aplicação dos recursos...
Como dizia Fernando H. Cardoso: "Assim não pode..Assim não dá"
Grande abraço
Um sistema público de saúde universal, via de regra (na verdade, sempre) é menos eficiente do que um sistema privado. Logo, muitas pessoas são obrigadas a pagar duas vezes por uma apólice (uma pública obrigatória que não funciona como deveria e uma privada). O que na minha opinião de neoliberal é incorreto. Que criem um sistema de saúde público, mas que não onere a totalidade da socidade. Claro, não irá funcionar....
(Outro esquerdista poderia perguntar algo como "e os imigrantes ilegais, como ficam"?)
Charlie, meu caro
Os "imigrantes ilegais" tem que assumir seus riscos.
O problema que na América ( diferente da Europa ) todos acham plenos de direitos civis mal escapam da fronteira.
Fazer o que? É a vida....
É de interesse de todos que o serviço público funcione bem para todos, que se universalize, que tenha boa qualidade. Não interessa a ninguém a miséria, a pobreza etc... Quem tem condições de pagar pelo serviço privado também deve contribuir para a manutenção do serviço público, porque esse é um interesse universal. O serviço privado é um plus, um acréscimo para aqueles que têm condições de custear. Sou a favor de um bom serviço público de saúde, no caso, mas com a opção de que as pessoas possam dispor, também, de um serviço privado.
E o Senna tem razão quando fala em imigrantes ilegais. Devem eles participar desse "universo"? Eles são ilegais e assumiram o risco da ilegalidade. O Obama foi chamado de mentiroso naquele discurso que fez esta semana exatamente por isso, porque se comprometeu que os ilegais estariam de fora desse sistema "universal".
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