Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


terça-feira, 22 de setembro de 2009

'Grosseira Intervenção do Brasil na Política Interna de Honduras'


Sobre a situação em Honduras, entrevista no UOL de Durval de Noronha Goyos Jr., uma das principais autoridades mundiais em direito internacional, é árbitro da Comissão Internacional de Arbitragem Comercial da China, do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio e da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Presença de Zelaya em embaixada brasileira é ilegal, diz especialista

UOL Notícias - O governo brasileiro pode manter Zelaya na embaixada em Tegucigalpa?
Durval de Noronha Goyos - A presença do Zelaya na embaixada, fazendo comício para a população de Honduras, é uma violação das normas de direito internacional, porque a única condição em que, de acordo com as normas internacionais, seria permitida a presença dele lá, seria como asilo político. Mas também o asilo traz como condição a não interferência nos negócios políticos do país dele e do Brasil. No caso específico, ele foi acolhido sem o instituto do asilo, o que demonstra uma falha muito grande no procedimento do Itamaraty e que pode induzir a um agravamento da situação interna em Honduras. A conduta dele é ilegal.

UOL Notícias - Essa ilegalidade abre brecha para que o governo interino corte a luz e a água da embaixada? Quais seriam as alternativas do Brasil para parar de descumprir essas normas?
Noronha - Sim, porque a situação é ilegal. Ou o Brasil dá asilo político a Zelaya ou tem que colocá-lo para fora da embaixada. A embaixada é território soberano do Brasil. Isso é interferência indevida nos negócios de outro país e fere também a Constituição brasileira.
UOL Notícias - Que problemas o Brasil pode enfrentar se continuar a manter Zelaya na embaixada?
Noronha - Já ocorreu uma série de problemas, como a expulsão dos diplomatas, pode haver rompimento de relações, além dos problemas bilaterais. A diplomacia brasileira, por ter sido atabalhoada, está complicando a política interna em Honduras. Já foi decretado o toque de recolher, de ordem interna, agitação social, pode haver até mortes. Agora a embaixada está vulnerável e isso provavelmente só irá piorar.
UOL Notícias - Quais seriam as possíveis saídas de Zelaya nesse momento?
Noronha - O Brasil teria que dar o asilo e pedir salvo-conduto para que ele venha até o Brasil, sob pena de continuar violando o direito internacional.
UOL Notícias - O que o Itamaraty poderia ter feito para evitar essa situação?Noronha - O país agiu errado ao permitir isso [a entrada na embaixada]. O Brasil poderia tê-lo impedido de ingressar, ou condicionado sua entrada ao asilo político, que teria o respaldo do direito internacional.
UOL Notícias - Por que o presidente deposto escolheu justamente a embaixada para se abrigar no país?
Noronha - Lá ele está protegido pela imunidade diplomática da embaixada, que é o território brasileiro em Honduras. Mas é uma grosseira intervenção do Brasil na ordem interna de Honduras mantê-lo lá e isso pode contribuir para lançar aquele país no caos político. É um território brasileiro, mas está em Honduras e Zelaya está fazendo política interna. Isso não tem o respaldo do direito internacional.

UOL Notícias - O governo interino já fala em responsabilizar o Brasil por possíveis prejuízos ou mortes causados pela atual crise. Isso seria possível?
Noronha - O Brasil é diretamente responsável por uma crise porque a agitação foi favorecida pela embaixada, então, está intervindo na política interna de outro país. Quanto às sanções, é complexo, porque é apenas um governo de fato, mas por outro lado pode gerar uma crise interna com um agravamento muito grande e que vai trazer o ônus para o governo brasileiro. Em tese, a situação pode evoluir até o fechamento da embaixada, mas é impossível avaliar a extensão que essa crise vai tomar.


UOL Notícias - O governo de fato de Honduras também ameaça invadir a embaixada. A presença ilegal de Zelaya abre brecha para esse tipo de ação?Noronha - A invasão também seria uma violação do direito internacional, mas não creio que eles façam isso, porque podem sofrer sanções da comunidade internacional. Esperamos que nada disso venha a ocorrer.


UOL Notícias - E os brasileiros naquele país, como devem agir caso necessitem dos serviços da embaixada?Noronha - Os brasileiros têm que esperar a situação se normalizar ou o governo, emergencialmente, tem que colocar facilidades nos países vizinhos. O Itamaraty tem que ter plano de contingência. E essa crise é bastante concreta e foi criada pelo próprio Brasil.

6 comentários:

charlie disse...

Diplomacia de terceiro-mundo não parece muito diferente do que briga entre vizinhos barraqueiros. Um é mais vulgar do que o outro.

O Amorim está arruinando a boa reputação do Itamaraty e do próprio país, que vinha conseguindo passar por neutro e confiável. Criatura vulgar e estúpida. Petista!!!

ZEPOVO disse...

O Brasil ocupa seu lugar na américas!
Problema nas américas é problema brasileiro.Terceiro mundo deve ser sua casa charlie...

charlie disse...

Amigo Zé Povo, uma pergunta: quando os americanos intervem na política interna de uma país, como o senhor reage? E quando o camarada Chávez faz o mesmo? Ou o companheiro Lula?

Percebe?

charlie disse...

Maia, tive um comentário no Diario Gauche censurado. Acho que devo me sentir feliz pelo reconhecimento, certo? Foi no post sobre a renovação da concessão da Globo e da Record. Lembrei a eles que melhor do que censurar uma emissora é dar a liberdade ao indivíduo de mudar de canal ou desligar a TV...

hehe

Carlos Eduardo da Maia disse...

Zé, o problema das Américas é de cada povo. Zelaya é sim o presidente democraticamente eleito, mas o povo parece que não quer sua presença por lá. Assim como o Brasil rejeitou o Collor. Zelaya não tem apoio popular, essa que é a questão.

Charlie, depois que o DG começou a censurar os comentários eu larguei de mão aquilo lá.

charlie disse...

Ze Povo, não é nem tanto uma questão de apoio popular (que o presidente deposto não possui), mas de ordem legal. Entenda que um presidente é chefe do Executivo, e que uma república democrática possui outros dois poderes eqüidistantes. É a tal tripartição dos poderes que um certo Montesquieu desenhou uns tempos atrás e que é a fórmula adotada pelo mundo civilizado. Além do mais, existe também uma Constituição, que estabelece as normas fundamentais que norteiam o país. O do bigode atropelou a ordem constitucional com o anunciado intuito de mitigar a organização republicana e concentrar poder no Executivo. É o que faz Hugo Chavéz e toda a patota “bolivariana”.

Alguns chamam isso de “golpe branco”. já que visa desestruturar a democracia e estabelecer um regime autocrático.