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Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


quinta-feira, 27 de maio de 2010

388 Pessoas Foram Executadas no Irã em 2009


Ahmadinejad gosta muito de tapar os olhos de seus cúmplices

Lembram das  manifestações que ocorreram em junho de 2009, aqueles protestos  contra a reeleição de Ahmadinejad?  43 pessoas morreram e por conta daqueles atos até hoje estão bloqueados o Facebook e o Skype.

Entre agosto e dezembro de 2009, autoridades iranianas prenderam 5.000 indivíduos, entre políticos opositores, jornalistas, acadêmicos, estudantes, advogados, ativistas de direitos humanos e oficiais do Exército. Pessoas que  apenas acompanhavam os protestos a pé, sem gritar slogans, foram baleadas e presas..


Em algumas prisões, indivíduos tinham de ficar em contêineres cujos únicos buracos tinham sido feitos a bala. Um deles  chegou a ter 75 pessoas,  que tinham de ficar de pé, lado a lado, sem banheiro, com dejetos até os calcanhares. Os feridos tinham de se sentar ou se deitar.

Além disso, o Irã é um dos países que faz execução com a pena capital. São os chamados "julgamentos espetaculosos em massa" e de execuções, realizados por diferentes crimes. Só entre a eleição e a posse de Ahmadinejad, em 5 de agosto, foram 112 execuções. Em todo o ano de 2009 , foram 388, sendo ao menos 14 em público.

Quem diz isso não é este Blogueiro, mas a própria Anistia Internacional (leia abaixo) que vem dizendo:


A questão de direitos humanos no Irã é tão urgente quanto a nuclear. Em artigo publicado ontem na Folha.com.


GABRIELA MANZINI



Drewery Dyke, um dos pesquisadores da Anistia Internacional (AI) do Irã, defendeu ontem que a questão dos direitos humanos no país persa é "tão urgente quanto a nuclear". No dia do lançamento do relatório da ONG sobre o ano de 2009, o pesquisador diz terem sido relatados "abusos para todos os lados" e cobra das autoridades iranianas a divulgação dos dados das centenas de presos na repressão aos protestos iniciados em junho passado, devido à duvidosa reeleição do presidente, Mahmoud Ahmadinejad.


"Ficou claro que havia no Irã, em termos de Justiça, uma distância entre o que deveria ser feito e o que foi", diz ele.

Milhares de iranianos simpatizantes do principal opositor de Ahmadinejad, Mir Hossein Mousavi, foram às ruas repetidamente após a eleição de 12 de junho de 2009 protestar. A grande onda de protestos gerou a maior crise política iraniana desde a Revolução Islâmica (1979) que deixou 43 mortos, segundo dados oficiais, e quase cem, segundo a Anistia. As ferramentas de comunicação on-line usadas intensamente para convocar os atos, como o Facebook e o Skype, estão bloqueadas até hoje.

Conforme a Anistia, entre agosto e dezembro, o Irã deteve mais de 5.000 indivíduos, entre políticos opositores, jornalistas, acadêmicos, estudantes, advogados, ativistas de direitos humanos e oficiais do Exército. "Pessoas que conhecemos apenas acompanhavam [protestos] a pé, sem gritar slogans, foram baleadas. Muitas foram levadas de hospitais, onde os agentes de segurança faziam buscas", conta o representante da ONG.

Dos meses de junho, julho e agosto datam, ainda de acordo com o relatório da Anistia, os piores relatos de abusos nas prisões, especialmente na de Kahrizak, ao sul de Teerã, cujo fechamento foi ordenado pelo próprio líder supremo do país, Ali Khamenei, em julho. "Indivíduos ficaram em contêineres cujos únicos buracos tinham sido feitos a bala. Um chegou a ter 75, que tinham de ficar de pé, lado a lado, sem banheiro, com dejetos até os calcanhares. Os feridos tinham de se sentar ou se deitar", diz Dyke.

"Contudo, houve investigação apenas sobre um homem específico, que apoiava o governo, em particular o líder supremo. O sofrimento de outras centenas continua ignorado. Investigações sobre estupros e outros tipos de tortura não sugeriram nem que havia algo errado. Ao contrário, as autoridades tentaram encobrir e culpar outros", continua.

Execuções


Daqueles meses datam ainda um pico daqueles que a Anistia chama de "julgamentos espetaculosos em massa" e de execuções, realizados por diferentes crimes. Só entre a eleição e a posse de Ahmadinejad, em 5 de agosto, foram 112 execuções. Em todo o ano, foram 388, sendo ao menos 14 em público.

 "Há um caso de um rapaz preso por atirar uma pedra. Ele cometeu uma agressão, é verdade, e as autoridades têm o direito de levá-lo à Justiça. Mas sua primeira sentença foi a morte. Depois de uma campanha, miraculosamente, a sentença caiu de morte para três meses de prisão e fiança. Tamanha inconsistência mostra um vácuo na Justiça. Pessoas ligadas às forças matam nas ruas impunemente enquanto quem atira uma pedra é condenado à morte."
Devido a injustiças como essa, diz Dyke, a Anistia pede às autoridades iranianas que revelem informações referentes a centenas de presos que são chamados, na mídia do país, de "presos sem nome".
Sobre a expectativa para o aniversário da reeleição de Ahmadinejad, daqui a três semanas, Dyke é taxativo em afirmar que a oposição não organizará manifestações. "O que vimos ano passado foi um processo de aprendizado das forças de segurança iranianas. Em junho, as manifestações foram enormes, mas a última que os surpreendeu foi a de 27 de dezembro, na Ashura. Desde a eleição, as autoridades iranianas prenderam membros da classe política, que apoiava [Mir Hossein] Mousavi e [Mehdi] Karubi. Depois da Ashura, o padrão mudou, e mais jovens e defensores de direitos humanos passaram a ser presos."


Brasil

Para começar a solucionar os problemas, defende Dyke, o Irã deve permitir que pesquisadores internacionais independentes avaliem o seu sistema judiciário. "Países como o Brasil e a Turquia, que têm, em muitos sentidos, colaborado com organismos internacionais, devem dizer aos iranianos que esse é um meio de reduzir o abismo entre o sofrimento e a justiça que existe no país atualmente."

"O Brasil passa por um momento único. Aqui na Europa, nos EUA, cada vez mais se faz presente o nome do Brasil, sobretudo agora, com o acordo entre a Turquia e o Irã", analisa a brasileira Márcia Poole, a diretora-geral de comunicação da Anistia. Ela destaca a participação brasileira em fóruns internacionais e cobra protagonismo. "No G20, Bric, Conselho de Direitos Humanos e, agora, Conselho de Segurança, a gente não vê uma liderança do Brasil condizente com o status de potência emergente justo num momento em que sua voz está sendo ouvida."

"É uma oportunidade para o Brasil usar sua voz. [O Brasil] tem bons contatos com China, Irã. Poderia usar sua influência bilateral no assunto dos direitos humanos."

8 comentários:

guimas disse...

Não sei se tu te deu conta, Maia, mas o entrevistado elogia a política externa brasileira no final do texto, pedindo MAIS ação do Brasil.

Tudo a ver com o que o blog prega diariamente.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Eu vi, Guimas, mas o Brasil nada fez, nada disse, sobre isso.
A ação do Brasil é exclusiva à questão atômica.
O governo Lula se cala diante das constantes violações aos direitos humanos no Irã. E isso é grave e gostei muito do que disse o Serra. Se eleito ele vai mudar essa política.

Fábio Mayer disse...

Cuba e Venezuela também violam direitos humanos sistematicamente e o governo brasileiro não diz nada... se bem que os direitos humanos são violados no Brasil também, desde os mais prosaicos (por exemplo, eu não consigo dormir quando a PM não atende o 190 e não prende os vagabundos que tocam música sertaneja em último volume na frente da minha casa as 3 da madruga) aé os mis importantes como a inviolabilidade da própria pessoa em delegacias, penitenciárias, etc...

guimas disse...

Maia, a questão dos direitos humanos é interna ao país Irã. Eu discordo da teocracia lá adotada, mas há que se respeitar a soberania do país, infelizmente. Ficar apontando o dedo (como os anti-lulistas só fazem), é inútil. A questão atômica é internacional, e nessa é salutar o envolvimento diplomático de todos os países.

E quando falas que o foverno Lula se cala, o governo FHC também se calou. Eu duvido que Serra mude qualquer coisa nessa política, se eleito. Ele simplesmente não tem o menor interesse nesse assunto, como já demonstrou várias vezes.

charlie foxtrot disse...

Se o país se omite em questões de direitos humanos em outros países, age de forma egoísta e isolacionista. Se o país age, é logo rotulado arrogante e intervencionista. Vai depender das conveniências de quem fala.

charlie foxtrot disse...

Pessoalmente, acho que cada país tem o direito de tratar das questões internas como achar melhor. Que se matem, eu realmente não ligo.

Mas, claro, acho salutar manter distância segura de países com regimes diametralmente opostos (no mau sentido). Por questões de princípio, que mais não seja.

Na eventualidade da política interna de um país governado por lunáticos oferecer riscos ao mundo civilizado, bom, aí a coisa muda.

Carlos Eduardo da Maia disse...

O governo FHC não fez o que faz o governo Lula na política externa, cumplicidades com países de regimes tiranos. E acho que o Serra tem de investir forte neste item. Agora, se ele vai convencer a porção alienada do povo brasileiro acerca disso é outra história.

guimas disse...

"O governo FHC não fez o que faz o governo Lula na política externa, cumplicidades com países de regimes tiranos."

Esta é uma fantasia da oposição à Lula. Não há cumplicidade com nenhum país de regime tirano. O que há é diálogo.

Me diz quando alguém do governo Lula defendeu a construção de uma bomba nuclear. Me diz quando o governo Lula colaborou diretamente com algum regime tirano.

Não há cumplicidade. Há diálogo. Ou, ao contrário do que sempre dizes, Maia, queres promover o antagonismo entre os países?

"Agora, se ele vai convencer a porção alienada do povo brasileiro acerca disso é outra história."

Há dois lados alienados, Maia. O que acha que Cuba é o paraíso e o Irã pode tudo, e o que acha que Lula é cúmplice desses regimes. No meio estão os que, como eu, veêm as declarações de Serra como rompantes irresponsáveis para fazer manchete.