Charge de Elias
Estudo publicado na revista científica Science, a partir de trabalho científico realizado pelo sueco Svante Pääbo e de sua equipe,
concluiu que populações de fora da África, de origem europeia e asiática, têm de 1% a 4% de DNA do homem de neandertal - espécie extinta há cerca de 30 mil anos. Temos, portanto, uma herança troglodita. João Zilhão, arqueólogo português, Universidade de Bristol (Reino Unido) já havia chegado a essa conclusão há 10 anos, ele era praticamente um defensor quase solitário da mestiçagem homem-neandertal. Até mesmo Pääbo não concordava com essa tese que agora se revela. E o mais "complicado" em cada 13 anos o número de habitantes da terra aumenta em 1 bilhão. E vivemos todos -- carregando nossa herança neandertal -- em um mundo quente, plano e lotado, como refere o jornalista americano Thomas Friedman que está lançando o livro "Quente, Plano e Lotado".
Sobre o livro de Friedman clique abaixo.
Um mundo quente e atrolhado
Clóvis Malta - ZH Cultura
Dois dos últimos livros do jornalista norte-americano Thomas L. Friedman foram de alguma forma atropelados pela derrocada dos mercados financeiros a partir do último trimestre de 2008. O primeiro deles, O Mundo É Plano, alertava para a força da globalização, que acabou ajudando a potencializar a própria crise. O lançamento do segundo – Quente, Plano e Lotado – coincidiu com o início do que resultaria numa depressão global. A obra lançada no Brasil pela Objetiva foi reescrita, mas mantém a tese inicial: o mundo está cada vez mais povoado por uma classe média conectada e ávida por consumir como os norte-americanos, portanto mais plano, mas também mais lotado – a cada 13 anos, o número de habitantes aumenta em 1 bilhão – e mais quente, devido ao aquecimento global. Salvá-lo vai exigir atenção simultânea aos mercados financeiros e ao ambiente, com ênfase nas energias limpas. E isso dependerá em boa parte da atitude de países como Estados Unidos e China.
Por aí já dá para perceber algumas das dificuldades planetárias e a quem o livro se dirige. Sob o subtítulo Os Desafios e Oportunidades de um Mundo Novo, as 623 páginas vão interessar sobretudo a quem gosta de economia, de temas como a sustentabilidade ou, ainda, a quem se preocupa com o futuro imediato. Vencedor de três prêmios Pulitzer, o autor é otimista, inclusive sobre a possibilidade de as pessoas se interessarem cada vez mais pelo assunto. Reconhece que seu país saiu dos trilhos, mas vê Barack Obama como alguém em condições de repor a locomotiva em movimento com segurança, por se constituir no primeiro presidente “verde” dos Estados Unidos. A característica faz diferença numa economia dominada interna e externamente por lobbies conservadores da área energética. É o caso dos defensores do carvão, de quem nenhum político ousa falar mal, mas particularmente do petróleo, do qual dependem ditadores e senhores da guerra. Friedman acha que a China, com um quinto da população mundial, também pode se inclinar pelo verde. Tudo vai depender da capacidade de a bandeira da sustentabilidade, a leste e a oeste do planeta, se fortalecer como a dos direitos humanos dos anos 1960, por exemplo. Quem hoje torce o nariz deveria é contribuir para fortalecer a causa.
A grande oportunidade perdida, lamenta o autor, foi o 11 de Setembro. Na época, o então presidente George W. Bush deveria ter aproveitado para substituir pelo verde o vermelho que durante décadas simbolizou a ameaça comunista. O temor à União Soviética impulsionou o exército norte-americano e sua base industrial, estimulou a abertura de rodovias, portos, aeroportos, fortaleceu as instituições de ensino, o potencial científico – e tudo isso contribuiu para reforçar a defesa da liberdade. Bush, porém, preferiu recorrer ao Código Vermelho, reforçando o medo para justificar a guerra por mais segurança. A China, na avaliação do autor, poderia mudar tudo se optasse por um mundo mais sustentável, movido a energia limpa, até mesmo por uma questão de autopreservação.
Justificativas é que não faltam para o Código Verde. O modelo de crescimento contribuiu para desestabilizar, ao mesmo tempo, o Mercado e a Mãe Natureza. O sistema financeiro da Islândia – a mesma que voltaria a perturbar o mundo com seu vulcão – se dissolveu, literalmente. Na mesma época, a plataforma de gelo Wilkins, que se mantivera estável durante a maior parte do último século, começou a se desintegrar. As explicações apontadas pelo livro começam pela deterioração do ensino norte-americano, cuja recuperação vai exigir décadas. A contabilidade fraudulenta, a subestimação dos riscos, a privatização dos lucros, a socialização dos prejuízos são uma consequência desse descaso.
Assim como ocorre no Brasil, milhões de pessoas saíram da pobreza nos últimos anos na Índia e na China. A maioria deixou uma vida de baixo impacto ecológico, em algum povoado, para assumir um cotidiano de classe média nas áreas urbanas. O custo é alto. Um viaduto construído para desafogar o trânsito nesses países costuma ficar congestionado já no dia da inauguração. A cada 20 minutos, é extinta uma espécie natural. A poluição, o estresse e os danos à biodiversidade impõem desde doenças físicas até tsunamis.
A geração de Thomas L. Friedman – a dos baby boomers – ficou conhecida como a dos Gafanhotos. Além de hipotecarem o futuro comprando casas que não podiam pagar, seus integrantes devoraram tudo. Em vez de estudo, como fizeram os da geração anterior, legarão aos filhos imensos déficits financeiros e ambientais. O autor se explica o tempo todo, pois não quer passar a ideia de se opor a um crescimento nos moldes americanos para a população dos países emergentes. E aposta em alternativas apontadas como viáveis. Uma delas estaria na regeneração – termo usado para definir pessoas de todas as idades que partilham um interesse comum em recursos renováveis, reciclagem e outros meios de sustentação do ambiente. A luta pela sustentabilidade, porém, teria que significar para a regeneração o que a luta pela liberdade significou para a geração anterior. Mas quem está disposto hoje a empunhar bandeiras até alcançar seus objetivos?
O que o livro propõe de concreto pode ser definido como Código Verde. Transformados em líderes mundiais de desenvolvimento de fontes de energia limpa, inspirando uma ética de sustentabilidade em relação ao Mercado e à Mãe Natureza, os Estados Unidos deveriam conduzir esse processo. Sem alternativa, China, Índia e também Brasil – associado no livro ao modelo do etanol, a riquezas como a Amazônia e ao Pantanal – seguiriam no mesmo rumo.
Em imensas áreas, prevê a obra, a China tem condições de passar direto da ausência absoluta de comunicações para a telefonia sem fio e para a geração de energia sem necessidade de postes. Ficaria assim em melhores condições de assumir o comando do processo. A conclusão do autor é que os Estados Unidos precisarão escolher se querem ser uma espécie de China democrática ou uma república de bananas. Não as típicas nações sul-americanas, mas as lideradas por políticos que, diante de quem sugere o novo – no caso, a sustentabilidade –, apenas faz com os dedos o gesto de quem desdenha a proposta, comprometendo o próprio futuro, o meu, o seu, o de todos nós.
Um comentário:
Ok, Prisca, valeu. Mas não vou deletar o teu comentário....
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