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Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


terça-feira, 18 de maio de 2010

Acordo do Irã: Gol a Favor ou Contra?

Luiz Inácio brinca de fotógrafo em Teerã.

São próximas as relações entre Hugo Chávez e Ahmadinejad. Irã e Venezuela fazem parte a OPEP. E ambos os presidentes não são considerados amistosos pelos Estados Unidos. Por que motivos  Lula foi se meter, como mediador, nesse conflito tão distante do Brasil?
Lula e Chávez se encontram a cada três meses. Numa dessas conversas pode ter surgido essa idéia de mediação brasileira que interessa a quem? Ora, a Chávez e Ahmadinejad, inimigos declarados dos EUA.

O Brasil se deu mal na crise de Honduras. Foi muito lindo e solidário o governo brasileiro ter emprestado a embaixada brasileira ao impopular presidente deposto Manuel Zelaya, mas o desfecho do episódio com a exitosa eleição - sem o apoio do Brasil, mas de toda a comunidade internacional -  de Porfirio Lobo Sosa foi um ponto negativo na política externa do governo Lula.

É muito cedo para analisar se Lula fez ou não fez um gol no acordo realizado ontem no Irã. Primeiro porque todas as tentativas diplomáticas envolvendo a agência de energia atômica da ONU e o governo de Teerã resultaram inexitosas. O Irã, inclusive,  já fez assumiu outros compromissos e  nunca cumpriu e, portanto, pode estar utilizando o ingênuo Brasil para ganhar um tempo e terminar de fazer a bomba.

Como disse o jornalista Ricardo Bonalume Neto, na Folha de hoje, texto abaixo: só pacto não impede Irã de obter a bomba.



Só pacto não impede Irã de obter a bomba



RICARDO BONALUME NETO


ENVIADO ESPECIAL A PARIS






O acordo de ontem não é suficiente para impedir o Irã de um dia obter uma arma nuclear, se os seus governantes assim quiserem.


O país continua investindo no aumento da capacidade de enriquecer urânio através de ultracentrífugas -aumentar o grau do urânio radiativo de 20% aos 90% necessários a uma bomba é apenas uma questão de escala.


As instalações iranianas mais sensíveis estão protegidas debaixo da terra, como em Natanz, a 20 metros de profundidade, e pesadamente protegidas por mísseis antiaéreos. E nada impede que exista uma parte do programa que esteja clandestina; fiscais internacionais não têm como adivinhar onde pode haver a produção de armas nucleares.


"Sou muito pessimista em relação ao Irã", diz um especialista no tema, o pesquisador Bruno Tertrais, da Fundação para a Pesquisa Estratégica, de Paris, que justifica sua posição com base na história do país e de outros programas nucleares.


No fundo, quem quis muito a bomba, a obteve -a exemplo do recente caso norte-coreano. Tertrais opina que o Irã ainda não decidiu por produzir uma arma nuclear. "Nos anos 1950, na própria França, não havia consenso se o país deveria se armar nuclearmente." "Mas todos os países que investiram muito na opção nuclear acabaram cruzando o limiar", diz ele. "O programa iraniano está hoje em piloto automático, o Irã agora tem uma grande burocracia nuclear interessada no programa."






Dissuasão


As tecnologias do ciclo nuclear não são segredo. Quase 65 anos após Hiroshima e Nagasaki, "qualquer Estado importante pode adquirir armas nucleares", diz outro especialista, o historiador militar israelense Martin van Creveld, da Universidade Hebraica de Jerusalém. Ele é bem mais polêmico ao defender que um Irã dotado de arma nuclear não seria necessariamente perigoso.


Ele sustenta que todos os países importantes que se dotaram desse armamento não entraram mais em guerra convencional entre eles-nem houve a 3ª Guerra Mundial entre EUA e URSS, nem Índia e Paquistão, que guerrearam em 1946, 1947 e 1965, entraram em grandes conflitos desde então.


Mesmo a dissimulada bomba israelense teria impedido conflitos convencionais com vizinhos após a guerra de 1973. "Assim como aconteceu quando a Índia estava confrontando o programa nuclear do Paquistão e os EUA confrontavam o da Coreia do Norte, o momento mais perigoso é o chamado período de risco antes de um país adquirir armas nucleares.


Supondo que [Mahmoud] Ahmadinejad tenha sucesso em navegar por este período, há uma chance de igual para igual que ele se torne menos aventuroso, não mais", diz Van Creveld.


"O Brasil é soberano, e toda ação diplomática é válida", comenta Antoine Beaussant, assessor do presidente francês, Nicolas Sarkozy, para assuntos nucleares, sobre o diálogo entre Brasil e Irã. "Mas é preciso resultado. Já são sete anos de diplomacia sem sucesso", diz ele, para quem Teerã não tem vontade genuína de dialogar e procura só ganhar tempo. "Temos que ser mais firmes", diz Beaussant.


O período de "risco" pode fazer os EUA ou Israel atacarem o Irã. O objetivo de uma ação militar seria retardar o programa iraniano. "Tempo é uma mercadoria importante", segundo Tertrais. Um ataque desses, dada a dificuldade de acertar alvos bem protegidos por concreto e subterrâneos, poderia mesmo envolver armas nucleares táticas -de um a cinco quilotons (potência equivalente a 1.000 e 5.000 toneladas de TNT). Ahmadinejad ontem ganhou tempo -para dividir a oposição ao seu programa nuclear, e talvez construir sua bomba.






O jornalista RICARDO BONALUME NETO esteve em Paris a convite da Chancelaria francesa

Um comentário:

PoPa disse...

O grande problema deste acordo, é que permite o que todo resto do mundo não quer: o Irã vai continuar enriquecendo urânio. Para que diabos serviu este acordo, afinal? Para dar ares de legitimidade ao governo iraniano? Para que qualquer sanção agora pareça inconveniente?

Será que o cara se deu conta que pode ter sido o padrinho de uma grande guerra? Ou vai dizer que "não sabia", que "foi traído", que Ahmadinejad é um "aloprado"?