Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


sábado, 15 de maio de 2010

Comparações em Cenários Antagônicos


O irregular  programa  partidário do PT, transmitido na última quinta -- quando Luiz Inácio apresentou a Dilma ao povo brasileiro -- calibrou os holofotes  no fato de  que o governo Lula/Dilma fez muito mais inclusão social  do que o governo FHC/Serra.  Sim, as estatísticas demontram isso.

Mas essa análise é superficial, interesseira, maniqueísta e hipócrita.

Os dois governos  implantaram praticamente a mesma receita econômica:  a) câmbio flexível; b)responsabilidade fiscal (apesar do governo Lula ter gastado muito mais do que devia, o que vai gerar uma herança de gastos)  e c) regime de metas de inflação. Mas vivenciaram períodos políticos e econômicos diferentes, em contextos distintos.

Nesse sentido, análise do professor de economia da UFRGS, Fernando Ferrari Filho, publicado na ZH de hoje.

Desde a implementação do Plano Real, a condução da política econômica tem sido caracterizada, fundamentalmente, pelo regime de dominância monetária, cuja finalidade específica consiste em assegurar o controle e a estabilidade dos preços. Esta política tornou-se mais explícita a partir de 1999 quando foram (i) adotado o sistema de câmbio flexível, (ii) criadas a Lei de Responsabilidade Fiscal e as metas de superávit fiscal e (iii) implementado o regime de metas de inflação. De lá para cá, a política econômica tem sido conduzida com base no tripé câmbio flutuante, metas fiscais e metas de inflação. Nesse sentido, se a política econômica em ambos os governos é a mesma – é importante salientar que no início de 2009, devido principalmente aos efeitos da crise do subprime, houve uma ligeira inflexão na política fiscal, tornando-a, momentaneamente, contracíclica –, o que justifica resultados econômicos ligeiramente distintos nos governos FHC e Lula da Silva? Uma das possíveis respostas parece estar relacionada à dinâmica do cenário internacional entre 1995 e 2010.

Entre 1995 e 2002, o PIB mundial cresceu a uma média de 2,7% ao ano e houve várias turbulências na economia mundial – crises cambiais (México, 1994-95, Leste da Ásia, 1997, Rússia, 1998, e Argentina, 2001-2, além das brasileiras em 1998-9 e 2002) e crise financeira (Nasdaq). Em contrapartida, no período 2003-2010, a única e, com certeza, a mais dramática turbulência na economia mundial foi a crise do subprime, a ponto, inclusive, de contagiar a economia brasileira – a despeito das medidas fiscal e monetária contracíclicas operacionalizadas pelas autoridades monetárias no início do ano passado, o PIB brasileiro foi negativo em 2009 (-0,2%).
Pois bem, se a comparação dos legados econômicos de FHC e Lula da Silva for inexorável, torna-se necessário considerar, para efeito de análise, cenários econômicos internacionais bastante antagônicos ao longo dos últimos 16 anos.


Cenários antagônicos, por Fernando Ferrari Filho*

Nas últimas semanas, parte da mídia brasileira tem argumentado que os resultados econômicos alcançados nas gestões Fernando Henrique Cardoso (FHC), 1995-2002, e Lula da Silva, 2003-2010, serão levados em consideração na hora em que os eleitores decidirem seus votos nas próximas eleições presidenciais. Assim sendo, são comparadas, por exemplo, as taxas médias de inflação, do PIB e do desemprego, além da performance externa da economia brasileira: no governo FHC, a inflação média foi de 9,1% ao ano, o PIB cresceu a uma média anual de 2,3%, a taxa média de desemprego do Dieese foi de 17% ao ano e o setor externo acumulou um expressivo déficit, a ponto de o Brasil ter vivenciado recorrentes crises cambiais; por sua vez, no governo Lula da Silva as taxas médias de inflação, PIB e desemprego – supondo que as previsões para 2010 sobre IPCA, PIB e desemprego se confirmem – deverão fechar em torno de 5,7%, 3,9% e 15,9% ao ano, respectivamente, ao passo que o setor externo passou a ser credor líquido internacional. Diante dos referidos resultados e cientes de que há uma polarização entre PSDB e PT, a conclusão é de que a eleição presidencial de outubro possui um caráter plebiscitário.

Diante desta posição, duas questões merecem atenção: por um lado, será que houve mudança substancial na política econômica ao longo dos oito anos dos governos FHC e Lula da Silva, a ponto de se justificarem resultados econômicos distintos? Por outro, faz sentido comparar resultados econômicos em contextos histórico-internacionais bastante diferentes?
Desde a implementação do Plano Real, a condução da política econômica tem sido caracterizada, fundamentalmente, pelo regime de dominância monetária, cuja finalidade específica consiste em assegurar o controle e a estabilidade dos preços. Esta política tornou-se mais explícita a partir de 1999 quando foram (i) adotado o sistema de câmbio flexível, (ii) criadas a Lei de Responsabilidade Fiscal e as metas de superávit fiscal e (iii) implementado o regime de metas de inflação. De lá para cá, a política econômica tem sido conduzida com base no tripé câmbio flutuante, metas fiscais e metas de inflação. Nesse sentido, se a política econômica em ambos os governos é a mesma – é importante salientar que no início de 2009, devido principalmente aos efeitos da crise do subprime, houve uma ligeira inflexão na política fiscal, tornando-a, momentaneamente, contracíclica –, o que justifica resultados econômicos ligeiramente distintos nos governos FHC e Lula da Silva? Uma das possíveis respostas parece estar relacionada à dinâmica do cenário internacional entre 1995 e 2010.
Entre 1995 e 2002, o PIB mundial cresceu a uma média de 2,7% ao ano e houve várias turbulências na economia mundial – crises cambiais (México, 1994-95, Leste da Ásia, 1997, Rússia, 1998, e Argentina, 2001-2, além das brasileiras em 1998-9 e 2002) e crise financeira (Nasdaq). Em contrapartida, no período 2003-2010, a única e, com certeza, a mais dramática turbulência na economia mundial foi a crise do subprime, a ponto, inclusive, de contagiar a economia brasileira – a despeito das medidas fiscal e monetária contracíclicas operacionalizadas pelas autoridades monetárias no início do ano passado, o PIB brasileiro foi negativo em 2009 (-0,2%).
Pois bem, se a comparação dos legados econômicos de FHC e Lula da Silva for inexorável, torna-se necessário considerar, para efeito de análise, cenários econômicos internacionais bastante antagônicos ao longo dos últimos 16 anos.

*Professor titular da UFRGS

3 comentários:

Anônimo disse...

Bem interessante o artigo do prof. Ferrari. Tenho aula de Macroeconomia com ele neste semestre, e como bom keynesiano ele é contra a independência do Banco Central. O Serra já se posicionou da mesma maneira que o Ferrari, a Dilma ficou no muro. Para os keynesianos, que são considerados de "esquerda", pois defendem um Estado atuante, o Bacen deve seguir duas metas: a de inflação e a do emprego. Se alguém da gauche gaúcha tentar desqualificar o Ferrari, estarão indiretamente apoiando os economistas monetaristas/ortodoxos.

charlie foxtrot disse...

Considerando as idéias de Keynes sobre inflação, dificilmente um keynesiano pode considerar inflação algo a ser combatido. Pergunte ao seu professor sobre a teoria de inflacionária de Keynes e o combate ao desemprego.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Boa análise, Eduardo e bem-vindo ao depósito.

Charlie, que analise faria Keynes sobre o mundo de hoje?