Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


quinta-feira, 6 de maio de 2010

A Europa Precisa de Responsabilidade Fiscal


É possível salvar o euro?


JOSEPH STIGLITZ

ESPECIAL PARA O PROJECT SYNDICATE

A crise financeira grega colocou em jogo a sobrevivência do euro. Quando a moeda unificada foi criada, muita gente se preocupava com sua viabilidade no longo prazo. Porque tudo transcorreu bem, essas preocupações foram esquecidas.
Mas a questão de como realizar ajustes caso uma parte da zona do euro fosse atingida por fortes efeitos adversos persistiu. Determinar uma taxa fixa de câmbio e entregar a autoridade monetária ao Banco Central Europeu eliminou os dois meios primários pelos quais governos nacionais estimulam suas economias a fim de evitar recessões. Como substituí-los?
Robert Mundell, Nobel de Economia, estabeleceu as condições sob as quais uma moeda unificada seria capaz de funcionar. A Europa não cumpria essas condições quando da adoção do euro; e ainda não o faz.
A remoção das barreiras jurídicas ao movimento de trabalhadores criou um mercado de trabalho unificado, mas as diferenças linguísticas e culturais tornam irrealizável uma mobilidade de mão de obra como a que existe nos EUA.
Além disso, a Europa não tem um meio de ajudar os países que enfrentam sérios problemas. Tomemos como exemplo a Espanha, que tem um índice de desemprego de 20% -e de mais de 40% entre os jovens.
O país tinha superavit fiscal antes da crise; depois, seu deficit inchou para mais de 11% do PIB. Mas, sob as regras da UE (União Europeia), a Espanha agora precisa reduzir seus gastos, o que provavelmente exacerbará o desemprego. Com a desaceleração da economia, a melhora na posição fiscal do país pode ser mínima.
Para os países de menor porte na UE, a lição é clara: caso não reduzam seus deficit orçamentários, existe um alto risco de ataques especulativos, com pouca esperança de ajuda adequada dos vizinhos, ao menos não sem dolorosas e contraproducentes medidas de restrição orçamentária pró-cíclicas.
As consequências sociais e econômicas do arranjo atual devem ser inaceitáveis. Os países cujos deficit dispararam como resultado da recessão mundial não devem ser forçados a uma espiral de morte como a Argentina há uma década.
Uma das soluções propostas é que esses países organizem o equivalente a uma desvalorização cambial -um corte uniforme nos salários. Creio que seja impossível, e as consequências distributivas seriam inaceitáveis. As tensões sociais seriam enormes. É uma fantasia.
Existe uma segunda solução: que a Alemanha deixe a zona do euro ou que esta seja dividida em duas subáreas. O euro foi uma experiência interessante, mas falta-lhe o apoio institucional para que funcione.
Há também uma terceira solução que a Europa talvez venha a compreender como a mais promissora de todas: implementar as reformas institucionais, incluindo a criação da estrutura fiscal necessária, que deveriam ter sido adotadas quando do lançamento do euro.
Não é tarde demais para que a Europa implemente as reformas e recupere os ideais, baseados na solidariedade, que embasaram a criação do euro.
Mas, caso a Europa não possa fazê-lo, talvez o melhor seja admitir o fracasso e seguir em frente, em lugar de pagar o alto preço em termos de desemprego e sofrimento humano que a preservação de um modelo econômico falho requereria.

 Na Folha de hoje.

3 comentários:

Marta disse...

...a Europa precisa disso e de tanto mais. URGENTE!


[que fotografia fabulosa, Carlos, a do cabeçalho do seu blog]

Carlos Eduardo da Maia disse...

Obrigado Marta e volte sempre.

Fábio Mayer disse...

Sinceramente, sou daqueles qu nunca acreditou na UE, como não acredito no Mercosul, como não acreditava no finado NAFTA.

As gestões econômicas de países inteiros não conseguem, pela natureza do que se chamu Estado Nacional, serem iguais, elas guardam muita relação cultural com a gente de cada lugar.

Imaginem o Brasil na UE, tendo que equilibrar seus índices com os da Alemanha ou sujeitar-se a um jeito muito mais rígido de administrar a coisa pública. Das duas uma: ou o Brasil desistia em face da insatisfação de seus (péssimos) políticos ou a Alemanha dava o fora por pressão de sua população.

No Mercosul, a Argentina USA e ABUSA do Brasil como muleta para suas seguidas crises econômicas causadas pelo populismo peronista que ela não consegue largar. E quando o Barsil adquire alguma vantagem, lá vêm os "hermanos" pedindo compensações, esquecendo das vantagens que tiveram no passado.

Sou da opinião que o sistema de comércio internacional funciona melhor bilateralidade, os negócios no fio do bigode dentro de acordos pontuais.