Ser de esquerda é:
"Antes de mais nada precisamos escapar das fortes limitações das visões das 'raparigas em flor do keynesianismo' e dos 'heróis em sangue do marxismo'.
Penso que as escolhas e os caminhos são, sem dúvida, pela esquerda.
Insisto que este caminho significa reconhecer que o capitalismo é um sistema irracional que inibe a capacidade do ser humano de dar sentido à vida, ou seja, viver com dignidade, felicidade e liberdade.
Ser de esquerda é o combate permanente por um projeto de orientação socialista. É ignorância imaginar que ser de esquerda se restringe a defender bandeiras como progresso econômico, reforma social, democracia, integração regional e interesses nacionais. O centro e a direita também defendem estas bandeiras, de uma forma ou de outra. É má-fé imaginar que a distinção entre esquerda e direita se restringe ao ideário econômico via a armadilha binária “Estado versus mercado”. Defender um Estado que é capturado por grupos dirigentes corruptos não é ser de esquerda.
Ser de esquerda implica combater implacavelmente estes grupos dirigentes e os setores dominantes retrógrados.
Ser de esquerda implica compromisso com distribuição de riqueza (maior igualdade possível na distribuição de riqueza, renda e conhecimento), controle social do Estado (combater a apropriação do Estado por grupos dirigentes e grupos econômicos) e uso social do excedente econômico (tributação, planejamento e propriedade pública dos principais meios de produção).
Ser de esquerda implica rejeitar tanto a política externa do “vira-lata” como a do “camaleão falante” baseada em um antiimperialismo retórico, ocasional e superficial.
Ser de esquerda é contrariar o agronegócio e procurar o fortalecimento do padrão de comércio e a rejeição da reprimarização do comércio via commodities.
Ser de esquerda é contrariar o capital internacional e ter uma política seletiva e criteriosa em relação aos investimentos de empresas estrangeiras e não estimular e financiar com recursos públicos todo e qualquer tipo de investimento externo direto.
Ser de esquerda é reduzir as transferências de recursos para os rentistas da dívida pública e procurar investir pesadamente na maior capacitação tecnológica com saltos quantitativos e qualitativos na educação e no sistema nacional de inovações.
Ser de esquerda é contrariar os bancos nacionais e os estrangeiros e controlar os fluxos financeiros internacionais e não dar tratamento especial a estes fluxos.
Ser de esquerda é não fazer aliança com países avançados, como os EUA, para fechar rodadas de negociação da OMC somente para favorecer o agronegócio.
Ser de esquerda é não aceitar o pagamento de pedágio para participar de fóruns internacionais de eficácia duvidosa, como o G-20 financeiro.
Ser de esquerda é rejeitar reforçar o capital de instituições financeiras multilaterais como FMI e o Banco Mundial, cujas políticas tendem a submeter países frágeis a práticas que atendem, principalmente, aos interesses do capital internacional.
Ser de esquerda é entender que os principais adversários das transformações estruturais e de modelo estão dentro do próprio país.
Ser de esquerda é reconhecer que há um enorme hiato entre o poder potencial e o poder efetivo do Brasil na arena internacional.
Ser de esquerda é saber que, com as escolhas certas e as transformações estruturais, o país só terá peso efetivamente relevante no cenário internacional quando reduzir sua enorme vulnerabilidade externa estrutural e suas extraordinárias fragilidades internas, inclusive, as sociais e institucionais".
Meu pequeno pitaco:
Curioso, fui pesquisar esse professor da UFRJ e achei na web uma interessante entrevista que ele concedeu ao JB on Line em 2005 depois que ele escreveu uma carta pedindo desfiliação do PT e ter rasgado e devolvido ao PT sua carteira de filiação. Ele disse, em 2005, o que discutimos hoje: o sucesso de Lula é sua política econômica que é continuação piorada do governo FHC. Quem diz isso não é este Blogueiro, mas um intelectual respeitado pelos próprios petistas.
- Político geralmente não gosta de economia. Ninguém aprecia gerenciar passivos e há o problema da tecnicalidade. Como bom político, Fernando Henrique tinha um grupo de formulação estratégica. E era de primeiro nível. Não quero dizer com isso que a estratégia era correta. Mas havia essa visão. Havia rumo e prumo. Os economistas que exerciam as funções principais no governo eram excelentes. Tinham projeto e concepção estratégica. Quando surgia um problema econômico sério, o presidente os chamava, eles montavam o cenário e sugeriam políticas associadas, consistentes.
- A política econômica, na minha avaliação, é uma tragédia, uma catástrofe. Os resultados são absolutamente medíocres. Você tem que descontar a conjuntura internacional extraordinariamente favorável dos últimos dois anos. Se a a conjuntura piorar, vai haver uma degringolada geral da economia brasileira.
8 comentários:
"Ser de esquerda é rejeitar reforçar o capital de instituições financeiras multilaterais como FMI e o Banco Mundial, cujas políticas tendem a submeter países frágeis a práticas que atendem, principalmente, aos interesses do capital internacional".
Well,
Então nem o PT, cujo governo injetou capital adicional no FMI, nem o presidene Lula, que pretende, segundo o noticiário ufanista-deicista ser presidente o Banco Mundial, são de esquerda?
Esclarecedor...
Lula não é de esquerda. Lula é de Lula...
Concordo com o Anônimo. Lula não é de esquerda, é um corporativista.
Engraçado que muitas das demandas do professor também são demandas dos liberais, logicamente por filosofias diferentes. O que também não é milagre pois depois do desastre do socialismo real muitos "esquerdistas" esquereceram o que significa ser realmente de esquerda e adotaram para si lemas que NUNCA foram REALMENTE da esquerda.
Acompanho o voto do eminente ( e meu amigo ) relator Pablo Vilarnovo.
Pois estamos todos de acordo: Lula não é de esquerda. E como diz um desses Blog de esquerda: Lula pratica o "lulismo de resultados".
Eu não sou de esquerda, Lula não é de esquerda. Mas não quer dizer que estejamos do mesmo lado. Sou simplesmente um democrata que quer o livre mercado, devidamente regulado e acompanhado pelo Estado. Lula quer o mercado E o Estado para ele.
Estamos indo para uma situação sui generis!!!
Ninguém quer se dizer de direita no Brasil... pega mal, os olhares de soslaio incomodam, azeda o leite e esfria o chimarrão!
Porém, agora estamos indo para a situação em que ninguém quer ser de esquerda também!!!
No futuro próximo, ou seremos Lula, ou seremos nada, lembra aquele filme: Quero Ser Jonh Malkovich, que teriauma versão tupiniquim: Quero Ser Luizinácio!
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