Diversidade, Liberdade e Inclusão Social
Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt
terça-feira, 11 de maio de 2010
Como Você Quer Entender a Crise Grega ?
Opção A) A Culpa é do Neoliberalismo:
Se você quer acreditar que a crise grega é culpa do neoliberalismo clique aqui no site do portal de esquerda Carta Maior: para ler o que diz Marshall Auerback :
Por que há déficits orçamentários enormes em todo planeta? Não é porque, de repente, todos os funcionários do mundo tenham se convertido em burocratas de estilo soviético. É, e muito, porque uma economia global em declínio levou à diminuição de renda e a um gasto público maior na rede de seguridade social. O cúmulo da ignorância econômica é propor a destruição dessa rede de seguridade social a partir de uma extrapolação das lições equivocadas proporcionadas pelos problemas particularíssimos em que a própria Zona do Euro se meteu.
Opção B) A Culpa é da Irresponsabilidade Fiscal
Se você quer acreditar que a crise grega é culpa da falta de responsabilidade fiscal leia o artigo de Delfim Netto, publicado aqui no depósito, que diz o seguinte:
O fato quase inacreditável é que a Grécia violou sistematicamente aquelas condições. Mesmo antes de ser incorporada à Eurolândia, sabia-se dos truques fiscais realizados em conluio com renomadas instituições financeiras. Aparentemente, ela foi admitida porque quase todos os outros países usavam a mesma fantasia contábil. Agora estão sendo auditados 12 dos 16 países que usam o euro.
Opção C) A culpa é do Modelo Social Europeu
Agora, se você quer acreditar numa visão social democrata, leia, com atenção, o que diz Marcos Nobre na Folha de hoje, no artigo (abaixo integral) quanto custa um capitalismo?
Para começar, o euro teve a ambição de ser contraponto à hegemonia mundial solitária dos EUA a partir dos 1990. Mas pretendeu sobretudo defender um modelo de capitalismo que seria próprio da Europa. Foi para preservar o quanto possível desse modelo que a Comunidade Europeia se tornou União Europeia, expandiu fronteiras e criou uma moeda comum.
Mas, pelo menos, é um modelo baseado na proteção social para quem vive do trabalho. Que pretende aliar democracia supranacional com coisas básicas, como poder sair à rua sem temer pela própria vida. É bem mais do que se pode encontrar nos EUA. Ou na China. Para não falar no Brasil, que nada tem de modelo, mas que segue o padrão europeu quando o assunto é escrever uma Constituição. É um pesadelo imaginar que a grande crise do neoliberalismo alucinado dos anos 1990 acabará por puxar para o túmulo também o projeto de um modelo social de âmbito europeu. Mas essa parece ser hoje a tendência.
Não que o euro vá desaparecer, ou que algum país vá deixar o euro.
Nem que a União Europeia vá desaparecer. Mas o grau de integração tende a regredir.
Quanto Custa um Capitalismo
Marcos Nobre
Quem lê o noticiário sobre a crise na Grécia pode achar que se trata de um problema econômico simplesmente. O problema de como administrar uma moeda multinacional.
A Europa seguiu ontem a estratégia dos EUA em 2008. Liberou uma quantidade colossal de recursos com o recado: se quiserem especular contra a Grécia, contra o euro, contra a Europa, vão perder dinheiro. Essa linguagem o "mercado" não apenas entende; também, e principalmente, agradece.
Tudo resolvido? Claro que não.
Porque a crise do euro não é uma crise econômica simplesmente.
Porque o euro não foi um projeto econômico simplesmente.
Para começar, o euro teve a ambição de ser contraponto à hegemonia mundial solitária dos EUA a partir dos 1990. Mas pretendeu sobretudo defender um modelo de capitalismo que seria próprio da Europa. Foi para preservar o quanto possível desse modelo que a Comunidade Europeia se tornou União Europeia, expandiu fronteiras e criou uma moeda comum.
Não que seja o paraíso na Terra, evidentemente. As diferenças internas são enormes, o modelo é mais imaginário do que real. Nem todo país é Suécia ou Alemanha. As dificuldades de financiamento são notórias.
Mas, pelo menos, é um modelo baseado na proteção social para quem vive do trabalho. Que pretende aliar democracia supranacional com coisas básicas, como poder sair à rua sem temer pela própria vida. É bem mais do que se pode encontrar nos EUA. Ou na China. Para não falar no Brasil, que nada tem de modelo, mas que segue o padrão europeu quando o assunto é escrever uma Constituição.
É um pesadelo imaginar que a grande crise do neoliberalismo alucinado dos anos 1990 acabará por puxar para o túmulo também o projeto de um modelo social de âmbito europeu. Mas essa parece ser hoje a tendência.
Não que o euro vá desaparecer, ou que algum país vá deixar o euro.
Nem que a União Europeia vá desaparecer. Mas o grau de integração tende a regredir. As instâncias supranacionais tendem a perder força e poder. A necessidade de elevar ainda mais os gastos públicos para financiar vários países ao mesmo tempo deve colocar a Europa em um ritmo ainda mais medíocre de retomada econômica.
Quando finalmente sair da crise, a Europa terá já perdido terreno precioso no campo internacional.
Porque o euro não é o dólar. Mas também porque, segundo a cartilha econômica ortodoxa, esse modelo de capitalismo é caro demais.
Imitar o modelo propagandeado pelos EUA sai muito mais em conta. Para não falar no capitalismo chinês, que é uma verdadeira pechincha social e política.
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Um comentário:
Cada modelo tem seu preço. Um modelo mais caro pode ser comprado por nações mais ricas (social democracia funciona bem por um prazo maior quanto mais rico for o país, e mesmo assim não ad infinitum), enquanto as mais pobres precisam encarar um modelo mais barato, mas mesmo assim efetivo ao que se propõe (gerar riqueza e emprego. Caso da China?)
A questão nunca foi complicada. É bem simples para quem tiver vontade de entender.
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