Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


sexta-feira, 30 de maio de 2008

Educar para a democracia ou para o mercado?



Quando se fala em democracia e mercado tenta se reduzir o foco da questão como se democracia e mercado fossem focos antagônicos, como se fossem excludentes, como se essas duas linhas fossem completamente incomunicáveis. Não são. Por esses motivos, aplaudo o artigo do professor Marco Antônio Bomfoco, publicado hoje na Zero Hora:






Educar para a democracia ou para o mercado?
Marco Antônio Bomfoco


Nos últimos anos, como resultado do pragmatismo da sociedade moderna, vem ocorrendo a redução da fronteira entre educação geral e educação profissional. Neste contexto, assistimos a uma crescente necessidade de especialização imposta pelo mercado de trabalho, que termina por descaracterizar a formação geral do estudante, propiciando até mesmo certo desinteresse pelo exercício dos valores democráticos.Vista como escoadouro para o mercado ou para a universidade, a escola enfrenta todo tipo de pressões. Em 2007, o péssimo desempenho de nossa educação da rede pública ficou demonstrado quando o Brasil obteve o 52º lugar entre os 57 países pesquisados pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). De fato, o país não avançou em relação à avaliação do Pisa em 2003, permanecendo quase no último lugar. Como resultado, os estudantes são incapazes de compreender os rudimentos da matemática e de ler e escrever na própria língua. Para piorar as coisas, recém egresso de uma educação básica ineficiente, o estudante é prontamente admitido na educação superior que, especialmente no caso do ensino particular, está cada vez mais entregue à ditadura do mercado. Não faltam avaliações para conhecermos o desempenho dos alunos e das escolas, mas os dirigentes educacionais esquecem que as avaliações devem servir para mudar a escola.Apesar de reconhecida por todos como indispensável para o desenvolvimento econômico, a educação ainda não recebeu a atenção devida por parte da elite política. Só para ficar no Rio Grande do Sul, partidos de todas as ideologias já ocuparam o Piratini nas últimas décadas, e nenhum deles fez da educação uma prioridade clara de governo. O mesmo pode ser dito do governo federal. Por outro lado, países que investiram pesadamente na educação, como Coréia do Sul, Taiwan e Cingapura, têm crescido na ordem de 7% ao ano. Sabe-se que, quando se cresce nesta ordem, o rendimento do país duplica de 10 em 10 anos. O investimento no capital humano não é condição suficiente para o desenvolvimento, porém é onde o processo criativo começa.Em sociedades governadas pelo mercado, cada vez mais populações inteiras são reduzidas a forças de trabalho. Mas não devemos identificar desenvolvimento com obediência escrava a leis de mercado que beneficiam há anos alguns poucos países. O ponto de partida é acreditar que todos os contextos sociais criados pelo homem podem ser aperfeiçoados. Para tanto, precisamos de uma educação que forme em primeiro lugar cidadãos, e não apenas operários qualificados. Que sejam verdadeiros profissionais: criativos e capazes de novas idéias e de propor novas formas de olhar para velhos problemas. Estes só podem vir de uma escola e de uma universidade nas quais a formação geral básica seja fortemente buscada.

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