Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


terça-feira, 27 de maio de 2008

Beto Brant e José Padilha no Fronteiras


Assisti ontem ao debate entre os cineastas Beto Brant e José -Tropa de Elite - Padilha no Seminário Fronteiras do Pensamento, realizado no auditório da UFRGS em Porto Alegre.
Primeiro falou Beto Brant que discorreu sobre sua trajetória e filmografia, sua vida de diretor de cinema, sua infância no interior de S. Paulo e mostrou os trailers de seus filmes: os matadores, ação entre amigos, o invasor, crime delicado e cão sem dono.

Quando José Padilha pegou o microfone ele disse que não ia falar de sua vida, mas isso é praticamente impossível. Padilha procura impacto para gerar discussão na sociedade. Foi com essa receita que ele elaborou o processo de criação de seus dois filmes: Onibus 174 e Tropa de Elite. Padilha falou também de dois outros filmes: Notícias de uma Guerra Particular (de João Moreira Salles, 1999) e Cidade de Deus (de Fernando Meirelles, 2002) como exemplos de títulos que "transcendem o cinema, gerando discussões em toda a sociedade".

Fiquei realmente impressionado com a objetividade e inteligência de Padilha. Ele disse: se convencionou aqui no Brasil que o problema da violência está intimamente ligado a nossa miséria. Ou seja, o Brasil é um país violento, porque aqui existe miséria. Mas essa é uma falsa ótica, porque existem países muito, mas muito mais miseráveis do que o Brasil, mas não são violentos. Por que, então, no Brasil existe essa violência? Existe algo, algum fator, algum aspecto que torna o miserável um ser violento. E que fator é esse? É o Estado.

Exemplo, no filme Onibus 174 (este blogueiro ainda não viu, mas pretende, urgentemente, ver), cujos fatos foram totalmente televisionados pela Rede Globo ao vivo, a cores e direto para todo o Brasil, Padilha conta a história do evento trágico, ocorrido em 12 de junho de 2000, que teve como personagem central Sandro Barbosa do Nascimento, que viu e sentiu na pele a ação e a omissão do Estado.
Sandro Nascimento teve uma vida de grandes tragédias; aos seis anos viu sua mãe ser assassinada na favela onde morava no Rio, virou menino de rua e frequentava os arredores da Igreja da Candelária, onde recebia abrigo e comida e no dia 23 de julho de 1993 presenciou a morte de vários amigos no terrível massacre da Candelária. Sandro sobrevivia de pequenos furtos e se viciou em drogas (cocaína), chegou a ser preso e viu de perto a violência e a tortura do sistema carcerário brasileiro, até que um dia resolveu assaltar um ônibus e que gerou a tragédia filmada por Padilha, do Ônibus 174. Nascimento resolveu sair do ônibus levando a professora Geisa Firmo Gonçalves como escudo. Ela foi atingida por uma bala de um policial do BOPE, a tropa de elite e ele foi asfixiado e morto em um camburão da polícia militar.

Sandro Nascimento é mais um miserável do Brasil que se tornou violento, porque vítima direta da omissão do Estado -- morador de favela, sem oportunidades, sem ter acesso à educação, a saúde que viu sua mãe ser morta pela violência -- e da ação violenta e torturante do Estado.

No filme Tropa de Elite, Padilha muda o ângulo, o personagem central é o mesmo Nascimento, mas um Nascimento que é policial do BOPE. E este ângulo é mais amplo, porque ele navega entre o usuário de drogas, os traficantes, a polícia convencional e a polícia de elite. E atrás de tudo isso, sobre tudo isso, diante de tudo isso, está o Estado e as pessoas que controlam a máquina administrativa, os políticos plantonistas ou não.

O próximo filme de Padilha - e ele pretende encerrar uma trilogia -- vai ser exatamente sobre o Estado, seus agentes, seus políticos, seus financiadores, aqueles que são os responsáveis pelo Estado que transforma miséria em violência.

2 comentários:

Anônimo disse...

Está faltando alguma coisa; só o Estado não cola. Não somos a única nação mau conduzida e agredida por um governo sem limites do mesmo modo que não somos os únicos miseráveis. Está faltando alguma coisa.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Talvez a gente seja refém de certo pensamento caduco que impede o país de desenvolver certas políticas. Talvez o Estado brasileiro esteja ainda vivenciando um modelo arcaico de administração. Tem gente que defende que o EStado tem que administrar telefonias e Vale do Rio Doce. O Estado tem que focalizar sua ação na inserção social, melhoria da qualidade de vida da maioria do povo brasileiro. É uma questão de aprendizado de uma linguagem que outros países aprenderam, mas o Brasil continua a engatinhar. Parece que o Brasil, nos últimos tempos, tendo em vista os últimos governos, está melhorando....