Acostumados a entrar de surpresa nas propriedades, integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foram alvos da mesma tática, ao amanhecer de ontem em São Gabriel. Às 6h, 765 PMs de diversos pontos do Estado chegaram marchando à Fazenda São Paulo 2 e cercaram a área onde estão alojados 800 sem-terra há 20 dias, desde que deixaram a Fazenda Southall. Em represália, o movimento promoveu bloqueios em 10 pontos de rodovias no Estado (veja quadro).O aparato, um dos maiores já empregados nesse tipo de ação, contava com helicóptero, computadores portáteis conectados via satélite, ônibus, viaturas e cães farejadores. É a nova estratégia da Brigada Militar para enfrentar as invasões de terra.Conforme o coronel Paulo Roberto Mendes, subcomandante da BM, a ofensiva foi necessária "para restabelecer a ordem pública" na região, onde está o acampamento:- Agiremos assim sempre que for preciso. Não adianta protestar.A ação começou a ser desenhada na segunda-feira, quando Mendes colheu relatos de produtores rurais que teriam sofrido supostas ameaças por parte do MST e estariam com dificuldades de transitar pela RS-630.- Fizemos uma reunião com o ouvidor agrário do Estado (Adão Paiani), com autoridades locais, promotores, e todos ouviram as mesmas queixas de quase uma centena de produtores rurais - lembrou o comandante.No mesmo dia, Mendes montou uma base da BM na região com 30 PMs em tempo integral e solicitou uma mandado de busca e apreensão à Justiça para revistar o acampamento.A ordem do juiz José Pedro de Oliveira Eckert chegou a Porto Alegre na tarde de quarta-feira. No Quartel-general, a BM decidiu mobilizar o maior número de PMs possível para São Gabriel. Até o efetivo escalado para o jogo Inter e Sport Recife, no Beira-Rio, na noite de quarta-feira, foi alterado.Durante a madrugada de ontem, comboios de PMs rumaram para São Gabriel. Pela primeira vez seguiu junto uma equipe do Instituto-geral de Perícias. O objetivo: identificar todos, revistar barracas e apreender objetos que pudessem servir de armas.Sob olhares do ouvidor-geral da Secretaria da Segurança Pública (SSP) e ouvidor Adão Paiani e de uma advogada do MST, os sem-terra foram obrigados a deixar as barracas. Em fila indiana, foram revistados e identificados. Por meio de 10 laptops, os PMs acessavam dados do sistema da SSP. Quem não tinha documento foi fotografado e submetido à coleta de impressões digitais. Enquanto isso, barracas eram vistoriadas.Cinco pessoas foram presas na operação. O resultado: um caminhão-baú cheio de foices, facões, machados, escudos de madeira e garrafas de coquetel molotov, cinco presos (três foragidos e dois por desacato e resistência), 16 adolescentes sem responsáveis, 28 crianças sem registro de nascimento e a localização de uma jovem de 19 anos com registro de desaparecimento.Os presos e o material recolhido foram apresentados à Delegacia da Polícia Civil de São Gabriel, que investiga a invasão da Fazenda Southall.Durante a operação da BM, o deputado estadual Dionilso Marcon (PT) tentou entrar na área, mas foi impedido pela Brigada, que só permitiu o ingresso de quem tinha a licença da Justiça. Os documentos da caminhonete de Marcon foram vistoriados, e o deputado teve de voltar para casa de carona. O carro foi apreendido pois estava com o licenciamento vencido.Para o deputado federal Adão Pretto (PT), que teve acesso à São Paulo, as atitudes da BM foram "descabidas".- O Carandiru foi café pequeno frente à humilhação que aqueles trabalhadores passaram. Eles ficaram das 8h até as 15h sentados na grama e pelo menos duas horas com as mãos na cabeça. Os brigadianos rasgaram os barracos e acabaram com a comida - divulgou Pretto em nota oficial.Adão Paiani se disse surpreso com as declarações:- A ação da BM foi impecável. Acompanhei desde a madrugada.
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