A agência de classificação de risco Moody's Investors Service ainda deve demorar alguns meses para seguir os passos da Standard & Poor's -que, na última quarta-feira, elevou o Brasil para o patamar de grau de investimento, indicando que o país é um destino seguro para aplicações, pois teria condições de honrar as suas dívidas. Segundo Mauro Leos, analista de crédito sênior da Moody's, esse tempo será necessário para avaliar melhor como o Brasil se comporta em momentos de adversidade -por exemplo, uma recessão nos EUA. "Para a determinação da nota, não basta que o país esteja caminhando na direção correta neste momento. O que importa é saber se conseguirá manter a rota no caso de algum problema acontecer", explica Leos.A Standard & Poor's esclareceu, na semana passada, que, embora a política fiscal da administração Luiz Inácio Lula da Silva ainda deixe a desejar, estava pesando mais na decisão de melhorar a nota brasileira a lenta diminuição da dívida pública e o pragmatismo do governo.Mas a Moody's se mostra menos flexível nesse ponto. "O que observamos, nos últimos anos, é que as receitas estão crescendo porque o país está avançando. No entanto, os gastos também aumentaram. O que vai acontecer com os dispêndios na eventualidade de uma crise, quando o cenário não favorecer a arrecadação? Haverá habilidade em fazer ajustes para atravessar a maré ruim?", pergunta Leos, ressaltando que as restrições não significam que a agência não concederá o grau de investimento para o país. "Estou dizendo apenas que há dúvidas a serem respondidas antes que isso se materialize." Na escala da Moody's, o país tem a nota Ba1 -um degrau abaixo do grau de investimento.O analista não vê no bom desempenho do Brasil mesmo sem a CPMF, extinta no início deste ano, um argumento a favor nessa discussão. "Nunca achamos que a eliminação do imposto seria um problema. Repito: quando a economia vai bem, fica mais fácil."A dívida pública brasileira representa cerca de 47% do PIB, e a manutenção das despesas do governo em patamar alto preocupa. "Isso pode não representar uma dificuldade agora, mas, se continuar assim por alguns anos, será. As receitas não crescem indefinidamente."Na opinião da Moody's, para ajudar a resolver o problema fiscal, a reforma do sistema de Previdência é essencial, pois ajudaria a diminuir o déficit.No relatório anual sobre o país que divulgou ontem, a agência destaca que a ameaça de que mudanças políticas no país possam afetar as suas práticas nas áreas econômica e monetária é "limitada". "Os investidores vêem que as medidas adotadas atualmente são continuidade das dos anos anteriores, que muda governo e nada se altera", comenta Leos. (DENYSE GODOY)
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