Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


quarta-feira, 14 de maio de 2008

Tadinho do Gerald !


Meninos, eu vi esse surto de histerias e vaidades que aconteceu na segunda-feira no curso de "alto estudos", Fronteiras do Pensamento. Acho que Arrabal e Thomas deram seu recado. Cada um do seu jeito. Thomas é assim mesmo, um egocêntrico que nunca respeitou ninguém e foda-se o mundo! Essa foi sua mensagem -- que também deve ser respeitada.. É ou não é? Mas eu sou consumidor, tenho meus direitos, eu paguei para que Thomas falasse algo, dissesse alguma coisa, mas ele disse apenas que apertou a mão direita do Samuel Beckett. Eu também já apertei a mão direita do Luiz Fernando Veríssimo e do Gilberto Gil -- e daí?


Que pena do Gerald Thomas!

David Coimbra



A tradição diz que o Eclesiastes não era outro senão o próprio Rei Salomão, classificado pela Bíblia como "o homem mais inteligente do mundo". Se foram de fato a mesma pessoa, Salomão merecia a fama. Os textos do Eclesiastes formam um belo sistema filosófico, sustentado pelo pilar de uma frase genial:"Vaidade das vaidades, tudo é vaidade debaixo do sol".E é.A vaidade escorre pelas frestas de praticamente todas as ações do homem. Mas alguns exageram. Alguns são campeões. Segunda-feira à noite, tive a preciosa oportunidade de ver um deles exibir os efeitos da sua vaidade em público. Testemunhei, eu e mais mil e tantos sortudos, no que a vaidade pode transformar um ser humano.Gerald Thomas. Eis o homem, como diria Pilatos. Apresentou-se no Fronteiras do Pensamento, ele e seu colega diretor de teatro Fernando Arrabal. E foi precisamente aí, nessa relação de iguais, que se originou o show da noite. Natural: ninguém é rival de um dessemelhante. São os vizinhos que se tornam inimigos de morte.A quizília rebentou no dia anterior, durante a entrevista coletiva, por uma dessas questões que costumam mesmo gerar conflitos viscerais. No jardim de infância. É que os dois disputavam quem havia sido mais íntimo do autor irlandês Samuel Beckett. Não assisti à coletiva, mas imagino os dois brigandinho:- O Beckett gostava mais de mim!- Não! De mim!- De mim! De mim! De mim!- Demimdemimdemimdemim!- Lalalalalalá! - Com as mãos tapando as orelhas. - Não tô ouviiiindo!Esses meninos, sabe como é.Por conta disso, desistiram do debate para o qual foram pagos para participar. Preferiram fazer palestras em separado. Arrabal falou primeiro. Fiquei espantado ao ouvir seu discurso. Por duas razões:1. Como é que um homem pretensamente inteligente, com mais de 70 anos de idade, com bom conceito profissional em parte do planeta, consegue falar tanto sem dizer nada??? Arrabal só fez gracinhas, quase todas sem graça. Mas a reação do público foi a seguinte, e é a segunda razão do meu espanto:2. O público adorou! Algumas pessoas aplaudiram-no de pé. Houve quem suspirasse, quando ele anunciou o fim da palestra.Hoje, em retrospectiva, até compreendo o que se deu: Arrabal foi vazio, foi superficial, foi até simplório, mas foi simpático. Esforçou-se para agradar. E agradou. As pessoas sorriam para ele, da platéia.Foi isso que abalou Gerald Thomas. Seu desafeto fizera sucesso. E agora? Ele teria de fazer sucesso também. Ao pisar no palco da reitoria, Gerald Thomas tresandava sua insegurança. Verdade que tentou. Apelou para a estratégia do inimigo. Esforçou-se para ser gracioso.Não conseguiu.Gerald Thomas não é gracioso.Para atacar Arrabal, projetou no telão uma foto em que estava numa mesa de bar com Beckett, tomando café. Era a prova de que Beckett era mais amiguinho dele do que do rival espanhol.- Estão vendo aquela mão direita? Eu apertei aquela mão - jurou, orgulhoso.Ninguém se impressionou. As pessoas começaram a se retirar da platéia. Saíam aos magotes, acintosamente. Confesso que naquele momento me deu certa pena do Gerald. Mas o Gerald não faz o tipo comiserativo. Em seguida, reagiu. Voltou à sua velha característica de polemista agressivo, algo que quase sempre funciona. Desta vez, não. O Gerald não estava preparado para o improviso. Não se comportou como contestador, comportou-se como tolo: ele, um judeu, era contra a existência do Estado de Israel; ele, que havia cinco minutos acompanhava embevecido a uma projeção de filmes de suas próprias peças, pregava que o teatro falira, que quer fazer outra coisa na vida, ajudar a uma ONG, algo assim.In extremis, não tendo realmente o que dizer, o Gerald socorreu-se do público. Pediu para que nós, a plebe ignara, fizéssemos perguntas. Alguém concordou, formulou uma questão, o Gerald não gostou, disse que não ia responder. Desesperado, encerrou o programa, marchou para fora do palco. Sob vaias. Ontem, escreveu em seu blog um texto apressado, cheio de erros ortográficos, pedindo desculpas. Coitado do Gerald, sucumbiu à própria vaidade.É assim: alguns não suportam o sucesso. Isso um Gerald, um ser enfatuado de seu cosmopolitismo, da sua cultura, da sua relação com Beckett. Imagine um rasteiro, oco, limitado, insosso, insípido e inodoro técnico de futebol.

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