Diversidade, Liberdade e Inclusão Social
Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt
sexta-feira, 29 de maio de 2009
A Direita Mais Atrasada Que Apoia o PT
O companheiro Collor
Dizem que a Dilma é de esquerda e o Serra é de direita. Eu nunca concordei com isso. Acho que o Serra e a Dilma pertencem ao mesmo campo ideológico de centro esquerda. Eu tenho afirmado isso nos Blogs da nossa certa esquerda e recebido pedradas e tomatadas.
Hoje entrei no Diário Gauche que insiste em destilar (cada dia mais) todo seu ódio e sua raiva contra a direita brasileira. Diz ele que a direita dá mostra de desespero apenas porque o Alexandre Barros, jornalista e cientista político escreveu um artigo chamado“Nem Dilma nem o Brasil merecem isso” está aqui na íntegra, conclamando a Chefe da Casa Civil a desistir da candidatura porque está com câncer.
O que é interessante é que certa esquerda está plenamente convencida de que existe um movimento sólido, articulado e monolítico da direita no Brasil. Toda a paranóia é pouca. Mas esquecem os interlocutores e blogueiros da nossa complicada certa esquerda de que a direita mais retrógada, mais atrasada, mais medieval do Brasil está apoiando o governo de esquerda do PT.
E isso que estou dizendo aqui é facilmente comprovável. Basta ler a relação dos senadores que defendem o governo na CPI da Petrobrás.
Do lado do governo do PT temos: Paulo Duque (PMDB-RJ), Romero Jucá (PMDB- RR) e Leomar Quintanilha (PMDB TO), João Pedro (PT-AM) Ideli Salvatti (PT-SC) e Inácio Arruda (PCdoB-CE). Fernando Collor (PTB -AL) e Gim Argello (PTB-DF).
E sabem quem escolheu esses membros? O presidente Lula e o Sarney, como noticiou o Globo ontem.
Que listinha revolucionária essa, hein?
No domingo, reportagem do GLOBO mostrou que a estatal repassou R$ 609 milhões, sem licitação, para financiar 1.100 contratos com ONGs, patrocínios, festas e congressos nos últimos 12 meses . Entre os beneficiados, há desde entidades cujo endereço não existe até outras que pararam de funcionar ou são ligadas a aliados do governo.
Cabra Marcado Para Cozinhar
Um amigo recomendou. Disse: vá na locadora e tira o filme "Estômago". Achei esquisito o título, mas tudo bem. Ontem coloquei o filme no DVD na noite fria de outono. G-O-R-G-O-N-Z-O-L-A. Isso mesmo gorgonzola, assim começa o filme. Um cabra nordestino explica para o companheiro de prisão como é que surgiu o queijo gorgonzola. O leite esquecido pelo marido, pela mulher que fica bolorento, começa a feder e vira queijo gorgonzola. O companheiro de cela parece não estar interessado no diálogo, o queijo fede como chulé.
É a velha história do nordestino que chega sem grana na rodoviária de São Paulo e perambula pela centro da cidade em busca de pouso, comida e trabalho. E as coisas acontecem. O cabra conhece o segredo da culinária, a arte do equilíbrio de cozinhar, sabe dosar os têmperos, sabe o ponto certo, o momento em que a carne está pronta, quando se pode colocar o alecrim, o manjeiricão, o tomilho, o tomate, a cebolinha verde. O cabra pira nas panelas e faz sucesso.
Seu nome é Severino Nonato, muito bem interpretado por João Miguel, que se apaixona pela puta Íria (Fabíula Nascimento) que "faz tudo", mas não beija Severino na boca, "por questão de ética".
E o crime acontece e Severino Nonato vai para a prisão, onde continua a fazer arranjos culinários nas gororobas servidas na cela. No feijão aguado ele acrescenta tempero, na carne dura ele pica e faz um belo cozido. E o cabra faz sucesso e consegue, com isso, o poder. Na prisão ele é chamado de "o do Alecrim", mas gostaria de ser chamado de Nonato Canivete, "é eu".
Este blogueiro recomenda. História boa, diálogos divertidos, roteiro inteligente, boa fotografia. No final das contas sobra a grande verdade: culinária é mais do que arte, é poder.
Severino Nonato e Íria comendo cochinha de galinha no bar do seu Zulmiro. Eta Brasil bão!
Caracas Engarrafada
Caracas, Venezuela.
David Coimbra, melhor colunista de ZH e bom cronista dos nossos dias, esteve esta semana em Caracas na Venezuela acompanhando o bom empate do imortal tricolor em terras de Hugo Chávez. Na Venezuela a gasolina custa 10 centavos de dólar. Hoje, na coluna dele em ZH.
Drama em Caracas
O grande drama urbano da humanidade no século 21 se desenrola com rara gravidade aqui, nas ruas de Caracas.Não é da pobreza que falo. É do carro.
Esta é uma cidade de avenidas largas, recobertas por camadas de asfalto negro lisas como tábuas de bater bife. São ruas arborizadas, de calçadas amplas, margeadas por prédios de requintado gosto arquitetônico, alguns modernos, encimados por luminosas placas de propaganda que lembram Tóquio e Pequim, outros clássicos no estilo espanhol dos colonizadores. O clima eternamente abafado dessas alturas caribenhas é amenizado por uma brisa fresca que desce os 2.600 metros da Montanha Ávila. Uma cidade do porte do Rio de Janeiro, mas com menos pontos de estrangulamento, porque os morros não ficam em meio à área urbana, ficam em torno – Caracas se situa no centro de um vale. Cresceu como cresceram as cidades espanholas, a partir de uma praça maior, no caso, a Praça Bolívar. Da Bolívar, as ruas da capital se espraiam como os raios do sol.Em tese, seria fácil organizá-la, seria um lugar aprazível de se viver. Isso, claro, desconsiderando-se as favelas embutidas nos morros do lado oeste, precárias como quaisquer favelas do planeta. O problema de Caracas, mesmo da Caracas rica, são os carros. Aqui há carros demais.De manhã bem cedo, os carros já estão nas ruas e delas não se retiram até que o sol se ponha. Carros, carros carros, só o que se avista são carros arrastando-se entre os grandes edifícios. O trânsito é irritantemente vagaroso. Percorre-se um metro, depois mais um metro, e mais um, e o carro para, e avança mais dois metros, mais dois, e para de novo. Qualquer deslocamento, por curto que seja, leva no mínimo vinte minutos. Se a viagem for um pouco mais longa, de uma zona a outra da cidade, pode-se ficar detido uma, duas, até três horas no trânsito.Entre os carros, aproveitando-se da lentidão do tráfego, circulam comerciantes de ocasião. Vendem de tudo: pipoca, arepa e até cafezinho. Os vendedores de café carregam quatro ou cinco térmicas em um suporte parecido com uma caixa de engraxate e, nos engarrafamentos, oferecem copinhos de plástico aos motoristas. Que podem, tranquilamente, pagar, beber e pedir outro antes que o carro rode outra vez.Carros, carros, carros. Os motoristas dirigem com a mão na buzina, em zigue-zague, trocando de pista sem dar sinal, desviando de motoqueiros que enxameiam pela esquerda, pela direita, na frente, atrás. Carros. Eles enfeiam a bela cidade que é Caracas. Eles a tornam dura e nervosa.A gasolina custa 10 centavos de dólar. Às vezes menos. Com R$ 2 pode-se encher um tanque. Mesmo que o preço dos carros não seja barato (um popular sai por US$ 10 mil), os caraquenhos estão comprando a cada dia mais carros. Até porque o transporte público é uma tragédia. E a cidade não anda. A cidade um dia vai parar.Eis o grande dilema do século nas cidades do Ocidente e do Oriente. O mundo tornou-se dependente dos carros, inclusive economicamente. Mas o mundo não suporta mais carros. As cidades estão cheias deles, a natureza já não aguenta mais seus excrementos, em pouco tempo metrópoles como Caracas ficarão presas para sempre em engarrafamentos monstros. Como o planeta haverá de se libertar da miserável dependência dos carros?
quinta-feira, 28 de maio de 2009
Chicote Nunca Mais.... Será?
O jornalista Paulo Santana andando com um carroceiro na Ponte do Guaíba em Porto Alegre.
A Perfeita Ironia de Vargas Llosa
Mario Vargas Llosa é cercado por admiradores depois de ser liberado pela imigração no aeroporto da capital venezuelana
Gostei da ironia do Mario Vargas Llosa que ficou retido por mais de uma hora no Aeroporto de Caracas.
Um funcionário do Departamento de Imigração disse a ele, “de maneira cordial”, que, “como estrangeiro, não tinha direito a fazer declarações políticas na Venezuela”
Llosa respondeu, também de maneira cordial, que estando na terra de Simón Bolívar, o libertador da América do Sul, ninguém poderia colocar restrições ao livre pensamento e à livre expressão, e que eu iria falar com toda a liberdade como faço sempre.
O escritor também teve a bagagem revistada.
E comentou: Eles comprovaram que não trago contrabando, nenhum material explosivo, nada subversivo, apenas alguns livros de poesia.
Fonte ZH de hoje.
Os Brasis
Resultado Óbvio
O Brasil só vai para a frente se investir -- e investir bem -- em educação que forme para a cidadania e para o mercado de trabalho. Existem dois empecilhos para que isso ocorra. O primeiro é que o professor é mal remunerado. Segundo a Folha de hoje:
O salário médio de um professor de ensino médio com nível superior no Brasil era de R$ 1.335 em 2007. Isso representa dois terços dos rendimentos de um enfermeiro diplomado (R$ 2.022), metade do que ganham jornalistas (R$ 2.767) e 27% do obtido por médicos (R$ 4.865).
quarta-feira, 27 de maio de 2009
POA Resiste Para Quem?
em Maio 26, 2009 às 3:34 pm Responder Carlos Maia
O cartaz acima mostra uma inverdade. Por que não mostram o projeto com calçadão, via pública, marina, bares e restaurantes onde todas essas atividades vão ficar entre os prédios e o guaíba? Vocês estão querendo enganar o povo de POA divulgando cartazes mentirosos como os de cima. Isso sim é uma vergonha.
em Maio 27, 2009 às 12:27 am Responder poa resiste
Inverdade, Sr. Carlos Maia?Que inverdade? Aquilo é uma ilustração feita em cima de uma foto do Pôr-do-Sol do nosso Guaíba!Ela mostra o ponto de vista que os favoráveis ao projeto detestam mostrar, visto de baixo com os espigões tapando a vista do Rio Guaíba.
Caso o Sr. tenha visto o projeto, o que não acreditamos que tenha ocorrido pois ele não existe, por favor nos mande.O que o empreendedor tornou público foi apenas um estudo gráfico (ilustração) em 3D.Parece que o senhor Maia gosta de mandar comentários mas não gosta de ler as respostas a seus escritos. Se tivesse lido a resposta a um de seus comentários anteriores teria lido que a “Marina” não poderá sair, pois ficaria muito próxima do canal de navegação do Guaíba.Seu desconhecimento do que fala é muito grande.
em Maio 27, 2009 às 4:43 pm Responder Carlos MaiaO seu comentário está aguardando moderação.
Os espigões vão tapar a vista apenas de quem trafega pela Diário de Notícias, vista esta que não existe hoje. Este Blog não fala que haverá uma outra via, na frente dos espigões, onde os carros poderão passar e desfrutar o por do sol, haverá também um calçadão, com bares e restaurantes. Se a marinha vai deixar ou não construir uma marina lá é questão que estou sabendo agora. Mas há espaço para negociação, até mesmo porque existe uma outra marina, no veleiros e outros clubes ali perto. A diferença é que a marina a ser construída é pública. É fundamental que Porto Alegre tenha um grande calçadão e ciclovia ligando a Vila Assunção até a Usina do Gasômetro e passando pelo projeto do Pontal do Estaleiro. Na outra mensagem se falou de que aquele local seria destinado a um parque. É o que eu também acho, mas na justificativa de voto do Adeli Sell que foi obrigado a votar contra o projeto ele mesmo esclarece que o Tarso, quando prefeito, achou muito caro o valor para desapropriar. Agora Inês é morta, a área é privada e sobre ela podem ser edificados prédios comerciais. A consulta só vai dizer se prédios residenciais podem lá ser construídos. Para mim tanto faz, eu só quero que aquele projeto saia e Porto Alegre possa ir adiante e construir uma cidade melhor para todos. É isso o que eu defendo.
Cachola de Titica de Galinha
Sabes apenas os títulos dos livros. Podes chamar o educador (Paulo Freire) de marxista, mas não me parece que que o diminuas com este rótulo. Com a crise do teu capitalismo, Marx está saíndo de novo das prateleiras e seus escritos sobre a ganância dos capitalistas (crise dos mercados), sobre o individamento das pessoas(crise americana) estão cada dia mais atuais.
Duelo de Titãs?
A Voz do Delfim
Os tempos turbulentos que vivemos trazem à tona a insegurança e as incertezas que cercam o exercício das políticas fiscal, monetária e cambial inspiradas tanto na teoria econômica hegemônica (o chamado "mainstream") como na de inspiração keynesiana. Dois exemplos bastam: 1º) o escandaloso debate público entre o velho "el maestro", o habilidoso Alan Greenspan, e o novo e ambicioso secretário do Tesouro dos EUA, Tim Geithner, que atribui toda a crise à política do Fed. Geithner esqueceu que era membro do Federal Open Market Commitee (FOMC), que aprovou aquela política! Isso é um sinal claro da qualidade das decisões dos Bancos Centrais, supostamente apoiados na "ciência" monetária hegemônica; 2º) as fantásticas dúvidas, apoiadas em modelos keynesianos, das estimativas do valor do multiplicador das despesas do governo, que vão de 0,5 a 1,5! Uma consequência colateral dessas discussões é a ideia equivocada de que a crise pode encontrar solução no tamanho do Estado, quando ela é, de fato, resultado da sua omissão. O que precisamos, na verdade, é de um Estado-indutor que: 1º) utilize de forma eficiente os recursos que extrai (como imposto) da sociedade e realize a tarefa de fornecer os "bens públicos" (segurança, justiça, igualdade de oportunidade etc.) que só ele pode produzir e 2º) dê aos "mercados" a garantia e a liberdade para funcionarem e, a partir de uma regulação bem definida, produzirem livremente os "bens privados". Assistimos à reencarnação de uma perigosa ilusão. Frequentemente, nos momentos de dificuldade, as sociedades são seduzidas pela crença ingênua de que o Estado cria recursos. Na verdade, o melhor que o Estado pode fazer é reconstruir a coordenação das atividades econômicas destruída pela crise, o que ajudará a gerar recursos. Estes são criados pela ação do capital humano (a força de trabalho, sua educação e sua higidez) sobre o capital físico (a terra, as máquinas, as estradas, os portos etc.). A ação direta do Estado pode ajudar investindo (dando emprego) em bons projetos de infraestrutura que não comprometam o equilíbrio fiscal no futuro e aumentem a produtividade do setor privado. Mas isso é pouco. Para voltar a crescer temos de restabelecer o crédito interbancário mais rapidamente do que estamos fazendo. E a melhor maneira de fazê-lo é dar "conforto" jurídico adequado aos agentes públicos do Banco Central para que este possa utilizar todos os instrumentos monetários ao seu dispor.
terça-feira, 26 de maio de 2009
Os Meninos da Ipiranga
Cargos Para os Companheiros
Pesquisas mostram que sindicalistas foram nomeados para 43% dos postos desse tipo no governo federal
Fala, Professor Michel
Lista Fechada ou Flexível ?
A ideia fixa em favor da introdução de uma regra eleitoral baseada em listas partidárias fechadas constitui o novo sonho de consumo dos políticos brasileiros. Seus defensores sustentam que a transferência do direito de definir a nominata dos candidatos eleitos do voto dos eleitores, para as mãos de dirigentes e funcionários partidários possuiria o condão de promover o Brasil ao patamar dos países modernos e mais democráticos, com partidos fortes, menor corrupção, maior transparência e até mesmo maior participação de mulheres nos cargos públicos.Um teste singelo para verificar se isto é correto consiste em simplesmente solicitar aos áugures das listas fechadas que apresentem um único exemplo de país que, tendo originalmente as mazelas encontradas no Brasil (partidos fracos, corrupção), as tenha eliminado substituindo listas abertas por listas fechadas. Não há outra possibilidade de resposta que não o silêncio.A mudança proposta no Brasil, com a substituição de um modelo de voto preferencial por listas partidárias fechadas, somente pode ser encontrada em dois casos durante o último século. O primeiro foi a Dinamarca, que, tendo adotado o voto preferencial em 1915, o substituiu por listas fechadas em 1920, permanecendo com esta regra até 1953. Naquele ano, contudo, voltou a um sistema de lista aberta, mantido até hoje. Resta apenas o caso da Polônia, que trocou, em 2001, seu sistema de lista aberta pelas listas partidárias fechadas.Países modernos possuem listas fechadas? Alguns, como Espanha e Portugal, sim, como também um campeão mundial da corrupção e desigualdade (Serra Leoa). Outros, como Suécia, Finlândia e Dinamarca, apresentam voto preferencial. Voto preferencial pode ser considerado responsável por menor transparência e maior corrupção? A julgar pela agenda dos reformadores, sim. Considerando os resultados efetivos, não. Utilizando dados do Banco Mundial, que classifica 191 países no mundo quanto à corrupção, os piores desempenhos são de Serra Leoa, Paraguai, Indonésia e Moçambique, todos com listas fechadas, e os melhores, novamente, Suécia, Finlândia e Dinamarca, todos com voto preferencial.Tampouco a intuição de que a representação feminina seria maior nos Legislativos eleitos por listas partidárias pode ser confirmada: nestes, o percentual médio de mulheres nas câmaras baixas nacionais é de 16,9%, abaixo da participação feminina nas democracias com voto preferencial (18,2%).Quando queriam definir a concentração de poder nas mãos de poucos, os gregos empregavam uma palavra: oligarquia. A reforma dos sonhos dos políticos brasileiros limita-se a concentrar dinheiro (financiamento público) e poder (listas fechadas) nas mãos de caciques e funcionários partidários.
*Professor de Ciência Política da UFRGS
Quando a Justiça Pisa na Bola
segunda-feira, 25 de maio de 2009
Crise e Ilusão
Para entender a crise atual do sistema capitalista de produção convém insistir no seu caráter automático. A crise se aninha na natureza da ação socioeconômica que repõe o capital.
Os agentes operam no mercado imaginando que suas ações sempre serão contrabalançadas por ações alheias, atuam graças à mediação do dinheiro que, por si mesmo, aparece como se tivesse a virtude de transformar mercadoria em preço e preço em comprador.
Dada essa equação, a economia cresceria indefinidamente. A crise revela a perversidade desse processo e recoloca a questão do Estado nesse movimento de reposição.
Mas qual Estado?
Se deixarmos de lado esse automatismo, simplesmente iremos procurar agentes responsáveis pela crise, como se todos eles não tivessem culpa no cartório.
O desafio não é encontrar novos mecanismos de mercado, mais sadios e consistentes, mas instituir órgãos reguladores do funcionamento dos vários mercados capazes de legitimar seu funcionamento, isto é, assegurar que funcionem em vista do bem-estar e do bem-ser da população.
Ilusão em xeque
A crise revela o caráter social do capital e indica como ele precisa ser reestruturado de um ponto de vista político.
Mas política radical. Em que sentido? Está posta em xeque a ilusão de que a luta política deva recorrer a um fundamento comum consensual, como se o ser humano fosse naturalmente social e atuasse a partir dessa sociabilidade primeira.
Basta um olhar crítico sobre a política internacional contemporânea para que se perceba que os conflitos, por serem tão radicais, podem ser identificados com um confronto de civilizações. Não é assim que vejo, pois as populações querem participar de uma forma de vida pós-industrial.
Assim sendo, o consenso, a legitimidade das decisões, passa a ser construído e resulta do esforço de cada parte em vista de manter a si mesma segundo o que pretende ser, mas reconhecendo a possibilidade de persuadir e de ser persuadida.
Hoje a legitimidade se faz construindo instituições legitimadoras.
Neste início de maio se realizou em Grenoble [França] um fórum reunindo mais de cem pesquisadores para discutir a democracia em nível mundial.
Foi organizado por Pierre Rosanvallon, que acaba de publicar "La Légitimité Démocratique" [A Legitimidade Democrática], um excelente livro, e conta com a participação importante de Claude Lefort.
Todos sublinhando que a democracia é sistema aberto, sempre se reinventando, mas que, nos dias de hoje, somente se torna legítima na medida em que se associa a instituições capazes de se tornarem imparciais diante de conflitos, refletir sobre seus efeitos e não perder contato com as várias populações interessadas. É preciso ir além do bom funcionamento dos procedimentos eleitorais, reconhecer o caráter global das políticas econômicas e a necessidade de políticas sociais compensatórias.
Crise evidente
Note-se que não são apenas os franceses que estão colocando essas questões -elas se impõem na Alemanha, na Inglaterra, nos EUA. Enquanto eles discutem os desafios de uma democracia pós-eleitoral, assistimos à perda de legitimidade de nosso processo eleitoral, enfim, do sistema de representação. Nosso Estado cresce sem que seja nem mesmo posta a questão do caráter democrático de suas decisões.
A crise no Legislativo é mais evidente.
Quando seus membros se confessam imorais, quando arrombam os cofres públicos, quando propõem novas regulamentações que não passam de máscaras para manter antigos privilégios, estão simplesmente evidenciando e velando a crise sistêmica no processo de representação e de legitimação.
Não é de hoje que saliento a necessidade de pensar a moralidade pública no contexto de inventar novos parâmetros, por conseguinte, de quebrar até mesmo antigas regras morais para que novas se estabeleçam.
Nunca imaginei, entretanto, que políticos viessem confessar sem pejo que pouco lhes importa o lado moral de suas ações, visto que, mesmo se mostrando sem caráter, continuam a receber o voto popular. Há melhor prova da ilegitimidade do sistema? Nessa mistura entre o público e o privado, não é o caráter democrático da instituição que está sendo posto em xeque? O popular nem sempre é democrático, isso já sabemos por experiência própria.
Se não há preocupação com a democracia interna, menos ainda se pensa nas dificuldades de estabelecer um sistema democrático controlando os mercados. Já que nos contentaremos com um Estado grande (ou inchado?), importa-nos apenas o controle externo que permita nosso crescimento.
Por aqui o importante é fazer de conta que se é eficaz, seja lá em qual domínio. Onde estão, porém, as transformações das burocracias do Estado que tragam para o mundo essa ideologia da eficácia?
Diante das pressões da mídia e da insatisfação popular, o Legislativo requenta propostas de reforma política. Mas não vejo em nenhuma delas uma preocupação de aprofundar a democracia, de melhorar o sistema representativo a partir dos obstáculos e dos erros do jogo de poder atual.
--------------------------------------------------------------------------------
JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI é professor emérito da USP e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento. Escreve na seção "Autores", do Mais!.
Maisa - A Nossa Shirley Temple
[Maisa para Sílvio Santos] "Silvio, (...) uma pergunta que meus amigos fazem: é verdade que você vai ao cabeleireiro e [coloca] um tipo de uma peruca?"
[Silvio Santos] "Você tem alguma coisa a ver com o meu cabelo?" [...] "Maisa, fiquei vendo seu programa quando você começou a sua carreira... Você era muito ruim, feia, desajeitada. A roupa era feia, o cabelo era feio. Você agora é toda bonita, toda simpática, sorridente, inteligente. É só insubordinada, o resto melhorou muito. O que você espera fazer daqui a dois ou três anos, quando o público não der mais bola para você? Porque agora você agrada o público, você é uma menininha de seis anos que responde como gente grande. Mas daqui a uns quatro anos, quando você tiver dez anos e já for uma mocinha, você acha que o público vai gostar de você?
SÉRGIO ALPENDRE é crítico da revista de cinema "Contracampo".
Elomar Figueira de Mello
Das Barrancas do Rio Gavião
Caderno Mais! da Folha de ontem.
O que primeiro se fala de Elomar [Figueira Mello] é que ele nasceu na mesma cidade de Glauber Rocha [Vitória da Conquista] e mora numa fazenda, criando bodes, isolado, no sudoeste da Bahia. O que me interessa é saber que o seu primeiro disco de composições próprias teve apresentação de Vinícius de Moraes na contracapa, já havia sido lançado no Brasil "Chega de Saudade", já existiam a Tropicália, Chico Buarque, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Jorge Ben, Os Mutantes. E que sua música parece não ter conhecido nada disso. Como se andasse para dentro, uma pedra inflamada, turbina subterrânea, um jeito de ser. "... Das Barrancas do Rio Gavião" [de 1972] é o intangível da filosofia do sertão.
O Divórcio Litigioso dos Kirchner com a Classe Média Argentina
"Argentina está no caminho do inferno", diz ensaísta
Folha de ontem.
O último livro do ensaísta, "Pobre Patria Mia!" (editora Sudamericana), um autointitulado panfleto contra o legado da era Kirchner, vendeu 60 mil exemplares em dois meses.
Identifica uma Argentina "a caminho do inferno", que nas últimas décadas passou de "rica, culta e decente" a "pobre, mal educada e corrupta".
Golpista para setores que defendem o governo, Aguinis diz que os Kirchner devem enfrentar, no poder, as consequências de seus erros. Psicanalista e neurocirurgião, recebeu a Folha na última quinta-feira e expôs seu diagnóstico da "franca decadência" argentina.
FOLHA - Por que "Pobre Patria Mia"?
MARCOS AGUINIS - O livro retrata uma frustração de ver a Argentina desorientada e em franca decadência. Recuperamos a democracia em 1983, vivemos uma primavera por três anos, mas a decadência se manteve.
FOLHA - Pelo livro, o sr. foi tido como "escritor da Argentina destituinte". Quer que o governo se vá?
AGUINIS - Pelo contrário. Que fique e enfrente as consequências de seu mau governo. Falam em crescimento econômico "chinês", mas aumentou a pobreza, há decadência educacional, problemas em saúde, as favelas e o narcotráfico cresceram. Há aumento da anomia, com piquetes e bloqueios por todos os lados.
FOLHA - Como avalia a estratégia do governo, que adiantou a eleição e promove candidatos que não assumirão os cargos?
AGUINIS - É um desprezo à República, porque não dá valor ao Congresso como Poder independente, e uma degradação do ato eleitoral, como uma fraude anunciada. Aumenta a anomia, esse estado de confusão.
FOLHA - Qual é o legado dos anos Kirchner?
AGUINIS - Uma decadência, maior insegurança e rancor. Sociedade dividida, República derrubada, instituições débeis.
FOLHA - E onde os Kirchner foram bem?
AGUINIS - Melhorou a Corte Suprema de Justiça, a de [Carlos] Menem era muito ruim. Há quem diga que foi bom se livrar do FMI [Fundo Monetário Internacional], mas a dívida era a menor do fundo. Kirchner não queria inspeções porque nesse governo não há controles.
FOLHA - E a política de direitos humanos, com reabertura das causas da ditadura?
AGUINIS - É parcial e interessada, somente para processar crimes da ditadura de 30 anos atrás. Os direitos humanos no presente não são defendidos.
FOLHA - Néstor Kirchner diz que a estatização da previdência privada, em 2008, foi o feito mais importante desde 2003, e o sr. afirma que é um "ato de vampirismo".
AGUINIS - Ele usa hoje esse dinheiro para manter uma tradição horrível argentina, que começou com [Juan Domingo] Perón: usar o dinheiro dos aposentados para outros fins. Há gente que decidiu pôr seu dinheiro ali porque não confia que o Estado lhe pague uma aposentadoria justa.
FOLHA - Por que o governo perdeu apoio da classe média?
AGUINIS - Demonstra que o governo não é popular. Está ensimesmado em obter poder e promover capitalismo de amigos. A classe média percebeu.
FOLHA - O governo é respaldado pelos setores mais pobres da sociedade. Não é um sinal de que fez algo por essas pessoas?
AGUINIS - O respaldo vem sobretudo da Grande Buenos Aires, onde estão os mais pobres, que vivem de subsídios. Esse dinheiro deixou de ser ajuda de emergência e se converteu em suborno crônico.
FOLHA - A morte do presidente Raúl Alfonsín levou milhares às ruas em março. Como analisou esses atos e o chamado "efeito Alfonsín", que beneficiaria a oposição?
AGUINIS - Nas homenagens a Alfonsín não se falava de sua gestão, mas de sua conduta: que não era ladrão, não era orgulhoso, não chamava de inimigo a quem pensa diferente, um homem do diálogo e da lei. O povo argentino quer isso, e é o que os Kirchner violaram. É uma clara mensagem antikirchnerista.
FOLHA - A oposição está preparada para ser uma opção de poder?
AGUINIS - O governo Cristina vai caminhar melhor se perder a maioria no Congresso. Vai haver controle da corrupção, das licitações. Os Kirchner, que são práticos, vão se dar conta de que vale a pena dialogar e se manter no poder.
sábado, 23 de maio de 2009
New Order - "World"
Belo Clip do New Order, totalmente filmado em Cannes, França. Recomendo.
sexta-feira, 22 de maio de 2009
'La Libertad' Segundo Sándor Márai
Dos diários de Sándor Márai:
'Socialismo do Século XXI' Com o Nosso Dinheirinho
"O BNDES tem uma carteira potencial de projetos com a Venezuela que ascende a US$ 10 bilhões e financiamentos potenciais na escala, por parte do banco, de US$ 4,3 bilhões", disse ontem à Folha o presidente da instituição, Luciano Coutinho, após se reunir com Chávez, em Caracas. A visita é parte dos preparativos para a viagem do presidente venezuelano à Bahia, na terça-feira.
Cartoon Adulto
Buscando Autonomia e Eficiência
O melhor investimento que o Brasil pode fazer é revolucionar o serviço público da escola pública. Um primeiro passo já foi dado. As avaliações -- que muitos torceram o nariz para que acontecesse -- estão ai. Elas estão mostrando a cara do Brasil. Há um grande descompasso entre o ensino privado e o ensino público. Mas existem certas escolas públicas que vêm tendo bom desempenho no ENEM. Por que isso acontece? Segundo o professor João Batista Araújo e Oliveira, em seu artigo na Folha de hoje, é porque elas têm mais autonomia e são refratárias as metas e diretrizes ditadas pelas Secretarias de Educação.
Um segredo de polichinelo
Para dar certo, é preciso ir contra o que manda a secretaria, mas a autonomia só se aplica a poucas escolas. Como enfrentar o paradoxo?
Artigo de João Batista Araújo e Oliveira , 62, psicólogo, doutor em educação, é presidente do Instituto Alfa e Beto. Foi secretário-executivo do Ministério da Educação (1995). .
quinta-feira, 21 de maio de 2009
Novo Habitante do Zoo
Crianças observam Paul Hutton dentro de um cativeiro no zoológico de Londres. Hutton, um funcionário do parque, foi colocado dentro de um quarto que tem o objetivo de se assemelhar o máximo possível ao habitat natural de um ser humano. A exibição visa dar aos visitantes a oportunidade de aprender mais sobre os efeitos do homem no mundo.
Lá Eles Não Querem CPI....
Despoluição do Guaíba - E Agora Vai? Duvido.
De Mãos Vazias
Lula e o premiê chinês Wen Jiabao. Lula propôs a ampliação de troca comercial entre os dois países, mas volta de mãos vazias de Pequim, sem ter avançado no objetivo de diversificar a pauta do comércio bilateral.
Editorial da Folha de hoje.
A viagem do presidente Lula à China termina como a anterior, em maio de 2004, e a do presidente Hu Jintao ao Brasil, seis meses depois: sem resultados relevantes para nosso país. O regime chinês, por seu turno, obteve várias conquistas no período, mesmo sem ter oferecido contrapartidas significativas.Lula parte de Pequim sem acordos novos para exibir. O contrato da Petrobras para exportar 150 mil barris diários de petróleo em 2009 já fora anunciado em fevereiro. A liberação para entrada do frango brasileiro na China data de 2008. Na gaveta ficaram a meta de reverter o cancelamento da compra de 45 aviões da Embraer e questão das barreiras para carnes suína e bovina.Em 2004, Lula podia dizer-se traído pelos chineses. Logo após sua visita, a China suspendeu embarques da soja brasileira, sob pretexto de contaminação. Soja e seus derivados constituem o item principal das exportações para aquele país -32% do total das vendas em 2008.Por ocasião da vinda de Hu Jintao, o Planalto, apressadamente, reconheceu a China como economia de mercado plena, sob protesto da indústria daqui, que viu assim restringida a margem para mover ações antidumping contra os chineses. A contrapartida, autorizar embarques de frango brasileiro, arrastou-se por quatro anos.A burocracia chinesa usa sem peias a alavanca que a assimetria do comércio bilateral lhe franqueia. O movimento comercial mais que quintuplicou desde 2003 e, nos dois últimos anos, se tornou superavitário para a China, com saldos de US$ 3,6 bilhões (2008) e US$ 1,9 bilhão (2007). O país asiático acaba de tomar o lugar dos EUA como principal parceiro comercial do Brasil.Do ponto de vista qualitativo, a vantagem chinesa é muito mais evidente e preocupante. Mais de três quartos do que exportamos para lá são itens básicos, como produtos agrícolas, petróleo e minérios. Mesmo entre industrializados, semimanufaturados (16%) levam vantagem sobre manufaturados (7%). Dos dez principais produtos que os chineses nos vendem, nove são equipamentos eletroeletrônicos, com muito mais valor agregado.O governo federal diagnosticou, corretamente, a necessidade de diversificar a pauta das exportações e de atrair investimentos chineses para o território nacional. O Brasil pode vender mais e melhor para a China. A fim de que isso ocorra, autoridades e empresas precisam deslanchar uma ofensiva sobre aquele mercado, com mais profissionalismo e organização do que o demonstrado até aqui.