Certa esquerda tem a mania de explicar tudo pela via da luta de classes. O mundo em movimento, em total estado de contradição e dialética. E lá pelas tantas há uma pequena insurgência -- como ocorreu na Grécia -- quando desperta o clamor de que algo novo está no ar, pois como disse Marx, na célebre frase:
tudo que é sólido se desmancha no ar.
Os grandes problemas são sempre econômicos e fiscais. E é impressionante como essa certa esquerda tem dificuldade em navegar e entender os mecanismos, as engrenagens das ciências econômicas e financeiras. Talvez falte estudo, vivência, informação, pois as explicações e conclusões são sempre simplórias, reducionistas e genéricas. É tudo na base do chutômetro ideológico e se pegar pegou.
E o Brasil, já há vários anos, vem adotando uma politica de superavit primário, sendo que o último resultado, de abril, foi de R$ 19,7 bilhões.
E com os olhos adulterados pela religião da ideologia o
diário gauche de hoje lança a seguinte notícia bombástica. Continuo meu pitaco depois.
Poupança para honrar compromissos com parasitas foi de R$ 19,7 bilhões em abril
É o famigerado "superavit primário"
O setor público economizou R$ 19,789 bilhões no mês de abril para honrar compromissos financeiros, inclusive o pagamento de juros [leia-se, parasitas], contra R$ 11,950 bilhões no mesmo período de 2009, informou hoje (27) o Banco Central (BC). Essa informação é da Agência Brasil.
O resultado primário é a diferença entre as receitas e as despesas, excluídos os juros da dívida pública. No mês passado, os gastos com juros nominais somaram R$ 14,485 bilhões, contra os R$ 12,890 bilhões registrados em abril de 2009.
Segundo relatório do BC, o aumento da arrecadação do governo federal contribuiu para o resultado.
“Destaca-se, no mês, o desempenho observado na arrecadação de tributos federais, que apresentou crescimento de 22,9%, comparativamente a abril de 2009”, diz o relatório.
Se forem incluídos os gastos com juros, tem-se o resultado nominal, que no mês foi superavitário em R$ 5,304 bilhões. Em abril de 2009, o setor público havia registrado déficit nominal de R$ 940 milhões.
De janeiro a abril, o superávit primário é de R$ 36,617 bilhões, resultado que corresponde a 3,41% do Produto Interno Bruto (PIB), soma dos bens e serviços produzidos no país. No mesmo período de 2009, o setor público o superávit primário foi de R$ 30,760 bilhões. Nos 12 meses encerrados em abril (resultado anualizado), o superávit primário corresponde a 2,17% do PIB (R$ 70,375 bilhões).
No primeiro quadrimestre, o Governo Central ( Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência Social) contribuiu com R$ 25,453 bilhões para o superávit primário. Os governos regionais (estados e municípios) apresentaram primário de R$ 12,790 bilhões, enquanto as empresas estatais tiveram déficit primário de R$ 1,626 bilhão.
Os gastos com juros nominais ficaram em R$ 59,464 bilhões nos quatro primeiros meses deste ano, contra R$ 52,838 bilhões observados no mesmo período de 2009.
De janeiro a abril, houve deficit nominal de R$ 22,847 bilhões , contra R$ 22,078 bilhões registrados em igual período do ano passado.
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Quando há deficit, vocês podem observar, quem primeiro grita, esperneia, protesta furibundo, são alguns jornalistas da chamada área econômica. Claro, são os porta-vozes (fartamente remunerados) dos banqueiros e rentistas.
São a voz dos seus donos - os eternos parasitas deste País.
Meu pitaco:
A discussão não é tão simplista e genérica assim. É importante para o Brasil ter renda. E essa renda relacionada ao superavit é financeira, não se trata aqui valores do mercado de ações. Elas servem para remunerar as aplicações do próprio mercado financeiro: os chamados fundos que, na verdade, são aplicações conservadoras. O dinheiro que o banco empresta ao cidadão, ao agricultor, ao pequeno e médio empresário, ao consumidor é o mesmo que é arrecadado pelas aplicações nos fundos e que é guardado, via depósito compulsório, no Bacen que controla e administra tudo isso e determina o valor da taxa de juros mínimos a ser aplicada nas operações interbancárias (Selic).
E estão certos os jornalistas (remunerados ou não) que protestam contra os déficits, porque se o estado arrecada da população (sobretudo a de baixa renda que paga mais impostos) os tributos deve, da mesma forma, conter, equilibrar os gastos públicos. Isso se chama responsabilidade fiscal. A Grécia explodiu exatamente pela falta de responsabilidade fiscal e o pior, grande parte do dinheiro nem era interno, mas dos outros.
Vejam na notícia da agência brasil, o valor do déficit primário relacionado com as estatais, 1,626 bilhão. Essa herança do atual governo um dia vai explodir.
E, ao mesmo tempo, nesse jogo de equilíbrio, deve o estado dar, sobretudo, à população de baixa renda um razoável serviço público, o que não acontece no Brasil de nossos dias. Nem hoje e nem ontem.
Recursos existem, falta organização, coragem e comprometimento.
A popularidade do nosso pop presidente está diretamente associada à política econômica imposta, controle e responsabilidade fiscal, metas de inflação, câmbio flutuante e "superavit primário".
E certa esquerda que apoia o Lula reclama exatamente do que efetivamente está dando certo em seu governo. Haja contradição.