Na foto está o queniano Brimin Kiprop Kipruto, medalha de ouro nos 3.000 com obstáculo masculino.
A Olimpíada de Pequim vem reforçando um dos maiores mistérios do esporte mundial. Por que raios os países do leste da África, sobretudo Quênia e Etiópia, têm tantos campeões e recordistas nas provas de longa distância do atletismo?
Até o momento em que escrevo (13h de segunda-feira), o Quênia já ganhou duas medalhas de ouro (3.000 metros com obstáculo masculino e 800 metros feminino), três de prata (maratona feminina, 3.000 metros com obstáculo feminino e 800 metros feminino) e duas de bronze (10 mil metros masculino e 3.000 metros com obstáculo masculino); a Etiópia levou duas de ouro (10 mil metros masculino e feminino) e uma de prata (10 mil metros masculino).
Analisando a história de medalhas desses países, o quadro é ainda mais impressionante. A Etiópia já ganhou 31 medalhas olímpicas (das quais 14 de ouro) e todas, absolutamente todas, vieram do atletismo de longa distância. Pelas ruas de Addis Ababa, a capital do país, outdoors e cartazes celebram os grandes heróis do país, como Abebe Bikila, campeão da maratona nos anos 60, e mais recentemente, outro maratonista, Haile Gebreselassie. Este, um verdadeiro popstar em seu país.
O Quênia já conquistou 61 medalhas, das quais 17 de ouro. Com exceção de seis no boxe, todas foram no atletismo.
Como pode? Muito já se especulou sobre isso. Há uma teoria que responsabiliza a composição genética e anatômica dos habitantes do leste africano (eles são magros e de pernas longas). Outros atribuem o sucesso ao ambiente montanhoso daquela região: treinados desde pequenos a conviver com menos oxigênio no ar, os corredores teriam mais facilidade ao competir em longas distâncias. E há os engraçadinhos que juram que os africanos são treinados desde crianças a fugir dos leões.
É um pouco de tudo, segundo professor-titular da Escola de Educação Física da Universidade de São Paulo Antônio Carlos Simões. “Eu diria que há três fatores: o cultural, o biológico e o de treinamento”, diz.
Para Simões, que já foi treinador da seleção brasileira de handebol, o fator cultural tem um pouco a ver com a piada de fugir dos leões. “É uma teoria aceita pela comunidade científica que o fato de essas pessoas andarem 15 a 20 quilômetros por dia, desde crianças, para ir para a escola, cria uma resistência orgânica e mental ao esforço associado com as grandes distâncias”, diz ele.
No quesito biológico, os quenianos e etíopes têm no organismo uma maior quantidade de fibras musculares de contração rápida. São essas fibras que concentram a energia do corpo e dão aos africanos uma vantagem natural.
É para arrancar o máximo de energia delas, aliás, que os corredores usam macacões apertados, como se estivessem espremendo o suco de uma laranja.
Por fim, segundo o professor, há uma verdadeira indústria de corredores de longa distância no Quênia e na Etiópia. “É o diferencial deles. Desde pequena, a criança que mostra algum talento é treinada para ser um campeão em modalidades mais longas. Eles não perdem tempo com provas mais curtas, porque sabem que não é o seu forte”.
O fato é que em poucas modalidades esportivas há um domínio tão claro de atletas de uma região específica. Pode esperar mais medalhas para estes dois países viciados em atletismo.
p.s.: para quem se interessar, há um artigo na revista Time sobre a rivalidade etíope-queniana.
http://www.time.com/time/magazine/article/0,9171,901040816-678578,00.html
Pescado do Blogo do Fábio Zanini, Pé na Africa.
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