Wim e Donata Wenders com Jorge Furtado, Gerbase e Giba Assis Brasil.
Ele tem cara de gringo. Tem roupa de gringo, Tem bota de gringo, Tem óculos de gringo. Cabelo de gringo. Ele é um gringo. Ele é um gringo alemão. Ele é Wim Wenders. Ele não é um turista, mas um viajante. Ele gosta de viajar por ai. Descobrir os universos além das fronteiras. Essas barreiras formadas pela etnia, pela política, pelo nacionalismo. Há de se cruzar as fronteiras e descobrir o que está ali dentro; o íntimo das civilizações, seus lados ocultos, é necessário ir sempre além. Sentir o cheiro da casa estrangeira, o modo de vida dos casebres das favelas, das casas médias e boas da Africa, da América Latina, da América, da Europa, da Ásia, da Oceania, de todos os lugares. Wim Wenders disse que não tem preconceitos, gosta de assistir a tudo, ele está sempre aberto, mas ele tem gosto e personalidade, of course. Ele disse que o cinema está além das fronteiras. Ele saiu da Alemanha e foi morar nos EUA, percorreu o mundo e voltou para a Alemanha. Essa necessária passagem e experiência foi um acerto de contas com o passado alemão, foi assim que ele redescobriu sua alma alemã. Hoje ele vive em Berlim. As vezes temos que ir muito longe para aprendermos o que está perto. Nos jornais das grandes cidades, na parte de cinema, estão os filmes em cartaz. Em São Paulo, em Berlim, em Nova York, em Bruxelas, os filmes que passam são os mesmos de todas as grandes cidades. O cinema é precursor da globalização. Faz muito tempo - muito tempo mesmo - que as imagens e as histórias contadas pelo cinema ultrapassam os limites das fronteiras, dos muros e das cercas. O bom viajante deve procurar o bom filme. Foi assim que Wenders descobriu o mundo através do cinema alternativo que não passa nos cinemas convencionais. O Brasil foi descoberto por Wenders através das lentes de Glauber Rocha. O rasil era uma invenção, um país metafórico. Por certo, ele não estava tão enganado assim. Wenders não tem o mínimo interesse em histórias e filmes que podem acontecer em qualquer lugar. São filmes que são feitos em terra de ninguém, que não tem o necessário e fundamental sentido do lugar. Apenas os viajantes, os bons viajantes podem detectar o sentido do lugar. São os viajantes que descobrem esse sentido. Os lugares têm suas próprias histórias para contar, os lugares têm memória. É necessário, portanto, respeitar as autonomias desses lugares. As memórias dos lugares são como dunas de areia, elas sempre se movimentam, mas não perdem a identidade. Na era da globalização esse sentido do lugar, da memória do lugar, da identidade do lugar está se perdendo. Os lugares estão se tornando iguais, mas os lugares são diferentes. Eis a diferença entre o turista e o viajante. O turista fica em casa ou passeia pelos lugares, tira suas fotos, produz seus filmes e vai embora. O viajante viaja, convive. O viajante tem identidade, vive em unidade consigo. A identidade é formada pelas fronteiras, é a identidade da pessoa com o lugar. A identidade é adquirida pela experiência. O viajante deve estar aberto ao outro, à vida. O viajante tem que ser curioso. Os filmes convencionais, os comerciais, não tem o necessário feed back, eles, simplesmente, não dão retorno. Eles são apenas entretenimento. Nada mais do que isso. É bom e divertido se entreter. Isso não é ruim, mas não traz conhecimento, não faz as pessoas refletirem. São histórias que não somam, não conseguem alimentar nossas almas. Os EUA são um país que conquistaram a identidade americana, o sonho americano e essa conquista ocorreu com o produto do cinema. Desde a década de 20 os americanos têm feito filmes e histórias sobre sua identidade, seus sonhos. As imagens são as maiores armas do século XXI. O cinema, como Homero, é um contador de histórias, mas há que se ter o sentido do contemporâneo, é fundamental entender os nossos tempos, respeitar as fronteiras, as identidades, os cheiros, as almas, a vida dos lugares, suas canções e culturas. Este, para Wenders, deve ser o caminho dos bons viajantes.
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