Interessante. Estão culpando os culpados de sempre (PIG, mídia, publicidade, neoliberalismo, capitalismo, EUA, Bush, Yeda etc.) pelo fim do 'bom e acirrado' debate político ideológico que alimenta o antagonismo social. É mesmo muito difícil olhar para o umbigo e admitir as próprias culpas. A verdade verdadeira é que o debate ideológico foi para o espaço, não alimenta mais os corações e as mentes dos viventes, preocupados em se colocar e se encaixar no mercado de trabalho e da prestação de serviços. O Brasil está se transformando numa Europa, onde o discurso e a luta ideológica é recordação de um passado trágico. As eleições na Europa, salvo algumas poucas exceções, são exatamente como a do Brasil deste ano: ruas limpas, pouco alarde e no final das contas, as pessoas que querem votar (voto facultativo já) depositam seus votos nas urnas encantadas. A ideologia foi embora e as viúvas choram clamando pela sua ressureição. E no final das contas, no resumo da ópera, a Luciana, a Manu, a Rosário e o Fogaça levaram todos 100 mil da Gerdau...(financiamento público de campanha já).
Abaixo post do diario gauche reclamando da vida sem ideologia:
A derrota dupla e definitiva de alguns e algumas
No afã de justificar e manter a hegemonia na sociedade capitalista, os seus intelectuais e porta-vozes – no Brasil, identificados majoritariamente no PIG – tratam de se apropriar de palavras que traduzam e representem a realidade que nos cerca.
Resumindo: a nossa linguagem cotidiana está crivada de expressões e pequenas idéias que amarram os indivíduos à vasta rede mundial de dominação econômica e cultural dos setores hegemônicos (hoje, comandados pelo capital financeiro).
A inocente linguagem das ruas (a tagarelice), da publicidade (ratificadora de preconceitos e estereótipos), dos jornais, das televisões, das rádios, das escolas, dos bares e áreas públicas expressam essa quase inexorabilidade de nossos dias. Mas existem anteparos e resistências a esse fenômeno neocolonizador das sociedades de massa, que agem como as pedras côncavas e convexas de um rio turbulento e rápido: são as expressões artísticas autênticas, o cinema, as artes plásticas, a literatura crítica e o pensamento e a práxis políticas que não aceitam a ditadura do pensamento único e nem a passividade dos fatalistas.
Toda essa introdução (algo cabeça) para voltar a falar da pobreza constrangedora da nossa presente campanha eleitoral 2008. Como o debate de natureza política está (tacitamente) vedado – parece que houve um pacto de mediocridade entre os concorrentes para lograr tamanho êxito – a disputa fica no campo da aparência visual e de quem faz a melhor apropriação do linguajar senso comum (vale dizer, a linguagem consentida e incentivada para expressar a hegemonia que falamos acima).
Assim, o candidato (a candidata) – agora destituído de fibra política, pasteurizado e higienizado – trata apenas de passar uma imagem contrária àquela que sempre o identificou. Se o candidato tem o cabelo crespo, trata logo de alisá-lo. Se tem uma imagem combativa, trata agora de passar uma idéia angelical e plácida. E por aí vai. Mas é no discurso que se operam as maiores inversões. Vêem-se alguns que adotam por inteiro os cacoetes mais correntes, aquilo que Bordieu chama de “automatismos do bom senso”.
No eclipse da política, aparecem as intenções de neutralidade astuciosa. O mesmo sujeito que secretamente representa o interesse do capital imobiliário, candidamente surge afirmando bandeiras ambientalistas e preservacionistas. Os principistas e ortodoxos de ocasião desfilam – como no carnaval – com os seus contrários, sob máscaras de cores e simbologias diversas do original.
Onde a falsificação é uma regra, a simplificação é um dever. A retórica adquire moto próprio, se automatiza na lógica do vazio e do engano. O discurso eleitoral agora é quase uma secreção involuntária das glândulas, sai como que para cumprir o objetivo de naturalização da ordem e de normalização das diferenças.
O intrigante de tudo isto, entretanto, o que causa interrogação sincera é o seguinte: que fenômeno é esse que consegue tornar tão uniforme propostas de origem tão diversa? Me explico: candidatos (candidatas) sem a mínima chance de vitória eleitoral, ainda assim, renunciam a uma possível vitória política, no sentido mesmo de promover as suas organizações partidárias, com desempenho de denúncias, críticas, apontando contradições gritantes, etc. Ou seja, para além da derrota eleitoral que sofrem, ainda carregam a humilhação de terem renunciado àquilo que em outros tempos se chamava agitprop – agitação e propaganda.
Essa derrota dupla, mais que humilhante, é definitiva.
No afã de justificar e manter a hegemonia na sociedade capitalista, os seus intelectuais e porta-vozes – no Brasil, identificados majoritariamente no PIG – tratam de se apropriar de palavras que traduzam e representem a realidade que nos cerca.
Resumindo: a nossa linguagem cotidiana está crivada de expressões e pequenas idéias que amarram os indivíduos à vasta rede mundial de dominação econômica e cultural dos setores hegemônicos (hoje, comandados pelo capital financeiro).
A inocente linguagem das ruas (a tagarelice), da publicidade (ratificadora de preconceitos e estereótipos), dos jornais, das televisões, das rádios, das escolas, dos bares e áreas públicas expressam essa quase inexorabilidade de nossos dias. Mas existem anteparos e resistências a esse fenômeno neocolonizador das sociedades de massa, que agem como as pedras côncavas e convexas de um rio turbulento e rápido: são as expressões artísticas autênticas, o cinema, as artes plásticas, a literatura crítica e o pensamento e a práxis políticas que não aceitam a ditadura do pensamento único e nem a passividade dos fatalistas.
Toda essa introdução (algo cabeça) para voltar a falar da pobreza constrangedora da nossa presente campanha eleitoral 2008. Como o debate de natureza política está (tacitamente) vedado – parece que houve um pacto de mediocridade entre os concorrentes para lograr tamanho êxito – a disputa fica no campo da aparência visual e de quem faz a melhor apropriação do linguajar senso comum (vale dizer, a linguagem consentida e incentivada para expressar a hegemonia que falamos acima).
Assim, o candidato (a candidata) – agora destituído de fibra política, pasteurizado e higienizado – trata apenas de passar uma imagem contrária àquela que sempre o identificou. Se o candidato tem o cabelo crespo, trata logo de alisá-lo. Se tem uma imagem combativa, trata agora de passar uma idéia angelical e plácida. E por aí vai. Mas é no discurso que se operam as maiores inversões. Vêem-se alguns que adotam por inteiro os cacoetes mais correntes, aquilo que Bordieu chama de “automatismos do bom senso”.
No eclipse da política, aparecem as intenções de neutralidade astuciosa. O mesmo sujeito que secretamente representa o interesse do capital imobiliário, candidamente surge afirmando bandeiras ambientalistas e preservacionistas. Os principistas e ortodoxos de ocasião desfilam – como no carnaval – com os seus contrários, sob máscaras de cores e simbologias diversas do original.
Onde a falsificação é uma regra, a simplificação é um dever. A retórica adquire moto próprio, se automatiza na lógica do vazio e do engano. O discurso eleitoral agora é quase uma secreção involuntária das glândulas, sai como que para cumprir o objetivo de naturalização da ordem e de normalização das diferenças.
O intrigante de tudo isto, entretanto, o que causa interrogação sincera é o seguinte: que fenômeno é esse que consegue tornar tão uniforme propostas de origem tão diversa? Me explico: candidatos (candidatas) sem a mínima chance de vitória eleitoral, ainda assim, renunciam a uma possível vitória política, no sentido mesmo de promover as suas organizações partidárias, com desempenho de denúncias, críticas, apontando contradições gritantes, etc. Ou seja, para além da derrota eleitoral que sofrem, ainda carregam a humilhação de terem renunciado àquilo que em outros tempos se chamava agitprop – agitação e propaganda.
Essa derrota dupla, mais que humilhante, é definitiva.
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