Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


domingo, 31 de agosto de 2008

Vira-Latas Compensatórios - Renato Mezan






Vira-latas Compensatórios



RENATO MEZAN



O erro que custou a Diego Hypólito uma medalha tida por todos como certa reativou um fantasma recorrente: a crença na vocação do brasileiro para fracassar nos momentos decisivos. Por alguma característica da alma nacional, não seríamos capazes de suportar tal pressão, o que se evidenciaria com particular clareza nas finais esportivas em que somos considerados favoritos.

Daí a expectativa que cercava as "meninas do vôlei": por terem perdido algumas partidas finais, elas haviam sido tachadas de "amarelonas", "pipoqueiras" e outras gentilezas do mesmo teor.Daí também a atitude condescendente para com as futebolistas que, repetindo Atenas, "deixaram escapar o ouro" e os muxoxos com que foram recebidas as medalhas de prata e bronze em outras modalidades."Não temos vocação para perder", exclamou Ronaldinho após a derrota para a Argentina. "Bronze envergonhado", dizia a manchete de "O Estado de S. Paulo" no dia seguinte.Por que tamanha tolice ressurge periodicamente "nos lares e nos bares", na televisão e na imprensa? Eu mesmo recebi telefonemas de jornalistas interessados em ouvir o que um psicanalista teria a dizer sobre a insidiosa inibição supostamente responsável pelo "fracasso do Brasil na Olimpíada", como formulou um deles.O fato de a pergunta ser descabida -é óbvio que não existe nada disso- não nos exime de investigar por quais motivos ela pode parecer legítima.É certo que Freud, num pequeno artigo de 1916 intitulado "Vários Tipos de Caráter Descobertos no Trabalho Psicanalítico", falou dos que "fracassam ao triunfar", e atribuiu o fenômeno aos sentimentos de culpa associados ao complexo de Édipo: colher um êxito ardentemente desejado é para certas pessoas equivalente a uma agressão contra o pai ou a mãe -e a consciência moral, opondo-se energicamente a isso, interfere para as impedir de atingir o alvo.Mas nada sugere que tal seja o caso das jogadoras de futebol, dos competidores em vôlei de praia e dos demais atletas -brasileiros e de outras nacionalidades- que conquistaram medalhas de prata e de bronze, para não falar dos que não conseguiram subir ao pódio.É a obsessão nacional pelo "ouro", e a atitude frente à vitória ou à derrota que nela transparece, que merecem um pouco de reflexão.Auto-engano "Não estamos acostumados a perder", exclamou um desconsolado Ronaldinho após a derrota para os argentinos. "Não pensamos em prata: nosso objetivo é o ouro. Mas ainda não ganhamos nada", ecoou Marta ao terminar a semifinal contra as alemãs.Frases como essas sugerem que muitos atletas compartilham a convicção de que é possível ganhar sempre, que o segundo lugar é apenas um "prêmio de consolação" e que o bronze não tem valor nenhum.O que neles era latente se torna explícito na postura do presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira -não haveria prêmios monetários caso as seleções de futebol voltassem sem os respectivos títulos, o que acabou acontecendo.Querendo isentar-se da responsabilidade pelas condições precárias em que boa parte dos esportistas teve de se preparar, outros dirigentes recorreram à surrada fórmula do "bronze que vale ouro", versão cabocla do "jogo do contente" inventado por Poliana.Se a platéia não as aceitasse, porém, ninguém se lembraria de invocar tais desculpas esfarrapadas, e é a cumplicidade dela na operação de mascaramento da realidade que chama a atenção.Uma das razões dessa atitude é sem dúvida de natureza projetiva: os esportistas carregam nos ombros a responsabilidade de "representar a nação".Vencendo, inflam nossa auto-estima e, fazendo-nos crer que somos tão bons quanto os melhores, nos proporcionam uma satisfação narcísica rala, mas de certo modo eficaz; se perderem, confirmam a crença na pouca valia dos nossos conterrâneos e, portanto, de nós mesmos.O segundo motivo para desprezar os "perdedores" é a inveja, pois jamais chegaremos a realizar nada parecido com as proezas de que são capazes esses jovens. Como a inveja não é um sentimento nobre, negamo-la atribuindo o "fracasso" não às circunstâncias específicas que o provocaram, mas a algo cuja função é nos tornar mais uma vez semelhantes aos que, no fundo, não podemos deixar de admirar -mas agora pelo avesso: se a incapacidade de transformar o favoritismo em realizações é uma trágica fatalidade do caráter brasileiro, então os atletas não podiam mesmo conquistar a almejada vitória.A inveja é também o que leva a desqualificar o triunfo efetivamente obtido -"foi só por um centímetro que Maurren Maggi ganhou aquela medalha" [ouro no no salto em distância].O absurdo dessa afirmação fica patente se lembrarmos que, nesse nível altíssimo de desempenho, a diferença entre vencedores e vencidos é sempre diminuta -alguns centésimos de segundo numa das vitórias de Michael Phelps, entre o terceiro e o quarto lugares no revezamento masculino 4 x 100 m e em outros casos relatados pela imprensa.Será que os vencedores dessas provas são realmente tão superiores aos outros participantes? Excetuando alguns casos extraordinários, como os de Usain Bolt [Jamaica, atletismo] e Michael Phelps, isso não é verdade.A prova? Em competições anteriores, foram vitoriosos os derrotados de agora e vice-versa: a seleção feminina de futebol perdeu para as alemãs o campeonato mundial de 2006, mas ganhou delas em Pequim; o time masculino de vôlei venceu os italianos, mas havia perdido para eles em 2004; Tatiana Lebedeva [Rússia, salto em distância] foi campeã na Olimpíada de Atenas e vice na da China; e assim por diante.Virtù e fortuna Para o esporte vale o que escreveu Maquiavel a propósito da política: o sucesso não depende apenas da "virtù", mas também da "fortuna"."Virtù" é o que o combatente traz consigo: seu preparo técnico, seu conhecimento do terreno e do adversário, a qualidade de suas armas. "Fortuna" é o fator imprevisível que favorece um ou outro -a lama no campo de batalha, o erro do oponente, a vara que faltava no estojo de Fabiana Murer.A contusão de Liu Xiang [China, atletismo] é obra da "fortuna", assim como o imbecil que agarrou Valdemar Cordeiro na maratona de 2004 ou a falha de Diego Hypólito no instante final."Faço este movimento desde os 12 anos, nunca errei", lamentava-se ele ao rever o filme da prova. Até que um dia... Na mesma entrevista, o ginasta reconheceu onde estava sua fraqueza: "Creio que poderia não ter criado tanta expectativa quanto ao ouro". Ou seja, além da pressão da torcida, o próprio atleta acaba se persuadindo da obrigação de vencer, e isso o perturba no momento decisivo.Inconformada com o resultado da partida final, o rosto molhado de lágrimas, a capitã Marta se perguntava: "Meu Deus, o que foi que eu fiz de errado?". A resposta é: nada. O que determinou o 1 a 0 foi apenas que naquele dia as americanas jogaram mais que as brasileiras.Por outro lado, a "virtù" contribuiu, e muito, para alguns bons resultados em Pequim. Entre outros exemplos, ressalto o trabalho psicológico com a equipe feminina de vôlei, o cuidado das velejadoras Fernanda Oliveira e Isabel Swan em estudar as condições do lugar em que iriam competir, a equipe multiprofissional de que se cercou a lutadora Natália Falavigna no taekwondo, o apoio dado pela família a César Cielo, a determinação de Ketleyn Quadros e de Maurren Maggi.O que esta escreveu na carta ao seu técnico -"dei duro e estou preparada"- não garantia a vitória, mas sem isso ela jamais chegaria.Contraprova: a "pátria de chuteiras", com muita empáfia e pouco treino, tinha chances remotas contra uma Argentina que se preparou melhor -e merecidamente levou o título.É tempo de deixarmos de lado o que Nelson Rodrigues chamava de "complexo de vira-lata". Ao invocar absurdos como a suposta incapacidade nacional para manter a cabeça fria na hora H, não apenas estamos faltando com a verdade -desde a invenção dos esportes modernos, inúmeros brasileiros venceram finais com tranqüilidade, assim como outros foram prejudicados pelo nervosismo ou pela arrogância- mas ainda apequenamos o valor de resultados conseguidos com esforço hercúleo, independentemente do metal das medalhas -ou da ausência delas.Acaso aquelas duas famosas polegadas tornavam Martha Rocha menos bonita? Que o diga quem se lembrar do nome da Miss Universo de 1954.
RENATO MEZAN é psicanalista e professor titular da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP). Escreve na seção "Autores", do Mais!

O Gosto dos Negros e o Gosto dos Brancos



O economista e sociólogo Thorstai Veblen que cunhou o termo "consumo conspícuo".



Bom e interessante o artigo de Virginia Postrel (foto dela abaixo) sobre o que consomem e o que significa 'luxo' para os brancos e os negros americanos. Pescado do Caderno Mais da Folha de hoje.

Luxo Conceitual

Cerca de sete anos atrás, Kerwin Kofi Charles e Erik Hurst, economistas da Universidade de Chicago, estavam pesquisando a "disparidade de patrimônio" entre os norte-americanos negros e brancos quando perceberam algo de notável.Os negros dos EUA não só tinham menos patrimônio do que os brancos em faixa de renda semelhante como também uma proporção muito mais elevada de seus ativos era representada por automóveis.O dado estatístico serviu para confirmar um estereótipo exposto em incontáveis vídeos de hip hop estrelados por cantores negros repletos de jóias: o de que os norte-americanos negros gastam muito em carros, roupas e jóias -bens altamente visíveis que informam ao mundo que seu proprietário tem dinheiro.Mas será que o fazem, de fato? E, se esse é o caso, por que agem assim?

Riqueza de pobre

Os dois economistas, com Nikolai Roussanov (da Universidade da Pensilvânia), decidiram tratar desse tema, agora. O que eles descobriram não só oferece percepções quanto às diferenças econômicas entre grupos raciais como contesta as percepções mais comuns quanto ao luxo.O consumo ostensivo, sugere a pesquisa que eles conduziram, não representa um sinal claro de afluência pessoal. Na verdade, representa um sinal de que a pessoa pertence a um grupo relativamente pobre.O luxo visível serve, assim, menos para estabelecer o status positivo do proprietário como pessoa próspera do que para refutar a percepção negativa de que ele é pobre.

Quanto mais rica uma sociedade ou um grupo social, menos importantes se tornam os gastos visíveis. No que tange à etnia, a sabedoria popular se prova verdadeira. Uma família negra norte-americana com a mesma renda, o mesmo número de membros e outros indicadores demográficos semelhantes aos de uma família branca gastará 25% mais de sua renda em jóias, carros, cuidados pessoais e roupas.Para a família negra média, cuja renda é de US$ 40 mil ao ano, isso representa US$ 1.900 a mais por ano do que para uma família branca comparável. Para compensar a diferença, os negros gastam menos em educação, saúde, entretenimento e com o equipamento e mobília de suas casas (o mesmo se aplica aos latinos). É claro que grupos étnicos diferentes podem simplesmente ter gostos diferentes.Talvez os negros simplesmente gostem mais de jóias que os brancos. Talvez adquiram roupas mais caras para evitar insultos racistas da parte de vendedores. Talvez simplesmente não estejam tão interessados em universidades de elite ou em TVs de tela grande. E talvez nada disso proceda.Os economistas odeiam tautologias sobre diferenças de gosto não passíveis de prova concreta. Querem histórias que possam ser aplicadas a todos.


Nissan Zaroot, um carro de luxo conceitual.

Certo e errado

Por isso, os pesquisadores recuaram ao trabalho do sociólogo e economista Thorstein Veblen, que cunhou o termo "consumo conspícuo".Escrevendo em 1899, em um mundo muito mais pobre, Veblen argumentava que as pessoas gastavam de maneira desmedida em bens visíveis de modo a provar que eram prósperas. "O motivo é a emulação -o estímulo de uma comparação baseada na inveja, que nos leva a tentar superar aquilo que fazem as pessoas junto das quais temos o hábito de nos classificar", escreveu.

Seguindo essa linha de raciocínio, os economistas adotaram a hipótese de que o consumo visível permite que as pessoas demonstrem a desconhecidos que elas não são pobres.Já que os desconhecidos tendem a categorizar as pessoas em termos de etnia, quanto mais baixa a renda de seu grupo social, mais valioso será demonstrar o poder aquisitivo.Para testar essa idéia, compararam padrões de consumo de pessoas da mesma etnia em Estados diferentes -digamos, negros do Arkansas a negros de Massachusetts ou brancos da Carolina do Sul a brancos da Califórnia. E, como esperavam, se nenhum outro fator variar (incluindo a renda da pessoa em questão), um indivíduo tende a gastar parte maior de sua renda pessoal em bens visíveis quando a renda média de seu grupo étnico é mais baixa.


Os negros dos EUA não têm necessariamente gostos diferentes dos brancos. São apenas mais pobres, em média. Nos lugares em que os negros têm mais dinheiro, os indivíduos negros se sentem menos pressionados a exibir o patrimônio.O mesmo se aplica aos brancos. Compensadas as diferenças quanto ao custo de habitação, um aumento de US$ 10 mil na renda média dos domicílios brancos (montante que separa a renda média dos brancos da Carolina do Sul e da Califórnia) resulta em 13% de decréscimo no consumo de bens visíveis."Se tomarmos como exemplo uma pessoa que ganha US$ 100 mil por ano no Alabama [Estado menos rico] e uma que ganha US$ 100 mil por ano em Massachusetts" [Estado mais rico], disse Hurst, "a pessoa com renda de US$ 100 mil no Alabama se dedica mais ao consumo conspícuo do que a pessoa de Massachusetts".É por isso que um relógio Rolex de ouro com diamantes incrustados parece gritar "novo rico!". O objeto sinaliza que o proprietário veio de um grupo de baixa renda e tem algo a provar. Assim, a pesquisa tem implicações que vão além da etnia.

Deve ser aplicável a qualquer grupo social definido de acordo com a visão de pessoas que estejam de fora. E sugere por que economias emergentes como Rússia e China, apesar de suas rendas médias ainda baixas, são hoje mercados tão quentes para os produtos de luxo.As pessoas que são ricas em lugares pobres desejam exibir sua riqueza. E as pessoas menos afluentes que vivem nas mesmas regiões se sentem forçadas a forjar uma aparência de riqueza, ao menos em público.Ninguém deseja o estigma de ser visto como pobre. Veblen estava certo.Mas ele também estava errado. Ou pelo menos sua teoria está desatualizada. Dado o fato de que, quanto mais rico o grupo, menos vistosos os gastos que seus componentes terão, o consumo conspícuo não é um fenômeno universal. É uma fase de desenvolvimento.A tendência declina à medida que países, regiões ou grupos específicos enriquecem. "As jóias chamativas dominam nas economias emergentes, ainda ávidas por percorrer a estrada do status via consumo de produtos", apontou recentemente o grupo de pesquisa de mercado Euromonitor.Em determinado momento, o luxo se torna menos uma ferramenta de competição por status público e mais uma forma de obter prazer privado.

Considere-se a observação de David Brooks, em "Bubos no Paraíso" [ed. Rocco], de que, para as atuais elites de alto nível educacional, gastar US$ 25 mil reformando o banheiro é considerado elogiável, mas gastar US$ 15 mil em um sistema de som e TV de tela larga é considerado vulgar.

Visibilidade íntima

Gastar US$ 10 mil em uma banheira com hidromassagem para o quintal é considerado decadente, mas não gastar o dobro disso para criar um box de luxo no banheiro -é visto como sinal de que a pessoa ainda não aprendeu a apreciar os ritmos simples da vida.Virtuosos ou vulgares, todos esses itens têm em comum o fato de que não são visíveis aos desconhecidos. Apenas amigos e familiares podem vê-los. Qualquer status que confiram só se aplica no seio do pequeno grupo de pessoas que você convida a visitá-lo em sua casa.Russ Alan Prince e Alan Schiff descrevem padrão semelhante em "The Middle-Class Millionaire" [O Milionário de Classe Média], que analisa os hábitos de consumo dos 8,4 milhões de domicílios norte-americanos que construíram sua riqueza sem a ajuda de heranças, abrigando famílias cujo patrimônio total, incluído o valor dos imóveis, fica entre US$ 1 milhão e US$ 10 milhões.Além da inclinação por carros exóticos, esses milionários dedicam os dólares que destinam ao luxo principalmente a serviços que pessoas de fora não podem ver: atendimento de saúde de alto padrão, reformas de casas, toda forma de instrução pessoal e férias familiares caras.O foco é menos impressionar os desconhecidos e mais aperfeiçoar suas vidas e as de seus familiares.O abandono do consumo conspícuo -a troca de produtos por serviços e experiências- também pode tornar o luxo mais exclusivo. Qualquer pessoa com US$ 6.000 pode comprar uma bolsa Bottega Veneta ou um relógio Cartier.Mas, pela mesma soma, a pessoa pode se inscrever para quatro dias de palestras, na Califórnia, ministradas por inovadores famosos (como Frank Gehry, Amy Tan e Brian Greene) ou menos conhecidos. Quanto aos produtos, exibicionismo está fora de moda."Se você quer viver como um bilionário, compre uma cama de US$ 12 mil", diz um amigo meu que é planejador financeiro. Não se pode estacionar a cama na entrada da casa, mas ela irá durar décadas, e o proprietário poderá desfrutar de seu conforto todas as noites.





VIRGINIA POSTREL é editora da "Atlantic Monthly", onde saiu a íntegra deste texto. Tradução de Paulo Migliacci .

Modas, Modismos e Modinhas



Com a palavra Lars Svendsen, filósofo norueguês. Ele vai falar sobre.... moda.


FOLHA - O sr. diz em seu livro que ser um "filósofo de moda" é correr o risco de ser acusado de falta de substância ou de seriedade. Por que decidiu se debruçar sobre esse assunto?
LARS SVENDSEN - Eu havia escrito um pouco sobre moda em meu livro sobre o tédio, e ali observei que se fazia necessário um estudo filosófico mais cuidadoso da moda.A razão pela qual a moda tem importância tão grande hoje é que ela afeta a atitude da maioria das pessoas em relação a elas próprias e aos outros. Como observo no livro, desde a Renascença ela tem sido um dos fenômenos mais influentes na civilização ocidental.Vem conquistando cada vez mais áreas do homem moderno e se converteu quase em uma "segunda natureza" nossa.Assim, a compreensão da moda deve contribuir para a compreensão de nós mesmos e de como pensamos e agimos.

FOLHA - O sr. diz também que nosso pensamento continua marcadamente platônico. Refletir sobre a moda é estar movido essencialmente por um antiplatonismo?
SVENDSEN - Eu mesmo sempre desconfiei das metáforas filosóficas tradicionais de "profundidade" e "superfície", em que profundidade equivale a "verdade" e superfície é, de alguma maneira, enganoso ou falso.Não importa qual seja o tópico filosófico que nos propomos a investigar, acho que sempre devemos tentar fazer justiça aos fenômenos em si, da maneira como se manifestam. Isso significa que também devemos levar a "superfície" a sério.Em relação a isso, concordo com Oscar Wilde: "São apenas as pessoas superficiais que não julgam pelas aparências. O verdadeiro mistério do mundo é o visível, não o invisível".


FOLHA - Poderíamos dizer que o mercado da moda, com a sua rapidez de produção e de consumo, com a sua busca irrefreável de originalidade e substituição, tornou-se uma espécie de paradigma de marketing e negócios para o capitalismo atual?
SVENDSEN - Moda e capitalismo são perfeitamente adequados um ao outro. O capitalismo só pode funcionar enquanto o consumidor continuar a comprar produtos novos, e o consumidor que está na moda depende de um fluxo constante de produtos novos.O princípio da moda é criar uma velocidade constantemente crescente, para fazer um objeto tornar-se supérfluo o mais rapidamente possível, para então passar para outro.A consciência do poder da moda é a consciência de que os produtos não vão durar; e, se vamos escolher um produto que inevitavelmente ficará ultrapassado, vamos tender a escolher a última moda, e não uma moda anterior. Os produtos não duram, nem se pretende que o façam.Essa é uma parte importante da atração exercida pelo produto pós-moderno: daqui a pouco poderá ser substituído!


FOLHA - Para o sr., a criação em moda responde sobretudo a solicitações internas, sendo a própria moda incapaz de um diálogo com "a evolução política da sociedade". Por que a moda é tão impenetrável aos acontecimentos sociopolíticos?
SVENDSEN - Há várias razões para que isso aconteça. Uma questão evidente na moda, e em muitas outras disciplinas estéticas, é que a maior parte da moda é baseada em modas anteriores, assim como a maior parte da arte é feita a partir de artes anteriores.Se você quiser explicar uma determinada moda, é mais provável que encontre uma resposta plausível analisando modas passadas, em vez de tentar enxergar a moda como reflexo da realidade política ou social.Além disso, a moda possui uma capacidade incrível de apagar o significado simbólico de tudo o que incorpora.Foi por isso que Che Guevara pôde tornar-se um item altamente vendável em um sistema de moda capitalista. Nas camisetas com sua imagem, não resta praticamente nada da política revolucionária de Che (nem de suas mãos ensangüentadas, já que ele torturou e executou prisioneiros políticos).Quando se vende moda, vende-se um valor simbólico; ao mesmo tempo, a moda tende a apagar esse valor simbólico muito rapidamente, de maneira que precisa constantemente buscar novos valores simbólicos que possa "canibalizar".E o underground é um dos maiores fornecedores de tais valores simbólicos.



FOLHA - O sr. também diz que a moda é "praticamente incapaz de comunicar qualquer coisa de significativo". Comparando-a com a arte, afirma que a moda "parece encastelada num círculo onde, na prática, não faz mais que se repetir e perder pouco a pouco o significado". Isso quer dizer que ela ocupa um lugar inferior na esfera da cultura?
SVENDSEN - Desde a separação entre a arte e o trabalho artesanal, no século 18, os alfaiates ficaram do lado do artesanato. As roupas foram colocadas na esfera extra-artística e ali permaneceram até hoje.Desde que a alta costura foi introduzida, por volta de 1860, a moda aspira a ser reconhecida como arte plena. Essa tendência vem se fortalecendo nos últimos 30 anos.Embora a arte às vezes encontre inspiração na moda, é mais comum que a moda tente tornar-se arte. O problema é que, embora haja instâncias de moda que estão inteiramente no nível da arte, a maior parte do que se passa na moda é artisticamente desinteressante.De modo geral, a moda, se for vista como arte, é uma arte bastante insignificante. Com freqüência, não passa muito de uma repetição de gestos vazios que já foram consumidos no campo da arte.


FOLHA - O que o sr. quer dizer quando afirma que "hoje a moda se encontra no ponto mais baixo de sua curva criativa"?
SVENDSEN - Que muito pouca coisa da moda criada hoje possui interesse estético. Quando vemos uma coleção nova de um estilista, a reação típica é dizer que ela é "bacana", mas que já a vimos só Deus sabe quantas vezes antes.Anteriormente, a moda seguia uma norma modernista, segundo a qual uma moda nova deveria tomar o lugar de todas as anteriores e torná-las supérfluas. A lógica tradicional da moda é a lógica da substituição.Nos últimos dez a 15 anos, porém, ela vem sendo definida por uma lógica da suplementação, em que todas as tendências são recicláveis e em que uma nova moda não tem por meta tomar o lugar de todas as que a antecederam, mas se contenta em suplementá-las.A própria qualidade de ser "novo", que era essencial à moda no passado, deu lugar a uma eterna recorrência do mesmo.


FOLHA - Em contraposição a Boris Groys, que descreve a moda como antiutópica e antitotalitária, o sr. afirma que "a moda é o fenômeno mais totalitário do mundo, porque assujeitou praticamente todos os campos à sua lógica e assim se tornou onipresente". Que tipo de totalitarismo é esse?

SVENDSEN - Ela é totalitária na medida em que praticamente não existe área nenhuma de nossa vida social, seja a arte, a política ou mesmo a filosofia, que não esteja em grande parte regida pela lógica da moda.É um mecanismo social que tem uma capacidade espantosa de transformar todo fenômeno social com que tem contato.


FOLHA - Por que as modelos se transformaram em grandes estrelas midiáticas de nossa época? Que função elas exercem na "ideologia da realização estética" do sujeito, como o sr. escreve?
SVENDSEN - As modelos são a mais alta encarnação de uma cultura em que nossas identidades essenciais devem estar situadas em nossos corpos, não em nossas almas. A formação da auto-identidade na era pós-moderna é, num sentido crucial, um projeto do corpo.O corpo tornou-se um objeto de moda especialmente privilegiado. Aparece como algo plástico, que se modifica constantemente para adequar-se às novas normas que surgem. E as modelos são as representantes maiores dessas normas.Mas mesmo elas não chegam a adequar-se às normas. Já na década de 1950 não era incomum que modelos se submetessem a cirurgias plásticas para se aproximarem das normas, por exemplo removendo seus molares posteriores para conseguir ter faces cavadas ou tendo costelas removidas para alcançar o formato de corpo desejado.A distância entre os corpos das modelos e os corpos "normais" continua a aumentar. Assim, a norma se torna pura ficção, mas nem por isso perde sua função normativa.

FOLHA - O sr. escreve que uma razão importante pela qual a moda não obteve um reconhecimento parecido àquele atribuído às outras artes é que ela não tem uma tradição de crítica séria. Por que a moda nunca desenvolveu uma crítica séria, na sua opinião? Como o sr. imagina que deva ser essa crítica?
SVENDSEN - Acho que ela deveria ser bastante semelhante à crítica de arte, com críticos independentes que são livres para dizer o que realmente pensam da qualidade dos objetos que submetem a seu escrutínio. Esses críticos devem, de preferência, ter uma formação em história da moda.A maior parte do que se escreve sobre moda em revistas hoje em dia é simplesmente uma extensão da publicidade. Os redatores de moda têm medo de criticar os estilistas, já que isso poderia resultar em menos anúncios em suas revistas. Uma tradição de crítica séria de moda não poderá ser criada de um dia para outro -levará tempo.Mas isso será necessário para que algum dia a moda possa ser realmente levada a sério como disciplina estética.
FOLHA - O sr. critica a idéia do sociólogo francês Gilles Lipovetsky -de que a moda torna o mundo mais democrático, pois substitui as disputas de fundo por um gosto da superfície- e afirma que a democracia tem necessidade dos atritos sociais e do dissenso. A moda, com seu gosto pela elitização, não é essencialmente antidemocrática? Redes como a Zara efetivamente democratizam o design de moda?
SVENDSEN - Essas redes de fato democratizam a moda, pois a tornaram acessível a uma parte maior da população. Mas não vejo isso necessariamente como grande vitória democrática.O número de peças de roupa que podemos encontrar no guarda-roupa do cidadão mediano não chega a ser um bom indicativo do funcionamento adequado, ou não, das instituições democráticas de seu país.

FOLHA - Em um comentário duro, o sr. diz que, se a lógica da moda se torna norma na construção da identidade, ela pode se tornar um fator desagregador. E conclui que caminhamos para a completa "dissolução da identidade". Como a moda participa disso?

SVENDSEN - Todos nós, de alguma maneira, expressamos quem somos por meio de nossa aparência visual, e essa expressão vai necessariamente dialogar com a moda. E os ciclos de moda cada vez mais acelerados indicam um conceito mais complexo do eu, porque o eu se torna mais transitório.O consumidor pós-moderno não consegue firmar uma identidade pessoal viável por meio de seu consumo porque o fato de esse consumo focalizar o transitório enfraquece a formação da identidade. Se nossa identidade é diretamente vinculada às coisas que nos cercam -ou seja, ao valor simbólico das coisas-, essa identidade será tão transitória quanto são aqueles valores simbólicos.
FOLHA - O sr. vê alguma relação entre moda e tédio?
SVENDSEN - Essa relação existe. A moda cria uma mentalidade inquieta e agitada, na qual nos entediamos muito facilmente e constantemente ansiamos por algo novo e "interessante".Como observei em meu livro sobre o tédio, o olhar estético precisa ser estimulado por uma intensidade aumentada ou, de preferência, por algo novo.Vale observar, entretanto, que o olhar estético tem a tendência a recair no tédio -um tédio que define todo o conteúdo da vida de maneira negativa, porque é aquilo que precisa ser evitado a qualquer preço. O consumo de moda funciona como uma espécie de entretenimento, e é uma maneira cada vez mais comum de combater o tédio. Passamos a ser cronicamente estimulados por um fluxo constante de fenômenos e produtos "novos", mas também nos entediamos mais rapidamente, em igual medida.


Tradução de Clara Allain .


Petróleo e Educação


Não sou contra a idéia de destinar recursos do petróleo para a educação, mas isso tem de ser feito com certa cautela.

Abaixo artido de Fernando Haddad, ministro da educação, na Folha de hoje.:


Petróleo e qualidade da educação
FERNANDO HADDAD
Expandir o acesso à educação de qualidade depende de assegurar fontes estáveis de financiamento

A idéia de destinar recursos provenientes do pagamento de royalties do petróleo à educação não é nova. A antiga Lei do Petróleo (lei 2.004/53) foi alterada em 1969 pelo decreto-lei 523 para prever que a indenização devida a Estados e territórios, correspondente a 5% do valor do óleo extraído, caberia ao Ministério de Minas e Energia e ao Ministério da Educação, em partes iguais, no caso de extração da plataforma continental. Competia ao MEC investir o recurso no "incremento da pesquisa e do ensino de nível superior no campo das geociências". Em 1973, o decreto-lei 1.288 excluiu o MEC da partilha.De lá para cá, o financiamento da educação ora tem avançado, ora recuado, o que demonstra a contradição recorrente entre a prática e a prédica das classes dirigentes do país em relação ao tema.Em 1983, foi aprovada a emenda constitucional 24, que vinculou 13% da receita de impostos da União a investimentos em educação e 25% no caso de Estados, DF e municípios, o que mais tarde veio inspirar o constituinte de 1988, que elevou o percentual da União de 13% para 18%.O constituinte foi além, ao afirmar que "o acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo" (artigo 208, parágrafo 1º). Deu, assim, a largada para a universalização do ensino fundamental, cujo atendimento atingiu 93% das crianças de sete a 14 anos em 1997, um ano antes da efetiva entrada em vigor do antigo Fundef.Em 1995, a educação sofreu dois duros golpes: entrou em vigor o dispositivo que desvincula 20% da receita de impostos para a educação (DRU) e foi renegado o Pacto Nacional pela Educação firmado um ano antes, que previa o estabelecimento de um piso nacional para o magistério.Na esteira desse processo, a emenda constitucional 14, de 1996, revogou o dispositivo que ordenava: "[até 1998,] as universidades públicas descentralizarão suas atividades, de modo a estender suas unidades de ensino superior às cidades de maior densidade populacional". A lei 8.649, de 1998, por sua vez, proibiu a expansão da rede federal de escolas técnicas ao determinar que "a expansão da oferta de educação profissional, mediante a criação de novas unidades de ensino por parte da União, somente poderá ocorrer em parceria com Estados, DF e municípios, que serão responsáveis pela manutenção e gestão dos novos estabelecimentos de ensino".Finalmente, em 2001, foi vetado o item do Plano Nacional de Educação que lhe daria sustentabilidade financeira e que estipulava a seguinte meta: "elevação, na década, através de esforço conjunto da União, Estados, Distrito Federal e municípios, do percentual de gastos públicos em relação ao PIB, aplicados em educação, para atingir o mínimo de 7%".Entre 1995 e 2001, a proficiência em matemática e leitura dos alunos do ensino fundamental e médio caiu sistematicamente.É verdade que vários estudos demonstram que, não raramente, o processo de universalização do acesso à educação vem acompanhado da queda de qualidade do ensino. As razões apontadas são as mais variadas.Contudo, é forçoso reconhecer que o aumento do atendimento educacional não engendrou esforço nacional pelo aumento do investimento em educação, muito pelo contrário.Desde 2004, o país trilha o caminho do desenvolvimento sustentável, e o governo federal faz esforço considerável para reforçar o orçamento da educação. A proposta orçamentária para 2003 previa recursos de R$ 20,2 bilhões para a educação. A proposta para 2009 prevê R$ 48 bilhões.Essa nova realidade permite consolidar os programas do Plano de Desenvolvimento da Educação, que conta com a adesão formal dos 27 governadores e 5.563 prefeitos do Brasil.O novo patamar de financiamento permite consolidar o novo Fundeb e o piso nacional do magistério, dobrar as vagas de ingresso nas universidades públicas e triplicar as das escolas técnicas federais, instalar 850 pólos de formação do magistério da Universidade Aberta do Brasil (UAB), construir 500 creches e pré-escolas ao ano, renovar 20% da frota de veículos escolares ao ano, instalar internet banda larga em todas as escolas públicas urbanas, além de apoiar todas as escolas e redes públicas de ensino cujo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), medido pelo MEC, esteja abaixo da média nacional -que, aliás, saltou de 3,8 para 4,2, entre 2005 e 2007, para os anos iniciais do ensino fundamental.Expandir o acesso à educação de qualidade depende de assegurar fontes estáveis de financiamento. Acelerar o passo exige da nação duas providências: derrubar a DRU da educação e garantir que parte dos royalties do petróleo seja destinada à educação.



Artigo de FERNANDO HADDAD , 45, graduado em direito, mestre em economia, doutor em filosofia, é professor de teoria política da USP e ministro da Educação.

Assado de Domingo






É tradição regional. Domingo é dia de carne. Muita carne.
O assado na grelha ou no espeto. Salada para compensar.
Cerveja, vinho, refrigerante, água mineral.
A seu gosto.

sábado, 30 de agosto de 2008

Gorki Águila - O Perigoso Social





O cantor Gorki Águila, 39, da banda de punk-rock cubana Pornô para Ricardo, foi absolvido ontem da acusação de "periculosidade social pré-delitiva" e acabou multado por "desordem pública". Preso na segunda-feira, ele poderia ter sido condenado a quatro anos de prisão, mas saiu do tribunal após pagar 600 pesos cubanos (US$ 28) por tocar em alto volume durante um ensaio, segundo relatou seu pai. As músicas da banda criticam o governo, inclusive Fidel e Raúl Castro. Os CDs do grupo são proibidos na ilha, mas circulam clandestinamente. "Estou orgulhoso das pessoas que me apoiaram, e sinto ainda mais ódio desta tirania", disse Gorki.

Mais Citações



Uma amiga está lendo a interessante coletânea feita pelo Eduardo Giannetti, o Livro das Citações. Acima duas fotos de Baudelaire (1821/1867), a primeira foi tirada entre 1855/58 e a segunda em 1863.

Eis algumas:


" Só o bruto trepa bem: a trepada é o lirismo do povo." (Baudelaire)"


" A minha terra dá banana e aipim, meu trabalho é achar quem descasque por mim." (Noel Rosa e Kid Pepe)


"A felicidade é a satisfação ulterior de um desejo pré-histórico. Eis por que a riqueza proporciona tão pouca felicidade: o dinheiro não é um desejo infantil." (Freud)



" Tecnologia é a resposta, mas qual era a questão?" (Cedric Price)



" A solidão humana aumentará em proporção direta ao avanço nas formas de comunicação." (Werner Herzog)



" O melhor dos bens é o que não se possui." (Machado de Assis)

Lula, Liga para o Obama!!!


Obama e os Clintons em recente evento.


Eu assisti na noite de quinta-feira todo o discurso de Barack Obama em Denver. Concordo com o Financial Time, a parte mais importante foi a que ele disse que pretende fazer dos EUA um país que não dependa do petróleo do Oriente Médio. E deu um prazo: dez anos.

Hoje o Clovis Rossi falou sobre o assunto, ele quer que o Lula ligue para o Obama.

Diz o jornal britânico "Financial Times" que a proposta talvez mais ambiciosa de Barack Obama para a economia, em seu discurso de aceitação da candidatura, foi a de "desmamar" os Estados Unidos do petróleo externo em dez anos e investir algo em torno de US$ 150 bilhões em programas de energia alternativa.Eu, se fosse Lula, ligaria para Barack e diria: "companheiro, juntemos a fome com a vontade de comer e seus problemas acabarão". Explico:
1 - Lula tem verdadeira obsessão, de resto assumida, com o uso do etanol (desde que derivado da cana-de-açúcar, que fique claro) como fonte do que chama de revolução energética global.
2 - Funcionaria assim: o Brasil entra com a tecnologia, a melhor até agora disponível nesse campo, e os Estados Unidos com o dinheiro para que países pobres do Caribe, América Central e África possam se tornar exportadores de álcool, derivado da cana-de-açúcar ou outro plantio que não interfira com a alimentação humana.Esse, aliás, é o espírito do memorando de entendimento assinado entre Lula e Bush em 2007, mas que não saiu do papel até agora.
3 - O telefonema urgente é importante, porque Barack Obama tem ou teve conhecidos vínculos com o lobby do etanol derivado do milho, especialidade norte-americana, que, no entanto, é cara demais e, ela sim, tira milho da boca das criancinhas (e dos adultos). É bom, desde já, deixar claro ao candidato que há uma alternativa melhor.
4 - É razoável supor que um programa desse gênero permitiria aos Estados Unidos reduzir sua dependência energética de fontes que não são confiáveis (aos olhos norte-americanos).
5 - Bem combinadas e estudadas as coisas, Lula deixaria de ser "o chato do etanol", como ele próprio se classificou faz pouco, para ser co-autor, aí sim, de uma revolução energética.

Nosso Futuro Grampeado


Paulo Lacerda, diretor da Abin, está no epicentro do escândalo. Além de coordenar secretamente uma operação policial que nem o diretor da PF, Luiz Fernando Corrêa (à dir.), conhecia, a agência que ele dirige grampeou ilegalmente os telefones do presidente do Supremo Tribunal Federal, de ministros do governo Lula e de parlamentares

O Brasil está se transformando na República dos grampos. Não sei se é fofoca, mas o que se espalha por ai é que está todo mundo grampeado. A Veja dessa semana disse que a ABIN, o novo SNI, grampeou Gilmar Mendes, presidente do STF. A grande prova de nossos dias é o grampo telefônico. Mas para grampear é necessário autorização judicial e parece que isso não está sendo observado. Estão utilizando o grampo a torto que é direito.





É mais ou menos as histórias contadas pela ficção científica das décadas de 60 e 70. O Estado todo-poderoso fiscalizando, grampeando, monitorando a individualidade dos viventes. Obras como Big Brother e filme com THX 1138 não são mais obras de ficção científica. Aquele contexto faz parte de um futuro que já é presente.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

13% do território nacional nas mãos de 0,41% dos brasileiros


Pesquei do Blog do Reinaldo Azevedo. A gravura acima é de Portinari, o descobrimento do Brasil.



As reservas indígenas já somam 13% do território brasileiro (1.105.000 km²), onde, SUPOSTAMENTE, VIVEM 750 mil índios, 0,41% da população do país. Mas até isso é falso, porque tais números incluem os índios que já vivem nas cidades.Pois bem, vá lá... Mesmo com essa área gigantesca, correspondente a duas Franças, eles conseguiram a sua autonomia. Mesmo não vivendo mais da caça, da pesca, da agricultura primitiva, conseguem autonomia econômica? Não! Na maioria dos casos, tornaram-se Funai-dependentes. Temos 750 mil pessoas monopolizando 13% do território nacional, mas dependentes da caridade oficial. E que se note: a exploração econômica legal dessas regiões é proibida. Aquela terra sem pecados e sem competição, de que falou Ayres Britto, é má poesia indianista. Nem Gonçalves Dias caiu nesse conto. As reservas, na forma como estão hoje, não passam de um deliro de antropólogos que ainda sonham com o bom selvagem e que têm uma concepção de “povo indígena” um tanto zoológica — como se eles devessem ficar presos na jaula do preservacionismo.E eles não ficam. Nesses 13% do território brasileiro sob o domínio de reservas, a exploração ilegal de madeira e do garimpo corre solta, com índios metidos com o crime organizado. Pesquisem o caso dos cintas-largas: alguns deles são nada menos do que bandidos.Essa gente acredita que pode conter o progresso e a civilização de mercado com decisões cartoriais. É parte da loucura metódica do Brasil.

Os índios e a competição



O ministro Ayres Britto me perdoe, mas a história de que “os índios não competem entre si”, como disse em seu voto, é de amargar. É daquelas afirmações que ficariam bem, sei lá, em Cândido, de Voltaire — a título de ironia, como quase tudo o que era pensado pelo narigudo... Não só há a “competição” entre os fortes, como há a mais agressiva manifestação dela: a guerra entre nações.Os índios não-aculturados não têm é a “competição capitalista” — talvez o ministro tenha se referido a ela. Mas é esse o caso dos índios de Raposa Serra do Sol? Os grandes pecuaristas da região — índios — assim se fizeram na base da propriedade comunitária? Como Ayres Britto explica que haja índios empregados de índios na reserva?Dado o seu texto, parece que a maldita “competição” foi introduzida pelos arrozeiros. E isso é falso. Se os índios contrários à demarcação contínua, uma minoria, são influenciados por “brancos”, pelo fator exógeno, os favoráveis são parceiros do Conselho Indigenista Missionário e da Fundação Ford — que entende de competição...

Dez Anos Longe do Giz da Escola, Mas é Presidente do CPERS


Leio na Zero Hora de hoje matéria sobre a futura presidente do CPERS (Sindicato dos professores das escolas públicas do RS). Seu nome é Rejane de Oliveira, 44 anos, solteira e sem filhos e ela toma posse amanhã. Até ai tudo bem.


Mas ela se dedica integralmente a vida sindical e, por esses motivos, está há dez anos longe do giz da escola. É isso ai, vivente, faz dez anos que a presidente do CPERS não dá aula... Dez anos! E dez anos é um tempão.

A matéria diz que ela é terna, mas é radical. Temos aí outro problema.
Já fez greve de fome e se acorrentou para ser ouvida.

E quer ser uma pedra no salto alto da nossa governadora.
Vamos ver!

A Vida Sem Ideologia - E as Eleições Também



Interessante. Estão culpando os culpados de sempre (PIG, mídia, publicidade, neoliberalismo, capitalismo, EUA, Bush, Yeda etc.) pelo fim do 'bom e acirrado' debate político ideológico que alimenta o antagonismo social. É mesmo muito difícil olhar para o umbigo e admitir as próprias culpas. A verdade verdadeira é que o debate ideológico foi para o espaço, não alimenta mais os corações e as mentes dos viventes, preocupados em se colocar e se encaixar no mercado de trabalho e da prestação de serviços. O Brasil está se transformando numa Europa, onde o discurso e a luta ideológica é recordação de um passado trágico. As eleições na Europa, salvo algumas poucas exceções, são exatamente como a do Brasil deste ano: ruas limpas, pouco alarde e no final das contas, as pessoas que querem votar (voto facultativo já) depositam seus votos nas urnas encantadas. A ideologia foi embora e as viúvas choram clamando pela sua ressureição. E no final das contas, no resumo da ópera, a Luciana, a Manu, a Rosário e o Fogaça levaram todos 100 mil da Gerdau...(financiamento público de campanha já).


Abaixo post do diario gauche reclamando da vida sem ideologia:



A derrota dupla e definitiva de alguns e algumas
No afã de justificar e manter a hegemonia na sociedade capitalista, os seus intelectuais e porta-vozes – no Brasil, identificados majoritariamente no PIG – tratam de se apropriar de palavras que traduzam e representem a realidade que nos cerca.
Resumindo: a nossa linguagem cotidiana está crivada de expressões e pequenas idéias que amarram os indivíduos à vasta rede mundial de dominação econômica e cultural dos setores hegemônicos (hoje, comandados pelo capital financeiro).
A inocente linguagem das ruas (a tagarelice), da publicidade (ratificadora de preconceitos e estereótipos), dos jornais, das televisões, das rádios, das escolas, dos bares e áreas públicas expressam essa quase inexorabilidade de nossos dias. Mas existem anteparos e resistências a esse fenômeno neocolonizador das sociedades de massa, que agem como as pedras côncavas e convexas de um rio turbulento e rápido: são as expressões artísticas autênticas, o cinema, as artes plásticas, a literatura crítica e o pensamento e a práxis políticas que não aceitam a ditadura do pensamento único e nem a passividade dos fatalistas.
Toda essa introdução (algo cabeça) para voltar a falar da pobreza constrangedora da nossa presente campanha eleitoral 2008. Como o debate de natureza política está (tacitamente) vedado – parece que houve um pacto de mediocridade entre os concorrentes para lograr tamanho êxito – a disputa fica no campo da aparência visual e de quem faz a melhor apropriação do linguajar senso comum (vale dizer, a linguagem consentida e incentivada para expressar a hegemonia que falamos acima).
Assim, o candidato (a candidata) – agora destituído de fibra política, pasteurizado e higienizado – trata apenas de passar uma imagem contrária àquela que sempre o identificou. Se o candidato tem o cabelo crespo, trata logo de alisá-lo. Se tem uma imagem combativa, trata agora de passar uma idéia angelical e plácida. E por aí vai. Mas é no discurso que se operam as maiores inversões. Vêem-se alguns que adotam por inteiro os cacoetes mais correntes, aquilo que Bordieu chama de “automatismos do bom senso”.
No eclipse da política, aparecem as intenções de neutralidade astuciosa. O mesmo sujeito que secretamente representa o interesse do capital imobiliário, candidamente surge afirmando bandeiras ambientalistas e preservacionistas. Os principistas e ortodoxos de ocasião desfilam – como no carnaval – com os seus contrários, sob máscaras de cores e simbologias diversas do original.
Onde a falsificação é uma regra, a simplificação é um dever. A retórica adquire moto próprio, se automatiza na lógica do vazio e do engano. O discurso eleitoral agora é quase uma secreção involuntária das glândulas, sai como que para cumprir o objetivo de naturalização da ordem e de normalização das diferenças.
O intrigante de tudo isto, entretanto, o que causa interrogação sincera é o seguinte: que fenômeno é esse que consegue tornar tão uniforme propostas de origem tão diversa? Me explico: candidatos (candidatas) sem a mínima chance de vitória eleitoral, ainda assim, renunciam a uma possível vitória política, no sentido mesmo de promover as suas organizações partidárias, com desempenho de denúncias, críticas, apontando contradições gritantes, etc. Ou seja, para além da derrota eleitoral que sofrem, ainda carregam a humilhação de terem renunciado àquilo que em outros tempos se chamava agitprop – agitação e propaganda.
Essa derrota dupla, mais que humilhante, é definitiva.

Dia do Índio no STF


Artigo de Marcelo Leite na Folha de hoje.


Ontem foi dia do Índio no Supremo Tribunal Federal (STF). Nada impede que mais à frente o julgamento da demarcação da Terra Indígena Raposa/Serra do Sol (TIRSS) acabe num Dia do Arrozeiro, mas tal desfecho parece agora menos provável.O voto do relator Carlos Ayres Britto veio com ímpeto demolidor. Britto não se limitou a declarar a improcedência da ação popular. Tratorou, um por um, os débeis argumentos alinhavados na ação movida no interesse de meia dúzia de fazendeiros de arroz.Para o relator, não faz sentido falar em subtração de áreas a uma unidade da Federação, pois os índios já estavam lá antes da criação do Estado de Roraima. Seu direito à terra é originário, reza a Constituição. Os rizicultores só multiplicaram plantações depois de 1992, mas o processo de demarcação começou em 1977. Os índios foram enxotados e escorraçados, no que descreveu como "espremedura topográfica".Terras indígenas não são territórios, deixa claro a Constituição. Ela é que garante seu usufruto pelos índios brasileiros, que não precisam de uma Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas. Demarcação e homologação são meros atos declaratórios, reconhecimento de um direito preexistente.O laudo antropológico que atesta a ocupação contínua e pacífica pelas cinco etnias não merece ser qualificado como fraude ou generalidade. Toda a metodologia prescrita na legislação foi seguida. O contraditório e o direito de defesa foram amplamente exercidos.Índios não atrapalham o desenvolvimento. Não impedem a defesa de fronteiras -ao contrário. E por aí foi...O ponto alto do relatório, porém, foi o reiterado elogio à generosidade da Constituição de 1988 com os índios. Britto afirmou que ela se encontra na vanguarda mundial por "não antagonizar colonização e indigenato" e pautar-se por um espírito fraternal e solidário, contra o "ignominioso preconceito" antiindígena.Encarando de frente aqueles que vêem nos índios um sinônimo de atraso, disse que a Constituição nos redime perante nós mesmos de uma insensatez histórica, só comparável à escravidão. Disse mais: que nos índios está o primeiro elo da identidade nacional. E que o "doravante" de Roraima não apaga o seu "desde sempre".Era tudo que os "civilizados com aspas" não queriam ouvir. Carlos Alberto Menezes Direito pediu vistas. O Dia do Arrozeiro fica adiado, e pode talvez nunca chegar.

Pixaram o Grafite





Pois ontem pixaram a inscrição 'politicamente correta' Pra que(m) serve o teu conhecimento?' que uma grafiteira pintou no campus da UFRGS em Porto Alegre e que a Secretaria de Assuntos Estudantis (SAE) da universidade entendeu que aquilo era uma demonstração de crítica filosófica e não constitui vandalismo.

A administração da UFRGS colocou o caldo na fervura e o caldeirão explodiu.

Ontem, dois alunos cobriram a inscrição.

Leio na ZH de hoje:

O estudante de Letras Hermano Talamine, 23 anos, assumiu o ato de ontem com o colega de curso Augusto da Rosa, 22 anos.– Resolvi pintar porque a lei (que tipifica pichação e grafite não-autorizados como crime no país) não está sendo cumprida. A iniciativa foi minha. Estamos a favor da lei e da democracia – disse Talamine.
Em tom salmão, a tinta cobriu parcialmente a inscrição em cerca de 10 minutos. Durante o ato, os jovens, que disseram não integrar o movimento estudantil nem partidos políticos, começaram a ser interpelados por estudantes contrários à cobertura do grafite. Segundo testemunhas, houve forte bate-boca e confusão por mais de 30 minutos, mas não a ponto de se agredirem fisicamente.Seguranças da universidade foram chamados e acalmaram os ânimos. Foram anotados os dados pessoais dos dois estudantes. À noite, o Diretório Central dos Estudantes (DCE), os diretórios e centros acadêmicos da UFRGS emitiram nota de repúdio ao ato dos dois estudantes.– Não é um simples ato de um aluno contra uma obra de arte, mas é a manifestação de um grupo de estudantes conservadores que não toleram o questionamento do papel da universidade – avaliou o coordenador-geral do DCE, Rodolfo Mohr.Ato de ontem foi repudiado por autoridades da UFRGSPosição de repúdio também teve o secretário de Assuntos Estudantis, Angelo Ronaldo Pereira da Silva, que classificou o ato como “desnecessário”. Para ele, há assuntos mais importantes para serem motivos de discussão que a pintura de uma parede.O autor do processo administrativo, Anderson Gonçalves, não se mostrou surpreso com a cobertura da inscrição. Para ele, foi uma resposta ao precedente aberto pela universidade quando não repreendeu os responsáveis.O diretor do Instituto de Letras, Arcanjo Pedro Briggmann, que havia criticado o arquivamento do processo que isentou de punição os autores do grafite, também criticou a pintura mais recente:– Eu repudio igualmente porque acho tão irregular quanto a primeira. Estão pintando um prédio público sem autorização. Vou pedir ao reitor uma verba especial para repintar a parede, mas é certo que em três dias vão pintar de novo.Responsável pelo grafite que deu origem à mais nova polêmica na UFRGS, a estudante de Ciências Sociais Juliane da Costa Furno, 19 anos, não foi localizada por Zero Hora.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

O Direito Pediu Vistas






E o Ministro Direito pediu vistas dos autos. O caso Raposa Terra do Sol fica, assim, em repouso. Assisti a praticamente todo o julgamento. Ayres Britto levou zilhões de horas para fazer o voto que poderia ter sido proclamado em 30 minutos. Mas ele quis mostrar erudição, falou de Tiradentes, Tom Jobim, Salazar etc... Disse que os índios vão defender a soberania do Brasil etc. etc. etc. E votou pela improcedência da ação. Mandou reintegrar a terra aos índios e os fazendeiros vão ter que encontrar outras paradas. Mas Direito pediu vistas. O caso prossegue.

O Voto de Ayres



Enquanto o Ministro Ayres dá seu voto, os índios escutam.

Carlos Ayres Brito é o relator do processo Raposa Serra do Sol. Ele está proferindo seu longo, poético e prolixo voto exatamente agora. Ele fala, fala, fala e não termina de falar. Ele fala tanto que no meio de sua fala está havendo um intervalo. Ele faz lembrar o Zweig que escreveu o Brasil é um país do futuro e matou sua esposa e se matou meses depois. O voto é ufanista: temos que construir no Brasil uma sociedade justa, humanista e solidária. Eu também defendo isso, quem não defende? . Os índios são os eternos tadinhos. O excelentíssimo ministro disse que os índios brasileiros defendem a soberania nacional. Deve ter lido isso nos livros do José de Alencar. Eu não tenho nada contra os índios. Tento não ter nenhum preconceito em relação a eles. Acho apenas que a vida indígena é uma cultura completamente diferente da nossa. E há ai um paradoxo incontornável. Como resolver, então, a questão indígena se o contato do índio com a civilização sempre foi danoso para o índio? Vamos isolá-los nas reservas indígenas, como essa Raposa Serra do Sol? Mas isso tudo é complicado, porque não são apenas os índios que ocupam tais reservas. Existem ONG´s de tudo que é gosto. Uma amiga que visitou tribos indígenas na Amazônia me falou que muitos deles não sabiam falar português, mas estavam tendo aulas, com as ONG´s da vida, de inglês. Existem sim índios sabichões. Infelizmente e parece que esse aspecto fundamental não está sendo relevado pelo ministro. Pelo andar da carruagem o voto do Ministro vai ser a favor da demarcação e julgar improcedente a ação popular. Talvez. Não vou arriscar. Mas apostaria um bom malbec que o relator vai pela improcedência da demanda.

Pra Que(M) Serve o Teu Conhecimento?



A ditadura do politicamente correto definitivamente tomou conta do campus da UFRGS.

Num dos prédios da Universidade uma estudante fez o grafite acima, com a frase: Pra que(m) serve o teu conhecimento?

Muito lindo e bacana, o estudante, por conta própria, toma conta de uma parede universitária e faz um grafite e -- por incrível que pareça -- a UFRGS liberou o grafite sob o argumento de que “antes de ser vandalismo, é um ato de extremo instigamento ao pensamento crítico, eivado de indagação filosófica que não desmerece o patrimônio” – seria um grafite, e não uma pichação", conforme matéria da ZH de hoje.

Então, a permanecer essa lógica caduca, o estudante neoliberal poderia muito bem fazer um grafite em uma parede da UFRGS dizendo: "O neoliberalismo é lindooooo" ou o "Teu Conhecimento é bom para ti mesmo."

Sobre a frase em si: Pra que(m) serve o teu conhecimento? Ela induz a uma certa reflexão de que os estudantes estudam para servir a alguém, como se o estudo fosse algo alienante, como se o conhecimento adquirido pelo estudo virasse, necessariamente, uma mercadoria. E o burocrata da UFRGS - hipnotizado por essa reflexão genérica, diz que existe ali naquela frase uma mensagem interessante, absolutamente crítica e que isso, por essas razões, não pode ser considerado vandalismo.

O que irrita da ditadura do pensamento correto é a mediocridade de sua linha de argumentação.

Isso é muiiiiito irritante.

As Reformas de Hugo Morales da Silva - Elio Gaspari

O comissariado petista quer avançar no dinheiro e nos direitos políticos dos trabalhadores
Sim senhoras e senhores, temos que estar vigilantes, eternamente vigilantes.


Artigo de Elio Gaspari na Folha de hoje.


As reformas de Hugo Morales da Silva
Estão a caminho do Congresso dois projetos do comissariado petista que desfigurarão o sistema político brasileiro, fortalecendo burocracias sindicais e partidárias, à custa do voto e do bolso dos cidadãos.

O primeiro é a substituição do imposto sindical por um negócio chamado de "contribuição sindical". O segundo é o reaparecimento da proposta do voto em lista fechada para a Câmara dos Deputados. Caso essas mudanças aconteçam, o comissariado petista (com a ajuda de alguns grão-tucanos, no caso do voto de lista) terá imposto mudanças dignas da jurisprudência dos companheiros Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa, com suas filosofagens sobre novas cla$$e$ dirigentes.

Atualmente cada trabalhador do mercado formal entrega pelo menos um dia de seu suor à maquina sindical. Algo como 0,26% de sua renda anual. Em 2007, isso significou um monte de R$ 1,3 bilhão, noves fora os penduricalhos que os sindicatos cobram. A CUT de Nosso Guia ficou com R$ 55 milhões e a Força Sindical do inigualável Paulinho terá R$ 15 milhões.Com a mudança, a tunga crescerá. A CUT já disse que aceita um teto de 1%. Aquilo que a ditadura protofascista de Getúlio Vargas fixou em um dia de trabalho para financiar a atividade de sindicatos apelegados virará algo entre três e quatro dias de trabalho. A mordida, aprovada em assembléias, irá direto ao contracheque, sem levar em conta se o trabalhador filiou-se ao sindicato ou nem sequer sabe onde fica sua sede.Esse ervanário público equipará financeiramente as centrais como fontes de manipulação política. (Por exemplo: no ano passado, meia dúzia de sindicalistas pararam o metrô de São Paulo em nome de uma arcana discussão tributária.) Caberá ao Congresso decidir o tamanho e a forma da mordida. Pode-se decidir que qualquer coisa além dos 0,26% do imposto sindical deva ser cobrada só a quem queira pagar. Se o povo pode eleger seu presidente, deve ter também o direito de escolher, individualmente, o tamanho de sua contribuição ao sindicato.A segunda reforma destinada a degenerar o sistema político brasileiro é a reapresentação da proposta do voto de lista para as eleições à Câmara dos Deputados. Hoje o cidadão pode votar numa pessoa (Delfim Netto, em São Paulo, por exemplo), mas, como a votação dele ficou abaixo do quociente de seu partido, os votos dados a Delfim acabaram na conta de outro deputado, que ficou mais bem colocado (Michel Temer, no caso). Pode-se dizer que o eleitor de um acabou elegendo outro, mas é indiscutível que quem quis votar em Delfim, em Delfim votou, mesmo não conseguindo elegê-lo.O voto de lista acaba com essa trabalheira. O partido enumera os seus candidatos, de acordo com a preferência da máquina, a choldra vota no partido e as cadeiras são preenchidas na ordem decrescente da lista.Juntando-se as duas reformas numa só, consegue-se o seguinte: Hugo Morales da Silva é sindicalista numa categoria com 5.000 trabalhadores, dos quais só 1.000 são sindicalizados. Numa eleição a que compareceram 500 colegas, ele se tornou presidente da guilda, com 300 votos. No congresso da central a que seu sindicato está filiado, ele foi indicado para a tesouraria do conglomerado. Cortejado por um partido, Hugo foi para o terceiro lugar na lista de candidatos a deputado. Veio a eleição e ele faturou o mandato, com 300 votos.

Angeli



A propósito, você lembra em quem votou para vereador nas últimas eleições municipais?

Começou o Julgamento


Começou hoje, às 10 horas o julgamento no STF do caso da reserva indígena Raposa Serra do Sol. Esse blogueiro está assistindo. Cinco etnias indígenas ocupam essa área e o Ministério da Justiça fez a demarcação e homologação da área de extensão de 1,74 milhão de hectares, no sentido de que ela é continua. O Estado de Roraima e os plantadores de arroz que ocupam parte da região não concordam. Vamos aguardar o resultado.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Frases Notáveis

Foto do biólogo inglês, mais conhecido como o Bulldog de Darwin, Thomas Henry Huxley, que disse: "Que imensa estupidez não ter pensado nisso antes."


Eis abaixo, algumas frases notáveis de certas personalidades
Todas elas bem pescadas do "livro das citações" de Eduardo Giannetti.




" A verdade sai do poço, sem indagar quem se acha à borda." Machado de Assis


"Nada é verdadeiro na psicanálise, exceto os exageros." Theodor Adorno


" Uma pessoa comum maravilha-se com coisas incomuns; um sábio maravilha-se com o corriqueiro." Confúncio


" Um jornalista é um homem que sabe explicar aos outros o que ele próprio não entende." Otto Maria Carpeaux


" Por que é que, para ser feliz, é preciso não sabê-lo? " Fernando Pessoa


" A felicidade existe apenas na imaginação." Mozart


" Por mais raro que possa ser o amor, ainda mais rara é a verdadeira amizade." La Rochefoucauld


" Melhor morrer de vodca do que de tédio!" Maiakovski


" Toda gente vive apressada, e sai-se no momento em que devia se chegar." Proust


" A mentira mais freqüente é aquela que se conta para si mesmo; mentir para os outros é relativamente a exceção." Nietzsche


" Que imensa estupidez não ter pensado nisso antes!" T.H. Huxley

Cultura é um Grande Luxo

O filósofo francês Gilles Lipovetsky aproveita sua passagem por São Paulo, na semana passada, para conhecer o novo centro de consumo do luxo na cidade

Copio e colo a coluna da Monica Bergamo sobre a estadia do filósofo francês Gilles Lipovetsky, o teórico da hipermodernidade, em São Paulo.


Na última vez que o filósofo francês Gilles Lipovetsky esteve no Brasil, em 2005, a Daslu havia acabado de abrir sua megaloja na Vila Olímpia. De lá para cá, ele teve poucas notícias sobre o mercado de luxo no país. Na semana passada, de volta a São Paulo para participar do seminário Com: Atitude, o autor de "O Império do Efêmero", "O Luxo Eterno" (ambos da Companhia das Letras) e "Os Tempos Hipermodernos" (Barcarolla) se surpreendeu ao saber que a cidade já contava com um novo centro de compras com grifes como Hermès, Giorgio Armani, Chanel e Rolex.
A coluna acompanhou Lipovetsky em uma visita a um desses centros de compra, na marginal Pinheiros. Ele gosta das plantas do lugar. Uma idéia passa pela cabeça do filósofo. "Imagine poder comprar marcas de luxo na Amazônia. A floresta é o próprio luxo do Brasil." Um shopping de luxo no meio da Amazônia? "Não seria magnífico? Hoje, a natureza é um grande luxo. Mais que carro, que todos podem comprar igual em todo o mundo."

Ele deixa o jardim interno e começa a caminhar pelas lojas. Entre as marcas nacionais, reconhece a do estilista Carlos Miele. "Gosto muito da loja dele em Paris." Pela primeira vez, abandona o corredor e entra na butique. "Interessante ver como ele construiu a identidade da marca na sensualidade do espaço, cheio de curvas sinuosas. É como se estivéssemos entrando no corpo de uma mulher", afirma. "O luxo, hoje, precisa inventar. As marcas não podem simplesmente fazer produtos. Elas também precisam construir ambientes que criem a experiência da marca. Que integrem arquitetura, arte, design, comércio e natureza."

Prestes a lançar um livro sobre a cultura na era da globalização, o filósofo começa a discorrer sobre o assunto. "Cada vez mais, vemos o mundo dos negócios se apropriar da cultura. Mas quanto mais isso acontece, mais a cultura precisa ganhar um outro sentido", diz. "Este tipo de reflexão é necessária para que as pessoas não sejam como Paris Hilton. É horrível quando a pessoa se torna apenas um consumidor."
Lipovetsky visita a livraria do shopping. "A idéia de integrar cultura num templo do luxo comercial é muito boa, porque cultura é um grande luxo. Mas me pergunto se vai funcionar como negócio, porque as pessoas que vêm num shopping como esse gostam de marcas." Para ele, no futuro, a cultura deverá ultrapassar as barreiras físicas dos museus e livrarias, em cidades como São Paulo, para se integrar ao ambiente, "como já acontece em Paris". Uma das sugestões do filósofo é aproveitar espaços abertos para expor esculturas. Outra saída é a criação de edifícios que por si só sejam considerados arte, "como o museu Guggenhein de Bilbao, desenhado pelo arquiteto Frank Gehry".
Lipovetsky se anima a visitar o cinema, cujo ingresso para a sala com largas poltronas reclináveis de couro, carta de vinhos, cardápio de petiscos e pipoca com azeite trufado custa até R$ 46 -preço que ele considera razoável pelo que promete. Invade uma sessão do filme "Mamma Mia", com Meryl Streep, para testar o serviço. Sai em cinco minutos. "A cadeira é ótima, mas o filme..."

A Questão Racial Não Vai Decidir a Eleição Americana

A chapa democrata para a corrida presidencial americana: Barack Obama e Joe Biden

Esta corrida não é sobre a questão racial

Artigo de Matt Bai no New York Times, saiu na Folha de hoje.

Como muita coisa na campanha presidencial nos EUA, a busca de um vice por Barack Obama ocorreu à sombra da questão racial. Antes da decisão, uma série de pesquisas mostrou Obama e John MCain quase empatados, e muitos democratas e alguns jornalistas adotaram um mantra: os brancos de renda mais baixa resistem a Obama por ele ser negro."O ponto fraco para ele são os eleitores brancos, sobretudo os mais velhos", escreveu John Heilemann na "New York". "Será que não é um pouco possível que Obama seja contido pelo fato de ser, sabe como é, negro?"Todos os supostos favoritos a vice na chapa democrata, inclusive Joe Biden, o escolhido, eram vistos como alguém que faria a ponte entre Obama e o eleitor branco cético. O raciocínio dos líderes democratas era o de que Obama precisava de um companheiro que o validasse, um cara branco e pé-no-chão que atestasse, sobre o presidenciável: "Esse cara é tão americano quanto eu".Assim que o nome de Biden foi anunciado, os comentaristas não tardaram a dizer que ele não só agregava experiência em política externa como apelo a homens brancos de classe operária. O discurso em que Biden aceitou a posição não economizou alusões a suas raízes católicas e irlandesas na Pensilvânia nem aos "bombeiros, policiais, professores e operários com quem cresci".Sem dúvida, Biden, senador conhecido por não ser politicamente correto, causará forte impressão ao eleitorado branco operário. O problema é que há vários motivos para crer que a raça de Obama não seja o obstáculo intransponível à sua candidatura que muitos analistas parecem achar que é.A tese de que é a cor que impede o avanço de Obama depende de uma premissa simplista. Seus proponentes argumentam que o democrata deveria ter uma vantagem de dois dígitos a esta altura da campanha e que o fato de isso não estar acontecendo só pode ser explicado pelo racismo latente dos eleitores mais velhos.Afinal, o presidente republicano é profundamente impopular, e até o mais burro dos eleitores deveria ver que Obama é um candidato melhor que McCain.
Mas essas suposições não procedem. Embora seja possível que a raça de Obama lhe custe alguns eleitores, é também verdade que o eleitorado que votou nas duas últimas eleições se dividiu quase igualmente entre os dois partidos majoritários. Seria desafiar as leis da política afirmar que os republicanos moderados e os conservadores independentes deveriam rejeitar McCain (candidato que muitos deles preferiam em 2000) apenas porque não gostam de George W. Bush.Em segundo lugar, Obama enfrenta obstáculos genuínos mais salientes que sua cor. Sob qualquer critério, ele exibe experiência modesta em cargos eletivos e quase nenhuma em política externa. E representa não só um marco racial na vida norte-americana como um salto de geração. Há motivos legítimos para que alguns eleitores brancos mais velhos demorem a decidir votar nele.Seria ingênuo sugerir que a raça não afetará a eleição.Mas o risco para os democratas é que suas profecias sombrias de preconceito acabem sendo auto-realizáveis.Desde 2000, muitos progressistas têm exibido desprezo pelo eleitor branco menos escolarizado que vota "contra seus interesses econômicos". Mas o certo é que caricaturar uma dada fatia do eleitorado deve torná-la ainda menos inclinada a votar nos democratas. E essa conversa toda sobre racismo dificilmente ajudará.