Pois saibam, então, que o contrato de casamento -- e a vida é contrato -- está embutido no sistema de reprodução capitalista. Na verdade, as pessoas não deveriam se casar, deveriam se juntar e deixar de lado essa vida burguesa de festinha de natal, de levar as crianças ao cinema e passear de carro novo, etc.
O casamento, um inferno
"Por que se fazemos coisas iguais queremos obter resultados diferentes?"
Albert Einstein
Lembro-me de Fernando Peña quando propunha uma certa crítica ao casamento gay. Não que ele fosse contra a equidade e os direitos humanos.
Ele propunha que os homossexuais tivessem a possibilidade histórica de fazer outra coisa. Não lhe seduzia, ao genial radialista, copiar o típico modelo burguês de família, mas sim arriscar-se a pensar em algo novo. Os homossexuais não tinham por que pensar no ninhozinho de amor, nos filhos, nos carros ou natais em família. Haviam chegado até aqui com outros propósitos.
Aqueles que defendem o contrato matrimonial para todos, estão propondo um inferno onde se acredita um paraíso. Creio que algo disso aconteceu com certas feministas que só esboçavam uma visão de gênero, quando, na realidade, era preciso pôr em questão o modelo capitalista de produção. De produção econômica e de produção de subjetividade. A partir daí, querer se achar em igualdade de condições com um homem explorado foi praticamente um ato masoquista.
Agora que o império ordena o mundo, segundo suas próprias leis, ele deixa que nos ocupemos de certas coisas: da salvação das baleias, dos direitos das minorias, dos pobres da África, etcetera. Os direitos humanos, assim pensados, não são o fruto de triunfos obreiros, mas sim apenas um resto com o que nos conformamos.
Agora, senhoras e senhores, até podemos nos ocupar de que os gays possam se casar, herdar, adotar filhos, etcetera. Fazer tudo o que todos os heterossexuais fazem, isto é: cumprir com todas as leis que asseguram a reprodução do sistema capitalista.
Por outro lado, observamos que é a Igreja quem mais se queixa dessa novidade que não traz nada de novo. Entendo que a queixa não é pelos homossexuais em si, mas sim porque a Igreja perdeu campo nisso de ser o resguardo moral do Estado.
Se o Estado moderno já não se rege pelos mandamentos da Igreja, se supõe que há Outro que estabelece um limite em nossa ética diária. Como dizia Aristóteles, no caminho para a felicidade. Os que escolhem um parceiro do mesmo sexo para conviver agora gozarão de todos os benefícios que um heterossexual tem nessa sociedade capitalista burguesa; ou seja, poderão obter um atestado que confirma seu contrato econômico.
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