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sexta-feira, 30 de julho de 2010

Sobre Maconha



Ciência e fraude no debate da maconha


O artigo contra o uso medicinal da maconha de Ronaldo Laranjeira e Ana C. P. Marques ("Maconha, o dom de iludir", "Tendências/Debates", 22/7) contém inverdades que exigem um esclarecimento.
A fim de desqualificar a proposta de criação de uma agência brasileira para pesquisar e regulamentar os usos medicinais da maconha, os autores citam de modo capcioso o livro "Cannabis Policy: Beyond the Stalemate".
Exatamente ao contrário do que o artigo afirma, o livro provém de um relatório com recomendações claramente favoráveis à legalização regulamentada da maconha.
Conclui o livro: "A dimensão dos danos entre os usuários de maconha é modesta comparada com os danos causados por outras substâncias psicoativas, tanto legais quanto ilegais, a saber, álcool, tabaco, anfetaminas, cocaína e heroína (...) O padrão generalizado de consumo da maconha indica que muitas pessoas obtêm prazer e benefícios terapêuticos de seu uso (...)
O que é proibido não pode ser regulamentado. Há vantagens para governos que se deslocam em direção a um regime de disponibilidade sob controle rigoroso, utilizando mecanismos para regular um mercado legal, como a tributação, controles de disponibilidade, idade mínima legal para o uso e compra, rotulagem e limites de potência. Outra alternativa (...) é permitir apenas a produção em pequena escala para uso próprio" (http://www.beckleyfoundation.org/policy/cannabis-commission.html).



Qualquer substância pode ser usada ou abusada, dependendo da dose e do modo como é utilizada.
A política do Ministério da Saúde para usuários de drogas tem como estratégia a redução de danos, que não exige a abstinência como condição ou meta para o tratamento, e em alguns casos preconiza o uso de drogas mais leves para substituir as mais pesadas.
O uso da maconha é extremamente eficiente nessas situações. A maconha foi selecionada ao longo de milênios por suas propriedades terapêuticas, e seu uso medicinal avança nos EUA, Canadá e em outros países.
Dezenas de artigos científicos atestam a eficácia da maconha no tratamento de glaucoma, asma, dor crônica, ansiedade e dificuldades resultantes de quimioterapia, como náusea e perda de peso.
Em respeito aos grupos de excelência no Brasil que pesquisam aspectos terapêuticos da maconha, é preciso esclarecer que seu uso médico não está associado à queima da erva. Diretores da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead) afirmam frequentemente que maconha causa câncer. Entretanto, ao contrário do que diz a Abead, a maconha medicinal, nos países onde este uso é reconhecido, é inalada por meio de vaporizadores, e não fumada.
Isso elimina por completo os danos advindos da queima, sem reduzir o poder medicinal dos componentes da maconha, alguns comprovadamente anticarcinogênicos.
Causa, portanto, estranheza que psiquiatras venham a público negar o potencial terapêutico da maconha, medicamento fitoterápico de baixo custo e sem patente em poder de companhias farmacêuticas.
Num momento em que o fracasso doloroso da guerra às drogas é denunciado por ex-presidentes como Fernando Henrique Cardoso, em que a ciência compreende com profundidade os efeitos da maconha e em que se buscam alternativas inteligentes para tirá-la da esfera policial rumo à saúde pública, é inaceitável a falsificação de ideias praticada por Laranjeira e Marques.
O antídoto contra o obscurantismo pseudocientífico é mais informação, mais sabedoria e menos conflitos de interesses.

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Artigo de Sidarta Ribeiro - professor titular de neurociências da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte). João R. L. Menezes - professor adjunto da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e coordenador do simpósio sobre drogas da Reunião SBNeC (Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento) 2010 e Juliana Pimenta - psiquiatra da Secretaria de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro e Stevens K Rehen,professor adjunto da UFRJ.
Publicado na Folha de hoje.

5 comentários:

Fábio Mayer disse...

Bebida em excesso até refrigerante faz mal...todos sabemos.

Não sou contra uso medicinal da maconha, desde que restrito a tratamento médico clínico interno, ou seja, DENTRO de um hospital ou clínica, nunca na casa do indivíduo.

Mas esse debate vai longe... maconheiro é como socialista: sabe que está errado, o mundo inteiro dá provas diárias de que o que pensa tá errado, mas não se convence...

Carlos Eduardo da Maia disse...

Fábio a maconha, em alguns casos, pode controlar a depressão (em outros pode aumentar) de quem está doente. É uma droga psicológica e que não faz tanto mal assim ao indivíduo, se utilizado com cautela. Não gosto de ser "Maria vai com as outras", mas respeito e muito as decisões tomadas nos países socialmente desenvolvidos. Semana passada, Oakland na Califórina resolveu liberar a plantação de marijuana. O problema talvez não seja a maconha, mas o tráfico e todas as mazelas que o tráfico de drogas pode causar. A descriminalização restrita do uso da maconha é uma forma concreta de tirar força dos cartéis do tráfico de drogas que são responsáveis diretos pela nossa violência. Mas essa é uma questão extremamente polêmica e apesar de dizer tudo isso o que disse antes, não tenho, ainda, uma posição concreta sobre o assunto. Por isso publiquei este post.

Fábio Mayer disse...

Entendo.

Mas eu tenho posição. Aceito o uso adicional interno à estabelecimentos de saúde, e só.

Porque no dia em que for liberado para uso medicinal em casa, por exemplo, para tratar depressão, vai ter gente dizendo que é depressiva e inventando depressão e a maconha vai virar outra cerveja, porta de entrada para coisas bem mais pesadas, especiamente entre os jovens.

Fábio Mayer disse...

E bem dito: hoje em dia garotinho idiota começa bicando cerveja, daqui há pouco passa para bebida mais forte (tequila, por exemplo) daí não se constrange de experimenar maconha e dela, nem cocaina, nem crack, nem LSD... não se deve abrir portas para o vício.

Carlos Arruda disse...

Mais uma vez aquele que entregou o Brasil ao Neoliberalismo e à sanha privatista utilizou-se do espaço privilegiado que possui no PIG para tentar desconstruir o governo Lula e a candidatura Dilma. Como das outras vezes em que abriu sua boca de suvaco quem sairá beneficiada é a própria candidata petista. Serra tem arrepios quando FHC destila sua sabedoria de butiquim, pois sabe que vai despencar ainda mais rumo ao fundo do poço das enchentes de São Paulo. Vida longa a FHC. E que ele siga defendendo a maconha. Assim ninguém mais vai querer esta droga. E as outras drogas que ele defende.

http://alfabetizadospoliticos.blogspot.com/2010/02/fhc-volta-carga-oba-dilma-subira-mais.html