Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


segunda-feira, 5 de julho de 2010

E Honduras Continua Dividida - Para a Alegria dos Ridículos Tiranos


Honduras permanece sem solução


Um ano após o golpe em Honduras em que o então presidente Manuel Zelaya foi afastado pelo Exército sob a mira de armas, Honduras, como problema regional, permanece sem estar resolvido, para a insatisfação de todos.


Os acontecimentos que se seguiram ao golpe de 28 de junho de 2009 feriram, talvez de modo permanente, as normas e mecanismos internacionais de defesa da democracia; os abusos dos direitos humanos passaram por escalada no país, que, enquanto isso, segue excluído por muitos da comunidade regional (incluindo o Brasil).


O governo "de facto" que assumiu o lugar de Zelaya, liderado pelo presidente Roberto Micheletti, negou-se a renunciar, apesar de série de esforços para negociar acordo de conciliação que teria restaurado Zelaya ao poder de alguma forma restrita até a realização das eleições, já programadas anteriormente para 29 de novembro de 2009.


Micheletti encontrou apoio forte entre conservadores dos EUA, que argumentaram que a remoção tinha sido constitucional.


Pelo fato de as eleições terem sido promovidas sob a égide do governo "de facto", Argentina, Bolívia, Brasil, México, Nicarágua e Venezuela se recusam até agora a reconhecer o governo do presidente Porfírio Lobo.


Cada um dos lados acabou prejudicado, pelas seguintes razões. Para começar, pela primeira vez desde que adotou suas cláusulas de defesa democrática, a Organização dos Estados Americanos (OEA) deixou de desfazer um golpe de Estado.


Isso deveu-se em parte a suspeitas de que a OEA houvesse agido tendenciosamente ao deixar de se manifestar antes de 28 de junho, quando Zelaya parecia estar se encaminhando para um referendo anticonstitucional.


Mas também, nos meses seguintes, a OEA pareceu incapaz de tentar forçar mudança de rumo.


Essa imagem transmitiu a qualquer golpista em potencial a mensagem de que a OEA e suas ferramentas de defesa democrática não passam de um tigre de papel.


Em segundo lugar, os conservadores americanos gostariam de acreditar que, com o afastamento de Zelaya, tiveram uma vitória contra o chavismo. Na verdade, eles podem ter vencido a batalha, mas perderam a guerra.


A maior ameaça ao chavismo é um organismo regional efetivo que seja capaz de fazer aplicar as normas internacionais. Os abusos de direitos humanos e a polarização política que estão ocorrendo em Honduras hoje vêm apenas deixar claro que essas divisões continuam a existir, fortes. É nesse ambiente de repressão e frustração que o populismo cresce e se fortalece.


Em terceiro lugar, ao deixarem de reconhecer o governo do presidente Lobo, Argentina, Brasil e México estão apenas prejudicando os cidadãos hondurenhos. Não há dúvida de que a forma pela qual Lobo chegou ao poder é imperfeita. Mas é hora de seguir adiante.


A hipocrisia de um governo brasileiro que se dispõe a abraçar o governo iraniano, que executou centenas de manifestantes em uma eleição claramente fraudulenta, ao mesmo tempo em que rejeita um governo que, apesar de todas as falhas que precederam a eleição, chegou ao poder por uma eleição aberta e justa enfraquece a autoridade moral de um país que aspira a se tornar um líder mundial.


Em suma, o sofrimento de Honduras começou algumas semanas antes do 28 de junho, fruto de uma disputa entre elites que ganhou força e virou uma batalha ideológica campal, não apenas em Honduras mas também na região e nos EUA.


Ao longo dos últimos 12 meses, pessoas e países demais (da esquerda e da direita) vêm marcando pontos políticos e ideológicos baratos, sem se preocupar realmente com o futuro e o destino dos hondurenhos. Aproveitemos isso tudo como lição e comecemos o processo de superação -regionalmente e em Honduras.

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Artigo publicado na Folha de hoje de CHRISTOPHER SABATINI é editor-chefe da "Americas Quarterly" ( www.americasquarterly.org ) e diretor sênior de política do centro de estudos Americas Society/ Council of the Americas ( www.as-coa.org ).
Tradução de CLARA ALLAIN  


Meu pitaco: A divisão de uma sociedade interessa apenas aos ridículos tiranos. É certo que uma sociedade - qualquer sociedade -- é dinâmica e muitas vezes antagônica. Todavia, nenhum país conseguiu se desenvolver socialmente alimentando os antagonismos. O chavismo cresce exatamente com o  acirramento dessa divisão  e por isso certa esquerda -- que apoia Dilma -- aposta, estimula e alimenta antagonismos.

2 comentários:

guimas disse...

Eu não ia comentar, mas quando cheguei neste parágrafo, mudei de idéia:

"A hipocrisia de um governo brasileiro que se dispõe a abraçar o governo iraniano, que executou centenas de manifestantes em uma eleição claramente fraudulenta, ao mesmo tempo em que rejeita um governo que, apesar de todas as falhas que precederam a eleição, chegou ao poder por uma eleição aberta e justa enfraquece a autoridade moral de um país que aspira a se tornar um líder mundial."

A desonestidade intelectual ali é gigante. Primeiro, o governo brasileiro não tem nada a ver com as execuções dos manifestantes iraniano. Colocar isso na mesma frase é muito desonesto. Depois, chamar as eleições de Honduras de "aberta e justa" é, no mínimo, um exagero de boa-fé em um sistema que está pra lá de suspeito. Não há nenhuma instituição internacional que ateste que as eleições presidenciais em Honduras foram "abertas e justas", ao contrário da "ditadura" chavista na Venezuela.

Mas posso concordar com o seguinte:

"Ao longo dos últimos 12 meses, pessoas e países demais (da esquerda e da direita) vêm marcando pontos políticos e ideológicos baratos, sem se preocupar realmente com o futuro e o destino dos hondurenhos."

Pois é. Pontos ideológicos baratos que nem o do parágrafo que eu critiquei antes.

Vai ter coerência assim lá em Honduras!

Carlos Eduardo da Maia disse...

Guimas, as eleiçoes em si em Honduras não foram fechadas ou injustas. Teve uma participacao razoavel da sociedade e o apoio da imensa maioria dos paises da comunidade internacional. Em relacao as eleicoes na Venezuela chavistas, sempre foram abertas e o povo votou no caudilho populista, muito embora o voto nao seja obrigatorio por la. E Chavez foi beneficiado pelos erros estrategicos da oposicao. E estes erros estrategicos nao ocorrem apenas na Venezuela.