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Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt


quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Conversando Com Um Liberal Sobre a Crise Dos Nossos Dias




O Charlie, dono do Bunker, pediu para eu comentar um artigo do Frank Shostak do Mises Institut.
Esse artigo está aqui.
Não vou copiar e colar inteiro, porque ele é extenso.
Realmente é um bom artigo, Charlie!
Diz, em síntese o seguinte:

O problema do crédito: o que fazer para recuperar os mercados?

Apesar das ações concertadas dos governos e bancos centrais mundiais, as bolsas seguem caindo e a recessão mundial já bate à porta. Parece que apenas os seguidores da Escola Austríaca de economia não se surpreendem que tais atitudes não apenas são incapazes de impedir recessões, como, ao contrário, acabam por agravá-las.
(....)
No dia 7 de outubro, o presidente do Fed Ben Bernanke anunciou que o banco central americano estava pronto para intervir no mercado de títulos comerciais. O Fed agora passará a comprar títulos comerciais que foram emitidos por corporações e que estão com baixa liquidez - o que significa que o banco central americano agora fará empréstimos diretamente para corporações.
Parece que Bernanke está disposto a jogar trilhões de dólares no mercado para manter o sistema monetário vivo.
Bernanke é da visão de que uma das grandes causas da Grande Depressão dos anos 1930 foi a
omissão do banco central americano, que, segundo ele, não agiu rapidamente para reativar o então paralisado mercado de crédito. Por "ação rápida", Bernanke está se referindo a maciças injeções monetárias.
O presidente do Fed faz questão de nos relembrar continuamente que pelo menos ele aprendeu a lição da Grande Depressão e garantirá que o erro cometido pelo Fed não será repetido novamente.


Comentário meu: esse é um dado histórico interessante. Em 1929, o Estado americano não procedeu como está fazendo na presente crise: injetando dinheiro público para salvar os créditos.
Hoje estava falando com uma pessoa que aplica direto no mercado de ações e ele me disse que agora é o momento certo para quem tiver uma graninha extra aplicar neste mercado, porque as ações estão muito baixas. Efetivamente, elas estão menos que a metade, quase um terço do valor que havia antes da crise. Isso para uma economia como americana onde o povo investe e muito em ações é uma imensa catástrofe.
Continua o artigo, pulando algumas partes:

Os estrategistas econômicos dos bancos centrais gostam de dizer que o segredo para o crescimento econômico sustentável é um fluxo de crédito suave e estável. Para eles (e para Bernanke, em particular), é o crédito que fornece as bases para o crescimento econômico e eleva o padrão de vida dos indivíduos. Dessa perspectiva, faz muito sentido que os bancos centrais queiram que o crédito flua novamente.
Seguidores dos ensinamentos de Friedman e Keynes, é quase unanimidade entre eles que, quando os emprestadores estão relutantes a emprestar, é dever do governo e do banco central entrar em campo e manter ativo o fluxo de empréstimos.
(...)
Mas será que o aumento das injeções monetárias feitas pelos bancos centrais irá descongelar os mercados de crédito? Os experts acreditam que sim. Se a atual dose de injeção monetária não funcionar - como não está funcionando - então os bancos centrais devem continuar jorrando mais dinheiro até que os mercados de crédito voltem a se mexer - é nisso que eles acreditam.




Meu palpite: eis ai uma questão complicada. E se a crise continuar, persistir, se alargar no tempo e no espaço, devem os Bacens continuar a injetar dinheiro nos mercados de crédito? Ontem alguém numa dessas rádios que transmitem notícias disse: está todo mundo cansado no mercado de ações, o estresse é muito grande: quem sabe fechamos as bolsas por duas semanas? Todo mundo volta com cabeça mais tranquila e a crise se superar.....
Continua o artigo:


É verdade que o crédito é a chave para o crescimento econômico. Entretanto, deve-se fazer uma distinção entre crédito bom e crédito ruim. É o crédito bom que torna possível um real e sustentável crescimento econômico - e que, portanto, melhora de fato a vida das pessoas e seu bem-estar. O crédito falso, por sua vez, é um agente de destruição econômica e que leva ao empobrecimento.
(....)

Apesar da aparente complexidade que o sistema bancário introduz ao cenário, o crédito permanece sendo um ato de transferência de poupança real de um emprestador para um tomador de empréstimo. Se não houver um aumento no conjunto da poupança real, os bancos não poderão criar mais crédito. O crédito bom só poderá ser expandido pelo sistema bancário se houver uma concomitante expansão da poupança real.


(...)
Entretanto, o problema todo surge quando, ao invés de emprestar dinheiro totalmente lastreado, um banco começa a praticar reservas fracionárias: a emissão de dinheiro vazio, criado do nada, sem qualquer lastro.
Quando dinheiro é criado do nada, ele inicialmente se faz passar por dinheiro genuíno, dinheiro que supostamente está lastreado por alguma coisa real. Porém, na realidade, nada foi poupado. Portanto, quando esse dinheiro é emitido, ele não pode ajudar o sapateiro, uma vez que pedaços de papel vazio não podem ajudá-lo na produção de sapatos - o que ele de fato precisa é de pão. Porém, como o dinheiro impresso se faz passar por dinheiro legítimo, ele poderá sim ser utilizado para "roubar" o pão que iria para o sustento de outras atividades. E isso irá enfraquecer aquelas atividades.
Ou seja: quando você cria dinheiro do nada e utiliza esse dinheiro para obter algum bem, você está "roubando" esse bem daquela pessoa que de fato trabalhou e poupou para adquiri-lo. Logo, essa pessoa sairá enfraquecida.
É por isso que a criação de dinheiro não lastreado provoca um desvio da riqueza real.


Meu pitaco: Ai a questão é de controle e fiscalização do Estado sobre o mercado financeiro e de ações. Se o banco maquia seus ativos, seus balanços e isso passa e, no ano seguinte, ele continua a a proceder da mesma forma, até chegar a um ponto em que ele começa a se afundar, é questão de ausência total de fiscalização e controle dos organismos estatais para esse fim, como o Banco Central. A criação de dinheiro sem lastro, sem garantia, sem a contraparte é fraude.

(....)


Ao invés de facilitar a transferência de poupança para atividades geradoras de riqueza, quando os bancos emitem crédito não lastreado eles estão na verdade enfraquecendo o processo de formação de riqueza.
Em uma economia de genuíno livre mercado, onde ninguém imprime dinheiro e onde os indivíduos têm de produzir antes de consumir, nenhum distúrbio econômico pode acontecer. Para que distúrbios econômicos aconteçam, alguns indivíduos têm de conseguir dinheiro a troco de nada e em seguida trocar esse dinheiro por bens e serviços. Via de regra, isso ocorre quando a oferta monetária está se expandindo. Quando uma demanda que não é escorada pela produção aumenta, haverá um sobreaquecimento, que tomará a forma de aumento generalizado de preços.
Por causa dessa expansão monetária, várias atividades que antes não eram viáveis passarão a ser. Assim, várias bolhas surgirão nessa economia. E então, quando o banco central apertar sua postura monetária para impedir a elevação dos preços, essas atividades serão interrompidas. Observe que o que levou a essa postura contracionista do banco central foi justamente sua frouxa política monetária anterior.
Deve ser enfatizado que os bancos não podem perseguir implacavelmente uma política de empréstimos não lastreados se não houver um banco central dando sustento. O banco central, através de suas injeções monetárias, garante que a expansão de crédito fictício não faça com que os bancos quebrem uns aos outros.
Podemos assim concluir que, se o aumento dos empréstimos é totalmente lastreado por um aumento da poupança real, então essa é uma boa notícia, já que esse aumento promove a formação da riqueza real. Já o crédito falso, que é criado do nada, sem qualquer lastro, é uma má notícia: um crédito que não é lastreado por uma poupança real é um agente de destruição econômica.
As ações do banco central e do governo apenas pioram as coisas."



Na teoria eu concordo com esse ponto de vista. Realmente a atuação do Banco Central ao descarregar recursos para cobrir rombos do mercado é uma forma de capitalizar o crédito que não tem lastro. Ou seja estamos colocando dinheiro público bom em cima de dinheiro privado ruim. Isso é complicado. Mas, tal como aconteceu no Proer, nos temos do FHC, caso o Bacen não injetasse dinheiro para salvar ativos de bancos falidos exatamente porque seus créditos não tinham lastro, o que seria da economia brasileira? O certo é fazer com que os gestores desses créditos sem lastro sejam afastados da gestão e direção dessas instituições.



Nem o banco central e nem o governo são geradores de riqueza: eles não podem gerar poupança real. Isso significa que toda a injeção monetária que os governos vêm fazendo ultimamente não irá aumentar os empréstimos, a menos que o conjunto da poupança real esteja aumentando. Contrariamente, quanto mais dinheiro o Fed e os outros bancos centrais injetarem, mais eles estarão diluindo o conjunto da poupança real.
No entanto, a maioria dos comentaristas pensa que, dado o presente estado frágil do sistema financeiro, os bancos centrais e os governos devem intervir para impedir o colapso. Mas como os governos e os bancos centrais podem ajudar nesse aspecto? Como os bancos centrais e os governos podem gerar mais poupança real?
A única coisa que os governos e os bancos centrais podem fazer é tomar a poupança real de outras pessoas e distribuí-la para os bancos. Se o conjunto da poupança real ainda estiver se expandindo, isso pode "funcionar" - e os empréstimos poderão voltar a fluir - mas o conjunto da poupança real como um todo irá enfraquecer como resultado dessa transferência de poupança real do setor não bancário para o setor bancário. Se, contudo, o conjunto da poupança real estiver declinando, então não será possível aumentar o fluxo de empréstimos.
Por que não fazer nada é a melhor política para reativar a economia
Dada a crescente plausibilidade de que o conjunto da poupança real está com sérios problemas, será que isso significa que o fluxo de crédito irá permanecer congelado? A única coisa que pode ser feita para descongelar o fluxo é permitir que as taxas de juros flutuem livremente de modo a encontrarem seu nível correto.
No atual cenário de economia em declínio, os emprestadores apenas estarão dispostos a emprestar a taxas de juros que compensem o risco e que sinalizem corretamente que há uma menor poupança real disponível. A uma taxa de juros bem maior, a "crise financeira" e a escassez de crédito sumirão.
O problema então não está no mercado de crédito em si, mas no fato de que os bancos centrais estão injetando quantias maciças de dinheiro para forçar os juros a ficarem em níveis artificialmente baixos. Isso obviamente faz com que seja ainda menos atraente para os emprestadores entrar no mercado de crédito. Logo, a escassez (isto é, a contração do crédito) é o resultado da política dos bancos centrais de não permitirem que as taxas de juros subam para níveis que estejam de acordo com a realidade.
[*]
Por que então as autoridades estão resistindo às forças de mercado e estão permitindo que essa contração do crédito persista?
Porque se permitissem que as taxas de juros subissem naturalmente, muitas bolhas que ainda estão ativas deixariam de ser lucrativas e estourariam.
E os estrategistas políticos, bem como aqueles que têm posições influentes, acreditam que isso levaria a uma séria derrocada econômica; e que, portanto, tal coisa não deveria ser permitida. Criar dinheiro para manter bolhas ativas só faz empobrecer ainda mais os reais geradores de riqueza, além de atrasar as perspectivas de uma significativa recuperação econômica.



(....)



A melhor política para solucionar o problema é que o Fed e os outros bancos centrais comecem imediatamente a não fazer nada. Ao fazerem isso, eles irão permitir que os genuínos geradores de riqueza acumulem poupança real. A política de não fazer nada irá fazer desaparecer as várias atividades que pouco ou nada acrescentam ao conjunto da poupança real. Isso fará com que a geração de riqueza seja muito mais recompensadora.
À medida que o tempo for passando, a expansão do conjunto da poupança real irá levar a uma diminuição das taxas de juros. Isso por sua vez irá fornecer a base para uma subseqüente expansão de várias atividades geradoras de riqueza. Portanto, quanto mais cedo os bancos centrais - começando pelo Fed - pararem de interferir, mais cedo se dará a recuperação econômica.
Se por acaso o conjunto da poupança real ainda estiver crescendo, então fazer nada (e permitir que a taxa de juros reflita a realidade) irá fazer com que a recessão seja curta e que a recuperação econômica comece o mais rápido possível. (A uma taxa de juros mais alta, várias bolhas ainda ativas irão desaparecer. Como conseqüência, mais poupança real se tornará disponível para os geradores de riqueza. E isso fará diminuir as taxas de juros).
Sugerimos que temerárias políticas monetárias seguidas pelo Fed durante anos exauriram severamente o conjunto da poupança real. A continuidade ou o aprofundamento dessas mesmas políticas frouxas não poderá melhorar a atual situação. Ao contrário, tais políticas somente irão atrasar ainda mais a recuperação econômica.
Da mesma forma, as atuais políticas seguidas pelos governos e bancos centrais mundiais, ao empobrecerem os geradores de riqueza, correm o risco de transformar uma curta recessão em uma crise severa e prolongada.



Minha conclusão: Eu acho arriscadíssimo esse ponto de vista. Concordo que não é salutar, não é bom injetar dinheiro em bolhas artificiais de crédito. Isso pode sim gerar um aprofundamento e uma continuidade dessas bolhas. Mas a questão é mais complexa porque envolve ativos de zilhões de pessoas e famílias que podem, nesse curto espaço de tempo, perder todas suas poupanças, como ocorreu em 1929. E, como eu disse antes, os americanos têm tradição em aplicar na bolsa. Lá o investidor da Exxon ou da Chevron abastece nos postos de combustível de onde investe. Se o fulano aplica na Ford ele compra carros da Ford e por ai vai. Os ativos diminuiram muito nesses últimos dias. Mas como disse esse meu amigo que gosta de investir em ações. O prejuízo somente ocorre no momento da venda das ações. Quem vender agora terá prejuízo. Quem vender mais tarde, poderá ter lucro. Será????



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Frank Shostak é um scholar adjunto do Mises Institute e um colaborador freqüente do Mises.org. Ele é o economista-chefe da M.F. Global.
[*] Outro problema são as políticas de socorro a empresas, que fazem com que empresas insolventes continuem existindo lado a lado com as solventes sem que ninguém saiba qual é qual. E essa incerteza afeta a alocação do crédito. Ver mais detalhes aqui. [N. do T.]

2 comentários:

Anônimo disse...

Dos males, o menor. Com certeza que estourando as bolhas muitas pessoas perderiam. A lógica da coisa é que estas pessoas nunca deveriam ter chegado aonde chegaram. Pior do que deixar o mercado se ajustar de forma rápida e violenta é deixar prolongar a crise em função destas pessoas, pois nesse caso todo o resto da sociedade paga o pato; todos perdem de fato.

Imagino que a razão principal de não deixar o mercado se ajustar é o preço político que se pagará. Aquele que for responsável por friamente liquidar as esperanças de centenas de milhares, ou mesmo milhões de americanos pobres ou de classe média baixa vai enterrar a carreira política e entrar para os livros de História como arauto da miséria humana e símbolo do capitalismo selvático.

A tendência parece ser a de manter as bolhas a todo o custo, com a maior parte dos governos imprimindo dindim e estimulando empréstimos. Vamos ver o que vai acontecer. É um momento histórico bem interessante este que vivemos. A fé de muitas pessoas parece estar em jogo!

PoPa disse...

Um termo que ouvi muito, em minha juventude, era utilizado para classificar economistas: "engenheiros de obras prontas". Neste evento, em particular, tenho lido e ouvido muitas explicações para o que aconteceu, mas nada sobre o que ainda vai acontecer. Esta crise foi causada por especulação - de vários níveis. E está sendo alimentada por especulação, também. Onde tem quem perde alguma coisa, tem quem ganha alguma coisa. E muitos estão perdendo onde poucos estão ganhando. E estes poucos conseguem balançar suficientemente o mercado, para que possam ganhar ainda mais.

O "X" da questão é encontrar estes especuladores, ver como eles trabalham e tentar parar a sangria nestes locais. Fechar as bolsas por alguns dias ou, quem sabe, proibir grandes transações, poderia ser um começo, mas eu não entendo nada deste mercado, mesmo...