Diversidade, Liberdade e Inclusão Social

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sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Outros Virão


Quantos guris que se acham impopulares com as garotas não se terão identificado com Lindemberg Alves?

Artigo de Bárbara Gancia na Folha de hoje.



Na quarta , a aluna de um curso supletivo de Campinas foi presa, acusada de derrubar a pontapés a porta da sala de aula.O motivo de tamanha violência? A moça não se conformou em ter sido proibida de entrar em uma classe para a qual se apresentou com 20 minutos de atraso. Alunos que não aceitam a disciplina imposta e reagem fazendo uso de força não são novidade. A cada dia surge um caso novo. É o garoto que levou um revólver para a escola a fim de acertar contas com o mestre, é a turminha que pôs fogo no carro da diretora, é a menina que perdeu a compostura e estapeou a professora, é o pré-adolescente que sacou de um canivete no meio da classe... Tratar esse tipo de ocorrência como mera insubordinação ou achar que são casos isolados é ser conivente com o crime. A tragédia já foi anunciada faz tempo, e as providências não estão sendo tomadas. O caso do seqüestro em Santo André não tinha nem mesmo chegado ao seu triste fim e, na famigerada página do Orkut, na internet, uma comunidade chamada "Força Lindemberg, estamos com você!" já contava com 1.855 membros. Veja o que dizem algumas das mensagens postadas pelos internautas, na típica linguagem telegráfica usada na rede pela molecada: "Antes de mais nada, quero deixar claro q reprovo a atitude dele, porém kem nunca errou na vida?"; "Tá certo, concordo q ele tem q ficar uns meses preso... mas o cara é sangue bom, trabalhador, humilde, a mina deixou ele doido"; "Agora a culpa é toda do coitado"; "Ele tá mal pakas, temos q ajudar ele, apenas mais uma vítima dessa sociedade injusta"; "O coração dele é puro"; "Kem garante q naum foi a polícia q chegou atirando do nada?" Existem outras comunidades no Orkut igualmente depravadas, como a da turma dos admiradores de Suzane von Richthofen e a do pessoal que faz pouco das vítimas do acidente da TAM, em Congonhas. Mas será que esta comunidade em particular não é mais do que uma simples piada de mau gosto perpetrada por uma criançada que não tem coisa melhor a fazer? Será que a adesão entusiasmada de quase 2.000 pessoas em menos de uma semana que ela suscitou não deveria soar algum tipo de alarme sobre a corrosão de valores e a passividade diante da violência? Quantos guris que se acham impopulares com as garotas da escola não se terão identificado com Lindemberg Alves? Quantos cidadãos de bem não terão colocado a culpa pelos atos cometidos por um criminoso, ainda que sem antecedentes policiais, na sociedade ou no governo? Quanta gente hoje no Brasil não considera aceitável resolver suas diferenças na base da bala? Alguém por acaso pensou duas vezes antes de chamar de "crime passional" o que aconteceu em Santo André? Crime passional, que eu saiba, é aquele que acontece por impulso, sem nada da premeditação ou do sadismo usados por esse rapaz. Que, de resto, não passa de um machista clássico (onde foram parar as feministas, que até agora não colocaram a boca no trombone?) com sérios problemas de auto-estima e baixa tolerância à frustração. E uma arma de fogo, sempre ela, na mão.

4 comentários:

Anônimo disse...

Bom artigo.

Corro o risco de passar por conservador ou moralista, mas identifico esse problema disciplinar desde a minha geração, agravada na de agora. Não existem limites, os pais parecem não possuir qualquer tipo de autoridade. Nas escolas reina uma anarquia geral; quem manda na sala é o “bully boy”, de boné virado, bermudas largas e cueca aparecendo. Durante meu segundo grau, colegas fumavam maconha na sala de aula, no fundo, e a professora fazia de conta que não via por medo. Uma vez furaram todos os pneus do fusca dela. Na frente dela. O “tio da disciplina” só ameaçava com suspensão. Tive um colega "skatista" que as vezes levava um 38 pra aula.

Essa gurizada é intocável. O Estatuto garante isso. E eles sabem.

Anônimo disse...

Quando os mais antigos falam de como a coisa funcionava dentro de uma sala de aula, soa como fantasia. Um professor temido e respeitado? Nah, isso não existe.

Carlos Eduardo da Maia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carlos Eduardo da Maia disse...

Um dos problemas do Brfasil, charlie, é exatamente esse> a falta de limites. Por isso eu respeito um monte o Luc Ferry que traz uma nova visão sobre questões que eram tidas como conservadoras e repressoras como a família e seus valores. A família impõe limites e o Brasil precisa de limites e quem diz isso não é nenhum conservador. Muito pelo contrário. Nos tornamos reféns do dito pensamento politicamente correto que tem uma patrulha ideológica hiper super controladora.... Pelo menos, esses fatos fazem pensar, faz o Brasil refletir sobre seus problemas.