O francês Sylvére Lotringer e o paquistanês Tariq Modood em entrevista coletiva antes do Fronteiras do Pensamento hoje em Porto Alegre.
Cheguei do trabalho e coloquei o sapatênis. Hoje é segunda, dia de palestra. A tarde estava linda. Fui a pé. Passei pelo Bonfim e cheguei a Redenção. Porto Alegre, certas horas, tem cara de cidade bonita. É bom esse horário de verão, mas tem gente que não gosta. A Reitoria da UFRGS está toda pichada. Até lá em cima onde ninguém alcança está pichada. Como é que os pichadores chegam até lá?
Tariq Modood é paquistanês, mas mora na Inglaterra. Ele fala sobre o assunto favorito dos imigrantes, multiculturalismo. É dificil ser estrangeiro e ser respeitado como tal na Europa Central. É difícil em todo o lugar. Ele é muçulmano e não está de acordo com aquela medida adotada pelo governo francês que proibe véus e crucifixos nas escolas públicas. É um atentado à liberdade e é uma forma unilateral e ocidental de refletir sobre o assunto. Em outras palavras, as meninas do islã tem que ter a liberdade de usar véu nas escolas.
A segunda conferência é do marxista francês Sylvère Lotringer, que é editor da revista Semiotext(e). Dizem, dizem e dizem que foi ele que levou para os Estados Unidos as idéias dos malditos pensadores franceses pós maio de 68: Michel Foucalt, Gilles Deleuze, Félix Guattari, Jean Baudrillard e Paul Virillio. Lotringer começou sua palestra, como todo bom francês, destacando a importância de Maio de 68. O movimento que causou surpresa e, no fim, se diluiu. Porque no capitalismo -- que não é ideologia -- tudo se dilui, tudo se fragmenta, tudo se coisifica e os indivíduos se tornam "divíduos".
Lotringer, como todos os pensadores malditos franceses pós 68, detesta o capitalismo que deve ser superado. Mas como superá-lo?
Ora, bolas, navegando pela semiótica, pelo estruturalismo e pós-estruturalismo talvez possamos chegar a algum lugar. O capitalismo é um mundo de símbolos, de fetiches, de matrix que virou trilogia de Hollywood e foi inventada por Jean Baudrilhard, o pai do hiper estruturalismo. A crise atual dos papéis que não existem, que não valem ouro, que são meramente virtuais estão a demonstrar que vivemos mesmo num mundo hiper estrutural e que temos mesmo que buscar o sentido que está escondido nas senhas obscuras da matrix.
Moral da história, estamos todos dominados pelo fetiche do capitalismo.
Dez horas da noite e a palestra terminou. Voltei a pé. Cheguei em casa pelas onze. A cidade está cheia de pessoas que dormem nas ruas, protegidas pelas marquises dos prédios que não têm grades.
3 comentários:
Comentários transversais. Sobre a questão de poder usar ou não véu islâmico em escolas, não sei. Minha veia liberal diz que sim, a pessoa deve ter o direito de usar o que achar mais conveniente em locais públicos. Meu bom senso prático diz “depende”. A questão islâmica na Europa (especificamente, mais do que a questão mais ampla da imigração) é bem xarope. Existem guetos, existe uma vontade de não-integração por parte dos imigrantes, existe uma aplicação clandestina de leis religiosas estrangeiras (sharia) nestes guetos, existe o repúdio aos usos e costumes ocidentais e assim por diante. Neste contexto, parece fazer algum sentido forçar a barra no sentido de integrar as gerações mais novas a uma realidade ocidental, como, por exemplo, proibir o véu nas escolas.
Sobre símbolos religiosos em locais públicos (do Estado), como tribunais, delegacias, repartições públicas no geral, acredito que por uma questão de imparcialidade deveriam ser banidos. Um judeu ou um muçulmano ser sentenciado sob o olhar vítreo de um Cristo crucificado me parece um tanto suspeito.
Charlie, depois da palestra de ontem eu juro que fiquei pensando mais sobre o assunto. A França é o país da revolução francesa que separou a igreja do estado. A escola pública é instituição pública e estava havendo problemas de preconceito em relação as etnias e as religiões.Foi o filósofo Luc Ferry, no governo Chirac, que propôs essa medida que reduziu sim a violência nas escolas públicas. Mas ontem o paquistanês disse uma coisa que me fez pensar: as meninas islâmicas não podem ter a liberdade de usar véus nas escolas??? Elas são meninas e recebem a educação e a religião de casa que muitas vezes lhes é imposta. O multiculturalismo é uma questão complicada, porque os imigrantes querem ter voz e direitos que os outros têm e querem ter hoje mais voz e direitos do que antes. E existe ai um choque de civilizações, como diz o Samuel Huntington. Choque de civilizações não é ideologia, como acredita certa esquerda, mas é fato. É realidade. A discussão é boa e faz a gente pensar.
Escrevi neste blog no dia 20 de Outubro de 2008 15:12, sobre o caso Eloá:
“O que acho que pode ter acontecido, foi o que já aconteceu no conhecido caso do ônibus 174, um governador preocupado com a repercussão que uma cabeça explodindo a duas semanas de um segundo turno eleitoral poderia ocasionar. A pergunta que deveria ser feita ao comandante e não vi ninguém fazer é se ele conversou com alguém do governo durante a negociação. Acredito que sim. E acredito que ele tenha recebido orientações.”
Notícia do Jornal Agora que leio no blog do Janer Cristaldo (www.cristaldo.blogspot.com):
Governo não autorizou tiro em Lindemberg
O promotor Antonio Nobre Folgado disse ontem que os integrantes do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) não tinham autorização do gabinete de crise e de seus superiores para realizar o "tiro de neutralização" contra Lindemberg Alves Fernandes, 22, que matou Eloá Cristina Pimentel, 15.
O gabinete de crise era constantemente informado sobre o andamento da situação e era formado por José Serra (PSDB), pelo secretário da Segurança Pública, Ronaldo Marzagão e pela cúpula da PM.
Segundo o promotor, essas informações constam dos depoimentos de PMs e dos comandantes do Batalhão de Choque, coronel Eduardo Félix, e do Gate, Adriano Giovaninni.
Aventei esta possibilidade para várias pessoas, incluindo Reinaldo Azevedo, que deve ter lido uma vez que ele “censura” todos os comentários de seu blog. Vou mandar outro e ver se causa alguma repercussão.
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