Presidente Americano Herbert Hoover. Na Crise de 1929 ele resolveu não injetar dinheiro público para salvar a crise. Fez bem ou fez mal?
A crise – vaticínio de Karl Marx, por Luiz Carlos da Cunha*
Em sua análise do capital, Marx propugnou por duas leis econômicas. A primeira inspirada na analogia da física então ciência proeminente , no processo de acumulação a quantidade se transforma em qualidade. A segunda lei, da qual podia se orgulhar o descobridor visionário a economia capitalista é auto-replicante e tende a crescer até um ponto crítico. Ponto crítico assinalado pela superprodução.A mecânica do produzir a mercadoria e digeri-la no mercado a tornaria cíclica. Seu companheiro Frederico Engels, vulgarizador do marxismo, explicava a lei exemplificando o processo de produção com o fabricante de chapéus. Quando o mercado se saturava de chapéus, advinha a paralisação do mercado e o capitalista não mais tinha a quem vender. Marx a descreveu em 1848. Em outubro de 1928 – 80 anos depois –, a crise aconteceu, culminante no “crash” da bolsa de Nova York. Era outubro de 1929: a queda brusca dos valores das ações. As industriais caíram 80% de valor de face; 11 mil bancos faliram em quatro dias; US$ 2 bilhões evaporaram; os preços dos produtos agrícolas encolheram 53%.
O Brasil, como outros países periféricos à época, foi duramente afetado. Os problemas econômicos e sociais gerados pela crise do café empurraram-nos para a Revolução de 30. Hoje, ainda que autoridades governamentais, por dever de ofício, menosprezem a semelhança de situações de 1929 e 2008, pecam por falsa aparência de tranqüilidade. O governo americano, quebrando seus pruridos contra o intervencionismo estatal no mercado, sob o pragmatismo republicano feroz, recorre às burras oficiais em socorro do sistema financeiro com US$ 700 bilhões. Para começar! Bush, o republicano de hoje, se contrapõe ao de 1928 – o presidente Hoover resistiu em recorrer ao dinheiro público para salvar as corporações. E quando, no ápice da crise, improvisou a Corporação de Reconstrução Financeira, já era tarde. Executivos e capitalistas, de súbito nivelados ao rés do chão da miséria, suicidavam-se do alto de suas torres imperiais na Wall Street. O desemprego varava os 20% nas cidades, e no campo as famílias famintas de Oklahoma deambulavam em busca de trabalho e esmola. A tragédia daqueles dias foi romanceada pelo Prêmio Nobel de Literatura John Steinbeck em As Vinhas da Ira.As ações bursáteis negociadas podem ser entendidas como empréstimos tomados pelos bancos e empresas ao poupador individual ou empresarial. Quando o somatório das ações corresponde ao valor daquilo que a empresa vale – e vale por aquilo que pode gerar em valor de venda, o mercado está estacionário. Quando este se encontra saturado e os compradores recuam ou somem, a produção estanca. As ações perdem o valor, porque não mais respondem ao valor real da empresa.O comércio de ações na bolsa adquire dinâmica própria, independente do processo produtivo. Distancia-se para mais ou para menos, na oscilação ondulatória das incertezas, do fascínio, do jogo, do risco calculado, do risco aleatório, na instabilidade do dia ou na estabilidade ilusória do lucro miraculoso e imediato. Até que a multiplicação das transações, o distanciamento do ficcional e do real que os papéis representam ou deveriam representar, atinge o ponto crítico – a quantidade se transforma em qualidade. Na penumbra supersticiosa do mercado, ante o pânico recessivo, o fantasma de Marx avulta, a lembrar que não morreu.
*Arquiteto e escritor.
Artigo na ZH de hoje.
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