Dias das Bruxas
Kathleen Parker
O halloween, ou Festa das Bruxas, antecede a eleição presidencial americana em poucos dias. A impressão que se tem é que um evento condiz com o outro. "Arrepiante" é uma palavra apropriada para descrever o que vem acontecendo nas horas finais.Nas últimas semanas, a campanha de John McCain tenta meter medo nos eleitores para convencê-los a votar nele -e, o mais arrepiante de tudo, na governadora Sarah Palin, a malandra Mulher Maravilha da minúscula Wasilla.Palin, que recentemente se descreveu como "Redneck Woman" (mulher caipira), título de um sucesso da cantora country Gretchen Wilson e papel que a candidata a vice costuma representar quando inicia seus comícios, tem repetido e aprofundado o tema de que não se pode confiar em Obama. Ele "anda por aí" com terroristas, diz ela, e não vê a América do mesmo modo como "nós" a vemos."Dobra, dobra, labuta e provação/ Arde fogo e borbulha caldeirão."As tentativas de vincular Obama ao ex-terrorista Bill Ayers, antigo membro do grupo dos anos 1960 Weather Underground, encontraram eco entre poucos exceto integrantes da base republicana. Hoje Ayers é professor universitário em Chicago e, embora ainda seja radical, está longe de integrar o círculo estreito dos assessores de Obama.Tirando isso, a narrativa de que Obama "não é exatamente um de nós" vem dando resultado contrário ao pretendido. O que Palin inspira entre alguns de seus admiradores é algo repulsivo o suficiente para assustar até mesmo os foliões adultos do Halloween. Embora os racistas não sejam exclusividade do Partido Republicano, os da direita se sentem liberados pelo espírito da mensagem de Palin. Alguns poucos lançaram epítetos racistas em comícios. Um homem recentemente exibiu um boneco do personagem animado George, o Curioso, um macaco, usando como chapéu um adesivo de Obama. Ele ergueu o objeto diante da câmera de um repórter e então se afastou, rindo.O rosto dele não era o do Partido Republicano de Abraham Lincoln.McCain vem tentando distanciar-se da raiva e hostilidade que freqüentemente permeiam seus comícios, mas é lamentavelmente pouco convincente. Às vezes suas tentativas de agir com decência só pioram as coisas, como aconteceu quando uma mulher disse a ele que não confia em Obama porque ele é árabe. Tirando o microfone das mãos dela, McCain tentou acalmá-la, dizendo: "Não, senhora. Ele é um homem decente, pai de família, um cidadão com quem eu, por acaso, tenho divergências."Isso com certeza deve ter tranquilizado árabes em toda parte. Obama não é árabe. Ele é um homem decente. Um pai de família. Com uma diplomacia como essa, quem precisa de propaganda para recrutar terroristas?Enquanto isso, a pior ofensa de Obama até agora foi aprovar um anúncio -intitulado "A Escolha Dele"- que mostra Sarah Palin dando uma piscadela. De onde eles tiraram essa idéia? O anúncio foca a fraqueza de McCain em questões econômicas, fraqueza para a qual o próprio McCain chamou a atenção várias vezes nos últimos meses. O anúncio mostra algumas frases do candidato republicano, concluindo com uma que ele proferiu no debate de 28 de novembro de 2007 e que é especialmente negativa para ele: "Eu talvez precise depender dos conhecimentos especializados de economia de um vice-presidente que escolher", disse McCain. O quadro seguinte mostra Palin durante o debate vice-presidencial, mexendo os lábios, sem que saia nenhum som, e dando piscadelas.As reações do campo de McCain foram imediatas e tolas. "É sexista", gritaram. Mesmo a presidente da seção de Los Angeles da feminista Organização Nacional para Mulheres disse que o anúncio "amesquinha as mulheres".Correção: as piscadelas e os acenos de cabeça de Sarah Palin durante o debate entre os candidatos a vice foram sexistas e amesquinharam todas as mulheres que esperam avançar na vida graças ao trabalho duro e ao mérito. Desde a perspectiva dessas mulheres, a performance de Palin, como se estivesse num concurso de miss, enviou outra mensagem subliminar: que, quando uma mulher não sabe a resposta a uma pergunta, pode abrir caminho até o topo flertando.Vaias para ela!
Tradução de Clara Allain
KATHLEEN PARKER é colunista do "Washington Post" e comentarista da NBC; ela escreveu esta coluna para a Folha
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