O diário gauche de hoje comenta matéria de capa da Folha de hoje que diz que os bancos não estão abrindo as torneiras do crédito. Preferem aplicar nos papéis do governo brasileiro.
Eu comento depois.
Faço questão de copiar/colar a íntegra da matéria de capa da Folha de hoje, assinada pelo jornalista Kennedy de Alencar (que, sabe-se, não é nenhum míriam-leitão-da-vida, que apenas repete o que o mercado lhe assopra). Alencar foi no ponto.
De resto, são disputas de poder e conflitos de classe recorrentes que temos tratado aqui no blog, desde que estourou a crise financeira mundial no começo deste tumultuado outubro.
Tudo indica que Lula vai sucumbir novamente ao seu irrefreável espírito cordial e conciliador, e continuar abrindo mão da soberania sobre parte vital de seu próprio governo, em favor dos bancos, dos rentistas e especuladores de sempre.
O ex-sindicalista, hoje convertido ao pragmatismo expresso da governabilidade de resultados, parece que não está convencido de que a força política e econômica do capital financeiro está com os dias contados, no Brasil e no mundo todo, pelo menos na ênfase e no tom dos últimos trinta anos. Mas vamos ler atentamente o que conta Kennedy Alencar:
Segundo a Folha apurou, os grandes bancos disseram que a prioridade, no momento, é construir um "muro de liquidez" - ação preventiva e de sobrevivência no médio e longo prazo em relação à crise econômica mundial, que estrangula o crédito e as empresas.Lula ficou contrariado, segundo relato de integrantes da equipe econômica. Os grandes bancos aumentaram muito o grau de seletividade para concessão de crédito. A maior parte do dinheiro que entra via redução do compulsório após medidas do Banco Central não retorna ao mercado sob a forma de empréstimo.
Receosos em emprestar e preocupados em manter sua solidez num momento de grandes incertezas, os grandes bancos seguram em caixa os recursos e aplicam nos títulos do próprio governo, atraídos por uma taxa básica de juros (Selic) de 13,75% ao ano.
A Folha apurou ainda que os maiores bancos privados do Brasil têm também procurado se capitalizar para, caso apareça uma oportunidade de compra estratégica de carteiras ou de instituição, terem recursos em caixa para a operação.
Ou seja, a liberação condicionada de estimados R$ 50 bilhões do compulsório (parcela dos depósitos que os bancos são obrigados a recolher no BC), deixando mais recursos livres para empréstimos, tem tido pouco efeito prático.
Os bancos acreditam que neste momento de incerteza o mais importante é manter o caixa reforçado e não comprar carteiras de crédito de instituições menores, que têm pouca liquidez.
Na semana passada, Lula enviou alguns emissários para conversas com empresários e banqueiros. O presidente tem ouvido opiniões de fora da equipe econômica tradicional -Fazenda, Planejamento e BC. Esses emissários detectaram um pessimismo maior do que Lula imaginava. Os contatos diretos do presidente com banqueiros receosos reforçaram a percepção do presidente de que o efeito sobre o Brasil será maior do que a "marola" prevista por ele anteriormente.
Para complicar, há a divisão na equipe econômica e no próprio BC (Banco Central) em relação à taxa de juros. O presidente do BC, Henrique Meirelles, está no grupo mais ortodoxo. Ou seja, o que cogita até elevar juros para combater eventual efeito inflacionário em razão da alta do dólar.
Os críticos do presidente do BC afirmam que é hora de seguir o movimento dos outros bancos centrais, que reduziram juros para tentar aquecer a economia. O argumento é o seguinte: com os juros tão altos, os bancos vão continuar a preferir a segurança dos títulos do Tesouro do que a concessão de crédito. Seria hora de priorizar o crescimento e não a inflação, apesar de a função oficial do BC ser buscar a meta de inflação.
Esse debate reforça, na avaliação do Planalto, o cenário no qual o BC deverá manter inalterada a Selic na reunião desta semana.
Redator: Cristóvão Feil - Data: 28.10.08 18 comentários Links para esta postagem
Meu comentário que postei no blog diário gauche:
O que é, afinal, soberania, cara pálida? Certa esquerda adora ingressar no inventário dos mortos para retirar significados antigos e simbólicos para certas palavras. Puro chavão. A palavra soberania é a mais castigada. O que é, afinal, soberania? Na verdade, a palavra soberania, como neoliberalismo, mídia oligárquica etc. podem ser explicadas pelos simbolos e chavões da semiótica, do estruturalismo e até mesmo do hiper estruturalismo que certa esquerda gauche francesa gosta de rezar. Bingo, descobri o código da Matrix de Baudrillard.Um tal de Clairton veio com essa pérola: Soberania é não doar a Vale do Rio Doce e a telefonia do país como FHC fez. Soberania é não dar dinheiro público para a GM e a Ford como o britto e o rigotto fizeram. E agora que ambas estão a beira da falência o que este pessoal tem a dizer??? Soberania é não submeter o país a vontade de meia dúzia de banqueiros.
Eu respondo ao Clairton: A Vale está aqui no Brasil gerando zilhões de emprego, gerando muito mais imposto do que na época da estatal, sendo muito mais eficiente e agregando muito mais serviço, conhecimento e valor. Soberania para você é manter a Vale nas mãos do estatismo? Isso não é soberania, isso é corporativismo. Bem fez FHC de ter privatizado outro templo do corporativismo estatal, o ineficiente sistema Telebrás que alijava a população de baixa renda do importante serviço telefônico. A desestatização das teles transformou o Brasil definitivamente num país de serviços, de agilidade, de velocidade, de mais eficiência e mais flexibilidade. E as viúvas do estatismo gostam mesmo é de chorar de saudades pelos velhos tempos da ineficiência do estatismo, bons tempos aqueles da "soberania".A verdade, verdadeira é que certa esquerda não tem a mínima noção de como funciona o mercado. Pergunte para qualquer motoboy que ganha sua grana prestando serviço de um lado para o outro que ele sabe muito mais sobre o mercado do que os ideólogos de certa esquerda. O Lula pediu aos bancos que emprestem, mas os bancos não está emprestando. E certa esquerda não entende isso. Quem é que vai ser o louco, o maluco, o lelé da cuca de abrir o caixa do empréstimo numa hora dessas? Quem emprestar agora corre o grande risco de quebrar. Isso não tem nada a ver com questão de classe (classe, que classe?), isso tem a ver com a santa prudência. Se eu fosse acionista de um banco e ele resolvesse abrir a torneira do empréstimo numa hora dessas, apenas porque o Lula recomendou, eu tiraria todo o meu santo dinheirinho desse investimento. Podes crer.
3 comentários:
E, junto com voce, outros tantos tirariam o suado dinheirinho desta instituição temeraria, o que tambem poderia levar o banco a bancarrota. Alias, o proprio comentario do Lula, sugerindo para que bancos liberem bufunfa pode causar estrago.
E concordo contigo quando dizes que um motoboy entende mais o funcionamento do mercado do que a maior parte dos academicos, principalmente os que possuem mente ideologizada.
Artigo interessante sobre a crise, sob a perspectiva da escola austriaca de economia: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=182
Uma síntese de um blogueiro liberal: http://acao-humana.blogspot.com/2008/10/o-que-fazer-para-recuperar-os-mercados.html
É sempre bom dar uma espiada no que pensa os poucos que nadam contra a correnteza...
Aliás, esse artigo de Frank Shostak foi o mais claro e objetivo que eu já li sobre sistema de crédito até o momento. Dá uma espiada e diz o que achou.
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