Diversidade, Liberdade e Inclusão Social
Foto: Obama, Cameron e Helle Thorning-Schmidt
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
Halloween
"Presença da Intertextualidade nos Gêneros Textuais"
Por Deus que o imeil que vou reproduzir abaixo é verdadeiro. Recebi-o dias atrás. É de uma aluna de um colégio particular de Porto Alegre. Ó:“Olá. Estudo na oitava série. Tenho que fazer um trabalho de português sobre a presença da intertextualidade nos gêneros textuais e um deles são as crônicas. Gostaria de saber se você sabe de alguma crônica que tenhas feito com a presença da intertextualidade (polifonia) que possas me mandar. Desde já agradeço.”
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
Nas Raias da Ideologia
O diario gauche de hoje diz que o prefeito reeleito de Porto Alegre, José Fogaça, é o novo darling da direita guasca. Eu comento depois.
José Fogaça é o novo darling da direita guasca
O arranjo maragato para 2010 está sendo montado agora. Não vê, quem não quer. A coisa é escancarada, despudorada. O jornal Zero Hora de hoje mostra sobradas razões para que o senso comum sulino assimile com naturalidade e entusiasmo a nova liderança a ser investida como governador do Estado. Eles chegam ao requinte de estampar uma declaração (inédita) da governadora Yeda Rorato Crusius de que não disputará a reeleição.
Depois de se ler o diário da Azenha, hoje, a conclusão é quase um imperativo categórico: o substituto de Yeda Rorato Crusius é José Alberto Fogaça de Medeiros, do PMDB. Não tem outro. Este é o homem.
A carga publicitária da RBS não tem um traço sequer de censura ao fato de que Fogaça acabou de se eleger prefeito municipal para um mandato de quatro anos, portanto, que terminariam somente em 2012. Em abril de 2002, quando o então prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, renunciou ao cargo para disputar as eleições ao Piratini, recebeu da mesma RBS as maiores reprovações morais por não cumprir com a integralidade do mandato conferido pelos seus eleitores.
As eleições estaduais de 2010 começaram nesta semana, nos veículos da RBS. A construção de uma candidatura forte e invencível começa cedo, e reveste-se de cuidados para bem além da objetividade fria da política, porque trata de projetar um pequeno mito no imaginário do senso comum, buscando a montagem de uma “persona” que seja dotada de todas as subjetividades positivas com acréscimos de carisma, bonomia, firmeza, e capacidade de liderança.
José Fogaça não é nada disso, mas os escultores de candidaturas amigas da RBS tratarão de entregar o “produto” imagético pronto e acabado até março de 2010.
Mãos à obra.
Meu pitaco:
Como é lindo esse discurso de certa esquerda que aponta -- com dedo bem em riste -- que qualquer pessoa que não tenha fé na religião do materialismo histórico, como sendo de direita. O José Serra, que sempre foi um cara de esquerda, virou um totalitário de direita. O Fogaça, que também nunca foi de direita, se transformou num fascista de extrema direita. Os editores da mídia alternativa deveriam ter um pouquinho mais de cuidado antes de distribuirem suas merendas e suas hóstias aos seus fieis.
Afinal, que diferença ideológica existe, por exemplo, entre Serra e Dilma? Os dois nadam na mesma raia da social-democracia. Não foi o Serra que bateu de frente com as grandes indústrias farmacêuticas e criou os genéricos? Isso, por acaso, é uma praxis liberal? Na piscina da humanidade, certa esquerda se acha a dona dos troféus e apenas entrega suas medalhas para aqueles que se enquadram nos seus preconceitos. Nada mais falso do que a intempestiva assertiva de que a raia onde só a esquerda pode nadar é somente aquela onde as marolas se direcionam para a fé do materialismo histórico. Se, por acaso, o atleta resolve invadir outra raia onde o mercado gosta de circular ele é visto como um nadador neoliberal. Essa é uma tese que já naufragou. Avisem a orquestra. Luc Ferry é que está certo, uma dos fatores mais inócuos e impertinentes dos nossos tempos é a discussão ideologica e religiosa.
É impressionante como a ideologia da igreja católica que atrasou o Brasil durante séculos e séculos continua a ter um paradoxal efeito no pensamento reacionario de certa esquerda. Para esses, enriquecer é mesmo uma burrice. Espírito empreendedor? é pecado. Empresário é ganancioso, como disse uma vez o companheiro ex governador. Por isso os nadadores das marolas da raia bem à esquerda adoram a dinastia Castro em Cuba, onde o empreendorismo é sufocado com armas e prisões. Não importa se o empreendedor vai fazer benfeitorias para o povo, melhorar as condições de vida, gerar lazer, cultura (até mesmo a construção do Museu Iberê foi criticada pelo Diário Gauche), o que efetivamente importa aqui é o lado irrelevante e fransiscano da questão: ele não pode ter lucro ou como a religião impõe como grave transgressão: o sacrilégio da mais valia. Depois eles ficam se queixando que os candidatos de certa esquerda perdem as eleições nas capitais brasileiras do centro sul.
Perniciosas Assimetrias - George Soros
O sistema financeiro mundial, na forma pela qual está constituído agora, se caracteriza por uma perniciosa assimetria. As autoridades dos países desenvolvidos estão no comando e farão o que for necessário para impedir que o sistema entre em colapso. Mas o destino dos países periféricos as preocupa menos. O sistema oferece menos estabilidade e menos proteção a esses países do que aos países centrais.Essa assimetria, encapsulada no direito de veto dos Estados Unidos no FMI (Fundo Monetário Internacional), explica por que os americanos conseguiram acumular um déficit em conta corrente cada vez mais elevado no último quarto de século. O chamado Consenso de Washington impôs forte disciplina de mercado a outros países, mas os norte-americanos ficaram isentos dela. A crise dos mercados emergentes em 1997 devastou países periféricos como Indonésia, Brasil, Coréia do Sul e Rússia, mas deixou os Estados Unidos ilesos. Subseqüentemente, muitos dos países periféricos adotaram políticas macroeconômicas sólidas e uma vez mais passaram a atrair grandes influxos de capital, o que lhes valeu crescimento econômico acelerado nos últimos anos.Então surgiu a crise financeira, que se originou nos Estados Unidos. Até recentemente, países periféricos, como o Brasil, haviam passado em larga medida intocados e até se beneficiado do boom de commodities. Mas, depois da quebra do Lehman Brothers, o sistema financeiro sofreu uma parada cardíaca temporária e as autoridades dos Estados Unidos e da Europa tiveram de recorrer a medidas desesperadas.Elas decidiram que não deveriam permitir a quebra de qualquer outra instituição financeira de grande porte e também instauraram garantias de depósitos contra possíveis perdas. Isso resultou em conseqüências adversas inesperadas para os países periféricos, e suas autoridades foram apanhadas de surpresa.Nos últimos dias, houve fuga generalizada rumo à segurança, da periferia para o centro. As moedas locais caíram frente ao dólar e ao iene. As taxas de juros e os ágios nas operações de "credit default swap" dispararam, e as Bolsas despencaram.Os pedidos de cobertura de margem proliferaram e se espalharam aos mercados de ações dos Estados Unidos e da Europa, gerando o espectro de um pânico renovado.O FMI discute a criação de novas linhas de crédito para os países periféricos, em contraste com as linhas condicionais de crédito que não vêm sendo usadas porque as condições que comportam são por demais onerosas. Essas novas linhas de crédito não envolveriam precondições ou estigmas, para os países que estejam seguindo políticas macroeconômicas sólidas. Além disso, o FMI se declarou pronto a conceder crédito condicional a países menos qualificados. Islândia e Ucrânia já assinaram pacotes, e a próxima da fila é a Hungria.A abordagem é a correta, mas pode ser insuficiente, e talvez esteja chegando tarde demais.O máximo que essas linhas de crédito permitiriam em termos de saque seria cinco vezes o valor da cota do país.No caso do Brasil, isso equivaleria a US$ 15 bilhões, um valor ínfimo comparado às reservas cambiais brasileiras superiores a US$ 200 bilhões. Um pacote muito maior e mais flexível é necessário, para reassegurar os mercados. Os bancos centrais dos países do centro deveriam criar grandes linhas para "swaps" com os bancos centrais dos países periféricos qualificados, e os países dotados de fortes reservas cambiais, como Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, China e Japão, deveriam estabelecer um fundo suplementar de desembolso mais flexível. Também há necessidade urgente de mais crédito de curto e de longo prazo para permitir que os países com posições fiscais sólidas pratiquem políticas keynesianas de investimento público anticíclico.
O Iluminismo Americano
Jogo Épico
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Salto Alto
No Brasil a expressão é usada como sinônimo de arrogância, fanfarronice ou autosuficiência.
Enriquecer é Burrice
O diário gauche de hoje critica, em vermelho bem vermelhado, o cartaz da 54ª Feira do Livro. Eu comento depois.
É muito ruim o tal cartaz. Está assinado pela agência de publicidade denominada Matriz. Mostra a representação da fachada de uma casa construída com livros, simulando duas colunatas fake, dois chaminés de lareiras, varanda superior e térrea, evocando uma estética arquitetônica vitoriana/norte-americana.
Nada mais infeliz. A pessoa que concebeu isso teve a criatividade roçando o nível jegue. A crise financeira na qual o mundo chafurda originou-se na farra do crédito fácil baseado em hipotecas do quê mesmo? Ora, de casinhas simpáticas tal qual essa retratada no cartaz da agência Matriz.
E o slogan, então?
“Ler enriquece”. Falando de corda em casa de enforcado. Valoração de mau gosto para a conjuntura bicuda que vivemos. Ler enriquece e uma casinha estilo e-o-vento-levou (hipotecada) ao lado. Este é o cartaz oficial da 54ª Feira do Livro de Porto Alegre.
Inacreditável.
Deve o Estado Deixar Que As Bolhas Explodam?
Presidente Americano Herbert Hoover. Na Crise de 1929 ele resolveu não injetar dinheiro público para salvar a crise. Fez bem ou fez mal?
Conversando Com Um Liberal Sobre a Crise Dos Nossos Dias
O Charlie, dono do Bunker, pediu para eu comentar um artigo do Frank Shostak do Mises Institut.
Esse artigo está aqui.
Não vou copiar e colar inteiro, porque ele é extenso.
Realmente é um bom artigo, Charlie!
Diz, em síntese o seguinte:
O problema do crédito: o que fazer para recuperar os mercados?
Apesar das ações concertadas dos governos e bancos centrais mundiais, as bolsas seguem caindo e a recessão mundial já bate à porta. Parece que apenas os seguidores da Escola Austríaca de economia não se surpreendem que tais atitudes não apenas são incapazes de impedir recessões, como, ao contrário, acabam por agravá-las.
(....)
No dia 7 de outubro, o presidente do Fed Ben Bernanke anunciou que o banco central americano estava pronto para intervir no mercado de títulos comerciais. O Fed agora passará a comprar títulos comerciais que foram emitidos por corporações e que estão com baixa liquidez - o que significa que o banco central americano agora fará empréstimos diretamente para corporações.
Parece que Bernanke está disposto a jogar trilhões de dólares no mercado para manter o sistema monetário vivo.
Bernanke é da visão de que uma das grandes causas da Grande Depressão dos anos 1930 foi a omissão do banco central americano, que, segundo ele, não agiu rapidamente para reativar o então paralisado mercado de crédito. Por "ação rápida", Bernanke está se referindo a maciças injeções monetárias.
O presidente do Fed faz questão de nos relembrar continuamente que pelo menos ele aprendeu a lição da Grande Depressão e garantirá que o erro cometido pelo Fed não será repetido novamente.
Comentário meu: esse é um dado histórico interessante. Em 1929, o Estado americano não procedeu como está fazendo na presente crise: injetando dinheiro público para salvar os créditos.
Hoje estava falando com uma pessoa que aplica direto no mercado de ações e ele me disse que agora é o momento certo para quem tiver uma graninha extra aplicar neste mercado, porque as ações estão muito baixas. Efetivamente, elas estão menos que a metade, quase um terço do valor que havia antes da crise. Isso para uma economia como americana onde o povo investe e muito em ações é uma imensa catástrofe.
Continua o artigo, pulando algumas partes:
Os estrategistas econômicos dos bancos centrais gostam de dizer que o segredo para o crescimento econômico sustentável é um fluxo de crédito suave e estável. Para eles (e para Bernanke, em particular), é o crédito que fornece as bases para o crescimento econômico e eleva o padrão de vida dos indivíduos. Dessa perspectiva, faz muito sentido que os bancos centrais queiram que o crédito flua novamente.
Seguidores dos ensinamentos de Friedman e Keynes, é quase unanimidade entre eles que, quando os emprestadores estão relutantes a emprestar, é dever do governo e do banco central entrar em campo e manter ativo o fluxo de empréstimos.
(...)
Mas será que o aumento das injeções monetárias feitas pelos bancos centrais irá descongelar os mercados de crédito? Os experts acreditam que sim. Se a atual dose de injeção monetária não funcionar - como não está funcionando - então os bancos centrais devem continuar jorrando mais dinheiro até que os mercados de crédito voltem a se mexer - é nisso que eles acreditam.
Meu palpite: eis ai uma questão complicada. E se a crise continuar, persistir, se alargar no tempo e no espaço, devem os Bacens continuar a injetar dinheiro nos mercados de crédito? Ontem alguém numa dessas rádios que transmitem notícias disse: está todo mundo cansado no mercado de ações, o estresse é muito grande: quem sabe fechamos as bolsas por duas semanas? Todo mundo volta com cabeça mais tranquila e a crise se superar.....
Continua o artigo:
É verdade que o crédito é a chave para o crescimento econômico. Entretanto, deve-se fazer uma distinção entre crédito bom e crédito ruim. É o crédito bom que torna possível um real e sustentável crescimento econômico - e que, portanto, melhora de fato a vida das pessoas e seu bem-estar. O crédito falso, por sua vez, é um agente de destruição econômica e que leva ao empobrecimento.
(....)
Apesar da aparente complexidade que o sistema bancário introduz ao cenário, o crédito permanece sendo um ato de transferência de poupança real de um emprestador para um tomador de empréstimo. Se não houver um aumento no conjunto da poupança real, os bancos não poderão criar mais crédito. O crédito bom só poderá ser expandido pelo sistema bancário se houver uma concomitante expansão da poupança real.
(...)
Entretanto, o problema todo surge quando, ao invés de emprestar dinheiro totalmente lastreado, um banco começa a praticar reservas fracionárias: a emissão de dinheiro vazio, criado do nada, sem qualquer lastro.
Quando dinheiro é criado do nada, ele inicialmente se faz passar por dinheiro genuíno, dinheiro que supostamente está lastreado por alguma coisa real. Porém, na realidade, nada foi poupado. Portanto, quando esse dinheiro é emitido, ele não pode ajudar o sapateiro, uma vez que pedaços de papel vazio não podem ajudá-lo na produção de sapatos - o que ele de fato precisa é de pão. Porém, como o dinheiro impresso se faz passar por dinheiro legítimo, ele poderá sim ser utilizado para "roubar" o pão que iria para o sustento de outras atividades. E isso irá enfraquecer aquelas atividades.
Ou seja: quando você cria dinheiro do nada e utiliza esse dinheiro para obter algum bem, você está "roubando" esse bem daquela pessoa que de fato trabalhou e poupou para adquiri-lo. Logo, essa pessoa sairá enfraquecida.
É por isso que a criação de dinheiro não lastreado provoca um desvio da riqueza real.
Meu pitaco: Ai a questão é de controle e fiscalização do Estado sobre o mercado financeiro e de ações. Se o banco maquia seus ativos, seus balanços e isso passa e, no ano seguinte, ele continua a a proceder da mesma forma, até chegar a um ponto em que ele começa a se afundar, é questão de ausência total de fiscalização e controle dos organismos estatais para esse fim, como o Banco Central. A criação de dinheiro sem lastro, sem garantia, sem a contraparte é fraude.
(....)
Ao invés de facilitar a transferência de poupança para atividades geradoras de riqueza, quando os bancos emitem crédito não lastreado eles estão na verdade enfraquecendo o processo de formação de riqueza.
Em uma economia de genuíno livre mercado, onde ninguém imprime dinheiro e onde os indivíduos têm de produzir antes de consumir, nenhum distúrbio econômico pode acontecer. Para que distúrbios econômicos aconteçam, alguns indivíduos têm de conseguir dinheiro a troco de nada e em seguida trocar esse dinheiro por bens e serviços. Via de regra, isso ocorre quando a oferta monetária está se expandindo. Quando uma demanda que não é escorada pela produção aumenta, haverá um sobreaquecimento, que tomará a forma de aumento generalizado de preços.
Por causa dessa expansão monetária, várias atividades que antes não eram viáveis passarão a ser. Assim, várias bolhas surgirão nessa economia. E então, quando o banco central apertar sua postura monetária para impedir a elevação dos preços, essas atividades serão interrompidas. Observe que o que levou a essa postura contracionista do banco central foi justamente sua frouxa política monetária anterior.
Deve ser enfatizado que os bancos não podem perseguir implacavelmente uma política de empréstimos não lastreados se não houver um banco central dando sustento. O banco central, através de suas injeções monetárias, garante que a expansão de crédito fictício não faça com que os bancos quebrem uns aos outros.
Podemos assim concluir que, se o aumento dos empréstimos é totalmente lastreado por um aumento da poupança real, então essa é uma boa notícia, já que esse aumento promove a formação da riqueza real. Já o crédito falso, que é criado do nada, sem qualquer lastro, é uma má notícia: um crédito que não é lastreado por uma poupança real é um agente de destruição econômica.
As ações do banco central e do governo apenas pioram as coisas."
Na teoria eu concordo com esse ponto de vista. Realmente a atuação do Banco Central ao descarregar recursos para cobrir rombos do mercado é uma forma de capitalizar o crédito que não tem lastro. Ou seja estamos colocando dinheiro público bom em cima de dinheiro privado ruim. Isso é complicado. Mas, tal como aconteceu no Proer, nos temos do FHC, caso o Bacen não injetasse dinheiro para salvar ativos de bancos falidos exatamente porque seus créditos não tinham lastro, o que seria da economia brasileira? O certo é fazer com que os gestores desses créditos sem lastro sejam afastados da gestão e direção dessas instituições.
Nem o banco central e nem o governo são geradores de riqueza: eles não podem gerar poupança real. Isso significa que toda a injeção monetária que os governos vêm fazendo ultimamente não irá aumentar os empréstimos, a menos que o conjunto da poupança real esteja aumentando. Contrariamente, quanto mais dinheiro o Fed e os outros bancos centrais injetarem, mais eles estarão diluindo o conjunto da poupança real.
No entanto, a maioria dos comentaristas pensa que, dado o presente estado frágil do sistema financeiro, os bancos centrais e os governos devem intervir para impedir o colapso. Mas como os governos e os bancos centrais podem ajudar nesse aspecto? Como os bancos centrais e os governos podem gerar mais poupança real?
A única coisa que os governos e os bancos centrais podem fazer é tomar a poupança real de outras pessoas e distribuí-la para os bancos. Se o conjunto da poupança real ainda estiver se expandindo, isso pode "funcionar" - e os empréstimos poderão voltar a fluir - mas o conjunto da poupança real como um todo irá enfraquecer como resultado dessa transferência de poupança real do setor não bancário para o setor bancário. Se, contudo, o conjunto da poupança real estiver declinando, então não será possível aumentar o fluxo de empréstimos.
Por que não fazer nada é a melhor política para reativar a economia
Dada a crescente plausibilidade de que o conjunto da poupança real está com sérios problemas, será que isso significa que o fluxo de crédito irá permanecer congelado? A única coisa que pode ser feita para descongelar o fluxo é permitir que as taxas de juros flutuem livremente de modo a encontrarem seu nível correto.
No atual cenário de economia em declínio, os emprestadores apenas estarão dispostos a emprestar a taxas de juros que compensem o risco e que sinalizem corretamente que há uma menor poupança real disponível. A uma taxa de juros bem maior, a "crise financeira" e a escassez de crédito sumirão.
O problema então não está no mercado de crédito em si, mas no fato de que os bancos centrais estão injetando quantias maciças de dinheiro para forçar os juros a ficarem em níveis artificialmente baixos. Isso obviamente faz com que seja ainda menos atraente para os emprestadores entrar no mercado de crédito. Logo, a escassez (isto é, a contração do crédito) é o resultado da política dos bancos centrais de não permitirem que as taxas de juros subam para níveis que estejam de acordo com a realidade.[*]
Por que então as autoridades estão resistindo às forças de mercado e estão permitindo que essa contração do crédito persista?
Porque se permitissem que as taxas de juros subissem naturalmente, muitas bolhas que ainda estão ativas deixariam de ser lucrativas e estourariam.
E os estrategistas políticos, bem como aqueles que têm posições influentes, acreditam que isso levaria a uma séria derrocada econômica; e que, portanto, tal coisa não deveria ser permitida. Criar dinheiro para manter bolhas ativas só faz empobrecer ainda mais os reais geradores de riqueza, além de atrasar as perspectivas de uma significativa recuperação econômica.
(....)
A melhor política para solucionar o problema é que o Fed e os outros bancos centrais comecem imediatamente a não fazer nada. Ao fazerem isso, eles irão permitir que os genuínos geradores de riqueza acumulem poupança real. A política de não fazer nada irá fazer desaparecer as várias atividades que pouco ou nada acrescentam ao conjunto da poupança real. Isso fará com que a geração de riqueza seja muito mais recompensadora.
À medida que o tempo for passando, a expansão do conjunto da poupança real irá levar a uma diminuição das taxas de juros. Isso por sua vez irá fornecer a base para uma subseqüente expansão de várias atividades geradoras de riqueza. Portanto, quanto mais cedo os bancos centrais - começando pelo Fed - pararem de interferir, mais cedo se dará a recuperação econômica.
Se por acaso o conjunto da poupança real ainda estiver crescendo, então fazer nada (e permitir que a taxa de juros reflita a realidade) irá fazer com que a recessão seja curta e que a recuperação econômica comece o mais rápido possível. (A uma taxa de juros mais alta, várias bolhas ainda ativas irão desaparecer. Como conseqüência, mais poupança real se tornará disponível para os geradores de riqueza. E isso fará diminuir as taxas de juros).
Sugerimos que temerárias políticas monetárias seguidas pelo Fed durante anos exauriram severamente o conjunto da poupança real. A continuidade ou o aprofundamento dessas mesmas políticas frouxas não poderá melhorar a atual situação. Ao contrário, tais políticas somente irão atrasar ainda mais a recuperação econômica.
Da mesma forma, as atuais políticas seguidas pelos governos e bancos centrais mundiais, ao empobrecerem os geradores de riqueza, correm o risco de transformar uma curta recessão em uma crise severa e prolongada.
Minha conclusão: Eu acho arriscadíssimo esse ponto de vista. Concordo que não é salutar, não é bom injetar dinheiro em bolhas artificiais de crédito. Isso pode sim gerar um aprofundamento e uma continuidade dessas bolhas. Mas a questão é mais complexa porque envolve ativos de zilhões de pessoas e famílias que podem, nesse curto espaço de tempo, perder todas suas poupanças, como ocorreu em 1929. E, como eu disse antes, os americanos têm tradição em aplicar na bolsa. Lá o investidor da Exxon ou da Chevron abastece nos postos de combustível de onde investe. Se o fulano aplica na Ford ele compra carros da Ford e por ai vai. Os ativos diminuiram muito nesses últimos dias. Mas como disse esse meu amigo que gosta de investir em ações. O prejuízo somente ocorre no momento da venda das ações. Quem vender agora terá prejuízo. Quem vender mais tarde, poderá ter lucro. Será????
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Frank Shostak é um scholar adjunto do Mises Institute e um colaborador freqüente do Mises.org. Ele é o economista-chefe da M.F. Global.
[*] Outro problema são as políticas de socorro a empresas, que fazem com que empresas insolventes continuem existindo lado a lado com as solventes sem que ninguém saiba qual é qual. E essa incerteza afeta a alocação do crédito. Ver mais detalhes aqui. [N. do T.]
É Culpa do Neoliberalismo?
Com a crise financeira surgida nos EUA, a esquerda, por décadas humilhada e desacreditada, de repente saiu da toca, esfuziante com a tão sonhada revanche. As entidades que mais odeia, o neoliberalismo e o mercado, personificados no grande satã Estados Unidos, finalmente estariam se encaminhando para a merecida destruição. Todavia, colocando de lado o histerismo dos esquerdistas tupiniquins e analisando a questão de forma calma e racional, chegamos facilmente à conclusão de que a crise não é culpa, em hipótese alguma, do liberalismo (neoliberalismo, para começar, sequer existe como escola de pensamento político-filosófico, é bom lembrar. O termo, de índole pejorativa, foi cunhado pelos intelectuais de esquerda). O fato é que nenhum dos axiomas da própria teoria econômica tradicional ou neoclássica (esse neo, sim, existe) foi derrubado. A crise nada mais comprova que a própria auto-regulação do mercado, pela oferta e demanda, e prova disso é a própria oscilação de preços das ações, das moedas e dos próprios imóveis, no caso dos EUA. É que o mercado, como sistema dinâmico que é, sofre instabilidades, mais ou menos graves, de tempos em tempos. Por pior que seja tal instabilidade, invariavelmente o equilíbrio retorna, e tanto assim é, que, seguindo a linha da destruição criativa de Schumpeter, pela qual crises e quebras acabam gerando novos e mais complexos mercados, a riqueza mundial cresceu dezenas de vezes desde 1929, não pela mão do governo, mas, sim, pela ação indistinta e não centralizada dos indivíduos. Em rigor, tanto agora quanto em 1929, o que desencadeou a crise não foi a mão invisível, ou seja, a suposta desregulação, mas o próprio intervencionismo do Estado. O Fed, ao determinar juros baixíssimos, sinalizou uma situação que não era a de equilíbrio, incentivando os consumidores a gastar e os bancos a conceder financiamentos baratos. Como tais financiamentos eram garantidos pelos imóveis dos consumidores e, numa situação tipicamente de mercado, tais imóveis se desvalorizaram, não houve mais lastro para cobrir as dívidas. Em síntese, pura oferta e demanda porém, não aquela regulada pela mão invisível, mas a distorcida pela mão do Estado no sistema de preços, gerando ruídos cujos resultados foram a bolha e a conseqüente turbulência. Entretanto, para os que torcem fanaticamente pelo fim dos Estados Unidos e pela destruição do capitalismo, sempre com os surrados argumentos dos males do neoliberalismo e da ganância, resta sempre a pergunta: o que é pior, um mercado livre que sofre crises de décadas em décadas, mas que antes e depois das turbulências cria riquezas nunca antes vistas, ou um sistema regulado até a exaustão pelo Estado, cujo resultado é a mais pura estagnação? Para tanto, basta comparar a economia da antiga União Soviética, que durante 70 anos nada gerou além da distribuição igualitária de pobreza e escassez, assim como as atuais situações de miséria de Cuba e Coréia do Norte. Eu fico com os EUA.
terça-feira, 28 de outubro de 2008
Pós-Estruturalismo
Gilles Deleuze (de cigarro) e Félix Guattari (de óculos)
Michel Foucault (careca e de óculos)
Louis Althusser (de cachimbo)
Também podem ser considerados pós-estruturalistas ou próximos às teses pós-estruturalistas Giorgio Agamben, Jean Baudrillard, Judith Butler, Félix Guattari, Fredric Jameson, Julia Kristeva, Sarah Kofman, Philippe Lacoue-Labarthe e Jean-Luc Nancy.
O prefixo pós não é todavia interpretado como sinal de contraposição ao estruturalismo. De fato, esses pensadores levaram às últimas conseqüências os conceitos e desenvolvimentos do estruturalismo, até dissolvê-los no desconstrutivismo, construtivismo ou no relativismo e no pós-modernismo. O movimento pós-estruturalista está intimamente ligado ao pós-modernismo - embora os dois conceitos não sejam sinônimos.
O pós-estruturalismo instaura uma teoria da desconstrução na análise literária, liberando o texto para uma pluralidade de sentidos. A realidade é considerada como uma construção social e subjetiva. A abordagem é mais aberta no que diz respeito à diversidade de métodos. Em contraste com o estruturalismo, que afirma a independência e superioridade do significante em relação ao significado, os pós-estruturalistas vêem o significante e o significado como inseparáveis.
Não se trata exatamente um movimento, e poucos desses pensadores aceitam o rótulo de 'pós-estruturalista' - criado por outros para designar genericamente um conjunto de diferentes reações ao estruturalismo. Conseqüentemente, nenhum dos ditos pós-estruturalistas se sentiu na obrigação de elaborar um "manifesto" do pós-estruturalismo. [1]
Como corrente filosófica, embora não constituindo propriamente uma "escola", o pós-estruturalismo carateriza-se pela recusa em atribuir ao cogito cartesiano, ao sujeito ou ao homem, qualquer privilégio gnoseológico ou axiológico, privilegiando, em vez disso, uma análise das formas simbólicas, da linguagem, mais como constituintes da subjetividade do que como costituídas por esta.
São tipicas da abordagem pós-estruturalista a retomada dos temas nietzscheanos, como a crítica da consciência e do negativo (por Deleuze) ou o projeto genealógico (por Foucault), a radicalização e a superação da valorização ontológica da linguagem heideggeriana e uma perspectiva anti-dogmática e anti-positivista. De modo geral, os pós-estruturalistas rejeitam definições que encerrem verdades absolutas sobre o mundo.[2], pois a verdade dependeria do contexto histórico de cada indivíduo. Assim, o pós-estruturalismo estaria vinculado, de uma parte aos sofistas gregos, e de outro à Mecânica Quântica.
O que é Soberania, Cara Pálida?
O diário gauche de hoje comenta matéria de capa da Folha de hoje que diz que os bancos não estão abrindo as torneiras do crédito. Preferem aplicar nos papéis do governo brasileiro.
Eu comento depois.
Faço questão de copiar/colar a íntegra da matéria de capa da Folha de hoje, assinada pelo jornalista Kennedy de Alencar (que, sabe-se, não é nenhum míriam-leitão-da-vida, que apenas repete o que o mercado lhe assopra). Alencar foi no ponto.
De resto, são disputas de poder e conflitos de classe recorrentes que temos tratado aqui no blog, desde que estourou a crise financeira mundial no começo deste tumultuado outubro.
Tudo indica que Lula vai sucumbir novamente ao seu irrefreável espírito cordial e conciliador, e continuar abrindo mão da soberania sobre parte vital de seu próprio governo, em favor dos bancos, dos rentistas e especuladores de sempre.
O ex-sindicalista, hoje convertido ao pragmatismo expresso da governabilidade de resultados, parece que não está convencido de que a força política e econômica do capital financeiro está com os dias contados, no Brasil e no mundo todo, pelo menos na ênfase e no tom dos últimos trinta anos. Mas vamos ler atentamente o que conta Kennedy Alencar:
Segundo a Folha apurou, os grandes bancos disseram que a prioridade, no momento, é construir um "muro de liquidez" - ação preventiva e de sobrevivência no médio e longo prazo em relação à crise econômica mundial, que estrangula o crédito e as empresas.Lula ficou contrariado, segundo relato de integrantes da equipe econômica. Os grandes bancos aumentaram muito o grau de seletividade para concessão de crédito. A maior parte do dinheiro que entra via redução do compulsório após medidas do Banco Central não retorna ao mercado sob a forma de empréstimo.
Receosos em emprestar e preocupados em manter sua solidez num momento de grandes incertezas, os grandes bancos seguram em caixa os recursos e aplicam nos títulos do próprio governo, atraídos por uma taxa básica de juros (Selic) de 13,75% ao ano.
A Folha apurou ainda que os maiores bancos privados do Brasil têm também procurado se capitalizar para, caso apareça uma oportunidade de compra estratégica de carteiras ou de instituição, terem recursos em caixa para a operação.
Ou seja, a liberação condicionada de estimados R$ 50 bilhões do compulsório (parcela dos depósitos que os bancos são obrigados a recolher no BC), deixando mais recursos livres para empréstimos, tem tido pouco efeito prático.
Os bancos acreditam que neste momento de incerteza o mais importante é manter o caixa reforçado e não comprar carteiras de crédito de instituições menores, que têm pouca liquidez.
Na semana passada, Lula enviou alguns emissários para conversas com empresários e banqueiros. O presidente tem ouvido opiniões de fora da equipe econômica tradicional -Fazenda, Planejamento e BC. Esses emissários detectaram um pessimismo maior do que Lula imaginava. Os contatos diretos do presidente com banqueiros receosos reforçaram a percepção do presidente de que o efeito sobre o Brasil será maior do que a "marola" prevista por ele anteriormente.
Para complicar, há a divisão na equipe econômica e no próprio BC (Banco Central) em relação à taxa de juros. O presidente do BC, Henrique Meirelles, está no grupo mais ortodoxo. Ou seja, o que cogita até elevar juros para combater eventual efeito inflacionário em razão da alta do dólar.
Os críticos do presidente do BC afirmam que é hora de seguir o movimento dos outros bancos centrais, que reduziram juros para tentar aquecer a economia. O argumento é o seguinte: com os juros tão altos, os bancos vão continuar a preferir a segurança dos títulos do Tesouro do que a concessão de crédito. Seria hora de priorizar o crescimento e não a inflação, apesar de a função oficial do BC ser buscar a meta de inflação.
Esse debate reforça, na avaliação do Planalto, o cenário no qual o BC deverá manter inalterada a Selic na reunião desta semana.
Redator: Cristóvão Feil - Data: 28.10.08 18 comentários Links para esta postagem
Meu comentário que postei no blog diário gauche:
O que é, afinal, soberania, cara pálida? Certa esquerda adora ingressar no inventário dos mortos para retirar significados antigos e simbólicos para certas palavras. Puro chavão. A palavra soberania é a mais castigada. O que é, afinal, soberania? Na verdade, a palavra soberania, como neoliberalismo, mídia oligárquica etc. podem ser explicadas pelos simbolos e chavões da semiótica, do estruturalismo e até mesmo do hiper estruturalismo que certa esquerda gauche francesa gosta de rezar. Bingo, descobri o código da Matrix de Baudrillard.Um tal de Clairton veio com essa pérola: Soberania é não doar a Vale do Rio Doce e a telefonia do país como FHC fez. Soberania é não dar dinheiro público para a GM e a Ford como o britto e o rigotto fizeram. E agora que ambas estão a beira da falência o que este pessoal tem a dizer??? Soberania é não submeter o país a vontade de meia dúzia de banqueiros.
Eu respondo ao Clairton: A Vale está aqui no Brasil gerando zilhões de emprego, gerando muito mais imposto do que na época da estatal, sendo muito mais eficiente e agregando muito mais serviço, conhecimento e valor. Soberania para você é manter a Vale nas mãos do estatismo? Isso não é soberania, isso é corporativismo. Bem fez FHC de ter privatizado outro templo do corporativismo estatal, o ineficiente sistema Telebrás que alijava a população de baixa renda do importante serviço telefônico. A desestatização das teles transformou o Brasil definitivamente num país de serviços, de agilidade, de velocidade, de mais eficiência e mais flexibilidade. E as viúvas do estatismo gostam mesmo é de chorar de saudades pelos velhos tempos da ineficiência do estatismo, bons tempos aqueles da "soberania".A verdade, verdadeira é que certa esquerda não tem a mínima noção de como funciona o mercado. Pergunte para qualquer motoboy que ganha sua grana prestando serviço de um lado para o outro que ele sabe muito mais sobre o mercado do que os ideólogos de certa esquerda. O Lula pediu aos bancos que emprestem, mas os bancos não está emprestando. E certa esquerda não entende isso. Quem é que vai ser o louco, o maluco, o lelé da cuca de abrir o caixa do empréstimo numa hora dessas? Quem emprestar agora corre o grande risco de quebrar. Isso não tem nada a ver com questão de classe (classe, que classe?), isso tem a ver com a santa prudência. Se eu fosse acionista de um banco e ele resolvesse abrir a torneira do empréstimo numa hora dessas, apenas porque o Lula recomendou, eu tiraria todo o meu santo dinheirinho desse investimento. Podes crer.
Multifaces
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Um Muçulmano e Um Marxista
Análise
Peemedebistas ganharam mais prefeituras e viram fiel da balança para 2010. PT aumentou o número de prefeituras sob seu comando, mas foi derrotado nas principais capitais em que disputou as eleições.